quarta-feira, 24 de abril de 2013

RAÍZES DA PERVERSIDADE HUMANA




       RAÍZES  DA  PERVERSIDADE  HUMANA
André Comte-Sponville, filósofo francês expõe no seu livro “O Espírito do Ateísmo”, seis motivos por que não acredita em Deus. Um dos motivos apresentados por ele é a mediocridade humana. Ele escreveu: Quanto mais conheço os homens, menos posso crer em Deus; é mediocridade demais por toda parte, pequenez demais, nulidade demais. Que belo resultado para um Ser Onipotente.
O estudo da evolução humana, a partir dos princípios espíritas, refuta tal argumento, pois não foi Deus o criador da perversidade humana, já que Ele criou-nos simples e ignorantes, portanto, desprovido de virtudes e defeitos. Os defeitos humanos podem ser considerados como opções do ser humano quando escolhe o caminho do mal. Devemos entendê-los, também, como resíduos de reações instintivas, adquiridas durante o longo estágio do princípio espiritual no reino animal, ainda não dissolvidos pelo esforço na construção do bem.
Podemos chegar a tal constatação, examinando os mais recentes estudos na área do comportamento dos grandes primatas, quais sejam os orangotangos, gorilas e chipanzés, nossos mais próximos na escada evolutiva. Uma síntese dos estudos de primatologistas da área do comportamento, foi apresentada por Draúzio Varela, na série Folha Explica, e que recebeu o título de Macacos. Os estudos nos surpreendem, pois mostram que grande parte das graves atitudes humanas no campo da ética e do comportamento, era uma prática corriqueira entre os grandes primatas.
Orangotangos – Os orangotangos, primatas asiáticos de pelo e rosto vermelho, são extremamente intolerantes uns com os outros. Não existe nenhuma associação mútua, nem defesa da comunidade. Quando percebem que o outro está próximo, ambos desviam o caminho e um deles se retira ou os dois partem para o confronto violento. As lutas são ferozes: machos adultos apresentam alta incidência de cicatrizes no corpo, olhos vazados, dedos e dentes quebrados. Alguns que são bem menores que os outros e são considerados subadultos, embora sejam eles adultos, vivem marginalizados pelos machos e fêmeas, sendo que as últimas não se  interessam por  eles.  Como fazem então  para  se reproduzir, se os machos ciumentos são o dobro deles?  Eles em
silêncio, surpreendem a fêmea desprotegida e tentam á força o que por bem não lhes seria concedido. Elas reagem como podem: gritos, mordidas, socos e pontapés. Embora fracos quando comparados aos dominantes, os subadultos são mais fortes que as fêmeas e o estupro é a estratégia reprodutiva. O primatólogo John Mitani, citado por Draúzio Varela, testemunhou 179 acasalamentos com 88% deles por estupros.
Gorilas – Os gorilas são os maiores primatas, chegando a pesar 200 quilos e vivem na África. Nos movimentos em busca de áreas alimentares, eles se cruzam com frequência. Esses encontros muitas vezes terminam em combates mortais. Nesses combates, o macho intruso muitas vezes mata os filhotes do outro, e o infanticídio rende dividendos imediatos: as fêmeas que perderam seus filhos tendem a abandonar o macho que não foi capaz de protegê-los, e segue o agressor.
Chimpanzés – São os primatas cuja inteligência e aparência física mais se identificam com os humanos. Os chimpanzés se reúnem em bandos para matar seus semelhantes premeditadamente. Não são exclusivamente vegetarianos ao contrário, têm apetite pela carne e são exímios caçadores. Suas vítimas, pássaros e pequenos macacos, são devorados com osso e tudo, às vezes, ainda com vida. São canibais e o infanticídio é fartamente aplicado entre eles. Existem muitos relatos de machos matando a dentadas os filhotes. Se na briga apanham, têm o mau gosto de descontar num mais fraco; fêmea, filhote ou idoso, Por essa razão, assim que as brigas começam, as mães escondem-se com os filhotes nos galhos. A disputa pelo comando é uma obsessão na existência dos chimpanzés e faz emergir o que tem de pior. Por exemplo, quando morre o dominante, e sua sucessão é disputada por dois ou três machos, é comum vê-los subir nas árvores e atirar as frutas mais apreciadas para o resto do bando no chão. Uma vez assumido o posto de comando, jamais repetirão o gesto demagógico.
 Como se vê, o ser humano tem o seu lado animal em sua personalidade; despótico, violento, sanguinário, herdado de seus ancestrais primitivos. A diferença fundamental, no entanto, é que os grandes primatas citados fazem o que fazem por instinto,  sem ter noção do que é certo ou errado, do bem ou do mal. Já a criatura humana, alçada à razão, faz o que faz com conhecimento de causa. Ao incorporar em sua individualidade a inteligência, o senso moral e a ciência da reflexão, o Espírito encontra-se estruturado para alçar-se a voos mais altos.
De acordo com Allan Kardec, o ápice da evolução espiritual está na soma completa das virtudes e no conhecimento de todas as coisas, ou seja, no pleno desenvolvimento intelecto-moral. Compete então ao Espírito desenvolver, após a consciência de si mesmo:
     a)  Os múltiplos conhecimentos e a inteligência existencial;
 b)  Os valores do sentimento e as virtudes humanas; a gratidão, a generosidade, a humildade, a tolerância, a caridade, a fé, dentre outras;
c)   A sublimação do instinto sexual, direcionando as forças do libido às atividades nobres em benefício da evolução de todos;

d)   As funções mentais responsáveis pela aquisição, organização, armazenamento e interpretação de informações do mundo externo;

e)   As forças psíquicas ditas paranormais, como a clarividência, a clariaudiência, a precognição, a psicosinésia;

f)    As emoções positivas como a esperança, a serenidade, a paciência, a coragem, a gentileza, a afeição e o amor.
A conquista da razão e o desenvolvimento da inteligência possibilitaram ao ser humano a maioridade espiritual. Mas com a conquista da razão e do conhecimento, tornou-se ele responsável pelos próprios atos. Compete-lhe prosseguir com o próprio esforço e a noção do certo e errado insculpido em sua consciência com a lei de causa e efeito, deverá nortear as suas decisões.     

Bibliografia:
Ricardo Baesso de Oliveira
“Livro dos Espíritos”
“Evolução em Dois Mundos”
Jc.
S. Luís, 23/04/2013