domingo, 23 de outubro de 2016

NÃO DEVEMOS JULGAR NINGUÉM





 “Não julgueis para que também não sejais julgados; porquanto  com a medida com que julgardes, também sereis julgados”.    Jesus
Recentemente tomamos conhecimento  de um artigo, em que era alegado que os espíritas, quando no conselho de sentença, costumam absolver sistematicamente os réus.
Ignoramos se realmente tem sido essa a norma de conduta dos espíritas no Juri. Quanto a mim, declaro que, todas as vezes que servi como jurado, absolvi  e disso não estou arrependido. Por isso, que entendemos, em consciência, que muitos réus deviam ser absolvidos. No entanto, não pretendemos firmar a doutrina da absolvição incondicional.
Casos há em que, para evitar um mal maior, seria lícito votar de modo a conservar o acusado prezo, dadas as suas condições de perigo para a segurança dos demais. Assim procedendo, não estaremos julgando, mas acautelando a coletividade da qual somos parte integrante. Demais, quem são os criminosos  senão anormais, desequilibrados, enfermos da alma, numa palavra. Faça-se, portanto, com eles o que se faz com os doentes de moléstias infectuosas: devemos segregá-los da sociedade a fim de evitar o mal maior que possa fazer.
Esta medida é razoável, é humana, porque não há outra a tomar, uma vez que se preste aos segregados a devida assistência reclamada pelas suas condições, pois não há direitos sem deveres. Se a sociedade tem o direito de separar os doentes dos sãos, cumpre-lhe e dever de assisti-los.
Não é o criminoso que se deve combater: é o crime em suas várias formas, de acordo com a medicina que não combate o enfermo, mas a enfermidade, suas causas e origens. Enquanto a questão não for encarada sob esse prisma, o crime continuará a proliferar, perturbando a ordem e a paz da sociedade. Julgar? Quem somos nós para julgar nossos irmãos, se somos réus no tribunal de nossas consciências? Fazê-lo em nome da sociedade? Pois é a sociedade mesma  tal como está constituída, a responsável por grande parte dos crimes que em seu seio se cometem. As piores doenças são fruto do ambiente. Quando o meio é miasmático e deletério, as enfermidades se alastram, tornando-se elas, endêmicas. Tal é a nossa sociedade. A reincidência do crime é efeito da hipocrisia  e da materialidade reinantes no século.
O código pelo qual se regem as nações, ditas cristãs e civilizadas, precisa ser reformulado, pois, esse código, cogita exclusivamente da aplicação de penas, quando deveria tratar de curar a alma. A forca, a guilhotina e a Cadeira elétrica não resolvem o problema em questão, como atestam as estatísticas de criminalidade dos países onde aquelas penalidades vigoram. Eliminar a existência física do criminoso não lhe modifica o caráter, não lhe altera nada no seu nível moral. Não é ao corpo, mas é ao Espírito que cabe a responsabilidade pelos atos delituosos. Despertar-lhe a consciência, elevar o grau de sua sensibilidade moral, eis o único processo eficiente no tratamento de tais enfermidades. Esse processo chama-se  educação.
A sociedade viverá sempre às voltas com os delinquentes, enquanto não cumprir o dever que lhe assiste de educá-                                                              los. Até aqui, a sociedade baseando-se no parecer de criminólogos materialistas, invoca apenas o direito de punir, e por isso ela também vai sendo punida. Há de suportar as consequências do seu erro até que entenda que deve se modificar.
A Doutrina Espírita vem ensinar a Humanidade a reger-se não mais pelo código judeu ou romano, mas pelo código divino que reflete a justiça que ampara e a soberana vontade do Céu!  Ela também nos recomenda, como Jesus, que não julguemos, porque o julgamento que fizermos nos será aplicado mais severamente ainda, porque eles não conhecem a Deus e por isso lhes será pedido menos que vós que sabeis as suas leis. Não sabeis que há muitas ações que o mundo não considera sequer como faltas leves e que aos olhos de Deus são crimes? Deus permite que alguns criminosos estejam entre vós, a fim de que vos sirvam de ensinamento.
Quando os homens forem conduzidos às leis de Deus, não haverá mais necessidades desses ensinamentos, e todos os que permanecerem impuros e revoltados serão dispersados nos mundos inferiores, de acordo com as suas tendências. Que diria Jesus se visse um infeliz desses perto de si? Lamentá-lo-ia, e veria como um doente bem miserável, e lhe estenderia a mão. Ainda não podemos fazer isso em realidade, mas, pelo menos, podemos fazer uma oração por ele. O arrependimento pode tocar-lhe o coração, se orardes com fé. Ele é vosso irmão e sua alma transviada e revoltada necessita se aperfeiçoar; ajude-o, pois, a sair dessa situação, orando por ele. Triunfareis se a caridade vos inspirar e se a sua fé sustentar...
Se o amor ao próximo é o princípio da caridade, amar aqueles  que ainda permanecem na escuridão, é sua aplicação sublime,  porque esta é uma das maiores vitórias sobre a ignorância, o egoísmo e a maldade.  Ninguém sendo perfeito, tem o direito de julgar o seu próximo!

Fonte:
Livro: “O Mestre na Educação”
Autor: Pedro de Camargo (Vinicius)
Livro: “O Evangelho Segundo o Espiritismo”

Jc.
São Luís, 25/8/2016

FOLHAS ESPARSAS - 2ª Parte





 Querer é Poder?  A sentença goza de há muito, de foros de provérbio consumado. Mas, exprimirá de fato uma verdade?  Eis a questão. A nossa ver, empregaríamos o verbo saber em lugar do verbo querer, e diríamos, então: Saber é poder. Esta máxima e uma verdade absoluta.
Aquele que sabe pode, porém o que ignora não pode, ainda que queira. Há muita gente que procura com afinco realizar seu “querer”, por qualquer meio, desprezando precisamente o processo seguro do êxito: o saber. Daí os fracassos, o desânimo, a descrença e o pessimismo de muitos.
Jesus apresentou-se ao mundo no caráter de mestre, e, como tal, teve discípulos. Sua missão era educadora. Ser cristão é matricular-se nessa escola e aprender com ele a ciência do bem e da verdade. Instruir-vos, moralizai-vos; tal é o lema que se deveria gravar no pórtico dos modernos templos cristãos. “Pedis e não recebeis: não recebeis porque não sabeis pedir”, disse o Mestre. A questão, pois, é de saber.  Saber é poder, repetimos; aquele que sabe, pode.
Mãe.  Donde virá a magia que esse nome encerra? Mãe!...  Porque será que, somente ao pronunciá-lo, um sentimento profundo e santo de respeito nos invade a alma? Donde lhe vem o culto que se lhe presta e a homenagem que lhe rendem todos, mesmos aqueles cujos caracteres ainda se ressentem de graves senões? Porque será que a simples palavra  -- mãe, tão singela, tão humilde, que só três letras requer, tem o privilégio maravilhoso  de fazer vibrar os sentimentos mais nobres, por mais embotados que estes estejam?
O que há nesse nome de extraordinário não está  nas letras, mas no sentimento que ele inspira. Mãe quer dizer abnegação, afeto, desvelo, carinho, renúncia, sacrifício, -- amor numa palavra. Daí a origem de sua fascinação, de seu prestígio, de sua força e encanto.
Ser mão não se resume ao fenômeno fisiológico da maternidade. Ser mãe é possuir aquelas virtudes, e proceder em tudo consoante o influxo que das mesmas deriva. A legitimidade do título vem, pois, da moral e não do físico, da alma e não do corpo. Há mulheres que geram filhos sem jamais se tornarem mães. Outras há que são mães de filhos que nunca tiveram, a exemplo de Maria que passou a ser mãe de João, e este, seu filho, por indicação de Jesus.
As Três Afirmativas de Jesus.  Eu Sou o Caminho, porque já fiz o percurso que ainda não fizestes; posso, portanto, ser, como de fato sou vosso guia, vosso roteiro, vosso mestre. Ninguém vos poderá  conduzir ou orientar senão eu mesmo, porque nenhum outro, de todos os que vieram à Terra, jamais fez o trajeto que conduz ao Pai. Por isso vos digo: ninguém realiza os eternos destinos, senão me acompanhando e seguindo as minhas pegadas.
Sou a Verdade, porque não fale de mim mesmo,  não fantasio como fazem os homens que buscam seus próprios interesses e sua própria glória; só falo o que ouvi e aprendi com o Pai, agindo como seu oráculo, como seu verbo encarnado.
Sou a Vida, porque sou ressurgido, dominei a matéria, sou imortal, tenho vida em mim mesmo. Não sou como os homens cuja existência efêmera e instável depende de circunstâncias externas.
Nem Frio Nem Quente.  É do educador Hilário Ribeiro esta sentença bem sugestiva:  “Não basta ter coração, é preciso ter bom coração.”  Tal pensamento sugere outro, ainda que menos poético: “Não basta deixar o mal; é preciso fazer o bem.”
Há pessoas cuja existência, não oferecendo margem  para qualquer censura, não deixa também transparecer o mínimo vestígio de abnegação, de coragem ou de altruísmo. Tudo nesses homens obedece a um cálculo prévio e seguro. Seus atos são medidos, suas palavras destituídas de arroubo; são serenas como o arrulhar das rolas. Seus gestos são como o movimento de um pêndulo. Agem em tudo e por tudo consoante um programa preestabelecido, e de acordo com certo interesse vital de seu foro íntimo.
Outros homens há que são o reverso da medalha, isto é, em cuja existência se notam várias lacunas, em cujos procedimentos há falhas  sensíveis, mas ao lado desses senões, se descobrem rasgos sublimes de generosidade, traços de coragem, atitudes de heroísmo e exemplos de bondade que edificam.
Os primeiros são incapazes  de fazer o mal, como são incapazes de fazer o bem. Os segundos são capazes, tanto de fazer o mal como o bem. No entanto, podemos dizer, sem receio de errar, que estes últimos estão mais perto de Deus e da sua justiça, que os primeiros. A mensagem do anjo revelador do Apocalipse reza o seguinte: “Sei as tuas obras; já vi que não és frio ou quente. Oxalá fosse frio ou quente; mas és morno.”  Há homens que não são nem frio nem quentes, são também mornos. O caráter morno ou medíocre dificilmente se modifica. Trás as cordas do sentimento frouxas como aqueles dois clérigos da Parábola do Bom Samaritano, passando ao largo do viajor espoliado e ferido que jazia à beira da estrada.
O caráter ardente é capaz de transformações e grandes surtos de progresso. É o que se verifica com o convertido de Damasco. Quando Saulo era fanático, e, como tal, capaz das maiores iniquidades, foi convertido e como Paulo, revelou-se um herói na defesa da verdade, um mártir na propaganda da nova fé abraçada.
Maria de Magdala é outro exemplo de nossa asserção.  Era uma mulher de costumes dissolutos, uma pecadora; porém possuía um coração ardente, cujas fibras vibravam intensamente. Daí a sua transformação súbita, chegando a merecer as simpatias do Mestre. Por que se deu aquela radical mudança? Porque se tratava de uma alma vibrante, de um coração sensível capaz de se inflamar ao primeiro convite do Céu.
 A Túnica Inconsútil.  A túnica usada por Jesus era inconsútil: não tinha costuras. Vemos nessa veste do Senhor um símbolo que se aplica à sua Doutrina. O Cristianismo é um corpo doutrinário sem remendos, sem peças justapostas. É um todo  harmônico, inteiriço, perfeito. A moral de Jesus não tem aspectos divergentes, não tem ambiguidades, não tem contradições. É uma moral pura, sã, completa, imaculada. Ele não emitiu sons discordantes, não enunciou frases dúbias, não articulou palavras ocas, não produziu coisas confusas. Foi claro, conciso, positivo e firme.
Donde vêm, então, as intermináveis cisões entre os credos que militam e dizem participar do Cristianismo? De onde parte essa confusão, existente no seio dessas igrejas, que se dizem cristãs, adotando doutrinas e princípios que não foram ensinados por Jesus? Donde vem essa rivalidade entre aqueles que deveriam ser exemplos de cordura, de harmonia e paz? Certamente a rivalidade, a confusão, vem da ignorância, do orgulho e do preconceito dessas igrejas que do Cristianismo, adotaram somente o título. Tem origem na ambição, no egoísmo do ser humano que tudo procura amoldar às exigências insaciáveis de seus mesquinhos interesses.
Enquanto as religiões continuam a se degladiarem, querendo cada uma se sobrepor as outras, estarão com isso,  demonstrando não haverem atingido o ideal sublime  da religião do amor. A túnica do príncipe da paz, não tem costuras, sendo o símbolo da união integral e perfeita, e a imagem da harmonia e confraternização irmanando os seres humanos numa só e única família.
A Luz de Todos os Tempos.  Em tempos idos, usava-se para iluminação o azeite recolhido em recipientes desengonçados aos quais de dava o nome de candeeiro. A luz que dele se irradiava  era fumegante, baça e fétida. Impregnava  a atmosfera de fumo e de odor nauseabundo. Mais tarde, passou-se a empregar para o mesmo fim o querosene do petróleo. Os lampiões, aparelhos elegantes possuíam melhoramentos apreciáveis como a mecânica destinada a graduar a chama; substituiu os candeeiros.
Descobriu-se depois, no correr do tempo, o processo de extrair do carvão de pedra o carbureto de hidrogênio que substituiu o petróleo, e foi empregado tanto na iluminação pública como residencial. Mas ainda não era tudo. O mundo continuou marchando na conquista do melhor. Aparece, finalmente, a eletricidade destronando o gás. A luz desta sobrepujou com vantagens indiscutíveis:  Era clara, límpida, inócua, e inodora. O gás foi relegado por sua vez. A eletricidade passou a ser o sol de nossas noites.
Ora, se em matéria de luz artificial se verifica um progresso contínuo, sucedendo-se os sistemas numa ascensão  para melhor, não há de suceder o mesmo no que respeita à luz espiritual? Se iluminar o interior não será, por acaso, um problema mais sério e mais importante que iluminar o exterior? Afastar as trevas do cérebro e do coração não será trabalho mais valioso que afastar as trevas que nos envolvem por fora? Como então descuidar da conquista do melhor, no gênero de luz espiritual, se tudo foi feito para alcançar o melhor no gênero de luz material? Se, deixamos o azeite pelo petróleo, desde para o gás e depois pela eletricidade, por que então não fazer o mesmo com relação aos velhos dogmas  que herdamos dos nossos antepassados?
Que a Humanidade tateia na tenebrosa escuridão da ignorância, do vício e do crime, quem ousará negá-lo? Por que fazer tudo pela luz que perece, e nada, ou quase nada, pela luz que vivifica? Volvamos, portanto, nossas atenções para a luz espiritual; busquemo-la, com o interesse de quem se acha no escuro, e que tem necessidade da luz de verdade, e seremos saciados.
Devemos nos desvencilhar dos dogmas arcaicos, dos preconceitos
e da crendice boba, das atitudes dúbias e hipócritas, das mentiras convencionais  e procuremos  obter uma luz cada vez mais intensa e brilhante, para iluminar nossa existência e nossa vida espiritual.
Evolução. A vida é sempre vida seja qual for á forma através da qual se oculte. Já existi como pedra, já vivi como  planta, hoje vivo como homem, amanhã viverei como espírito, e, no futuro, viverei como anjo. Vim do pequeno, caminho para o grande. Se vivo agora é porque vivi outrora e viverei para sempre.
Se noutras épocas eu tive outro nome, pertenci a outras famílias, habitei outras cidades, fui diferente, que importa? Eu nasci, senti, pensei, sofri, gozei, amei, tal como faço atualmente. Perdi minha individualidade? Não!  Minha individualidade é o meu ser, o meu “eu”, sede da minha inteligência, da minha razão, da minha consciência e dos meus sentimentos como espírito que sou. O que perdi outrora, não foi minha individualidade, mas a aparência e a veste com que então me servi no corpo físico.
Nesta nova existência, a minha aparência já se modificou. Casos há em que os pais desconhecem os filhos quando ausentes por muito tempo, tais as mudanças operadas em seu físico. Basta que permaneçam, por muito tempo, separados de nós para que notemos profundas alterações em seu exterior. A vida é a manifestação da vontade suprema de Deus; ela é instável enquanto se apresenta em aspectos materiais; é eterna quando, ressurgindo da carne, se perpetua como Espírito.
Negar a imortalidade é negar a própria existência. Se eu vivo, como não viverei depois? Mas e a morte? Se a morte tem poder para me destruir, como se explica eu ter morrido muitas vezes e não ter, contudo, sido aniquilado? Dirão os que não acreditam na imortalidade, que eu estou delirando!  Pois bem, expliquem-me, então, como é que trago e conservo comigo lembranças do meu passado? Tudo o que vive, viveu e viverá novamente; morrer é libertar-se do corpo físico e passar de um estado para outro; é despir uma forma (veste) para revestir outra, subindo de uma escala inferior para outra superior. “Nascer, viver, morrer, renascer ainda, progredindo sempre, tal é a Lei”.
Salvar é Educar.  Jesus é o Mestre, e como tal veio ao mundo educar a Humanidade para salvar o homem, através da educação. Imaginar-se a obra da salvação, separada da educação, é utopia dogmática incompatível com a orientação de Jesus.
Ser cristão não é uma questão de modo de crer: é uma questão de caráter. Não é o batismo, nem a filiação a uma religião que faz o cristão; mas o caráter íntegro, firme e consolidado no trabalho de autoeducação e de amor ao próximo.  A sociedade contemporânea necessita de uma força purificadora que a levante da degradação e do caos em que se encontra. Essa força deve atuar de dentro para fora, do interior para o exterior melhorando os sentimentos, despertando a razão e a consciência moral dos seres humanos. Tudo o mais são paliativos, quimeras, que jamais resolverão os graves problemas do momento atual.
O Cristianismo puro, tal como Jesus pregou e exemplificou, será a força que há de reformar a sociedade agindo nos corações e nos lares. É do coração renovado, é do lar convertido em templo de luz e de amor que surgirá a aurora de uma nova sociedade para a Humanidade. . .
O Bom Senso.   O pedreiro no desempenho do seu labor lança mão do prumo e do nível; o navegante tem os olhos na bússola que lhe dirige o caminho. Manejando o leme, aparelho simples e de pouca aparência, o timoneiro imprime a direção singrando a imensidão dos mares. Graças aos movimentos do pêndulo, os relógios marcam, com exatidão, as horas do tempo.
Da mesma sorte, existe algo no ser humano que orienta seus passos, que determina a natureza de sua conduta, que regula seus passos, suas palavras e seus sentimentos: é o bom senso. Sem esse predicado, tão modesto que qualquer pessoa pode possuir, o ser humano é o pedreiro sem prumo e nível,  o barco sem leme,  o navegante sem bússola e o relógio sem o pêndulo. O bom senso  é que valoriza as qualidades do espírito. Que valor tem a inteligência, o saber e a erudição, sem uma dose, ao menos, de bom senso?
Por que há pessoas que ganham pouco e vivem bem, enquanto outras ganham muito e vivem mal?  É porque aquelas têm, e estas não têm o bom senso necessário para equilibrar a receita com a despesa. A própria fé, despida do bom senso, ao invés de elevar o crente aos paramos da luz, precipita-o nas confusões do fanatismo.
A capacidade de ajuizar e discernir com acerto, o critério, o bom senso, em suma, é um predicado suscetível  de ser desenvolvido como qualquer outro, dependendo da educação do nosso espírito. O que denominamos inteligência, razão, consciência, vontade, bom senso, etc., não passa em realidade, de manifestações do espírito, que é tudo no ser humano. A Doutrina dos Espíritos, restaurando o verdadeiro Cristianismo, é a religião do Espírito. Flammarion, apelidando Allan Kardec de “bom senso encarnado”, falou como um verdadeiro profeta.
Os Filhos de Deus.  A qualidade de filho pressupõe a de herdeiro. Os filhos herdam dos pais; herdam em todo sentido: -- moral e material. Do físico, herdam traços fisiológicos que recordam os pais. Da moral, pela convivência, pela educação e pelo exemplo, herdam predicados e virtudes. É por isso que certas crianças, logo à primeira vista, despertam nas outras pessoas a lembrança de seus pais. Essa aparência, às vezes, acha-se tão em harmonia com o astral dos pais que parece fundir-se na figura do filho.
Segunda a palavra evangélica, o ser humano torna-se filho de Deus somente depois que aceita e põe em prática a moral divina revelada por Jesus. Deus é Espírito, e em espírito e verdade deve ser evocado. Como pode, portanto, o homem ser filho de Deus sem que reflita a imagem espiritual do Pai? Como pode ser filho de Deus se ainda não herdou os predicados e atributos que exprimem o caráter da Divindade?
Como pode o homem ser filho de Deus – que é puro Espírito – se ele é todo animalidade nada deixando transparecer de espiritual? Em verdade, como acertadamente ensina o Evangelho, o ser humano só se tornará filho de Deus, quando seguir nas pegadas do Mestre Jesus e se decidir a respeitar e praticar, (ou, ao menos tentar), as leis divinas que seu Filho Bem Amado, as ensinou e também exemplificou, durante sua jornada terrena. Até chegar a esse estágio, o homem será apenas uma criação de Deus. . .
Fonte:
Livro “Nas Pegadas do Mestre”
+ Acréscimos e supressões

Jc.                                                                                                       São Luís, 28/7/2016