quinta-feira, 3 de junho de 2010

PATERNIDADE E MATERNIDADE

PATERNIDADE E MATERNIDADE

A Doutrina dos Espíritos nos ensina que, assim como temos as famílias constituídas pelos laços materiais, temos também, as constituídas pelos laços espirituais. Estes laços espirituais são mais sólidos e duráveis do que os laços materiais, visto que não estão sujeitos às instabilidades da matéria. Destaca ainda, que a família espiritual se forma e se consolida com a prática da Lei do Amor, no convívio da família corporal.

A Lei do Amor deve presidir todos os pensamentos, atos e sentimentos do ser humano; deve presidir também o ato que permite ao Espírito, retornar às experiências terrenas pela reencarnação, especialmente no relacionamento com a mãe que com ele convive, na intimidade, durante a gestação, na formação inicial do corpo físico. Pesquisas vêm demonstrando que a causa de desequilíbrio do ser humano, se situa na fase de gestação e nascimento do bebê. A rejeição que muitos espíritos sentem, desde a simples dúvida dos pais quanto ao seu sexo, até a rejeição ostensiva e odiosa, leva esses seres que retornam a existência terrena, a uma grave instabilidade emocional e comportamental, quer na área da integração social, quer na própria aceitação pessoal. Em sentido oposto, os que são aceitos no lar, com real e manifesto amor dos pais, demonstram melhores condições morais e psicológicas para vencerem os naturais desafios da existência.

Observa-se, desse modo, a importância da paternidade e da maternidade ligadas à prática da Lei do Amor. Quando pais e mães aceitam o filho(a), desde a concepção, com sentimento de amor, constroem as bases de um mundo de paz, uma vez que a primeira lição vivida pelo espírito será a da fraternidade, do amor ao próximo, que lhe servirá de modelo para toda a existência. Nesse sentido, ensina-nos Allan Kardec em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”: “Quis Deus que os seres se unissem não só pelos laços da carne, mas também pelos da alma, a fim de que a afeição mútua dos esposos se lhes transmitissem aos filhos e que fossem dois, e não apenas um, a amá-los, a cuidar deles e a fazê-los progredir”. Na constituição da família, formam não somente com os familiares já existentes, mas também com os novos membros que se agregarão: filhos, netos e todos os que de alguma forma comporão o conjunto familiar.

A Natureza deu à mãe o amor a seus filhos, no interesse da conservação deles.
No animal, esse amor se limita às necessidades materiais. . . No ser humano, esse amor persiste por toda a vida e comporta um devotamento e uma abnegação que são virtudes, sobrevivendo até à morte e acompanha até no além...

Quando nos casamos e após os primeiros tempos, a preocupação dominante passa a ser a conquista ou manutenção do patrimônio material, entre outros anseios do casal preocupados com o futuro, especialmente considerando-se os filhos que virão. O homem e às vezes a mulher voltam sua atenção nos dias atuais – um tanto diferente do passado – para o sucesso profissional e a
evolução dos valores sociais. Em outros casos, como os do casamento ou das uniões prematuras e das precipitações geradoras da gravidez precoce, ou de jovens casais sem estruturas materiais, psicológicas e emocionais para assumir uma existência a dois, causam dificuldades, desfechos infelizes e traumas.

Consideremos, porém o assunto. Fazemos cursos, nos especializamos, destinamos o tempo e recursos para a formação profissional, buscando um bom nível de vida, mas não somos preparados para a mais importante missão de um casal: educar os filhos. Tornamo-nos pais, sem experiência e sem estrutura para educar, para formar caráter, para direcionar os filhos e lhes possibilitar crescerem moral-intelectual e psico-emocional que todos precisamos para enfrentar os desafios da existência humana. Transferimos a eles nossas neuroses, lhes contaminamos com nossos vícios, influenciamos a conduta, exemplificamos mal com nosso comportamento nem sempre recomendável e agimos na maioria das vezes sem vigiar o que falamos e fazemos. Com isso, ao invés de educar, deseducamos. É certo que há pais e “pais” e não podemos generalizar.

Existem pais e mães notáveis, exemplares, que transmitem como verdadeiros mestres as noções de honestidade, decência, dignidade, respeito, valorização, crença em Deus e amor ao próximo. Mas a grande maioria está ainda deixando a desejar nessa notável e intransferível missão. Para constatar isso, basta observar o comportamento social a quanto anda. . . Nas classes mais abastadas, nas de renda baixa ou nas intermediárias, nas diferentes designações religiosas, no poder ou fora dele, entre homens e mulheres, jovens e idosos, o que se nota é uma carência ou a ausência da base que a família deve oferecer o que vem se refletindo severamente na sociedade. Esta não é uma visão pessimista, mas apenas uma visão do que nos falta fazer. Estimular a criatividade, combater o egoísmo, promover o crescimento intelectual-moral, exemplificar a solidariedade e o amor ao próximo, semear a esperança, fomentar a honestidade e a bondade... estão entre as ações que todos nós, pais e educadores ainda podemos fazer em favor de nossas crianças.

Nessa instituição familiar destaca-se a figura da mulher-mãe, pelas suas responsabilidades, pelas suas funções e pelos seus sacrifícios. É no seu corpo que se geram os filhos programados para uma nova existência terrena; espíritos que escolheram ou foram induzidos a aceitar determinada encarnação. O sucesso dos que tomam parte na nova experiência reencarnatória vai depender do desempenho de cada um e do grupo familiar como um todo, sem prejuízo da liberdade individual. A conclusão lógica é que é extremamente importante à educação ética e moral dos que fazem parte do grupo familiar, especialmente dos que iniciam uma nova encarnação, já que na fase inicial é que o espírito tem mais facilidade em substituir velhos hábitos, antigos conceitos e entendimentos errados, por novas formas de vivências proporcionadas por um recomeço correto. A aceitação do Bem e a exclusão do mal, no reinício de uma nova existência é a conseqüência natural de uma educação bem orientada no lar.
As religiões que realmente se interessam pela evolução do ser humano, podem oferecer os fundamentos para o êxito da educação. A Doutrina dos Espíritos fornece orientações seguras nesse particular, já que a criança e o adolescente tomam conhecimento de realidades e verdades que lhes proporcionam segurança, para sempre, a respeito do Criador, das criaturas, de si mesmos, do mundo em que vivem e da vida futura. O lar, rico ou pobre, não só é o berço, mas também a primeira escola das almas que nele aportam para uma nova jornada. Às mães têm a grande responsabilidade de prover as primeiras necessidades dos seus filhos e também orientá-los no decorrer da infância e juventude, o que elas fazem com muito amor, que aperfeiçoa os seres.

Na história do Cristianismo, deparamos com a figura impar e piedosa de Maria, a mãe de Jesus, admirável na sua humildade, perseverança, fé e amor. Ela é um símbolo eterno na mensagem cristã, oferecendo à Humanidade o exemplo puro de Amor, que não se perturba diante dos sofrimentos e das injustiças impostas pela ignorância dos homens, ao seu Filho bem amado. Diz Emmanuel, falando sobre a missão das mães, no livro “O Consolador”: “A missão materna deve sempre lembrar o amor de Deus, que pôs no coração das mães a sagrada essência da vida. Ela deve compreender, antes de tudo, que seus filhos, primeiramente, são filhos de Deus. Desde a infância, deve prepará-los para o trabalho e para a luta que os esperam. Deve ensinar a criança a fugir do abismo da liberdade plena, controlando-lhe as atitudes e concertando-lhe as posições mentais à edificação das bases da uma existência digna.

As ingratidões dos filhos não te desanimam, as vicissitudes da existência não te desarmonizam, os embates do cotidiano não te enfraquecem, e prossegues a mesma, sofrida às vezes, perseverando sempre nos deveres a que te entregas com doação total. Aprendeste a sorrir quando os teus filhos estão alegres, e a chorar ante as suas preocupações e fracassos, porém, nunca em desespero ou revolta, quando eles não conseguem superar os momentâneos fracassos. Estejas na opulência ou na pobreza total, a tua maternidade é sinal do poder de Deus, que te consagrou como co-criadora, na condição de anjo do lar, a fim de que o mundo avance e a existência humana alcance a meta destinada. É certo que nem todos os filhos sabem compreender a tua grandeza, os teus sacrifícios, mas isso não te é importante. Sabes que as melhores condecorações para as mães, são as cicatrizes internas que permanecem no coração e na alma dos que lutam as refregas, e por isso mesmo, continuas sem descanso, trabalhando com esses diamantes que deves lapidar.

Comentando sobre a mulher-mãe, o Irmão X (Espírito Humberto de Campos), apresenta bela página com o título: “Perto de Deus”, diz ele: “Entre a alma, prestes a reencarnar na Terra e o Mensageiro Divino, travou-se expressivo diálogo: - Disse a alma – “Anjo bom, já tive numerosas existências no mundo. Cansei-me de prazeres e posses inúteis... Se posso pedir algo, desejaria agora colocar-me em serviço, perto de Deus, embora deva achar-me entre os seres humanos...” – Respondeu o Mensageiro: - “Sabes o que aspiras? Quando falham aqueles que servem perto de Deus, a existência deles é perturbada nos mais íntimos mecanismos!” – Voltou a insistir a alma: “Por misericórdia, mensageiro amigo! Dê-me as instruções...” Replicou o Mensageiro: “Conseguirás aceitá-las?” – “Assim espero, com o amparo do Senhor”, disse a alma. – “O céu então te concederá o que solicitas”, voltou a dizer o Mensageiro. – A alma então perguntou: “Posso informar-me quanto ao trabalho que me aguarda?” – O Mensageiro então lhe disse: “Porque estarás mais perto de Deus, embora entre os seres humanos, recolherás dos homens o mesmo tratamento que eles habitualmente dão a Deus... Amarás com todas as fibras de teu espírito, mas ninguém conhecerá nem reconhecerá a tua ternura!... Viverás abençoando e servindo, qual se carregasse no próprio peito a suprema felicidade e o desespero supremo. Nunca te fartarás de dar... e os que te cercam, jamais se fartarão de exigir... Dar-te-ão no mundo um nome bendito, como se faz com o Pai Celestial, contudo, qual se faz igualmente até hoje na Terra com o Todo-Misericordioso, reclamarão tudo de ti, sem que te dêem coisa alguma. Nutrirás as criaturas queridas com a essência do próprio sangue, no entanto, serás apartada geralmente de todas elas, como se o mundo te apunhalasse o coração. Muitas vezes serás obrigada a sorrir, engolindo as próprias lágrimas; embora venhas a residir na vizinhança de Deus, respirarás no fogo invisível do sofrimento!...”

Fazendo pequena pausa o Mensageiro foi interrompido pela alma: “Que mais?” – O Mensageiro então continuou: “Todas as profissões na Terra são honradas com salários correspondentes às tarefas executadas, mas teu ofício, porque estejas em mais íntima associação com Deus, e, para que não comprometas a Obra da Divina Providência, não terás compensações amoedadas. Outros trabalhadores terrestres serão beneficiados com horários especiais, contudo, já que o Supremo Pai serve dia e noite, não disporás de ocasião para descanso certo, porquanto o amor te colocará em permanente vigília!... Não medirás sacrifícios para auxiliar, com absoluto esquecimento de ti; no entanto verás teu carinho e abnegação apelidados quase sempre, de excessivo e fanático... Zelará pelos outros, mas os outros muito dificilmente se lembrarão de zelar por ti... Farás o alimento dos entes amados... porém, na maioria das vezes, será a última pessoa a servir-se dos restos da mesa, e, quando o repouso felicite aqueles que te consumiram as horas, velarás, noite a dentro, sozinha, esquecida, entre a prece e a aflição... Finalmente, viverás espiritualmente mais perto de Deus, e, em razão disso, terás por dever agir com ilimitado amor com que Deus ama as suas criaturas...”

A alma em pranto de emoção, perguntou ao Mensageiro Divino: “Que missão será essa?” – O Emissário Divino endereçou-lhe profundo olhar e respondeu num gesto de bondade: “Serás mãe !...”

Foi em reconhecimento da sua abnegação que os homens resolveram manifestar admiração pela missão e pelas tarefas das mães, instituindo o “Dia das Mães” comemorado no segundo domingo do mês de maio de cada ano. Quando finalmente, as criaturas da Terra dedicam um dia ao teu amor, entre 365 outros dias, já estão despertando para o significado da tua missão, apesar dos que esperam ainda pela tua servidão, quando todos deveriam oferecer-te somente amor, envolvendo-te em ternura e em gratidão. . .

ONDE ESTARÁ ?

Uma mulher que partiu,
Por Determinismo de Deus,
Uma mulher que nos deixou,
Sem ter tempo de nos dizer adeus!
Uma mulher de olhos castanhos,
Cabelos grisalhos, bem brancos,
De uma simplicidade enorme,
De um amor sem igual;
Uma mulher alquebrada pelo tempo,
Mas de profunda fé e resignação.

Esta mulher me receber,
Me acalentou, me agasalhou,
Me protegeu e me criou.
Me ensinou a rezar e a viver.
Sorria com as minhas alegrias,
Chorava nos meus sofrimentos,
Para ela, eu nunca cresci, pois
Sempre me considerou sua criança.

Onde quer que ela hoje esteja,
Quero um dia, ir ao seu encontro,
E matar a saudade que me leva ao pranto;
Só não me perguntem o nome dela,
Porque eu sempre a chamei de MÃE...

Quero que todos saibam que esta poesia, que não recordo o autor, eu dedico para a minha mãe, e para todas as mães do mundo, em homenagem ao dia delas. Você que ainda tem a felicidade de ter sua mãe, dê um abraço de respeito e gratidão, ou faça uma oração a Deus, todos os dias, pedindo por ela, se não for mais possível abraçá-la.


Bibliografia:
“Evangelho Segundo o Espiritismo”
“Doutrina dos Espíritos”
“Evangelho de Jesus”
“O Consolador”
“Perto de Deus”

Jc.
S.LuiS, 19/06/2000

O ESPIRITISMO E OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO

O ESPIRITISMO E OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO

A comunicação, principalmente através das revistas, cinema e televisões, vem dando destaque atualmente, à Doutrina dos Espíritos, por meio de entrevistas, reportagens, filmes e novelas. Para termos uma idéia das reportagens e dos conceitos espíritas que são levados às populações, menciono algumas revistas com matérias sobre o Espiritismo, assim como filmes e novelas que tratam do assunto, e que despertam a curiosidade das pessoas.

Entre outras publicações, cito a revista “Veja, edição nº 1651, 1659 e 1904; revista “Isto É”, edição nº 1489, 1524, 1780 e 1918; revista “Época” nº 131, 261 e 424. Quantos aos filmes, mencionamos alguns: “Ghost – O Outro Lado da Vida”, “O Sexto Sentido”, “Os Outros”, “A Casa Mal Assombrada”, “A Casa dos Espíritos”, “A Revelação”, “O Mistério da Libélula”, “O Enviado”, “Os Espíritos”, “Reencarnação”, “Sinais”, “Visões”, “Vozes do Além” e outros. Sobre as novelas, lembramos das últimas: “O Outro Lado da Vida”, “A Viagem” e “Almas Gêmeas”.

O importante, não é a população se tornar espírita, pois o Espiritismo não tem nos seus postulados, fazer proselitismo, como é feito em outras religiões, mas que as pessoas tomem conhecimento dos conceitos e ensinamentos espíritas, que são a continuação dos ensinos de Jesus, possibilitando a melhora do ser humano, através da sua reforma moral e da prática da caridade, pois esta é a missão da Doutrina dos Espíritos – a evolução dos Espíritos encarnado na Terra.

Entretanto, essa situação nem sempre foi assim. E, para que as pessoas tomem conhecimento das perseguições sofridas pelo Espiritismo e seus adeptos, movidos pela imprensa, há alguns anos atrás, vamos nos servir de outra revista, abordando a campanha de descrédito, de desmoralização e de ofensas, não só ao Espiritismo como também aos médiuns, pela revista “O Cruzeiro”, de grande projeção nos meios de comunicação da época, de propriedade do império jornalístico do Sr. Assis Chateubriand, seu proprietário, revista essa que não existe mais e nem mais é lembrada, enquanto que a Doutrina dos Espíritos, por ser de origem divina, continua a se expandir e espalhar benefícios a todos os que necessitam.

Essa foi à época da “prova de fogo” que tinha de passar o Espiritismo, em terras brasileiras, a exemplo do que aconteceu na Espanha, quando foram queimados em praça pública, por ordem do bispo da Igreja Católica da cidade, os Livros Espíritas. Passemos então, ao assunto que ocasionou a contenda entre o jornalista, Jorge Rizzini e a revista “O Cruzeiro”.

Na edição do programa de televisão “Vídeo-Show” do dia 10/11/1990, foi relembrada a atuação que a revista “O Cruzeiro” teve como veículo de informação durante décadas; a exemplo do que acontece atualmente com as revistas “Veja” e “Isto É”, que me fez relembrar os acontecimentos, razão porque resolvi fazer este artigo do que aconteceu. Naquela época, a referida revista, apresentava grandes reportagens, assinadas por famosos repórteres, como David Nasser, Jean Manzon, entre outros. Também era conhecido o jornalista Jorge Rizzini, espírita, médium e polemista, que foi convidado pelo apresentador Maurício Gama, responsável pelo jornal da TV-Tupy canal 4 de São Paulo, em 1952, a dar uma entrevista sobre o Espiritismo. A entrevista foi curta, mas como a TV-Tupy já penetrava em outros estados, causou um constrangimento no clero católico, que atribuía os fenômenos mediúnicos, por maldade ou ignorância, à figura folclórica do diabo.

Em 1961, Jorge Rizzini voltou a apresentar na mesma TV-Tupy, um filme que ele realizou mostrando as cirurgias mediúnicas realizadas pelo médium Zé Arigó, em Congonhas do Campo-MG. O impacto da filmagem foi tremendo junto à população. Nunca se havia visto um fenômeno espiritual tão contundente. As reportagens de Moacir Jorge, em seguida, nos “Diários Associados”, puseram mais lenha na fogueira, como se diz na gíria. Os outros jornais e as revistas passaram então a divulgar os fenômenos, uns contra difamando o médium e outros a favor.

Como era de se esperar, padres, pastores e médicos vieram a público e os debates acalorados, surgiram na televisão. Zé Arigó era discutido nos lares, nas ruas, nos escritórios e nas fábricas. Por esse tempo, já corria na justiça, um processo contra Zé Arigó, por prática ilegal da medicina. Jorge Rizzini, como espírita e médium viajou para Congonhas do Campo, para se colocar em defesa de Arigó, assim como também foi importantíssima na defesa do médium, a participação de Herculano Pires, através de debates da televisão. Essa era a segunda vez que o conhecido médium enfrentava a justiça. Pelo mesmo delito já havia sido condenado e indultado pelo presidente Juscelino Kubitschek em 1956. Desde a audiência de instrução e julgamento, em 22 de outubro de 1964, estava sendo aguardada a sessão pública durante a qual o magistrado de Congonhas, presente as partes, faria o julgamento.

Esperava-se o dia da audiência, quando o advogado de José Pedro de Freitas (Zé Arigó), professor Jair Leonardo Lopes, foi surpreendido pela informação de que seu cliente havia sido condenado, sem que nem o acusado e seus familiares fossem informados. Sem perda de tempo, Zé Arigó com seu advogado se apresentaram ao Juiz no fórum. Após a leitura da sentença, o réu se levantou e agradeceu ao Juiz e ao Promotor Público. Parentes e amigos do réu choravam no tribunal, quando uma tia dele entrou no tribunal e bradou: “Conforme-se meu filho, porque até Jesus também foi condenado sem julgamento”. Ele recebeu resignado a notícia desfavorável, afirmando-se convencido de que cumpria na Terra, sua missão: “Agora vou ter mais tempo para ler o Evangelho”, disse ele a caminho da prisão. A sentença era de dezesseis meses de prisão. Ele que era conhecido até no exterior por suas curas mediúnicas fora condenado a cumprir a pena no xadrez de Conselheiro Lafaiete, Minas Gerais. Como a delegacia de Congonhas não dispunha de veículo para conduzir o preso, ele foi dirigindo seu próprio carro acompanhado por dois soldados, sendo seguido por numerosos automóveis, expressando a fé de seus adeptos nos misteriosos poderes do médium. Depois de cumprir a pena, ele retornou á Congonhas onde continuou atendendo as pessoas. Com o seu desencarne em 197l, terminou seu trabalho que durou 10 anos. Graças a ele, o movimento espírita brasileiro cresceu muito.

Nessa mesma época, em Uberaba-MG., o dr. Waldo Vieira e outros médicos, já faziam experiências ectoplásmicas em seu consultório, com a presença do Chico Xavier como expectador. A médium usada nos trabalhos era a Sra. Otílio Diogo. Materializava-se nessas sessões, uma freira de nome Irmã Josefa, com todo o seu traje característico. Um repórter da revista “O Cruzeiro” tendo obtido algumas fotografias do fenômeno, publicou uma reportagem que teve muita repercussão e assustou o clero católico. Dias depois, a mando dos “Diários Associados”, chegavam a Uberaba, sete repórteres e fotógrafos da revista “O Cruzeiro” para “assistir os trabalhos mediúnicos”. A intenção era visível... desmoralizar e ridicularizar as materializações. Foi então exigido pelos repórteres, que eles examinassem e fiscalizassem tudo, tendo os médiuns e médicos espíritas, para evitar suspeitas, permitido todas as exigências. Um dos repórteres, de nome Nilo de Oliveira, que trabalhava na área policial, ficou do lado de fora do consultório durante a sessão, vigiando portas e janelas lacradas por dentro. A médium que se sujeitava a todas as exigências, teve que trocar seu vestido por outro totalmente negro, para não haver dúvidas, porque o Espírito da freira se materializava trajando seu vestuário branco. Foi feito ainda, uma jaula de ferro que foi instalada no centro do consultório, e fixada no assoalho uma cadeira, onde a Sra. Otília Diogo foi convidada a sentar tendo os repórteres lhes amarrado os pés com correias e cadeados. Nos pulsos da médium, colocaram uma algema, a fim de evitar qualquer tentativa de fraude. Por tudo isso, a atmosfera espiritual e ambiental era péssima, e a médium devia sentir-se bastante constrangida.

Poucos minutos depois do início da sessão, ela conseguiu entrar em transe mediúnico. Aparecerem luzes, o ectoplasma tomou forma e surgiu a freira, com seu hábito branco, totalmente materializada e de pé. As máquinas fotográficas foram registrando tudo o que se passava. Terminada a sessão, as lâmpadas foram acesas e os repórteres, boquiabertos, entreolhavam-se. Tudo no consultório voltara como antes.

Semanas depois, apareceu nas bancas de jornais, a fotografia da freira na capa da revista “O Cruzeiro”, e uma grande reportagem intitulada: “A Farsa da Materialização”. Dizia a matéria, um amontoado de falsidades e mentiras.
Em seguida, a revista que era semanal, passou a fazer uma campanha difamatória que durou três meses, ocupando setenta páginas ilustradas com oitenta e sete fotos. Quatro milhões, seiscentos e setenta e cinco mil exemplares da revista, foram espalhados por todo o País; isto em 1964, o que foi um recorde em edição de revista. Essa campanha difamatória foi um terremoto que abalou os alicerces do movimento espírita brasileiro. Teve repercussão na América do Sul e até na Europa. E qual foi á reação do movimento espírita? - Nenhuma! Nós espíritas, ficamos pasmos com as reportagens, igual aos apóstolos quando assistiram seu Mestre ser preso. O impacto foi terrível. Chegou-se até a acreditar que as instituições espíritas e o Espiritismo iriam desaparecer.

E a revista “O Cruzeiro” depois de arrasar a dignidade da médium, dos outros médiuns, dos médicos espíritas e até do Chico Xavier, não satisfeita passou ainda a chamá-los de escroques, bandidos, etc. Waldo Vieira e Chico Xavier, foram ameaçados de morte por fanáticos clericais e tiveram que se refugiar em Goiás, por algum tempo. Entretanto, antes de partirem, entregaram farto material fotográfico para Jorge Rizzini, e pediram a ele que botasse o “Evangelho” de lado e fizesse a defesa do Espiritismo, e ainda acrescentaram: “Vá à luta”. Rizzini sabia que os jornais, na sua maioria pertenciam aos “Diários Associados”, da qual fazia parte a revista “O Cruzeiro”, não lhe apoiariam; fez ele então das televisões de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, o veículo para a defesa. Assim, todas as semanas em que a revista mostrava a freira com reportagem difamante, ele ia ao Rio, onde a revista era impressa, sendo o principal campo de batalha, se apresentava na TV-Continental, canal 9, e desmentia a reportagem, apresentando depoimentos e fotos.

Nesse trabalho, muito foi ajudado pelo jornalista Carlos Pallut que o colocava no seu programa com duração de duas horas. Também foi valiosa a colaboração do confrade Luciano dos Anjos. A guerra jornalística não tinha tréguas. Até as Polícias Técnicas do Rio e de São Paulo foram envolvidas, a fim de que a verdade fosse restabelecida. A Polícia Técnica de São Paulo, aparelhada com microscópios, provou que as fotografias das materializações não haviam sido adulteradas, contradizendo portanto, o laudo do perito carioca Carlos Éboni, que dizia terem sido montadas, e publicado com enorme destaque, na revista “O Cruzeiro”. Três peritos examinaram as fotografias e chegaram a conclusão da autenticidade delas, tendo Rizzini apresentado o filme sobre a perícia na TV-Continental do Rio.

Durante todo esse rumoroso caso, por incrível que pareça, a Federação Espírita Brasileira, com sede no Rio, não se manifestou oficialmente, e nem publicou a pedido de Jorge Rizzini, no jornal “O Reformador”, editado pela F.E.B., o laudo pericial que desmentia a farsa da revista e que alertaria o movimento espírita de norte a sul, que a mentira era dos repórteres e da revista “O Cruzeiro”, e não das materializações. Ele deve ter tido as suas razões... Depois, como para se penitenciar, declarou: “Enquanto existir Jorge Rizzini, o movimento espírita não morrerá”.

A polêmica terminou, finalmente, com um debate na TV-Continental, tendo como mediador o jornalista Carlos Pallut. Do lado da verdade estavam Jorge Rizzini, Luciano dos Anjos e o médico paulista Alberto Calvo, perito; do outro lado, Carlos Éboni, os repórteres e um representante da diretoria da revista. O debate que durou três horas, foi gravado em fita e faz parte do livro “Materializações de Uberaba”. No término dos debates, a grande imprensa do Rio de Janeiro e São Paulo reconheceram que o movimento representado pelos espíritas foi o grande vencedor.

Depois de tudo isso, Jorge Rizzini comprou um horário na TV-Cultura, canal 2, de São Paulo e estreou o primeiro programa espírita na televisão brasileira no dia 2 de maio de 1966, com a presença de Chico Xavier e Waldo Vieira, vindos de Uberaba, especialmente para o lançamento do programa “Em busca da Verdade”, que foi depois lançado no Rio de Janeiro, pela TV-Continental. Esta foi á prova de fogo que teve de passar a Doutrina dos Espíritos no Brasil; terra do cruzeiro estelar; tendo o mesmo acontecido anteriormente na Espanha. Como de todos os acontecimentos, mesmo os mais lamentáveis, a Providência Divina sempre faz nascer algo de bom e construtivo, tudo isso serviu para chamar a atenção das pessoas para o Espiritismo e divulgar mais ainda a Doutrina dos Espíritos. Idêntico a este caso, foi também o processo movido pela família de Humberto de Campos, que desejava os direitos autorais das obras ditadas pelo seu espírito a Chico Xavier. Esse processo também comoveu muito o povo e foi muito comentado na sociedade e nos meios jurídicos, tendo o juiz não reconhecido a legitimidade da ação, dando direito à Federação e a Chico Xavier.

De todos esses acontecimentos, fica-nos um ensinamento: Tentando destruir os homens (Jesus e seus apóstolos), acreditava Roma que acabaria com as idéias. Tentando desmoralizar a Doutrina Espírita, a revista “O Cruzeiro”, os “Diários Associados”, o Sr. Assis Chateubriand e quem mais o induziu, acreditavam varrer desta terra abençoada, os ensinamentos do Consolador Prometido por Jesus. Entretanto, o que aconteceu foi que a verdade triunfou; Roma como império, se desmoronou; o Cristianismo continuou a se expandir; a revista “O Cruzeiro” depois de algum tempo se acabou, enquanto o Espiritismo vivificou e segue em frente, esclarecendo e confortando as pessoas, porque, como o Cristianismo, ele também é obra de Deus.

Façamos de Jorge Rizzini um exemplo a seguir; não tenhamos medo de defender e divulgar a nossa fé, a religião que abraçamos, nem receios de nos identificar como espíritas, porque será grande a nossa alegria e seremos felizes estando entre os servidores e irmãos da causa do Cristo.
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O programa “Pinga Fogo”, da TV-Tupy de São Paulo, não era espírita. Chico Xavier foi convidado e participou de um debate nesse programa em 28/07/1971; cinco anos depois da estréia do programa espírita “Em Busca da Verdade”.

Jc.
S.Luis, 12/11/1998