A doença é séria e, apesar
dos avanços recentes, permanece ligado a preconceitos. O exame é fácil, rápido
e indolor, mas quase ninguém faz. Entenda as barreiras a essa arma decisiva no
controle da aids.
O ano de 1983, foi um ano
marcado pela explosão mundial do número de casos de aids, a doença causada pelo
vírus da imunodeficiência humana, o HIV. “Naquela época, receber o diagnóstico
parecia ser uma sentença de morte”, lembra o psicólogo Esdras Vasconcelos,
professor da Universidade de São Paulo. Ele que acompanhou a doença desde os
primeiros casos no Brasil, se recorda do impacto no imaginário provocado pela
infecção nos anos de 1980 a 1990. “O estigma era tão forte que muitas pessoas
morreram não pela deterioração do sistema imunológico, mas pelo medo de
enfrentar o problema”, afirma.
Passados muitos anos,
diversos preconceitos ainda persistem e atrapalham os esforços que visam
descobrir o HIV o mais cedo possível. Dados do Ministério da Saúde calculam
que, atualmente, 530 mil brasileiros são soropositivos. Desses, 135 mil nunca
realizaram um teste e, portanto, não sabem que estão infectados, e a doença
leva uma média de seis a sete anos para dar sintomas. Por isso, “o diagnóstico
precoce seguido do tratamento diminui consideravelmente a agressão do vírus ao
corpo humano”, afirma o médico Caio Rosenthal, do Instituto de Infectologia
Emílio Ribas.
A quantidade de exames
realizados no Brasil aumentou, passando de 3,3 milhões em 2005 para 6,3 milhões
em 2011. “Mas necessitamos que esse número cresça cada vez mais”, ressalta o
infectologista Fábio Mesquita, diretor do Departamento de DST, do Ministério da
Saúde. O grande impedimento para que os testes não se popularizem aqui, ainda
parece ser o temor diante do vírus. Um levantamento do Emílio Ribas revelou o
seguinte: 20% dos indivíduos que fazem o exame não voltam para pegar o
resultado. “Há um temor da morte, do sofrimento físico e emocional e,
sobretudo, do preconceito que relaciona a doença à promiscuidade e ao uso de
drogas ilícitas”, afirma o urologista Sylvio Quadros, chefe do Departamento de
DST da Sociedade de Urologia. Mas os tabus não param por aí...
Muitas vezes, o receio de
que o paciente fique ofendido com um pedido, impossibilita que diversos casos
da infecção sejam detectados. “Essa questão dos médicos está cada vez mais
superada, até porque grande parte tem a consciência de que o teste é
relevante”, afirma o infectologista Aloísio Cotrim, do Comitê de
retrovírus HIV/HTLV, da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Obviamente, um exame de
anti-HIV não pode servir para bloquear a
contratação de um soropositivo ou para demitir um funcionário; o diagnóstico,
inclusive, é proibido na consulta admissional. Mas os estigmas ainda
permanecem: 20% chegam a perder o emprego depois de o teste acusar a presença
do vírus.
O coquetel antirretroviral, conjunto de
fármacos tomados pelo resto da existência, evoluiu tanto que a aids já é
considerada hoje uma doença crônica. Da para viver bem com o problema, mas não
há como resolvê-lo de vez. Enquanto os tratamentos de cura ficam na manipulação
genética ou em drogas mais eficientes, existe um modo bem simples e eficaz de
desatar os nós do HIV: a informação sem tabus. Seja para o diagnóstico, seja
para a prevenção.
O que fazer após uma
situação de risco? – Se você fez sexo sem camisinha e está muito preocupado,
não adianta sair correndo. A recomendação é aguardar até três semanas para se
submeter ao exame. Esse é o tempo que o sistema imune leva para criar
anticorpos contra o HIV. Mas, se o risco de infecção for alto, procure o
serviço de saúde em até 72 horas. “A prescrição de drogas nesse período pode
evitar que o vírus invada as células de defesa”, diz o infectologista Gabriel
Cuba, do Hospital 9 de Julho, em São Paulo.
Onde eu possa fazer os
exames? – Os testes Anti-HIV estão disponíveis no Sistema Único de Saúde e nos
Centros de Testagem e Aconselhamento, em todo o país. Esses locais
disponibilizam um serviço psicológico tanto antes quanto depois do diagnóstico.
“O apoio de psicólogos e assistentes sociais é muito essencial, principalmente
para passar informações corretas e confiáveis sobre a doença”, afirma o médico
Caio Rosenthal, do Instituto de Infectologia
Emilio Ribas, de São Paulo. Para você saber o posto mais perto de sua casa,
acesse o “site” do Ministério da Saúde ou ligue para o número 156.
O vírus rastreado – Os
métodos de diagnóstico foram criados em 1985 e evoluíram muito, pois já estamos
na quarta geração.
Elisa – Foi um dos primeiros
a ser lançado, na década de 1980. Ele flagra os anticorpos produzidos pelo
sistema imune no combate ao vírus do HIV. Era preciso retirar uma amostra de
sangue e esperar alguns dias para saber se deu positivo ou negativo. “Ele tem
99,7% de sensibilidade e uma possibilidade mínima de erro”, afirma Celso
Granato, assessor médico do Fleury Medicina e Saúde.
Western Blot – “Se o exame
der positivo, é necessário pedir um teste confirmatório, que costume ser o
Western Blot”, relata a infectologista Maria Lavínea Figueiredo, do Delboni
Auriemo Medicina Diagnóstica. Por ser mais caro, só é indicado para as
situações em que o risco de soro positividade
é elevado. Seu nível de acurácia é ainda maior que o do Elisa. A
resposta demora porque o sangue passa por análise de laboratório.
Testes rápidos – Basta furar
o dedo e colher uma gotinha do sangue, que é colocado numa fita reagente. O
resultado sai em 20 minutos, uma estratégia promissora para aqueles que não têm
coragem de voltar para pegar o resultado. “Se der positivo, o paciente é
encaminhado para tratamento no sistema público de saúde”, explica a psicóloga
Judit Lia Busanello, diretora do Centro de Referência e Tratamento em DST/Aids,
em São Paulo.
Exame de saliva – Ele pode
ser comprado em farmácias e revela em minutos se o vírus está presente.
Aprovado nos Estados Unidos deve chegar ao mercado brasileiro em janeiro ou
fevereiro de 2014, informa o Ministério de Saúde. A preocupação dos médicos é
saber como vai ficar a estrutura emocional das pessoas que descobrirem, por
esse método, um resultado positivo, sozinhas, sem o suporte de um especialista.
Veja também o artigo: “As
doenças sexualmente transmissíveis”.
Fonte:
André
Biernath
Revista
Saúde é Vital – 11/2013
Pequenas supressões e
modificações
Jc.