A televisão é uma democrática janela para o mundo, como apregoam seus defensores, ou um perigoso meio de desvirtuar crianças e jovens, como querem seus críticos? A resposta depende do uso que fizermos dela. Ver televisão é um hábito que toma em média, de
Nos anos 50, quando
começaram as transmissões comerciais no Brasil, apenas algumas residências
tinham acesso à novidade, e um aparelho de televisão na sala de casa era um
símbolo de status. Em pouco tempo, o aparelho se popularizou, chegando aos
lares das classes menos privilegiadas. Graças ao avanço da tecnologia, ás
imagens ganharam cores e as telas foram ampliadas. Hoje, presente na maioria
dos lares, a televisão passou a exercer forte influência sobre as relações
familiares e sociais. Habituadas à TV desde a infância, as novas gerações
cresceram em um ambiente muito diferente daquele que cercava as crianças da
primeira metade do século. A principal diferença encontra-se na maneira de
ocupar o dia: antes da TV, havia mais tempo para o convívio em família e a
leitura; hoje, estima-se que as crianças dediquem quase a metade do tempo de
vigília à televisão, assistindo à programação ou jogando vídeos-games.
Essa “ladra do tempo” provoca
debates em virtude do conteúdo transmitido, abrigando de tudo um pouco: de
filmes, telenovelas e desenhos animados a programas de auditório, espetáculos
musicais, humorísticos e de baixarias, esportivos e tele-jornais. Parte de sua
extensa programação tem alguma relevância social e qualidade. Por outro lado é
maior o volume de horas diárias dedicadas a material que gera impacto negativo,
principalmente sobre as crianças. A violência física e psicológica permeia, com
maior intensidade, quase todos os gêneros de programas e é impossível negar que
ela contribui para deformar a percepção da realidade. Pessoas que assistem
diariamente à TV tendem a acreditar que a sociedade é mais violenta do que
realmente é. A televisão cria uma espécie de “mundo paralelo” que muitos
associam, de maneira equivocada, à realidade. Mais importante do que controlar
o que a TV veicula diariamente é preparar o público, principalmente as
crianças, a vê-la sem se submeter a ela. O importante é saber usá-la, sem ser influenciado
ou usado por ela. Até alguns anos atrás, o tipo de programa era simples:
apresentações musicais, telejornais, entrevistas com artistas, gincanas com participações dos telespectadores
e outros programas.
Alguns desses programas
foram responsáveis, com suas ingênuas bailarinas, pelo início do processo de
erotização que se expandiu até o horário infantil, no qual hoje se multiplicam
apresentadoras que se tornaram símbolos sexuais. Nos últimos anos, porém, a
televisão popularizou um formato sensacionalista de apelo policial para
conquistar audiência. Nesses programas, crimes e imagens de violência física e
psicológica, dividem espaço com outras facetas do “mundo cão” com aberrações e
brigas ao vivo, no palco, entre telespectadores, a chamada “lavagem de roupa
suja em público”. Flagrante desrespeito ao telespectador é a promoção desse
gênero. Padrões de comportamento são ditados pelas novelas onde personagens e
situações mostradas na tela, tornam-se referência para atitudes dos
telespectadores na vida cotidiana. Pertencem ao mundo da ficção, mas costumam
adquirir contornos reais. Os telejornais
nos apresentam uma versão dos fatos, não a realidade absoluta. Quando
assistimos um telejornal, temos a impressão de que vemos um retrato do que
ocorre de mais importante naquele dia em nossa cidade, no país e no mundo.
Trata-se de uma ilusão: até o mais completo noticiário transmite apenas um
volume restrito de informações. Outra ilusão: As reportagens, mesmo as mais
extensas, dão conta apenas de uma versão, entre as três versões possíveis, da
mesma notícia. Além disso, a TV pode influenciar o conteúdo do noticiário,
favorecendo, por exemplo, um candidato em época de eleições ou um ponto de
vista sobre certo assunto.
A publicidade a serviço do
consumo influencia os comerciais exibidos na TV, recorrendo a estereótipos para
criar a sensação de desejo no inconsciente do telespectador. A publicidade
funciona assim nas revistas, nos jornais, nas rádios e nos outdoors, mas ela é
mais poderosa na televisão, pois a força das imagens em movimento e em cores
dificulta resistir aos seus apelos. A “mensagem” é clara: quem usa aquele
produto ou serviço pertence àquele mundo, e quem julga pertencer àquele mundo
deve, por conseqüência, consumir o que é anunciado. Se, é verdade que a
propaganda tenta criar necessidades que não temos os comerciais da TV são os
que mais influenciam as pessoas a conseguir o objetivo em questão.
“Uma escola que não ensina
como assistir à televisão é uma escola que não educa”, afirma o pedagogo
espanhol Joan Ferrés. Ele complementa
dizendo: “Talvez na escola o predomínio seja dos negativos que afirmam: a
televisão provoca todo tipo de males físicos e psíquicos: problemas de visão,
passividade, consumismo, alienação, trivialidade”. No extremo oposto, diz
Ferrés: “A televisão deve ser considerada como uma oportunidade para a
democratização do conhecimento e da cultura, para a ampliação dos sentidos,
para a potenciação do aprendizado. A televisão representa a cultura da diversidade,
a cultura da liberdade, das opções múltiplas. A atitude mais adequada é a
aceitação crítica, o equilíbrio entre o otimismo ingênuo e o catastrofismo
estéril, as possibilidades e limitações, as suas contradições internas”.
Por isso é aconselhável que
os pais tenham muito cuidados com o que as crianças estão assistindo para
evitar se moldarem aos exemplos por vezes negativos, que podem trazer prejuízos
a formação das crianças.
Leia também o artigo “As
crianças e a TV, como Agir?”
Bibliografia:
Revista “Nova Escola” nº 118
+ Acréscimos e modificações
Jc.
S.Luis, 10/5/2012
Revisto
em 17/02/2016