Está chegando novamente o período do carnaval, com suas alegrias e mazelas. O carnaval tem sua origem no paganismo, com suas orgias e nele predomina a licenciosidade e o império da carne. O carnaval traz grandes prejuízos materiais, morais e espirituais às criaturas humanas, pois nos quatro dias de festa, que começa muito antes e termina muito depois, aumentam as ocorrências policiais, como estupros, roubos, furtos, brigas, violência, mortes e um cortejo enorme de crimes cujas conseqüências são irreparáveis. O carnaval é uma festa de origem pagã que foi oficializada pela Igreja Católica e que, por motivos políticos, permanece até os nossos dias, gozando da simpatia dos governantes e de grande parcela do povo. Todos os anos nos meses de fevereiro ou março, ele é incluído no calendário e chega até nós.
Historiadores não têm como precisar quando se
iniciaram as festas carnavalescas; os estudiosos do assunto falam que seu
início ocorreu aproximadamente no IV milênio A/C, quando no Egito foram criados
os cultos agrários. Nessa época, as pessoas dançavam com máscaras e adereços em
torno de fogueiras. Os romanos tinham muitos escravos e como o mês de dezembro
era dedicado aos festejos em homenagem a várias divindades, entre elas Saturno,
deus do tempo, os senhores davam liberdade aos servos para comemoração das
saturnais. Era comum um desfile pelas ruas da cidade em que conduziam um carro
em forma de barco, com a estátua do deus, pois Saturno se ligava também ao mar.
Era uma espécie de carro/barco, sobre rodas; daí o nome carrum-navalis, que deu
origem a palavra carnaval. Os servos sentindo-se à vontade usavam roupas dos
seus amos, valendo-se de máscaras para não serem reconhecidos. Cometiam-se
excessos; pois o inverno iria chegar e todos ficariam recolhidos, devido ao
frio intenso do hemisfério norte.
A
Igreja Católica, com o passar dos séculos, foi “empurrando” as saturnais para
diante, tirando-as de dezembro, para que tais orgias se afastassem da data
determinada para o nascimento do Cristo, fazendo delas uma interpretação
associada a um período de pecado, que antecederia no calendário litúrgico a
Quaresma – tempo de jejum e mortificações. Surgiu então dessa intervenção da
Igreja, a idéia de uma corruptela da palavra “a carne nada vale”. Tempos depois surge o carnaval pagão, que se
inicia no século VII A/C, na Grécia. No reinado de Pisistrato foi oficializado
o culto a Dionísio, onde camponeses e lavradores participavam das procissões
dionisíacas, levando a imagem do deus Dionísio. Nessa época a sociedade já se
dividia, ficando os escravos de um lado e a nobreza do outro lado; bebidas,
orgias, sexo e permissividade ganhavam mais e mais espaços naquele primitivo
carnaval. Mais alguns séculos se passaram e a Igreja Católica, cansada de ver
suas intenções de proibir os cultos pagãos fracassarem, porquanto já estavam
consagrados pelos costumes dos povos, resolve em 590 D/C, oficializar o
carnaval. As células desse carnaval oficial se iniciaram nas cidades de Veneza e
Nice, já com aparência dos dias atuais; com carros alegóricos, pessoas
mascaradas, fantasias e desfiles.
Aqui no Brasil no Maranhão, nos meus tempos
de criança, ainda lembro, era uma festa de alegria, onde as fantasias de
dominós, pierrot, fofões, arlequim, columbina e outras mais, alegravam as
casas, ruas e salões dos clubes. Formavam moças e rapazes, com suas fantasias,
blocos e brincadeiras, desfilando pelas ruas em filas indianas, cantando e
dançando; os fofões apavoravam as crianças com suas máscaras horríveis; os
dominós, pierrot e outras fantasias enchiam os salões dos clubes, a desafiar
quem fosse possível descobrir quem estava por baixo das máscaras; os corsos
eram caminhões enfeitados e adaptados, imitando navios piratas, aviões, animais,
desfilando pelas ruas, era a alegria do povo, assim como a “casinha da roça” e
outras atrações. Faziam parte ainda da brincadeira, o confete, a serpentina, o
reco-reco, os balões e o lança-perfume. Daqueles tempos bons só nos resta à
lembrança...
Hoje, os festejos carnavalescos são outros.
Muitas pessoas, em busca dos prazeres efêmeros proporcionados por esses dias
endividam-se por todo o ano. Outras pessoas entregam-se aos vícios da bebida;
outras mais, aos impulsos do sexo desregrado e irresponsável, aumentando a
incidência de doenças transmissíveis, como a Aids, a sífilis, a tuberculose e
outras. Clínicas, delegacias de polícia e hospitais ficam abarrotadas de
pessoas que se excederam ou foram acidentadas nos folguedos. Centenas de lares são atingidos pela desonra;
a infâncias e a juventude são influenciadas pelos exemplos negativos expostos
nas ruas e pelos órgãos de comunicação. Outras conseqüências se fazem sentir
muito tempo depois; são os filhos gerados durante o carnaval, que nascem de
mães solteiras sem ninguém como pai, e mais os casos das doenças transmissíveis
que, segundo a Organização Mundial de Saúde, aumenta de ano para ano no Brasil.
Além destas mazelas, é comum antecederem o
carnaval, o lançamento de músicas cujas letras imorais ou de cunho pornográfico
nos afrontam, bem como a poluição sonora sem limites que nos prejudicam. Existe ainda a poluição visual que invade
nossos lares, através da televisão, nos trazendo as piores e mais imorais
imagens. É comum a aparição de mulheres seminuas, que não se valorizam numa
apelação vergonhosa como incentivo a mais depravação, desrespeitando a moral,
os bons costumes, o estatuto da criança e do adolescente e os nossos
sentimentos de cristãos. Então
perguntamos: Que liberdade é essa que permite o desrespeito a todos os nossos
valores morais e nos leva de volta aos tempos de Sodoma e Gomorra? Onde estão
os protestos das autoridades, principalmente dos juizados de menores e dos
defensores da sociedade, inclusive as religiões tradicionais que, através de
seus condutores, fracassaram na missão de evangelizar e moralizar seus
seguidores, durante séculos e séculos de pregações?
Há um paradigma que teima em permanecer: a de
que o carnaval e as fantasias são algo necessário à nossa cultura. E por isso,
o carnaval aqui, ganhou status de grande indústria, sendo um dos maiores
divulgadores de nossa cultura, promovendo assim o Brasil ao patamar de “O País
do carnaval”. Como indústria, proporciona milhares de empregos temporários,
movimenta nossa economia, atrai o turista e ajuda as indústrias de bebidas...
Dizem alguns que é uma necessidade do povo brasileiro, um povo sofrido,
batalhador, explorado pelo governo, que, portanto, merece esquecer os
problemas; festejar... o carnaval é o
presente esperado.
Por alguns dias o povo se esquece das
dificuldades, dos entraves de relacionamento, dos arrochos financeiros e parte para
momentos de igualdade, onde ricos e pobres, brancos e pretos estão reunidos em
perfeita sincronia. Essa é a tal igualdade com que sonham os pobres, as mulheres,
os infelizes... Porém, endosso a opinião de que o carnaval é apenas uma grande
ilusão! Alegam alguns de que o carnaval
é necessário à nossa cultura, como se o Brasil com sua imensidão de valores, de
pessoas, de habilidades, de regiões, de pontos turísticos, de costumes diversos,
ficasse refém dos festejos carnavalescos, para ser melhor e mais feliz.
Lamentavelmente, muitos brasileiros não
compreendem a grandeza e a destinação do nosso País e o limitam apenas a
carnaval e a futebol. Precisamos acabar com essa idéia de que o Brasil é
apenas o país do carnaval e do futebol. O Brasil pode ser o país da
cultura, da educação, da saúde, da tecnologia e da honestidade; isso só depende
de nós; da nossa conscientização de que é necessário romper com esse estado de
coisas. Vejamos então como está o nosso Brasil, desconhecido de muitos
brasileiros:
1- Neste país existe a maior e mais avançada
rede de captação de leite materno; 2- Somos exemplo no combate a Aids; 3- Somos
no hemisfério sul o único país a participar do projeto “genoma”; 4- Nosso
processo eleitoral é todo informatizado e o melhor do mundo; 5- Somos o segundo
maior mercado de jatos e helicópteros executivos; 6- Somos o único país onde
co-habitam em paz, todos os povos do mundo; 7- Somos o único país com tradições
pacifistas; 8- É o país com a mais diversificada flora e fauna, e pulmão do
mundo, e ainda, muito mais.
É ilusão julgar que seremos mais felizes em
conseqüência dos festejos carnavalescos. É ilusão julgar que alguns dias de
folia irão compensar o povo brasileiro por lhe faltar saúde, educação, emprego,
qualidade de vida e cultura. O carnaval vende a ilusão de que aqueles dias não
se acabarão, que são eternos por isso mesmo começa antes da data fixada e
termina depois da data oficial. Vende a ilusão de que aproveitar é se intoxicar
de bebidas e manter sexo, sem compromisso com o coração e a responsabilidade.
Poucas são as obras espíritas que focalizam
com profundidade o problema do carnaval e suas mazelas. Uma delas é o livro
“Nas Fronteiras da Loucura”, ditado pelo espírito de Manoel Philomeno de
Miranda, valendo-se da psicografia de Divaldo Franco. Relata Manoel: “A cidade,
regurgitava, era um verdadeiro pandemônio. Multidão de espíritos, que se
misturavam aos seres humanos em excitação dos sentidos físicos dominava a
paisagem na psicosfera carregada de vibrações de baixo teor. Muitas pessoas
haviam obtido inspiração em visitas a regiões inferiores do além”. A sucessão
de cenas, umas deprimentes, outras selvagens, era constrangedora, o que mereceu
do Dr. Bezerra de Menezes, o seguinte comentário: “Expressiva faixa da
humanidade terrena transita nos limites do instinto, mais sequiosos de
sensações, do que ansiosos pelas emoções superiores, sendo de lamentar que muitos
se apresentem nos dias normais, como discípulos de Jesus, mas preferindo no carnaval
os excessos de Baco e das orgias”.
Nessa libertinagem, confundida com liberdade,
onde tudo pode e tudo é consentido, as pessoas promovem desordens físicas e
psíquicas, que ao longo dos anos vão minando a resistência física e se
comprometendo espiritualmente, porquanto, sintonizam-se com espíritos que têm
afinidade com ideais de desregramento. Se não lutarmos para nos desvencilhar
desses grilhões de desatinos, seremos facilmente manipulados por esses
espíritos desencarnados a nos influenciar, apenas porque deixamos a porta
aberta, ao nos deleitar com os vícios e o desregramento de valores.
Façamos a caridade a nós mesmos nos livrando
dos vícios, dos desregramentos, das noites de prazeres efêmeros, onde
prejudicamos nosso corpo a pretexto de prazer. A melhor maneira de aproveitar a
existência é viver seus momentos, com o melhor dos prazeres: o da consciência
em paz, na certeza que fizemos o melhor por nós, por nossos entes queridos e
por nossos semelhantes.
Façamos como milhares de pessoas que não se
deixam envolver por esse festival e nem se interessam ante os apelos da folia de
momo; pessoas essas esclarecidos e
moralizadas que utilizam esse período,
para descanso, estudo, leitura, meditação e encontro de renovação
espiritual. Essa é uma tentativa de reverter à vibração negativa que impera
nesses dias, servindo também para solidificar amizades e sentimentos nobres,
bem como orações para ajudar os irmãos ainda necessitados, a elevarem-se moralmente
e poderem seguir a jornada existencial com dignidade.
Que o Pai Celestial e o Mestre Amado Jesus,
permitam que algum dia o “país do carnaval e do futebol” possa se transformar em um País que seja realmente
o “Coração do Mundo e a Pátria do Evangelho”, conforme declarou o espírito do
nosso saudoso conterrâneo Humberto de Campos... Que Jesus nos dê forças para
nos livrarmos dessas tentações.
Bibliografia:
Jornal “Brasília Espírita”
Rita Core (Revista Espírita de Campos)
+ Acréscimos e modificações.
Jc.
Feito em l7/01/2010
Refeito em 21/02/2017