Agora que a cremação dos mortos já se tornou uma realidade, acessível até a quem mora nas cidades do interior, muita pessoas desejam saber qual é a posição espírita acerca do assunto.
O termo cremação – que é o ato
de cremar, incinerar, queimar – não foi examinado nas obras de Allan Kardec, um
fato estranhável, visto que a incineração de cadáveres humanos remonta à
antiguidade e constitui regra comum na Índia, na Grécia primitiva e entre os
romanos, sendo ainda hoje um costume em várias regiões do planeta.
Não examinada por Kardec, a cremação tem
suscitado, por isso mesmo, no meio espírita, posições que às vezes se
contradizem. Léon Denis, por exemplo, aponta na cremação uma desvantagem, visto
que, extinguindo o corpo físico pela ação do fogo, o ato provoca o
desprendimento mais rápido, mais brusco e violento do Espírito, podendo ser
mesmo doloroso para aqueles que foram apegados a Terra.
Como se sabe, há Espíritos
que permanecem algum tempo ligados ao corpo material após o transe da morte,
como ocorre em muitos casos de desastres e de suicídio. Como o rompimento e o
desprendimento do cordão fluídico nem sempre se consuma num tempo tão
curto, o desencarnado se assemelha a um
morto-vivo cuja percepção sensória, para sua desventura, continua presente e
atuante. A cremação poderia, assim, causar-lhe um angustiante trauma, o que equivaleria
a aumentar a aflição a quem já se encontra aflito.
Ao se manifestar sobre o
assunto, Richard Simonetti lembra-nos que, embora o cadáver não transmita
sensações ao Espírito que desencarnou, este poderá experimentar “impressões
extremamente desagradáveis” se no ato crematório, ele estiver ainda ligado ao
corpo. No mesmo sentido é a opinião de Paul Bodier, médico e escritor francês
que foi presidente da Sociedade Francesa de Estudos Psíquicos e autor de obras
como “A Vida e a Morte” e “A Granja do Silêncio”. Segundo ele, “a cremação tal como se pratica
entre nós, é, com efeito, prematura demais”. Talvez, por isso a inumação
(enterrar) devesse ser o processo normal, só se cremando os cadáveres com
sinais evidentes de putrefação.
Dentre as manifestações
sobre o assunto, oriundas do plano espiritual, vale a pena meditar sobre o que
o Irmão X (Espírito) escreveu, valendo-se da mediunidade de Chico Xavier no
livro “Escultores de Almas”: “Por trás da máscara mortuária, muitas vezes,
esconde-se a alma inquieta e dolorida, sob estranhas indagações, na vigília
torturada ou no sono repleto de angústia.
Para semelhantes viajores da grande jornada, a cremação imediata do
corpo fisiológico será pesadelo terrível e doloroso. Eis por que, se
pudéssemos, pediríamos tempo para os mortos”.
Outra manifestação sobre o
mesmo tema nos veio por intermédio de Chico Xavier, quando da entrevista
concedida em 1971 à TV Tupi-SP, no programa Pinga-Fogo. Naquela oportunidade,
Emmanuel transmitiu ao público – conforme foi dito por Chico – que “a cremação
é legítima para todos aqueles que a desejam, desde que haja um período de, pelo
menos 72 horas de tempo para a ocorrência em qualquer forno crematório”.
Dois aspectos devem ser
ressaltados na manifestação de Emmanuel: Em primeiro lugar, é preciso que o
falecido tenha manifestado seu desejo de ter o corpo cremado, evitando-se assim
que seja essa uma decisão apenas de seus familiares. O segundo diz da
necessidade de se observar um prazo mínimo entre a morte do corpo e o ato da
cremação, que Emmanuel sugeriu seja de 72 horas, que é um tempo razoável capaz
de evitar, em grande número de casos, o trauma mencionado por Léon Denis e
outros autores. Nesses casos, seria necessário preparar o corpo para aguardar
esse período de tempo até o ato da cremação.
Fonte:
Astolfo
de Oliveira Filho
Jornal
“O Imortal” – 12/2013
+
Pequenas modificações.
Jc.
São
Luís, 16/12/2013