sexta-feira, 11 de março de 2016

O PODER DA TELEVISÃO




 A televisão é uma democrática janela para o mundo, como apregoam seus defensores, ou um perigoso meio de desvirtuar crianças e jovens, como querem seus críticos? A resposta depende do uso que fizermos dela. Ver televisão é um hábito que toma em média, de 4 a 5 horas diárias da vida de nossas crianças. Essa “ladra do tempo”, para o bem ou para o mal, veio para ficar. Não há como ignorá-la: ela dita padrões de comportamento, lança modas e gírias, cria hábitos de consumo, molda a opinião pública, estabelece padrões morais, influencia o gosto musical, dissemina valores e crenças, alimenta mitos. A escola pode tirar proveito de sua programação para ensinar a “ler” criticamente a TV, analisar seus conteúdos do ângulo da ética e da cidadania. É só perguntar aos alunos o que eles gostam de assistir e por quê. Se eles acreditam em tudo que a TV mostra e diz; se a violência das cenas e dos filmes, o sensacionalismo de certos apresentadores retrata “a vida como ela é”?  É necessário comparar a “realidade da telinha” com seu próprio cotidiano. Deve haver uma seleção do que ver na TV, para enriquecer a formação.

Nos anos 50, quando começaram as transmissões comerciais no Brasil, apenas algumas residências tinham acesso à novidade, e um aparelho de televisão na sala de casa era um símbolo de status. Em pouco tempo, o aparelho se popularizou, chegando aos lares das classes menos privilegiadas. Graças ao avanço da tecnologia, ás imagens ganharam cores e as telas foram ampliadas. Hoje, presente na maioria dos lares, a televisão passou a exercer forte influência sobre as relações familiares e sociais. Habituadas à TV desde a infância, as novas gerações cresceram em um ambiente muito diferente daquele que cercava as crianças da primeira metade do século. A principal diferença encontra-se na maneira de ocupar o dia: antes da TV, havia mais tempo para o convívio em família e a leitura; hoje, estima-se que as crianças dediquem quase a metade do tempo de vigília à televisão, assistindo à programação ou jogando vídeos-games. 

Essa “ladra do tempo” provoca debates em virtude do conteúdo transmitido, abrigando de tudo um pouco: de filmes, telenovelas e desenhos animados a programas de auditório, espetáculos musicais, humorísticos e de baixarias, esportivos e tele-jornais. Parte de sua extensa programação tem alguma relevância social e qualidade. Por outro lado é maior o volume de horas diárias dedicadas a material que gera impacto negativo, principalmente sobre as crianças. A violência física e psicológica permeia, com maior intensidade, quase todos os gêneros de programas e é impossível negar que ela contribui para deformar a percepção da realidade. Pessoas que assistem diariamente à TV tendem a acreditar que a sociedade é mais violenta do que realmente é. A televisão cria uma espécie de “mundo paralelo” que muitos associam, de maneira equivocada, à realidade. Mais importante do que controlar o que a TV veicula diariamente é preparar o público, principalmente as crianças, a vê-la sem se submeter a ela. O importante é saber usá-la, sem ser influenciado ou usado por ela. Até alguns anos atrás, o tipo de programa era simples: apresentações musicais, telejornais, entrevistas com artistas,  gincanas com participações dos telespectadores e outros programas.
Alguns desses programas foram responsáveis, com suas ingênuas bailarinas, pelo início do processo de erotização que se expandiu até o horário infantil, no qual hoje se multiplicam apresentadoras que se tornaram símbolos sexuais. Nos últimos anos, porém, a televisão popularizou um formato sensacionalista de apelo policial para conquistar audiência. Nesses programas, crimes e imagens de violência física e psicológica, dividem espaço com outras facetas do “mundo cão” com aberrações e brigas ao vivo, no palco, entre telespectadores, a chamada “lavagem de roupa suja em público”. Flagrante desrespeito ao telespectador é a promoção desse gênero. Padrões de comportamento são ditados pelas novelas onde personagens e situações mostradas na tela, tornam-se referência para atitudes dos telespectadores na vida cotidiana. Pertencem ao mundo da ficção, mas costumam adquirir contornos reais.  Os telejornais nos apresentam uma versão dos fatos, não a realidade absoluta. Quando assistimos um telejornal, temos a impressão de que vemos um retrato do que ocorre de mais importante naquele dia em nossa cidade, no país e no mundo. Trata-se de uma ilusão: até o mais completo noticiário transmite apenas um volume restrito de informações. Outra ilusão: As reportagens, mesmo as mais extensas, dão conta apenas de uma versão, entre as três versões possíveis, da mesma notícia. Além disso, a TV pode influenciar o conteúdo do noticiário, favorecendo, por exemplo, um candidato em época de eleições ou um ponto de vista sobre certo assunto.

A publicidade a serviço do consumo influencia os comerciais exibidos na TV, recorrendo a estereótipos para criar a sensação de desejo no inconsciente do telespectador. A publicidade funciona assim nas revistas, nos jornais, nas rádios e nos outdoors, mas ela é mais poderosa na televisão, pois a força das imagens em movimento e em cores dificulta resistir aos seus apelos. A “mensagem” é clara: quem usa aquele produto ou serviço pertence àquele mundo, e quem julga pertencer àquele mundo deve, por conseqüência, consumir o que é anunciado. Se, é verdade que a propaganda tenta criar necessidades que não temos os comerciais da TV são os que mais influenciam as pessoas a conseguir o objetivo em questão.

“Uma escola que não ensina como assistir à televisão é uma escola que não educa”, afirma o pedagogo espanhol Joan Ferrés.  Ele complementa dizendo: “Talvez na escola o predomínio seja dos negativos que afirmam: a televisão provoca todo tipo de males físicos e psíquicos: problemas de visão, passividade, consumismo, alienação, trivialidade”. No extremo oposto, diz Ferrés: “A televisão deve ser considerada como uma oportunidade para a democratização do conhecimento e da cultura, para a ampliação dos sentidos, para a potenciação do aprendizado. A televisão representa a cultura da diversidade, a cultura da liberdade, das opções múltiplas. A atitude mais adequada é a aceitação crítica, o equilíbrio entre o otimismo ingênuo e o catastrofismo estéril, as possibilidades e limitações, as suas contradições internas”.

Por isso é aconselhável que os pais tenham muito cuidados com o que as crianças estão assistindo para evitar se moldarem aos exemplos por vezes negativos, que podem trazer prejuízos a formação das crianças.

Leia também o artigo “As crianças e a TV, como Agir?”

o ou jogando va; hoje, estima-se que as crianças dediquem quase a metade do tempo de vBibliografia:
Revista “Nova Escola” nº 118
+ Acréscimos e modificações

Jc.
S.Luis, 10/5/2012
Revisto em 17/02/2016