O mundo
avança rápido em suas conquistas, nas mais diferentes áreas do conhecimento,
entretanto, o velho mistério que envolve a morte, não perde sua atualidade. É
certo que a visão do ser humano vem se ampliando no entendimento desse difícil processo,
mas ainda anda longe de uma visão realista que amenize os conflitos. O fenômeno
da “morte” sempre intrigou o ser humano, sempre motivos de preocupação de
todos, nas mais diferentes culturas do mundo. Os gregos acreditavam que os espíritos
seriam julgados por Minos, filho de Zeus, começando aí a idéia de julgamento.
Os romanos acreditavam que no Orco (inferno para eles) divindades infernais
puniam as almas cheias de pecados e que maltrataram outros seres, começando
também o “faze aos outros, o que queres que te façam”. Para Maomé, havia sete
andares de céu e sete infernos, para atender as diferenças tanto de virtudes
como de erros. Buda, finalmente afirma
que “o bem é resultado do que fomos e que a morte é um agente da vida que exige
sempre renovação contínua e transformações incessantes”. Essa é a nossa visão atual...
A
Doutrina dos Espíritos, fala de Sócrates, filósofo grego, dizendo que ele nada
escreveu, assim como Jesus que não deixou nenhum escrito. Ambos tiveram a morte
dos criminosos, vítimas do fanatismo, por terem atacado as crenças
tradicionais, e colocado á virtude real, acima da hipocrisia e dos dogmas; em
outras palavras, por terem combatido os preconceitos religiosos. As últimas
palavras de Sócrates, ditas aos seus juizes e algozes, foram: “de duas uma; ou
a morte é uma destruição, ou ela é a passagem da alma para outro lugar. Se a
morte é uma mudança de morada, que felicidade nela reencontrar aqueles que se
conheceu! A hora é de nos deixarmos; eu
para morrer, vós para viver.” Também Jesus, ao sentir se aproximar a hora de se
libertar do corpo, profere as palavras: “Pai perdoa-os porque não sabem o que
fazem” e finaliza dizendo: “Está consumado.”
A
Gênese, da Doutrina dos Espíritos, vindo depois do desenvolvimento científico,
trouxe a vantagem de objetivar o problema da sobrevivência, submetendo-a aos
processos de verificação e pesquisa científica, acabando com os chamados
“mistérios da morte”, demonstrando que a alma se liberta do seu corpo físico de
modo tão natural, quanto á larva se transforma em borboleta.
Paulo,
o apóstolo dos gentios, em sua primeira epístola aos Coríntios, disse:
“Planta-se o corruptível, e nasce o incorruptível; enterra-se o corpo material,
nasce o corpo espiritual...” Quando observamos o corpo de uma pessoa querida
sem vida, devemos reprimir o desespero e a mágoa, porque sabemos que os
chamados “mortos”, estão apenas ausentes da Terra, vivendo atualmente na
Espiritualidade. Essa nova concepção, de que a vida continua, liberta o ser
humano do medo de morrer; dá-lhe uma nova compreensão, eliminando o velho temor
e a revolta contra as leis criadas por Deus.
Existem
para quem não sabe dois tipos de morte, conforme as palavras de Jesus: na
passagem em que um moço diz ao Mestre que deseja segui-lo, entretanto, pede que
Ele lhe permita primeiro, ir enterrar o seu pai que acabara de falecer, tendo
Jesus lhe respondido: “Deixa aos mortos, enterrar os seus mortos; tu, porém,
vem e segue-me.” Explicação: Os primeiros mortos eram aqueles que desconheciam
os ensinamentos que Jesus transmitia, ou seja: estavam mortos para as coisas da
vida espiritual; (diz-se até que uma pessoa quando não tem conhecimento de um
assunto, está morto para o mesmo), os segundos mortos, são os que falecem
fisicamente. Como aquele moço já conhecia os ensinos de Jesus estava vivo
quanto a esse conhecimento, o que não acontecia com os seus parentes, que não
conhecendo as lições do Mestre, estavam vivos fisicamente, porém mortos para as
verdades que Jesus ensinava.
Porém,
se a morte física elimina o corpo, para muitas pessoas que desconhecem a
realidade, nós espíritas sabemos que o corpo é formado de elementos diversos: Oxigênio,
hidrogênio, azoto, carbono, ferro, etc..
Pela decomposição do corpo físico, esses elementos se dispersam, para servir à
formação de novos corpos, de tal sorte que uma mesma molécula, de carbono, por
exemplo, terá entrado na composição de muitos milhares de corpos diferentes, de
maneira que talvez em nosso corpo atual existam moléculas que já pertenceram a
homens das primitivas idades do mundo; que essas mesmas moléculas orgânicas que
absorvemos nos alimentos, veem possivelmente de outros corpos, e assim por
diante. Dessa maneira, a Doutrina dos Espíritos acabou com a morte, pois todas
as células do nosso corpo físico vão animar novas formas de vidas. A alma por sua vez, liberta da sua roupagem
material, continua viva, fazendo parte agora, do mundo espiritual, porquanto ela
é uma centelha divina imortal.
São
muitas as razões do medo da “morte” que sempre nos acompanha. Umas, estão
associadas a lembranças arquivadas na memória espiritual, outras, associadas à
imagem do julgamento, apresentados como divino, de céu, purgatório e inferno,
destinos inventados pelos teólogos que fizeram nossos tormentos no passado. A
isso, acrescente-se a associação da palavra “morte” com a palavra “fim”, que
traz o pavor do nada. A soma disso tudo, inspira em muitas pessoas o sofrimento,
pela impossibilidade de enfrentá-la, o que é inevitável para todos nós, apesar
de não a desejarmos. È comum á busca da religião, ampliando nossa benevolência
o que nos torna muito mais fraternos. Também acontece a transferência do afeto
dedicado à pessoa que partiu para outras pessoas desamparadas. Quase sempre
essa dor impulsiona-nos à fraternidade.
Lucinda Araújo, mãe do cantor Cazuza, é um exemplo; passou ela a
dedicar-se às crianças portadoras do vírus HIV, o mesmo que levou seu filho
para a Espiritualidade.
Essa
situação traz em si, grandes mudanças, não só para o espírito que se transfere
para outra dimensão de vida, mas também para os que ficaram saudosos. Há em
geral, mudanças no comportamento de toda a família, em vista da adaptação sem a
pessoa que partiu. Uns se fecham, ficam introvertidos, acabrunhados; outros
extrovertem-se tão repentinamente. Algumas crianças chegam a imitar o parente
que partiu. Há os que tentam fugir das lembranças do ausente, mudando de
endereço e até de cidade. Só mais tarde percebem que a dor ou a tristeza os
acompanha aonde forem, porque elas se situam dentre e não fora da pessoa.
Alguns ainda trabalham excessivamente, tentando esquecer o acontecimento. Há
ainda os revoltosos, que blasfemam contra Deus e afastam-se da religião, quando
deveriam a ela mais se achegarem, dando espaço à revolta, por não aceitarem o
Determinismo Divino. Há ainda, casos de mães que enlouqueceram, venerando
retratos de filho/filha que partiu.
Porém, com as mensagens que chegam dos desencarnados, confortando os
corações de seus pais, lhes pedem que não se entreguem à dor e ao desânimo, por
estarem vivos, e os aconselham a cuidar das dores de outros sofredores, para
amenizar as suas próprias dores. Uma jovem recém-desencarnada pediu à sua mãe,
numa mensagem, que não falasse e se lembrasse dela como pessoa morta, porquanto
ela se sentia péssima, quando ouvia tal
referência a ela, porque ela se via viva e feliz ao lado do marido que partiu
como ela no mesmo acidente que os vitimou.
Entretanto,
para muitos, a morte física é vista como algo terrível e representada de forma
apavorante, com o aspecto de um fantasma ósseo, que traz uma foice fatídica ao
ombro. Para algumas religiões e
religiosos, a morte física é um sinônimo de separação eterna, com sofrimentos
inenarráveis para a maioria que irá para o inferno, e, alegria indescritível,
para uma minoria que será salva e irá para o céu. Imaginemos uma mãe que vai
para o céu e vê uma filha ir para o inferno. Ela pode viver feliz no hipotético
céu sabendo que sua filha sofre no inferno? O momento culminante acontece quando
o caixão desce à sepultura, refletindo a dor dos familiares e amigos, ainda
desconhecedores da vida na espiritualidade. Era até comum e ainda existe em vários
paises, o hábito de contratar mulheres “especializadas” para chorarem e
acompanharem o velório, chamadas de “carpideiras”. Durante séculos era guardado
o “luto”, as famílias vestiam-se de preto e ficavam por um ano. Quando se
encontrava uma pessoa com tais trajes, davam-se os pêsames e a tragédia era
relembrada causando mais dores.
O
Eclesiastes diz: “A tempo de ganhar e de
perder; tempo de guardar e desfazer”. Muitas são as perdas; perdemos o seio da
mãe, os amigos da infância, a professora do jardim, a escola maternal, a
primeira namorada, o sonho do amor perfeito... Perdemos a inocência, perdemos o
objeto estimado, o cãozinho adorado, o diploma almejado, o concurso desejado.
Perdemos o emprego, os pais e até o corpo físico, a existência terrena, e assim
mesmo, temos dificuldades de diferenciar o efêmero do eterno. Somos às vezes,
cegos e surdos aos apelos divinos e reclamamos quando às adversidades nos
visita.
Jesus
sempre se referia à morte física com extrema naturalidade, como se fosse um
sono para um despertar depois, em uma situação mais feliz. Na passagem
denominada “Os doze e a sua missão”, o Mestre chama a atenção para a
superioridade incomparável da alma – espírito encarnado – que é eterna, sobre o
corpo por ela usado em cada existência, e abandonado como roupa usada que não
lhe serve mais, e diz ainda: “Não temais os que matam o corpo físico e não podem
matar a alma.” Mateus C-2:28.
Os
primeiros cristãos assimilaram esse ensinamento, e, quando a caminho dos
martírios que lhes eram impostos, alcançavam á arena onde seriam sacrificados,
em cânticos de alegria e louvores, convictos de que a morte significava a
libertação e o regresso a um mundo melhor, onde estariam com Jesus...
Por
que algumas pessoas parecem caminhar para a morte, enquanto outras dela escapam
de forma aparentemente milagrosa? As pessoas que não acreditam na Providência
Divina, interpretam essas situações como obra do acaso, pura fatalidade. Nós
espíritas, sabemos que o acaso não existe e que os acidentes são utilizados
pelo Criador, pelas Suas sábias Leis, como meios das pessoas resgatarem seus
débitos. Jesus nos alertou que sofremos as conseqüências do mal, de forma
semelhante ao que praticamos contra nosso semelhante. Um exemplo que ilustra
bem esta situação é a de João Batista. Quando ele viveu como o profeta Elias,
mandou degolar 450 sacerdotes de Baal, conforme se lê em I Reis C-l 9: 40. Quando viveu
como João Batista, passou pela mesma prova ou situação – foi degolado por ordem
de Herodes e resgatou seu débito para com a Lei Divina.
A
passagem para a vida espiritual é como um “sono”, disse Jesus, e serve para nos
libertar da prisão do corpo físico e restituir à alma, a sua liberdade. Essa
passagem para a Espiritualidade nos coloca em contato com os nossos entes
queridos que já foram para lá antes de
nós. Com essa certeza, a passagem deixa de ser algo terrível, para se tornar em
algo tranqüilizador, e até certo ponto, desejável, quando de existência sofrida
e muito prolongada.
O
instante e a forma de partida para a espiritualidade só Deus sabe quando será;
a exceção fica por conta dos suicidas que optaram pelo desenlace antes do tempo
fixado, o que lhes será muito penoso. Quando, porém, chegar o dia da nossa
partida do mundo material, nada poderá impedir que partamos e aí estão os
exemplos de recém-nascidos, crianças, jovens e adultos, partindo antes de
idosos. Espíritos que partiram se comunicam confirmando que dormiram para
despertar aos poucos, na Espiritualidade. Atravessaram a barreira do mundo
material, ao encontro da sua realidade de Espírito, na plenitude da Infinita
Bondade e Justiça de Deus. Nessa passagem, duas condições podem ocorrer ao
espírito: 1º - O espírito não possuindo
virtudes e tendo praticado o mal, é
levado por outros espíritos inferiores, para regiões de sofrimentos, e
lá despertando do sono, são martirizados, até que se façam merecedores da misericórdia
de Deus; 2º - Possuindo o espírito virtudes, e tendo praticado o bem, é levado
por Benfeitores Espirituais para lugares onde reina a paz.
O
grande físico Ernesto Bozzano, na obra “A Crise da Morte”, observa alguns
critérios na passagem do espírito para o mundo espiritual, a saber: a- Todos os
espíritos afirmam estarem com a forma humana; b- Terem ignorado durante algum
tempo, que não estavam mais na Terra; c- Haverem passado pela prova da
recordação dos acontecimentos da existência ora encerrada; d- Terem sido
acolhidos na Espiritualidade, pelos espíritos dos seus familiares, que partiram
antes; é- Haverem passado por uma fase de sono; f- Terem se achado num
meio harmonioso (no caso de espíritos com virtudes) e num meio tenebroso (no
caso de espírito sem virtudes); g- Terem
reconhecido que estavam em um novo mundo, real, semelhante ao mundo terreno; h-
Haverem aprendido que, na espiritualidade, o pensamento é a força criadora que
reproduz o ambiente de suas recordações;
i- Terem sabido que o pensamento é a forma de comunicação espiritual,
embora alguns espíritos se iludam julgando conversar com palavras;
j- Terem comprovado que podem se transferir de um lugar para outro,
ainda que muito distante, apenas pela sua vontade; e, finalmente, terem aprendido que os
espíritos seguem para o plano espiritual que conquistaram por motivo da lei de
“afinidade e merecimento”.
No
“Livro dos Espíritos”, na pergunta 153, Allan Kardec indaga: “Em que sentido se
deve entender a vida eterna?” Resposta dos Espíritos Superiores: “É a vida do
Espírito que é eterna; a existência do corpo é transitória e passageira.” Como
Nicodemos, sabemos que o corpo depois de velho não pode voltar ao ventre
materno. Assim podemos entender: Ao
nascer (encarnar) o espírito assume a matéria;
ao passar pela morte física (desencarnar) o espírito liberta-se do
corpo; ao renascer(reencarnar) o espírito assume um novo corpo, de conformidade
com o ensino de Jesus a Nicodemos, cumprindo a Lei Divina de evolução, no
caminho de sua felicidade definitiva, prometida pelo Mestre.
Após
estes esclarecimentos, eu pergunto: Quem morre?
Quem tem medo de morrer? Nós
morremos ou passamos para outro modo de vida?
Como já sei que sou imortal, eu que sou individualidade espiritual e não
corpo, tomo a liberdade de afirmar que sou eterno, eu, que falo por intermédio
deste corpo nesta existência e que vocês
estão vendo, sei que quem morre é apenas
o corpo material que assumi nesta encarnação. Eu espírito, neste corpo
envelhecido, após me libertar dele voltarei para o mundo real da
espiritualidade, onde encontrarei os entes queridos que já se foram antes de
nós. A verdade é que somos um espírito imortal usando um corpo, e não um corpo
com uma alma. Assim sendo, quem pensa quem fala quem comanda os movimentos e as
ações do corpo, é o espírito, o ser inteligente, imortal; o corpo é apenas o
instrumento, o executor dos estímulos e ordens do Espírito; igual a uma máquina
elétrica que recebe os impulsos da eletricidade para funcionar; melhor dizendo:
O corpo representa a lâmpada elétrica que só serve quando recebe a
eletricidade; o Espírito representa a eletricidade que anima a lâmpada. Com o
tempo, a lâmpada, igual ao corpo, se deteriora se desfaz, mas a eletricidade
não acaba com a lâmpada. O que fazemos então: Colocamos nova lâmpada e a
eletricidade passa a dar vida a esse novo corpo. Entenderam?
Vivamos,
pois, sem o medo da chamada “morte” porque ela não existe; o que se processa é
a passagem de uma dimensão para outra. Um dia mais cedo ou tarde, teremos que
nos libertar do corpo material que usamos e retornar ao plano espiritual, onde
a nossa vida continua... “Nascer, viver, morrer e renascer, tal é a Lei Divina”,
ensina Kardec. Contemplemos o firmamento em que mundos incalculáveis nos falam
da união sem adeus, em plena imortalidade, sabendo que Deus que nos criou com
amor para nos amarmos mutuamente, jamais nos separaria para sempre...
Que
o Senhor nos afaste esse temor e nos proporcione a Sua Paz.
Bibliografia:
“Livro
dos Espíritos”
Acréscimos
e modificações.
Jc.
Em 8/l0/07.
Refeito
em 28/10/2017
Reapresentado
em 12/2/2019