sexta-feira, 19 de outubro de 2012

JÉSUS GONÇALVES, O REI E O LEPROSO

JÉSUS GONÇALVES, O REI E O LEPROSO Ao estudarmos a história da Doutrina dos Espíritos no Brasil, descobrimos a importância que muitas pessoas tiveram para o crescimento e a divulgação da Doutrina. Cada um no seu lugar, na sua cidade, no seu estado, exercendo importante papel. Jesus, o verdadeiro responsável pela vinda do Consolador Prometido para as terras brasileiras, não apenas recrutou Espíritos elevados, mas, também é muito significativo, não ter dispensado o auxílio dos Espíritos endividados com as leis divinas, convidando-os a ressarcir seus débitos e ao mesmo tempo dando sua cota de contribuição na nova etapa de seu Evangelho no Brasil. Se conhecemos Bezerra de Menezes, Eurípedes Barsanulfo, Chico Xavier, entre os seres iluminados, também pudemos conhecer irmãos dedicados como Jerônimo Mendonça, Jésus Gonçalves e outros que, comprometidos com a Humanidade por desacertos em existências passadas, não deixaram de dar seus testemunhos de luz, exemplificando a mensagem de Jesus, à luz do Espiritismo. Vamos conhecer a existência de um deles, conhecido no meio espírita como “O Poeta das Chagas Redentoras”. Há muitos anos atrás, numa família extremamente pobre, nasceu em 12 de julho de 1902, um menino a quem seus pais, João Gonçalves e Josefa, deram o nome de Jesus, para homenagear o Mestre de Nazaré. O pai era lavrador e trabalhava duro para suprir as necessidades da família. Tempos depois, quando o menino contava três anos de idade, a mãe de Jesus ficou doente e acabou por desencarnar. Assim, ele cresceu sem o carinho da mãe e sem poder frequentar a escola, como era da sua vontade. Aos dezessete anos, Jesus Gonçalves saiu de Borebi, cidadezinha do interior de São Paulo e foi tentar a vida em uma cidade maior. Como ele era muito inteligente e aprendia com facilidade, um tio o ensinou a tocar um velho instrumento de sopro. Jesus conseguiu emprego e, gostando muito de música, comprou e passou a tocar um clarinete na bandinha da cidade. Passado algum tempo, ele casou-se com Theodomira, viúva, que já tinha duas filhas e a família foi aumentando com a chegada de mais quatro filhos. Entretanto, a felicidade de Jesus logo terminou, pois sua esposa faleceu, deixando-o sozinho com seis crianças. Ele ficou sem saber o que fazer, visto que seu filho menor tinha apenas três anos, e ele precisava trabalhar, foi então que uma vizinha chamada Anita, com bom coração, vendo sua dificuldade, resolveu ajudá-lo no cuidado com as crianças e na organização da casa. Com a convivência, ele e Anita acabaram se casando. No entanto, novamente a felicidade de Jesus Gonçalves durou pouco. Notando estranhas manchas em sua pele, preocupado, procurou um médico que lhe deu o diagnóstico secamente: -- O senhor está com hanseníase! Jesus Gonçalves já ouvira falar dessa doença, chamada de lepra, que assustava antigamente todo mundo, e ficou apavorado, repassando em sua cabeça o que conhecia a respeito dela. Era a mesma doença que na época de Jesus de Nazaré, os doentes eram obrigados a deixar as famílias e ir para o “Vale dos Imundos” ou “Vale dos Leprosos” e desse local nunca mais saiam. Muitos desses ficaram felizes por serem curados pelo Messias. Mas agora, ele sabia que os enfermos eram levados pela saúde pública para os hospitais, ficando afastados da família e da sociedade. Jesus sentiu que seu mundo desabava, entretanto, enfrentou com coragem o destino que lhe era reservado. Assim, quando a ambulância veio buscá-lo para ser levado ao Asilo-Colônia de Aymorés, chamado de leprosário, para tratamento, que na época era muito precário e incerto, ele não se revoltou. Porém, sem compreender o porquê de ser retirado da sociedade subitamente e ter de ficar longe de seus afetos, revoltou-se contra o “Deus de injustiças” que ele não lograra compreender. Ele não acreditava em Deus e, portanto, não poderia beneficiar-se da fé, para ajudá-lo a suportar o resto da existência no hospital. Mesmo assim, não se entregou. Como era cheio de ânimo, coragem e determinação, em pouco tempo tinha mudado a existência dos outros doentes: criou uma bandinha, um jornal, time de futebol e escreveu poesias e peças de teatro. Depois, Jesus conseguiu ser transferido para o Hospital-Colônia de Pirapitingui, maior e com mais recursos. Ali também, em pouco tempo, havia mudado a existência dos doentes, levando-lhes mais alegria. Fundou uma estação de rádio, um jornal, encenou peças de teatro e, lógico, montou uma bandinha. Apesar de tudo isso, sua dor era grande pela situação em que viviam. Quando sua segunda esposa, Anita, que vivia com ele havia onze anos, faleceu ele ficou desesperado. Outro acontecimento triste viria fincar nova marca em seu espírito já tão sofrido... Ao velar o corpo da esposa, ele e seus companheiros se veem subitamente perplexos diante de surpreendente cena! Para tentar consolá-lo, antes do enterro, Anita tenta conversar com ele através da médium Jordelina, e ele desgostoso e com o clima que se formara no ambiente repreende: “Não gosto de brincadeira comigo. Tudo isso é bobagem! Deixe de feitiçaria, Jordelina!” Entretanto, ela usando a médium e em linguagem bastante íntima dos dois, diz a ele: “Velho, não duvides mais, Deus existe!” – E prosseguiu sua conversação que o impressionaram muito, pelo teor íntimo das confidências, e, por tudo o que ela lhe disse. Jesus de espírito ponderado, não se deixou levar pelo primeiro impacto da emoção, mas, depois, consultando a razão, foi buscar nos livros espíritas explicações para o sucedido. Foi o marco inicial da transformação que iria se operar na existência de Jesus Gonçalves. Agora ele não tinha mais dúvidas de que era realmente sua esposa que lhe falara. Entretanto, o fato que culminou com a sua total conversão aconteceria poucos dias depois, conforme relato de seus companheiros de Pirapitingui. Estava ele como sempre, as voltas com sua dor, que nesse dia estava mais forte que de costume. Então ele, no auge do sofrimento resolveu chamar por aquele “deus” de que tanto falavam e ele ainda se recusava a aceitar. Dada a inoperância dos medicamentos que tomava, retirou um copo com água da talha, colocou-o na mesa e disse, prática e resolutamente: “Se Deus existe mesmo, dou cinco minutos para que Ele coloque nessa água um remédio que me alivie a dor!” E marcou no relógio. Passados os cinco minutos, foi beber a água, e grande foi sua surpresa, pois ela estava muito amarga. Impressionado, chamou um companheiro para provar aquela água e a da talha, e este, por sua vez, provou e sentiu a diferença. Estaria enfeitiçada? Seria uma alucinação? ... Mas a dor não lhe deu tempo para pensar e Jesus não se fez de rogado: ao olhar espantado do amigo, ele sorveu a goles, o líquido, no intuito de aliviar a dor que não transigia. Não demorou nem dois minutos para que ele sentisse o efeito, já sem dores, entre espantado e agradecido. Finalmente encontrou Deus e passou a entender as leis divinas. Suas palestras ficaram famosas na Sociedade Espírita Santo Agostinho, que ele fundou dentro da Colônia de Pirapitingui. Aos poucos, sua saúde foi piorando cada vez mais, até que retornou ao mundo espiritual, onde entendeu a razão das dificuldades e dos sofrimentos que enfrentara. Ele viu imagens de um passado distante, fatos ocorridos há muitos séculos, quando ele era Alarico, rei dos visigodos, um guerreiro extremamente cruel. Por onde ele passasse com seus exércitos, deixava destruição, ruina, desespero e morte; e ao sair, ateava fogo nas aldeias e cidades, para que nada mais restasse... Por muitos séculos ainda, em outras existências, espalhou dores e sofrimento a muitas pessoas, até o dia em que arrependido, ele começou a melhorar sendo amparado pela providência divina. Reencarnou muitas vezes, e em várias dessas existências, voltou como leproso, para limpar seu corpo espiritual das manchas que adquirira em séculos de horrores. Uma lembrança, porém, marcara-o de modo muito especial e, vislumbrando o passado viu quando o exército de Alarico se preparava para invadir Roma. À noite, o acampamento das tropas recebeu a visita de Agostinho, bispo de Hipona, que enfrentara muitos perigos para vir suplicar a Alarico que poupasse a cidade e seus habitantes em troca da sua vida. O guerreiro ficou furioso com a audácia daquele homem franzino, que ousava vir até ele fazer-lhe tal pedido. O diálogo foi difícil, porém, mesmo cercado pelo violento exército, o bispo não demonstrou temor, mantendo sempre a humildade e a mansidão. Depois da longa conversa, Agostinho, triste, retornou para Roma sem ter conseguido convencer Alarico. No entanto, ao tomar a cidade, o exército de Alarico respeitou os templos religiosos. Ao perceber isso, a população procurou abrigo nas igrejas, principalmente as mulheres e as crianças. Agostinho, ao perceber que Alarico, apesar da invasão, respeitava os templos e não fora tão cruel com a cidade de Roma quanto costumava ser com outras cidades, ficou-lhe eternamente grato, iniciando-se a partir desse episódio a ligação entre esses dois Espíritos, pois Agostinho tornou-se seu Espírito protetor. Jesus comovido, só então compreendeu a razão de, intuitivamente, ter simpatia por Agostinho, e tê-lo homenageado ao escolher o nome de “Santo Agostinho” para o Centro Espírita do leprosário, que fundara com amigos. No mundo espiritual, ciente da sua pequenez, ganhando iluminação espiritual não desejou mais ser chamado de Jesus. Afirmava não merecer usar o mesmo nome do Mestre, preferindo ser conhecido como Jésus, que lhe recordava a existência em que vestira um corpo de chagas, através do qual se transformara moralmente. Ao reencarnar, não se lembrava dos erros que praticara contra seu próximo em muitas existências. Entretanto, como Jésus Gonçalves, trouxera na consciência o desejo de ajudar seus semelhantes. Essa fora a razão pela qual tinha se esforçado para espalhar o bem a todos, levando alegria, bom-ânimo e esperança por onde passava. Apesar das dores, do sofrimento e da segregação em que viviam no leprosário, seus companheiros – antigos guerreiros de Alarico que também reencarnaram para o acerto com a lei divina – sempre viram nele o líder, o amigo, o confidente, alguém que não perdia ocasião para ajudá-los. Para Jésus Gonçalves, Alarico era o doente, pois a verdadeira doença é a do Espírito. E Jésus por ter vencido nessa encarnação, tornou-se moralmente melhor, segundo os preceitos do Cristo. Bibliografia: (Mensagem de Meimei, recebida por Célia X. de Camargo, em Rolândia-PR., em 25/06/2012). Jornal “O Imortal” - julho/2012 Eduardo Carvalho Monteiro, no livro “A Extraordinária Vida de Jésus Gonçalves”. PS. A hanseníase, antigamente conhecida como lepra, é uma doença infecciosa crônica que afeta principalmente a pele, a mucosa e os nervos, mas que atualmente é curável. Jc. S.Luís, 19/10/2012