A FÉ
DEVE SER COM
LIBERDADE
É
preciso pertencer a esta ou aquela linha religiosa para ter a crença em Deus?
Elsie Dubugras informa como sua
independência nessa área a ajudou a ter suas próprias concepções acerca dos
princípios espirituais que norteiam a humanidade.
Ela
informa que foi criada dentro dos preceitos da religião anglicana. Já adulta
conheceu outras religiões, cristãs e não cristãs, e o que mais a surpreendeu
foram ás diferenças entre elas. Ela comparou a igreja católica romana e a anglicana.
Embora ambas se considerem apostólicas, seus conceitos e cerimônias divergem
entre si; pois enquanto a católica romana
impõe o celibato ao seu corpo sacerdotal, os padres anglicanos se casam
e têm filhos. O papa, chefe da igreja católica romana tem o cargo vitalício, já
o líder dos anglicanos, o arcebispo de Cantuária, pode ser substituído.
A
diversidade nas formas de cultuar Deus multiplica-se ao infinito quando se
considera o grande número de religiões existentes no mundo. Segundo pesquisas
recentes, só na Inglaterra, país considerado conservador, há mais de 2 mil
seitas religiosas diferentes; já no Japão, existem cerca de 160 mil. Algo
parecido acontece em outros países de todos os continentes. O que se pode
deduzir dessa proliferação religiosa?
Depois
de muita reflexão, concluí que, os seres humanos seriam comparáveis a criaturas
que, vivendo em lugares escuros, no fundo da terra, pouco ou nada sabem do que
ocorre na superfície. Um dia alguém descobre uma trilha e, após caminhar
durante algum tempo, chega à superfície, e ali encontra um mundo diferente,
luminoso, cheio de vegetação e criaturas. Assustado, volta à sua caverna e
descreve a sua experiência para os companheiros. Alguns acreditam outros não. A
maioria conclui que o viajante deve ter estado num lugar não terrestre,
povoados por seres incorpóreos. Assim nasce a crença num mundo espiritual,
repleto de luz e habitado por seres dignos de veneração.
Mais
tarde, outros habitantes sobem por novas trilhas e também chegam à superfície, mas
em locais diferentes. Deparam-se eles com seres estranhos, animais
desconhecidos, paisagens por vezes belas e outras desérticas, quentes ou
extremamente geladas. Suas descrições passam a influenciar grupos de pessoas e,
aos poucos, outras crenças vão surgindo, com deuses, demônios, criaturas
angelicais, céus, purgatórios e infernos.
Todas
essas imagens refletem várias concepções, resultado de muitos estudos e
observações que, se não me conduziram à verdade definitiva, permitiram-me
descobrir princípios que explicam a diversidade no modo de pensar e de se
comportar da humanidade. Um deles, ensinado pelos espiritualistas e espíritas,
mas não aceito pela maioria dos cristãos, é o princípio da reencarnação dos espíritos. O principal
motivo alegado pelos cristãos para rejeitarem esse conceito é a omissão da
“Bíblia” sobre o assunto. Porém, ao contrário do que eles afirmam, há vários
casos que são citados tanto no Antigo como no Novo Testamento.
O
do profeta Elias, a propósito, aparece em ambos. Considerado um dos maiores
profetas hebreus, ele foi alimentado por corvos quando se refugiou no deserto
para escapar da ira do rei Acabe, por ter ressuscitado um jovem que havia
morrido, e ter salvado a religião judaica da corrupção dos adoradores de Baal,
o que lhe permitiu subir aos céus num carro de fogo, puxado por cavalos também
de fogo. No Livro de Malaquias, o último do Antigo Testamento, há a promessa de
que Elias voltaria: “Eis que vos envio o profeta Elias, antes que venha o dia
grande e terrível do Senhor”. (4:5)
Jesus
não só confirmou o prognóstico de Malaquias como revelou o novo nome do profeta
ao afirmar: “Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe tudo o que
quiseram.” Então entenderam os apóstolos que Ele lhes falava de João Batista.
(Mateus 17:12 e 13)
Outro
caso é o do cego de nascença. Segundo o Evangelho de João, (9:2). Ao passarem
por um cego de nascença, os apóstolos perguntaram a Jesus: “Quem pecou, este ou seus pais, para que
nascesse cego?”. A primeira parte da pergunta sugere que os apóstolos acreditavam na preexistência da alma e no
resgate de erros cometidos em existências passadas. Quanto à dúvida sobre os
pais terem pecado, parece uma referência às palavras escutadas por Moisés no
Monte Sinai: “Sou Deus zeloso, que visito a maldade dos pais nos filhos até a
terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem” (Êxodo 20:5)
É
interessante assinalar ainda que, até meados do século 6 da nossa era, a
reencarnação fazia parte dos ensinamentos e aceita pela cultura religiosa
oriental, há milênios, antes da Era Cristã, como fato incontestável, norteador
dos princípios da justiça divina. Ela só foi abolida da doutrina pelo Concílio
de Constantinopla, no ano de 533, que resolveu substituir a reencarnação pela
ressurreição, que contraria todos os princípios da ciência, porque admite a
volta do Espírito (por ocasião de um suposto juízo final) ao corpo já
desintegrado de todos os seus elementos, sem falar nos corpos que são cremados.
O segundo motivo se refere á Teodora, esposa do imperador Justiniano,
escravocrata desumana e muito preconceituosa que temia retornar ao mundo, na
pessoa de uma escrava, para pagar os seus pecados, e fez pressão sobre o papa
Virgílio que subira ao poder, por meio da intervenção do general Belizário,
para quem os desejos de Teodora eram lei.
Nos
séculos 12 e 13 da nossa era, a crença
na reencarnação foi reavivada pelos cátaros, que foram considerados hereges
pela igreja católica romana e, consequentemente perseguidos e exterminados. Hoje,
a reencarnação é um dos principais temas da Doutrina dos Espíritos, estudada e
aceita pelo mundo, como a oportunidade dela possibilitar o resgate das dívidas
e acelerar o progresso espiritual das pessoas, pela fraternidade, pelo amor e
pela caridade aos seus semelhantes.
O
fato de não me considerar religiosa não impede, portanto, que eu possa formular
minhas próprias concepções sobre Deus e os princípios espirituais que regem a
humanidade. Na verdade, isso tem me estimulado a pesquisar tais questões sempre
e cada vez mais. Mesmo porque, para mim, é procurando que se encontra.
Por
falar em caridade, é tradição entre os endinheirados americanos a máxima: “Eu, você, cada um de nós está aqui para
fazer o bem”. A filantropia ainda é um artigo relativamente escasso no Brasil.
Mas temos alguns exemplos e entre eles brilha a estrela de Elie Horn, fundador
da Cyrela, a segunda incorporadora imobiliária do país. Judeu ortodoxo, nascido
há 74 anos na Síria. Horn que chegou aqui no Brasil com 10 anos de idade é o
único sul-americano entre os cerca de 200 integrantes do The Giving Pledge, a
iniciativa liderada por Bil Gates e Warren Buffetti que estimula bilionários a
doar a maior parte de seus recursos para causas de impacto social. Horn que se
comprometeu a repassar 60% de sua fortuna pessoal teve em casa o exemplo para
esse comportamento, seu pai, que não era um homem rico, mas doou tudo o que
tinha para a caridade. O gesto tem uma origem espiritual profunda, citada pelo
empresário em entrevista: “QUANDO VOCÊ
FAZ O BEM, LEVA JUNTO A SUA POUPANÇA PARA A ETERNIDADE. É A ÚNICA MERCADORIA QUE SE LEVA PARA O OUTRO
MUNDO.”
Esperamos
que outros milionários ou bilionários brasileiros possam seguir esse exemplo de
fraternidade para com seus semelhantes, a fim de se beneficiarem com a bondade
Divina, quando retornarem a pátria espiritual.
Fonte:
Elsie Dubugras
Revista “Planeta” –
12/2018
Modificações e
acréscimos
Jc.
São Luís, 8/1/2019