Classificamos o medo como um dos piores
inimigos do ser humano, por alojar-se na alma, atacando as energias mais
profundas. Segundo a Enciclopédia Larousse Cultural, por definição: medo é o
sentimento de inquietação, de apreensão em face de um perigo real ou
imaginário. A palavra medo se relaciona também com receio, temor, horror, pavor
e pânico. Vejamos como se expressou sobre o medo, o filósofo inglês Thomas
Hobbes, há muito tempo discutido nos meios da psicologia: “O medo é um
sentimento que nos inspira sermos afetados por um mal real, de um mal que
conhecemos pela experiência.”
Nós, espíritas, bem sabemos que além dos
“males reais”, visíveis, tangíveis, existem também os medos invisíveis,
intangíveis, que são provocados pelas obsessões. De início, se analisarmos
desde quando o ser humano tem medo, certamente chegaríamos a idade da pedra
lascada, com nosso ancestrais refugiados nos fundos das cavernas, ante os
grandes perigos dos raios, dos trovões, dos furacões, dos vulcões, dos
terremotos, dos animais, etc. etc. Tais acontecimentos, hoje bem explicados,
antes, eram tidos como sobrenaturais e determinados por deuses terríveis e
vingativos. Holocaustos, oferendas e promessas faziam os homens naquela época
e, pelo jeito, não diminuíram a cólera daqueles deuses...
Joanna de Angelis faz uma análise do medo e
apresenta seis aspectos, como responsáveis pela cultura ancestral geradora do
medo, que nós trazemos embutida no inconsciente individual, e que essa culpa
nos leva a uma situação tormentosa.
O primeiro medo é o da morte. Pelo instinto de conservação da existência
terrena, nós gostaríamos de não envelhecer e de não morrer, ou seja, não
deixarmos o corpo que temos e não perder a nossa individualidade; o que é uma
ilusão porquanto o corpo está sempre em constantes transformações. Deus no-lo
deu para que nós o preservemos até que ele preencha a finalidade para a qual
foi elaborado. E, apesar do instinto de conservação, não são poucos os que se
atiram no labirinto da morte, por quase nada, pelas portas do suicídio.
O segundo medo é o da velhice. Ela nos
aproxima da morte e a pessoa teme envelhecer porque fica mais sujeito a ela.
Isto é um pequeno engano, porquanto morrem tantos jovens, tantas crianças, e
hoje a população de idosos é quase igual a dos jovens, em face das conquistas
da medicina e da tecnologia farmacêutica, que tem alongado a existência da
espécie humana. Mas o ser humano tem pavor de envelhecer. Esse período não
deveria ser chamado de velhice, que parece um termo depreciativo, mas de idade
da experiência, ou idoso.
A idade idosa é uma dádiva de Deus, que nos
livra de vários inimigos, quais sejam: Da ambição, da posse, da escravidão e do
sexo. O Senado Romano e o Grego eram formados por pessoas idosas, respeitáveis
e experientes. É verdade, entretanto, que temos muitos idosos não muito
respeitáveis.... Quando, pois, lhe chamarem de velho(a) responda assim: Eu
tenho a felicidade de ter chegado até aqui, enquanto você não sei se vai
chegar, e se chegar, estará idoso também. Velho mesmo é o mundo, que já existia
quando chegamos e vai continuar existindo quando partirmos.
O terceiro medo é o da doença. Isto
porque a doença nos ameaça com a morte. Nem sempre é assim... a grande maioria
dos doentes ficam bons. Porém, em nosso inconsciente, quando chega a doença,
logo vem o medo da morte. Existem pessoas que, de tanto medo de morrer, se
tornam hipocondríacas, isto é, pessoas hipocondria, com obsessão de doenças, médicos,
remédios e tratamentos.
O quarto medo é o da pobreza. O
indivíduo na pobreza não dispõe de recursos para comprar remédios quando
adoecer, a fim de evitar a ameaça da morte. A pessoa que vive na pobreza
acredita que vai morrer antes, pela falta de alimentação adequada, o que nem
sempre acontece, pois muitas pessoas nessa situação ultrapassam a casa dos
noventa e cem anos. Morre-se mais de excesso de comida ou alimentação
irregular, do que pela falta de pão.
O quinto medo é o da opinião dos outros.
Esse medo não tem nada a ver com a morte, mas é uma forma de morte, porque,
quando descobrimos que os outros têm opinião diferente e negativa a nosso
respeito, isso se torna um tormento na nossa alegria. Gostaríamos que todos
tivessem um excelente conceito sobre nós, embora nos permitimos o prazer de não
ter boas opiniões a respeito dos outros. As pessoas quando dizem que estamos
com aspecto doentio ou envelhecido, logo nos vem a lembrança da morte.
O sexto medo é o da perda de alguém
querido. Nenhum sofrimento na Terra se compara ao daquele que observa um
seu ente querido sem vida, em grande silêncio. Devemos, entretanto, reprimir o
desespero e a mágoa no coração, porque sabemos que os chamados “mortos”, são
apenas ausentes na Terra, vivendo agora na Espiritualidade. Jesus ensinava a
superioridade da alma – o espírito encarnado – que é eterno, sobre o corpo
físico por ela usado em cada existência, e abandonado como roupa velha que não
serve mais. Quando tomamos conhecimento da sobrevivência da alma, atravessamos
todas essas situações com a maior naturalidade. A existência terrena é por
algum tempo, enquanto que a vida, que representa a centelha divina é
permanente.
Esses seis medos produzem o impacto dos
outros medos existenciais, que mencionaremos a seguir e que aterrorizam os
seres humanos:
Medos naturais: São os medos com os
quais praticamente todos nascemos; medo do fogo, medo dos trovões, do mar, do
desconhecido, da morte. O medo da morte se prende à infância, quando a criança
sem o despertar da razão, vê os familiares com grande sofrimento em velórios e
enterros de parentes ou amigos; com isso, instala-se no subconsciente infantil,
que aquilo (a morte) é terrível...
Medos amigos: São os ditados pela
prudência, e é por eles, que os seres vivos mantêm sua existência, como por
exemplo: - O vegetal procura a luz e a água, evitando a sombra e a seca, na
qual feneceria; - o animal foge do predador ou do combate no qual esteja em
desvantagem, para continuar a existir; - o ser humano evitará as conseqüências
prejudiciais; não brincar à beira de abismos; não riscar fósforos próximos a
combustíveis; não entrar no mar sem saber nadar; não reagir a um assaltante
armado, etc. Esses são medos frutos da
prudência, ditados pelo instinto de conservação, que nasce com as criaturas.
Medos inimigos: São os causados
pela inação, como por exemplo: Medo de mudanças, de mudar de casa, de mudar de
emprego, medo de sair de casa; medo de enfrentar desafios, medo de
compromissos, de responsabilidades, sejam eles familiares, sociais,
profissionais, religiosos, etc.
Medos irracionais: São os que
bloqueiam os sentimentos e a razão; - medo de ir ao dentista, medo de falar em
público, medo de assalto, medo de infecção, medo de altura, medo da morte, medo
de andar de avião. É verdade que há desastres aéreos, mas o avião é centenas de
vezes mais seguro que viajar de carro, comprovado pelas estatísticas.
Medos imaginários: Esse é o mais
prejudicial dos medos, pois o medo real têm raízes no passado, a expressar-se
no presente. Agora a pessoa ter medo de algo que ainda não aconteceu? Exemplos:
- Um jovem que sofre por antecipação, a
angústia de não arranjar uma namorada; de não ser bem aceito no grupo, de não
ser bem sucedido nas provas, de se sentir inferior aos outros, de ficar preso
em um elevador; medo de terrorista, medo de tempestade, medo de sofrer um desastre. Esses medos podem
atingir a fase de pânico. A síndrome de pânico é originária de “Pan”, deus
grego, tocador de flauta que metia medo nas pessoas com seus chifres e pés
eqüinos (minotauro).
Existem ainda as fobias, que são medos
exagerados e persistentes. Entre estes citamos: Claustrofobia – medo de
lugares fechados. Alto-fobia –
medo das alturas. Gerontofobia – medo de envelhecer. Necrofobia – medo da morte. Antropofobia – medo da sociedade; a
pessoa se isola. Obeso-fobia - medo de engordar, principalmente as que
são modelos. - O fóbico sofre terrivelmente com sensações, falta de ar, palpitações, etc...
Vencendo os Medos: Todos nós, sem
exceção, temos nossos medos... Sempre resultam desses medos, grandes ou
pequenos desconfortos. Assim sendo, impõe-se que idealizemos uma
“administração” dos nossos medos. Em primeiro lugar, nada melhor do que
identificar e classificar o medo que sentimos. Uma vez identificado e
classificado, o trabalho a seguir é realizar um estudo da origem dele. Devemos
saber que a Humanidade sempre se defrontou com o medo e poucos foram os que se
dedicaram a estudar e explicá-lo; primeiro para poderem entendê-lo, para em
seguida eliminá-lo. Todos fracassaram, uma vez que o medo, enquanto sentimento
de evitar o mal é um instrumento de sobrevivência de todos os seres vivos. Até
porque, há a classe de medos que é muito benéfica como vimos anteriormente.
Dessa forma, o medo tanto pode ser um amigo como um inimigo.
Se o perigo for real ou imaginário, o medo
também o será. Para um medo ser identificado, necessário se torna compreender
como ele se instalou, melhor dizendo, como é que ele “apareceu”; quando, como,
por que. Quase sempre o medo se disfarça, lançando mão de símbolos, num
processo muito parecido com os sonhos, cuja interpretação é sempre
problemática, justamente pelo simbolismo com o qual a maioria se apresenta ao
sonhador. O medo pode e deve ser trabalhado para se tornar um instrumento de
equilíbrio em nosso dia-a-dia.
Em todos esses medos, se a pessoa não conseguir
dominá-lo racionalmente, um bom caminho a seguir, será procurar um
aconselhamento: a)- Na fé; em primeiro lugar, fazendo orações a Jesus ou ao
nosso Pai Celestial, pedindo a proteção, para o problema; b)- na família;
ouvindo a experiência dos pais ou familiares mais íntimos: c)- na ajuda da Casa
Espírita, por um orientador espiritual, disposto a ouvi-lo com humildade, que poderá sugerir uma terapêutica
evangélica, se houver alguma influência de um desencarnado; d)- Na assistência
de um psicanalista...
O medo na Doutrina: A Doutrina dos Espíritos explica que todos nós
temos um extenso passado de múltiplas existências terrenas, que espelham
atualmente nosso painel de emoções e sentimentos, painel esse que se atualiza
minuto a minuto. De posse de tão precioso entendimento, ao espírita será
possível iniciar, por uma enérgica e sincera auto-reforma, um intenso e
permanente tratamento, visando libertar-se de seus medos, manias, fobias,
neuroses e eventuais psicoses. Também poderá, através de um tratamento espiritual,
se libertar de certas situações infelizes, se estas forem de origem mediúnica; influenciação
de espíritos. Na questão 919 de “O Livro dos Espíritos”, o Espírito de
Agostinho nos dá preciosa maneira de nos conhecermos a nós mesmos, através do
balanço diário das nossas ações, ao final de cada dia, como interrogação à
nossa consciência. Na introdução da mesma obra, Allan Kardec registrou a
propósito dos nossos temores o seguinte: “O Espiritismo mostra a realidade das
coisas e com isso afasta os funestos efeitos de um temor exagerado”.
Tratando-se da realidade das coisas, o
espírita compreende muitos fatos da presente existência, cuja origem pode estar
em nossas existências passadas. Sabendo que o perispírito guarda indelevelmente
as chamadas “matrizes psíquicas” (fatos marcantes de outras existências), não
será difícil compreender que o medo, no presente, pode ter se originado em
ocorrências do passado como por exemplos: -
medo de multidão; será que essa pessoa, em outra existência, não foi
condenada e quem sabe até apedrejada em público, como se fazia antigamente? –
Medo de altura; não teria essa pessoa se suicidado, ou sido vítima de queda de
algum penhasco? – Medo do mar; não teria essa pessoa, em outra existência, se
afogado? – Medo de lugares fechados; não teria essa pessoa, ficado presa e
morrido num calabouço? – Medo de animais; não teria a pessoa morrido em outra
existência por ataque de algum deles?
Esses exemplos são apenas no caso desses medos se terem originado no passado ou em outras existências.
O medo impede a reflexão, a análise e a
solução dos problemas do nosso dia-a-dia, qual lanterna que se apaga. Infinitos
medos existem e infinitas são também as maneiras de administrá-los. Ele sendo
real, a prudência, o enfrentamento com a oração sincera e a auto-reforma,
possibilita o amparo do Alto. Contudo se o medo é imaginário, deverá ser
enfrentado pelo “medroso” mediante auto-análise e também por aconselhamento e
assistência. A Doutrina dos Espíritos assevera: se o medo é real, com uma oração
fervorosa, ela possibilita o equilíbrio emocional.
Que o Senhor da Vida, nos possibilite a força
necessária para afastarmos os medos existenciais.
Jc.
S.Luis, 23/7/2006.
Refeito em 15/4/2018
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