quarta-feira, 8 de agosto de 2012

TRAGÉDIAS E AS PROVAÇÕES COLETIVAS

TRAGÉDIAS E AS PROVAÇÕES COLETIVAS Antes de apresentarmos este assunto, vamos primeiro saber o que são as provações, as expiações e as abnegações. Provações, são as dores e sofrimentos solicitados; as provas aceitas por nós mesmos antes de reencarnar (assumir um corpo físico na Terra), para resgatar nossos débitos para com a Justiça Divina. Na provação o Espírito reencarna com uma programação que foi feita na Espiritualidade, da qual ele participou, consciente de que deverá enfrentar para livrar-se de seus débitos. Expiações, são as dores e sofrimentos impostos compulsoriamente pela Lei Divina para os resgates das dívidas. Nesta o espírito reencarna com a sua programação feita pelos seus mentores espirituais, por se negar em reconhecer ou aceitar os seus débitos perante as leis divinas, e se recusa a aceitar os resgates. Abnegações, são as dores e sofrimentos suportados por todo missionário autêntico que vem à Terra, em missões, para seu aprimoramento moral e da humanidade. Nesta o Espírito já com certa evolução, escolhe uma existência difícil enfrentando privações e dificuldades, a fim de não se desviar do caminho escolhido, e dar exemplo de vida, de aceitação, de resignação e de caridade; igual á passagem evangélica, do homem que nasceu cego não por culpa sua ou de seis pais, mas para que “se manifestassem nele as obras de Deus...” ( João 9: 1 a 3 ) As dores avassaladoras e aparentemente indiscriminadas que têm alcançado o ser humano durante séculos, através de flagelos naturais e/ou provocados pelo próprio homem, deixam muitos questionamentos nos corações descrentes... Naquela noite, da época recuada do ano l77, o “Concilio” de Lião estava reunido, para estudar as comemorações para o dia seguinte, quando da chegada de Lúcio Galo, famoso general que desfrutava as atenções especiais do Imperador Marco Aurélio. Por esse motivo, enquanto lá fora se acotovelavam gladiadores e jograis, o patrício Álcio Plantus, descendente do fundador da cidade, presidia a reunião, programando os festejos. Marco Aurélio reinava e embora não houvesse lavrado nenhum decreto em prejuízo dos cristãos, permitia se aplicassem na cidade, com o máximo rigor, todas as leis existentes contra eles. Ninguém examinava necessidades ou condições; mulheres, crianças e velhos doentes, tanto como homens sadios e personalidades prestigiosas, que se declarassem seguidores do Nazareno, eram detidas, torturadas e eliminadas sumariamente, sem julgamento. Por esse motivo, multiplicavam-se as prisões e improvisaram grande circo com enorme arena. As pessoas após serem barbaramente espancadas, eram sacrificadas pelas feras, que, enfastiadas por massacrarem dezenas de vítimas, já não se mostravam tão ferozes. Por isso, inventavam-se novos suplícios... Álcio Plantus abrindo a reunião, disse que além das saudações ao general Lucio Galo, era preciso que o circo apresentasse alguma cena de exceção... O lutador Setímio poderia arregimentar os melhores gladiadores; contudo já eram comuns as lutas. A equipe de dançarinas poderia apresentar novos bailados que agradassem; mas, em consideração ao visitante, era imperioso acrescentar alguma novidade que Roma ainda não conhecesse. Alguém então gritou da assembléia: - Cristãos às feras! O chefe da reunião voltou a dizer: - Isso já não constitui novidade! Os leões recém-chegados da África estão preguiçosos... Depois das gargalhadas, Álcio continuou irônico: - Ouvi, ainda pela manhã, alguns companheiros que me apresentaram uma idéia que espero a aprovação de todos. Poderíamos reunir, nesta noite, centenas de crianças, mulheres, homens e velhos cristãos, guardando-os nos cárceres... E amanhã, coroando as homenagens, as colocaremos na arena, molhadas de resinas e devidamente cercadas de farpas embebidas em óleo, deixando apenas estreita passagem para a libertação dos mais fortes. Depois de mostrá-las festivamente em público, incendiaremos todas as pessoas, a área, e as estacas, e os mais fortes na ânsia de fugirem, nos proporcionarão muitos lances emocionantes e inéditos... Muito bem! muito bem! – rugiu a multidão apoiando a idéia. Plantus então disse: - O tempo urge e precisamos do concurso de todos. Centenas aplaudiram em delírio e concordaram em cooperar. Encorajado pelo entusiasmo geral e desejando distribuir a tarefa, o dirigente da reunião anunciou sarcástico e inflexível: - Cada um de nós saia á caça dessas pragas cristãs que ficam escondidas por toda parte... Caçá-las é o serviço de hoje. E saíram para a empreitada. Durante o dia e a noite inteira, muitas pessoas, ávidas de crueldade, vasculharam residências humildes, e no dia seguinte, ao sol vivo da tarde, grandes filas de crianças, mulheres e homens, em gritos e lágrimas, eram embebidas em resinas e colocadas na arena, cercada de farpas embebidas em óleo. No fim do trágico espetáculo, encontraram a morte, queimadas nas chamas ao sopro do vento, ou despedaçadas e pisoteadas pelos mais fortes, na tentativa de fugirem do inferno do fogo... Dezoito séculos se passaram desse tenebroso acontecimento. Entretanto, a Justiça de Deus, através da reencarnação, reaproximou todos os responsáveis que, em diversas posições de idade, se reuniram para a dolorosa expiação, o que aconteceu no dia 17 de dezembro de 1961, na cidade de Niterói, em comovente incêndio na vesperal de estréia do “Gran Circo Americano”, que vitimou centenas de pessoas; e para sepultá-las, foi necessário que a Prefeitura de São Gonçalo, cidade vizinha de Niterói, cedesse um terreno onde surgiu o Cemitério de São Miguel... Esta narrativa do Irmão X faz parte do livro “Cartas e Crônicas”, edição da FEB. Como eu na época havia me mudado para a cidade de Niterói, fui testemunhar o local desse resgate coletivo. Passemos agora ao sul da França, onde residiam os povos albinenses ou cátaros (no grego: puros), nos séculos 10 e 13 de nossa era. Os cátaros constituíam na época, uma civilização muito mais adiantada do que o resto da Europa. Sua capital era a cidade de Toulouse-França; tinham um grande intercâmbio cultural com grande parte dos países do continente. Essa cultura era divulgada pelos trovadores e cantores populares que iam de cidade em cidade, transferindo a cultura evoluída da região. Os judeus eram aceitos entre os cátaros e praticavam sua religião em sinagogas sem serem molestados, o que não acontecia no resto da Europa onde eles eram perseguidos. Existiam terras e trabalho para todos, e todos eram convidados a aprender a ler, inclusive mulheres. As artes eram estimuladas e os artistas valorizados. A alimentação era abundante e dividida entre todos. Todo esse progresso tinha um motivo: A religião seguida por esse povo. Desde o fim do século X, os cátaros professavam a filosofia cátara, uma religião cristã dos primeiros anos do Cristianismo. Os princípios fundamentais se baseavam em que: - o mundo material era um lugar de expiações; - os seres humanos haviam sido postos na Terra, por causa do pecado do orgulho, por isso deviam aqui passar por diversas encarnações para se purificar. – Homens e mulheres eram iguais, com direitos e deveres. Eles possuíam pregadores, tanto homens como mulheres, que se dedicavam a educar as pessoas, principalmente as crianças, em escolas abertas para toda a população, onde alfabetizavam e ensinavam sua religião. Eles tinham que ganhar seu próprio sustento, trabalhando, porque diziam que ninguém era obrigado a sustentá-los. Seu lema era: “O trabalho é uma prece”. Eles não acreditavam no Velho Testamento, embora aceitassem alguns trechos, como os “Dez Mandamentos”, pois diziam que o Deus ali representado, era cruel e vingativo, representando o mal. Seguiam o Novo Testamento e diziam que representavam a verdadeira Igreja do Cristo, pois seguiam a Sua doutrina e dos seus apóstolos, em palavras e atos. Eles desprezavam os mandamentos da Igreja Romana e diziam que o Papa e os bispos eram homicidas por causa de suas guerras por posses terrenas. Ensinavam que ninguém é maior ou melhor que outro na Igreja, concordando com Jesus quando disse: “...vós todos sois irmãos, e aquele que quiser ser o maior, que se faça servo dos seus irmãos”. Ensinavam também que ninguém deve ser forçado a qualquer crença. Eles faziam a imposição das mãos sobre as pessoas, para curar males do corpo e do Espírito. Diziam que a cruz que supliciou o Cristo, não deveria ser venerada, porque ninguém venera a forca na qual o pai, amigo ou parente fosse enforcado... (Eu também sou da mesma opinião, porquanto a cruz, a forca e a guilhotina são instrumentos de suplício e morte). Quando o Papa Eugênio III enviou, em 1147, o monge Bernardo, posteriormente consagrado pela Igreja como São Bernardo, para converter os cátaros ímpios, e este, constatando a vida correta e religiosa dos ditos hereges, desistiu da missão, e comunicou ao Papa, a devassidão e a corrupção existente no clero. O Papa Inocêncio III, durante o seu mandato, inconformado com a rebeldia dos cátaros, decretou indulgência plena (perdão: ir para o céu) para quem fosse matar os cátaros... Os cátaros indiretamente foram por sua independência de Roma, os responsáveis por duas das mais cruéis atitudes tomadas pela Igreja Católica Romana. 1- Contra eles foi decreta e constituída uma das cruzadas pelo Papa, em 1207; 2ª- Por causa deles, em 1215, o Papa Inocêncio, criou o “Santo Ofício”, mais conhecido com ‘”A Inquisição”, que trouxe o terror, as torturas, as fogueiras e a morte para milhares de humanos. Os escritos históricos registram as atrocidades da “Inquisição”: Giordano Bruno é queimado vivo em Roma; Galileu Galilei teve que negar a tese heliocêntrica sobre a Terra e tornar-se um prisioneiro, para evitar ser queimado. O padre Jan Huss, foi sacrificado na fogueira. Milhares e milhares de pessoas foram mortos em nome de Jesus, que só ensinava o Amor. Os participantes das Cruzadas podiam violentar roubar e matar a todos sem distinção de sexo, idade ou situação, que seus pecados seriam imediatamente perdoados pelo Papa. Nessa cruzada de extermínio, comandada pelo fanático padre espanhol Domingos de Gusmão, participaram os reis Felipe Augusto e depois Luiz VIII, interessados que estavam nas terras e riquezas dos cátaros... Os historiadores estimam que mais de 500 mil pessoas, foram assassinadas durante o extermínio dos cátaros, acabando com esse povo e sua cultura elevada. Avancemos agora no tempo até o século XVI, na mesma França, em Paris. Corria o ano de 1572, e vamos encontrar a cidade num clima de extremada intolerância religiosa, contra os seguidores da Reforma de Martinho Lutero, conhecidos como huguenotes (protestantes), que eram vistos como inimigos pelos católicos romanos. Margarida de Valois e Eurico de Navarra, duques, ela católica e ele protestante, se conheceram e se apaixonaram. O casamento dos dois representaria o traço de união que poderia pacificar aquele clima de intolerância religiosa. Porém a reação a essa união estava sendo tramada e encabeçada pela rainha Catarina de Médicis, com o apoio de suas conselheiras. Elas, católicas, passaram a elaborar o fatídico plano de extermínio dos chamados “Cristãos da reforma”, e para isso, escolheram o dia 24 de agosto de 1572, um domingo, dia da festa em Paris, consagrada a São Bartolomeu, mártir do Cristianismo. O plano seria executado à noite. Margarida, por sua vez, sente maus presságios e manifesta a Eurico imensa preocupação com o que poderia vir do Palácio do Louvre. Chegada a hora, Catarina de Médicis dá a ordem aguardada pelos sicários da maldade, iniciando a caçada aos huguenotes, que ficou conhecida na história como “A Noite de São Bartolomeu”. Centenas de protestantes foram, pregados a cruzes e colocados nas estradas que davam acesso a Paris; muitos eram antes torturados e depois queimados até que a morte chegasse... Alguns séculos se passaram desses tenebrosos acontecimentos na França, e, para reabilitá-la, e também a cidade de Lion, renasce naquela cidade, Hippolyte Leon Denizard Rivail, mais conhecido como Allan Kardec, o Codificador da “Doutrina dos Espíritos”, o “Consolador” prometido por Jesus. Ainda nos lembramos de Alexandre Magno, o Grande, nas suas conquistas pelo poder, que só na batalha de Arbenas, enfrentou e venceu um milhão de homens, sendo poucos os que sobreviveram. Do terrível Átila, no século V, à frente dos hunos que devastou e matou milhares de pessoas na Europa e na Ásia. Temos também na lembrança, a figura de Nero, que ordenou uma sangrenta perseguição aos cristãos e ainda os culpou pelo incêndio de Roma, que ele havia provocado. Do infeliz Adolfo Hitler, que mandou matar milhões de pessoas, só judeus foram seis milhões e dizimar nos fornos, milhares de criaturas. Das bombas atômicas lançadas sobre as cidades japonesas de Nagasaki em 06/10/1945, e Hiroxima em 09 do mesmo mês, que eliminaram milhares de pessoas. Do terremoto no Irã que ceifou milhares de vítimas na cidade histórica de Bam. Ainda mais recente, lembramos também da destruição das “Torres Gêmeas” na América do Norte, em 11/09/2001, que vitimou centenas de pessoas. Para não nos alongarmos, comentaremos o último terremoto e maremoto que atingiu o sudeste da Ásia, no dia 26 de dezembro de 2004, deixando um rastro de 225 mil mortos. O tremor de 9 graus provocou ondas de até 10 metros de altura e diversos “tsunamis”, onda oceânica de alto poder destrutivo quando chega à região costeira... As diferentes crenças religiosas evitam analisar essas tragédias por não terem como explicá-las, enquanto a Doutrina dos Espíritos nos fornece as razões, nos levando às reflexões. Vejamos o que nos orienta a filosofia espírita, sobre o assunto: - Pergunta nº. 737 de Allan Kardec, aos Espíritos Superiores; “Com que propósito fere Deus a Humanidade por meio de flagelos destruidores?” – Resposta dos Espíritos: “Para fazê-la progredir mais depressa. A destruição é uma necessidade para a regeneração moral dos Espíritos. Somente do vosso ponto de vista pessoal os apreciais; daí os qualificardes de flagelos, por causa do prejuízo que vos causam.” – Volta Kardec a fazer a pergunta n º 738: “Para conseguir a melhora da Humanidade, não podia Deus empregar outros meios que não os flagelos destruidores?” – Resposta dos Espíritos: “Pode, e os emprega todos os dias, pois deu a cada um os meios de progredir pelo conhecimento do bem e do mal. O ser humano, porém, não se aproveita desses meios.” Permitam-me fazer algumas observações: 1- Sabemos que o acaso não existe, e o ser humano passa pelos resgates e experiências que contribuem para o seu progresso; 2- Essas ocorrências mobilizaram as nações e os povos que prontamente abraçaram a causa da solidariedade. Para que se tenha uma idéia, pela primeira vez na história, um avião israelense pousou no maior país muçulmano, a Indonésia, com uma ajuda humanitária e uma equipe de voluntários. Esta operação poderá no futuro promover as relações entre esses dois países que se consideram inimigos, por questões religiosas. 3- Um bebê de 20 dias dormia quando o maremoto atingiu a costa e ele sobreviveu graças ao colchão que flutuou; um garoto foi encontrado boiando, agarrado num galho de árvore... Por que milhares foram arrastados pelas águas e morreram, e alguns conseguiram se salvar? Sorte? Privilégio? Ventura? – Sabemos que não. Porque Deus permite esses desastres que promovem tantas lágrimas, espalham tantos sofrimentos e deixam marcas tão terríveis? – Kardec esclarece que Deus a ninguém pune e a ninguém concede privilégios. Apenas estabelece Leis Justas e Sábias, e quem a elas obedece é feliz e abençoado. Quem não as segue, sofre por causa dos seus atos, de acordo com a Lei de Causa e Efeito. Os dolorosos quadros do passado e atual, da vivência do ser humano na Terra, podem ser modificados e revertidos no futuro, desde que, apoiado nos conhecimentos já divulgados; sejam orientadas às novas gerações, até serem assimilados e vivenciados, os códigos morais deixados pelo Cristo, e relembrados e ampliados pelo “Consolador”. Devemos todos orar uns pelos outros, estabelecendo uma corrente protetora de energia benéfica, que é movimentada pela ação da oração. Caso tenhamos que enfrentar um dia de horas dolorosas, recordemos que Jesus dizia que Ele sempre estaria conosco. Um dia, livre das existências terrenas, porque livres das imperfeições, seremos amparados pela Bondade do Pai Celestial... Paz, harmonia e saúde, eu desejo a todos. Bibliografia: “Livro dos Espíritos” Jc. S.Luis, 15/6/2005 Revisado em 7/8/2012