terça-feira, 30 de outubro de 2012

A DESENCARNAÇÃO E SEUS PROBLEMAS

A DESENCARNAÇÃO E SEUS PROBLEMAS O mundo avança célere em suas conquistas, nas mais diferentes áreas de conhecimento, entretanto, o velho mistério que envolve a desencarnação (morte física), não perde sua atualidade. É certo que a visão do ser humano vem se ampliando no entendimento desse difícil processo, mas ainda anda longe de uma visão realista que amenize seus conflitos. Esse fenômeno sempre intrigou o ser humano. O futuro dos mortos e o julgamento a que estaremos sujeitos ao nos transferirmos para o “outro lado”, foram sempre motivos de preocupação de todos nós, nas sucessivas experiências existenciais, nas mais diferentes culturas do planeta. Revendo a evolução de nossa compreensão da morte física, Emmanuel relembra: Os hindus acreditavam que havia um juiz dos mortos. Para os assírios-caldeus, os mortos viviam sonolentos em regiões subterrâneas. Já os gregos, criam que os espíritos seriam julgados por Minos, filho de Zeus. Nesta concepção, já entra a idéia de julgamento. Os romanos proclamavam o princípio da retribuição, acreditando que, no Orco (inferno para eles), divindades infernais puniam as almas que se fizeram presas de ilusões e maltrataram outros seres. Aí já começa a se fixar o “fazer aos outros como queres que te façam”, mesmo levados pelo medo. Para Maomé, havia sete andares no céu e sete infernos, talvez para atender as diferenças de erros e culpas. Na simbologia judaica, isso nos recorda as palavras de Jesus: “Na casa de meu Pai há muitas moradas.” Os vedas, já tinham uma visão mais real do pós-morte: krisna dizia que “o corpo é só um envoltório da alma. Ao fim do corpo, se a alma foi pura, voa para as regiões dos seres puros que vivem com Deus.” Buda, finalmente, afirma que o bem é o fim supremo da natureza e que “tudo que somos é resultado do que fomos e que a morte é um agente da vida que exige renovação contínua e transformações incessantes.” Essa é também a visão da Doutrina dos Espíritos”... São muitas as razões do medo da morte que sempre nos acompanha. Umas, estão associadas a lembranças arquivadas na memória espiritual, de mortes trágicas dos tempos da barbárie. Outras se associam ao terror daquela imagem do julgamento dito divino de céu, purgatório e inferno; destinos teológicos que fizeram nossos tormentos no passado, e que hoje são apenas teorias. Também entram os rituais que evocam tristezas e cores escuras do antigo luto. A tudo isso, acrescente-se a associação da palavra “morte”, com a palavra “fim”, que traz o pavor do nada. A soma desses fatores inspira em muitas pessoas o sofrimento, pela simples possibilidade de enfrentá-la, que mesmo não desejando, é inevitável para todos nós. Para a maioria das pessoas, é o desconhecido, o fim; entretanto, para outros é a libertação, a realidade existencial, a verdadeira vida, que é espiritual. É comum haver uma busca da religião, uma ampliação de nossa capacidade de entendimento das coisas, uma benevolência maior que nos torna mais fraternos. Também acontece às vezes, a transferência do afeto dedicado à pessoa que partiu para outras pessoas desamparadas. Pais que cujos filhos partiram, buscam outros filhos para exercitarem a capacidade de amar. E há tantos filhos em desamor, necessitados de carinho!... Quase sempre essa dor impulsiona-nos à fraternidade. Exemplos de pessoas que suavizaram suas dores não nos faltam: Lucinha Araújo, mãe do contar Cazuza, é um deles. Passou ela a dedicar-se às crianças portadoras do vírus HIV, o mesmo que levou seu filho para a Espiritualidade. Como ela, muitas outras pessoas estão no trabalho de benemerência, com o qual procuram preencher a ausência de um ente querido. A desencarnação traz em si, grandes mudanças, não só para a pessoa (espírito) que se transfere de uma dimensão para outra, mas também para os que ficaram saudosos. A adaptação à vida sem a pessoa que partiu é quase sempre lenta e difícil. Há em geral, mudanças no comportamento de toda a família. Uns se fecham, ficam introvertidos, acabrunhados; outros extrovertem-se repentinamente. Algumas crianças e jovens começam a imitar o parente que partiu. Há as que tentam fugir das lembranças do ausente, no ambiente doméstico, mudando de endereço e até de cidade. Só mais tarde percebem que a dor ou a tristeza as acompanha para onde forem, porque elas se situam dentro e não fora da pessoa. Outros buscam o consolo na religião e se excedem na freqüência. Alguns identificam as atividades profissionais, trabalhando excessivamente, tentando esquecer o acontecimento. Há ainda os revoltados, que brigam com Deus e afastam-se da religião e do trabalho, dando espaço à revolta e à tristeza, por não aceitarem o Determinismo Divino. Auto-piedade e auto-punição também atingem alguns, nesses primeiros momentos de ausência. Às vezes, o medo de que aquele acontecimento se repita no lar chega a neurotizar algumas criaturas. Certas mães que perderam o filho(a) nas ruas ou estradas, redobram os cuidados com os amados que ficaram. Ansiedades, culpas, arrependimentos, acompanham os que ficaram. Culpas por tudo e por nada. Tudo isso pode nos adoecer o corpo físico, se não tivermos a resignação de que tudo o que aconteceu, cumpriu o determinismo divino. Há casos de mães que enlouqueceram, venerando retratos de filhos que partiram. Entretanto, há criaturas que superaram bem essa situação. Com as mensagens de jovens desencarnados que vinham pela psicografia de Chico Xavier, confortar os corações de seus pais e lhes pediam que não se entregassem à dor e ao desânimo, por se sentirem vivos, muito cresceu a Doutrina dos Espíritos. Eles aconselhavam a que os pais cuidassem das dores de outros sofredores para amenizar as suas próprias. Alguns grupos espíritas originaram-se dessas situações. Essa é a dor aproveitada. Chico Xavier elegeu seu trabalho em benefício dessas mães, como o de que mais gostava de fazer, e o considerava dos mais importantes de sua tarefa mediúnica. Para nós, espíritas, o enigma da morte é mais suave, porque sabemos que ninguém morre; apenas nos libertamos do corpo físico e retornamos à nossa realidade espiritual. Porém, como estamos sujeitos às mesmas regras de convivência e aos mesmos compromissos que regem os laços de família, a dor e a saudade ainda repercutem fortemente em nossas almas, razão por que a ausência física tem, para nós, um peso relativo que não está em nossa vontade afastar. Mensagem de André Luiz, psicografada por Chico Xavier, em que são comprovados os fatos relatados e as pessoas mencionadas, garantiu-nos uma melhor compreensão e maior intimidade com esse fenômeno da desencarnação. Muitas dores foram aliviadas pelas mensagens recebidas com a permissão de Deus, através desse generoso médium. Emmanuel nos orienta dizendo: “A existência é a experiência digna da imortalidade”. Pensar bem, agir bem e viver em regime de amor e respeito ao próximo, desapegando-nos de bens materiais supérfluos e do sentimento de posse, no nosso relacionamento com os semelhantes, pode ser excelente exercício para uma desencarnação tranqüila, sob o amparo dos bons Espíritos. “Quanto menos material for às moléculas constitutivas do perispírito, mais rápida será a desencarnação e mais vastos são os horizontes que se abrem ao espírito”, garante-nos Leon Denis. Os nossos amados que partiram, sofrem também com a nossa inevitável dor. Muitas vezes ficam por algum tempo sem coragem de nos deixar. Então continuam ligados a nós e sofrem ao ver-nos sofrer! Uma jovem recém-desencarnada pediu à sua mãe, numa mensagem, que não falasse e não se lembrasse dela como pessoa morta, porquanto ela estava muito viva e se sentia péssima, quando ouvia tal referência a ela; porque se via viva e feliz ao lado do noivo que desencarnou com ela no mesmo acidente que os vitimou. Através das instruções dos Espíritos desencarnados, que já alcançaram certo grau de evolução, e com espíritos enfermos, nas sessões mediúnicas de trabalho, existe um princípio geral após o retorno ao plano espiritual, que é, ser encaminhado para a posição de que é merecedor. O tempo em que isso ocorre vai depender dos fatores que influenciaram a desencarnação, também, do conhecimento intelectual e da moralidade conquistados na experiência terrena, e do acervo das existências anteriores e do automatismo da lei de causa e efeito. A situação do espírito ao passar à Espiritualidade não lhe será acrescido de nada, nem em conhecimento ou progresso além do que já possuía ao deixar a Terra. A invisibilidade e a intangibilidade serão comuns a todos os desencarnados, com relação aos que ficaram na Terra. Eles percebem também os desencarnados que estejam na sua situação evolutiva ou abaixo dela. Somente os Espíritos Superiores são vistos ou percebidos, se assim o desejarem. A desencarnação, em muitos casos, não deixa o espírito perceber a realidade da própria situação, isto é, ele não acredita que desencarnou, tal a identidade entre a aparência do corpo físico que usava e a do perispírito, que é semelhante. Como no mundo espiritual “o pensamento é tudo”, e a vontade é a força modeladora do pensamento, o espírito alcança os objetivos que pretende. O retorno ao reduto doméstico é conseguido pelo anseio forte, embora ele não saiba como conseguiu. Os espíritos que se mantenham preocupados com os assuntos e bens da existência material, continuam presos a eles. Muitos desencarnados se comprazem em manter-se ligados às sensações físicas, na ilusão de assim continuarem “vivos”. E para conseguir tais sensações, sugam as energias dos encarnados, que se lhes assemelham, moral e intelectualmente, que funcionam como “pontes vivas” a lhes servirem... Os que se viciaram no álcool, nas drogas ou na sensualidade, conseguem ligar-se aos seus hospedeiros, que vivenciam os mesmos vícios e os satisfazem. É o chamado “vampirismo” que é uma realidade. Outras pessoas começam a fazer pedidos de ajuda e proteção aos recém-desencarnados, como se apenas a passagem para a espiritualidade, lhes acrescentasse poderes que nunca possuíram. Muitas das vezes, os espíritos, do outro lado, não têm condições de resolver nem os problemas surgidos com a sua nova situação. O perispírito mantém todos os sintomas do corpo e, com a natural evolução, a satisfação das necessidades vai desaparecendo até extinguir-se, já que o espírito se mantém com outros recursos de energia espiritual. Na verdade, a necessidade desses recursos existe mais por causa do estado mental do espírito do que por exigência do corpo espiritual. Não é de imediato que o espírito se liberta da escravidão dos sentidos, a não ser que seja muito elevado. Somente à proporção que o domínio mental vai se ampliando e tomando conhecimento da nova realidade, é que os sentidos irão deixando de atuar, porquanto já está liberto das influências da matéria, na ascensão aos patamares espirituais. O Eclesiastes diz: “Há tempo de ganhar e perder; tempo de guardar e desfazer.” Assim, ao reencarnarmos, perdemos depois de algum tempo o seio da mãe, os amigos da infância, a professora do jardim, a escola maternal, a primeira amiguinha, a primeira namorada, o sonho do amor perfeito... Perdemos a inocência, o brinquedo estimado, o cãozinho adorado, o concurso desejado, o emprego, perdemos os pais, o corpo físico, e até a existência terrena; e mesmo assim, temos dificuldades de diferenciar o efêmero do eterno. Estudamos e trabalhamos para conquistar coisas materiais, que são passageiras, e não elaboramos roteiro que nos conduzam às conquistas eternas. Somos às vezes, cegos e surdos aos apelos divinos e depois reclamamos quando às adversidades nos visita. Existem estudos que demonstram que os seres humanos têm reações as mais diversas, frente à perda ou possível perda: Negação – Não é comigo; não vou perder o emprego; não desfiz o lar; não perderei os que amo... Raiva – Não deveria acontecer comigo; não faço mal a ninguém; por que esse castigo?... Barganha – Deus, se eu conseguir isto ou aquilo; se você Jesus não permitir eu perder... eu faço... em troca, eu prometo fazer... o filho para o pai; se você me deixar fazer isto, eu prometo... o pai para o filho; se você me atender, eu faço... Depressão – Não vou conseguir; o meu dia está péssimo; Desse jeito eu não vou arranjar... Aceitação – “Senhor, faça-se em mim, Tua vontade”, Maria de Nazaré; “Está consumado”, Jesus; “Faça-me instrumento de Vossa Vontade”, Francisco de Assis. Emmanuel estabelece uma diferença entre Existir e Viver. Muitos existem e não sabem viver. “O berço comprova a nossa existência, mas a vida é obra de Deus na eternidade”. Talvez nisso se situe o ponto crucial do problema. Aceitação da existência, eis outra condição indispensável, pois as pessoas nunca estão satisfeitas. A superação possível e a adaptação à nova situação, será proporcional à aceitação do fato como uma necessidade para o nosso espírito. A resignação e a humildade nos ajuda a aceitar os desígnios divinos e nos garante a paz para trabalharmos, ocupando nosas horas. Contudo, o pranto às vezes parece inevitável. Podemos chorar? – Por que não? – Chorar de saudade, sem a revolta que revela ausência de confiança em Deus e na continuidade da vida dos que partiram. Toda manifestação de existência na Terra é processo de transformação e evolução permanente. Respeitemos o livre-arbítrio da pessoa para caminhar de conformidade com sua vontade, seus esforços e conhecimentos. A Doutrina dos Espíritos demonstra a continuidade da vida, que não cessa com a morte do corpo físico. Contrapondo-se ao materialismo, oferece as comprovações da vida espiritual do espírito. O Espiritismo reafirma os ensinamentos de Jesus quanto à vida em Espírito, que Ele mesmo demonstrou com a sua Ressurreição. Com os ensinos de Jesus e da Doutrina dos Espíritos, a vida futura do espírito imortal é fato comprovado e não simples hipótese; vida essa que se desdobra tanto em mundos espirituais como em mundos materiais como a Terra, nos quais o renascimento ou reencarnação, ocorre em corpos materiais. Allan Kardec observa em comentário a questão 171 de “O Livro dos Espíritos”, o seguinte: “A doutrina da reencarnação, isto é, a que admite para o espírito muitas existências, de acordo com as necessidades, é a única que corresponde a idéia que formamos da justiça de Deus, para com os seres humanos que se acham em condições de moral inferior; a única que explica o futuro e fortalece as nossas esperanças, pois nos oferece os meios de quitarmos os nossos erros pelos resgates. A razão assim nos indica e os espíritos a ensinam”. A vida na Espiritualidade aguarda a todos nós, espíritos bons, maus, indiferentes, sensíveis, amorosos e dedicados aos seus semelhantes, ou capazes dos maiores crimes e torpezas. O Pai, o Criador do Universo, ama a todos nós, sem exceção de nenhum filho, mas a sua justiça alcança também a todos, não com o objetivo de premiar ou condenar, mas fazendo retornar á cada um, as conseqüências naturais das ações praticadas, boas ou más. Suas Leis, cujo conhecimento a Doutrina Espírita proporciona aos seres humanos, precisam ser conhecidas e divulgadas para todos os povos e raças, já que, do seu cumprimento depende o progresso e a felicidade das pessoas e da humanidade. A nossa existência é valiosa e sabemos que um dia, mais cedo ou tarde, teremos que nos libertar do corpo material que usamos e retornar ao plano espiritual onde a nossa vida continua... Entretanto, para que não enfrentemos os sofrimentos, devemos melhorar a nossa moral e o nosso comportamento, a fim de sairmos deste mundo, melhor do que quando aqui chegamos. Fraternidade e caridade e amor são as ações que nos elevarão no mundo da espiritualidade. Esta é a nossa obrigação e ao ler esta exposição não poderemos mais dizer que não sabemos. Se não atender a obrigação prepare-se para sofrimentos. “Nascer, viver, morrer e renascer novamente, tal é a Lei Divina”, ensina o grande professor Allan Kardec. Trabalhemos desde já nossa transformação com Jesus, construindo o nosso progresso espiritual, na certeza de que teremos a proteção e a misericórdia de nosso Pai Celestial... Bibliografia: “Revista Espírita de Campos” “Novo Testamento” + acréscimos e modificações. Jc. Refeito em 20/9/2005.