segunda-feira, 1 de maio de 2017

I R M Ã O S




 “Acaso sou responsável por meu irmão?”, foi á resposta de Caim a Jeová disfarçando a própria culpa, porquanto o havia assassinado, cometendo o primeiro fratricídio da História, segundo a Bíblia, em Gênese, cap.4: 9.

Diariamente, o Deus Pai, de infinito amor e misericórdia revelado por Jesus, nos faz a mesma pergunta, na intimidade de nossa consciência, a respeito de todos aqueles que cruzam o nosso caminho, em casa, na rua, no serviço, na cidade em que residimos; todos eles nossos irmãos em Humanidade.

Certamente não teremos como Caim, cometido um fratricídio, mas dificilmente alguém deixará de ser culpado num fraternicídio; que é o assassinato da fraternidade, ante as carências de nossos irmãos em humanidade, cujo procedimento de indiferença, ocasiona o questionamento. Somos sim, responsáveis por nossos irmãos, em virtude da lei de solidariedade que rege a vida universal, e será inteligente de nossa parte, se assumirmos nossos compromissos para com o próximo, considerando alguns efeitos.

1º Efeito: Borboleta – Trata-se de uma teoria desenvolvida por Eduard Norton Lorenz, cientista, nos anos setenta do século passado, para explicar a dificuldade de uma previsão meteorológica, em face da insuficiência dos meios de observação, para detectar fenômenos isolados que podem produzir grandes efeitos atmosféricos.  Como exemplo ele apresentou a idéia simbólica de que o bater de asas de uma borboleta no Brasil, poderia produzir um furacão ou tornado nos Estados Unidos.

Aplicando o efeito borboleta à vida social, vamos considerar uma criança que nasce em miserável favela, com pai desconhecido ou mãe alcoólatra. Cresce ela sem orientação moral, sem estudo, sem assistência espiritual. Aos sete anos é um menino de rua, pedindo esmolas. Aos dez, torna-se  “laranja”, termo usado pelos traficantes para crianças que eles usam para a entrega das drogas. Aos treze anos aprende a usar armas de fogo; aos dezoito anos já matou alguma pessoa em assaltos. Aos vinte anos talvez mate um chefe de traficantes e assuma seu lugar. Depois, elimina os concorrentes, amplia a área de sua atuação; torna-se notório e perigoso inimigo público, produzindo devastação no meio social.

É a culminância do cruel efeito borboleta que começou no choro desalentado de uma criança desamparada. Porém, se essa pequena criança houvesse recebido amparo, orientação e amor; se a sociedade houvesse se mobilizado para atender aquele favelado, dando escola e ajuda aos pequeninos; se as pessoas soubessem que o menino mirrado que bateu à sua porta, pedindo comida, era a borboleta que poderia gerar o perigoso criminoso, a levar sua segurança, sua tranqüilidade, seus bens, e, talvez até a sua existência ou a existência de um familiar... com certeza, não deixaria de fazer todo o possível para ajudar, e ainda, mobilizar a sociedade em favor das crianças carentes de sua cidade. Se fosse concedida àquela criança a oportunidade de uma existência decente, com lar, carinho e orientação, em favor de seu crescimento moral e espiritual, ela seria bem diferente. Poderia ela converter-se em alguém de projeção social, no campo profissional, político ou religioso, a contribuir em favor do progresso e do bem-estar da sociedade.

Dependendo de como é tratado, o efeito borboleta pode produzir terra arrasada ou campos verdejantes. Temos a seguir, um interessante exemplo de um garoto que quase morreu afogado na piscina de sua rica residência. Foi ele salvo pelo filho do jardineiro da propriedade. Salvo o filho, o dono da casa quis recompensá-lo, no que o jardineiro respondeu ao patrão dizendo que não se preocupasse, pois seu filho apenas cumprira seu dever. Entretanto, devido à insistência de querer ajudá-lo, o jardineiro informou ao patrão que o sonho do seu filho, desde criança, era ser médico. Imediatamente o patrão tomou as devidas providências para oferecer as condições para que ele se matriculasse para seguir a carreira da medicina. O filho do jardineiro chamava-se Alexandre Fleming.

O agitar abençoado das asas da gratidão favoreceu a Alexandre que foi o descobridor da penicilina, o antibiótico que tem salvado milhões de pessoas. A história não terminou ainda. Um desdobramento do efeito borboleta ocorreu com o próprio menino salvo, cujo nome era Winston Churchill – o grande estadista inglês, batalhador da liberdade, na luta contra Hitler e seu desejo de domínio do mundo.

Durante o transcorrer da 2ª guerra mundial, a Inglaterra tremeu quando Churchill ficou gravemente enfermo, acometido de uma pneumonia. Foi chamado um médico de grande prestígio, cujo nome era Alexandre Fleming, que o curou com a aplicação de penicilina.  Após a recuperação, o inglês comentou bem-humorado: “Não é sempre que alguém tem a oportunidade de agradecer, ao mesmo homem por haver lhe salvo a existência por duas vezes...”
O efeito borboleta tem essa característica de expandir-se sempre, tanto para o bem quanto para o mal, dependendo de como se originou.

Essa história lembra a parábola de Jesus, contida em Mateus, cap.13 vrs. 31/32: “O Reino dos Céus, é semelhante ao grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. Embora seja a menor semente de todas as sementes, ela quando germina é maior do que as hortaliças e se transforma em árvore, de sorte que vêm as aves do céu e se aninham em seus ramos”. – Pequenas sementes de boa vontade e fraternidade, no empenho de servir, produzem benefícios para muita gente. Porém, sementes mal cuidadas geram maldade, maledicência, desonestidade, vícios, que resultam em transtornos e prejuízos para a existência humana.

2º Efeito: Bumerangue – Determinado objeto  atirado  retorna  depois  ao lugar de onde ele partiu. Os nossos estados de ânimo são sempre decorrentes da natureza de nossas ações. Se más, resultam em mal-estar. Se boas, resultam em bem-estar. Assim sendo, nossa infelicidade será sempre o reflexo da infelicidade alheia, tanto quanto, a felicidade nossa é fruto abençoado do esforço por minorar o sofrimento de nossos irmãos. De que nos tem servido saber corretamente a conjugação do verbo amar, se não temos sabido amar o nosso próximo? Para que nos tem servido aprender a operação de dividir, se não temos aprendido a dividir com os necessitados, um pouco sequer de nossa felicidade? Sabemos conjugar o verbo amar e efetuar a operação de dividir; mas, praticamente, só temos sabido ignorar, subtrair e odiar. Compreendemos que a divisão, segundo as leis da matemática, é uma subtração sucessiva, mas o que ainda não compreendemos é que...  a divisão com os outros, segundo as leis do amor, é uma autêntica multiplicação de bênçãos.

Portanto, na matemática da felicidade, quanto mais multiplicamos boas ações, mais felizes seremos. Não é por mera coincidência que as pessoas mais felizes da Terra, são aquelas que elegem o esforço do bem por objetivo de existência. A prática do bem é o amor em ação. Sejamos bons primeiro, depois seremos felizes. Não pretendamos o salário antes do trabalho. Jesus recomendou que devemos amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos; o que significa que essas duas manifestações amorosas só podem ser exercitadas em consonância. Quando colocamos o amar a nós mesmo entre esses dois amores, quebra-se a magia, perde-se a capacidade de amar a Deus e ao próximo, colhendo como conseqüência a infelicidade.

3º Efeito: Lastro – Nos balões de ar quente tradicionais, o lastro é o conjunto de sacos de areia que lhes dão estabilidade, e que devem ser dispensados, quando se pretenda reduzir o peso para que suba. Na jornada humana, há lastros que, em princípio, nos garantem relativo equilíbrio, quais sejam: - a família, os bens materiais, a profissão, o emprego, etc...  Mas é fundamental que não os coloquemos em demasia no balão da nossa existência, se desejamos superar o imediatismo terrestre, cultivando os valores morais e espirituais, o conhecimento superior, as virtudes cristãs, o empenho de servir e a oportunidade de nos elevar... Se ao longo da existência terrena acumulamos lastros de imediatismo e apego aos bens materiais transitórios, seremos prisioneiros atormentados e desajustados. Se o lastro for excessivo, estaremos presos na insatisfação e na intranqüilidade, sem poder alcançar a elevação e a evolução espiritual.

4º Efeito: Evangelho – A vinda de Jesus ao plano físico do planeta visou especialmente complementar, com os valores morais e espirituais de seu Evangelho, o sentido mais importante da vida.  Esse é gerado a partir de nosso empenho em seguir as lições de Jesus, e colocá-las em prática. As realidades do ser humano só se caracterizam como progresso verdadeiro quando acompanhadas da evolução dos valores éticos e morais. O ser humano na Terra tem-se preocupado especialmente com as atividades exteriores, aplicando sua inteligência, seu potencial de trabalho na busca de melhores condições de vida, o que tem conseguido; porém, para produzirmos bons efeitos borboleta, bumerangue e lastro, devemos reconhecer que nosso empenho maior deve ser a edificação do Reino de Deus em nós, a fim de superarmos as  nossas inquietações humanas.

Diz Jesus, em o Sermão da Montanha, que se praticarmos os dois mandamentos de amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos, tudo o mais de que precisamos nos será dado por acréscimo... Todos somos irmãos pelos laços da consangüinidade, constituídos pela família, como também somos irmãos pela Criação Divina, devendo, portanto, em função dessas condições, auxiliarmo-nos mutuamente por sermos membros da família universal.

Assim, somos responsáveis, não só pelas nossas ações, mas também pelo que nossas ações possam causar aos nossos irmãos e todas as suas conseqüências. Se hoje estamos em melhor condição, ajudemos o nosso irmão, pois amanhã talvez estejamos a necessitar o auxílio desse mesmo irmão quando a situação se inverter, pois durante a existência estamos quase sempre subindo e descendo.

E todos aqueles que cumprem a Lei de Deus, são irmãos estimados de Jesus e dignos de assistência... Façamos, portanto, por merecer essa condição amparando e amando os nossos irmãos, não só os que se encontram em jornada terrena, mas também os que já estão na espiritualidade, esperando a nossa lembrança e uma oração em seu benefício.

Jesus afirmou: “Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?  E estendendo a mão para os apóstolos, disse: Eis minha mãe e meus irmãos. Porque qualquer um que fizer a vontade de meu Pai Celeste, esse é meu irmão, irmã e mãe”.

Que o Senhor nosso Pai Celestial, nos ampare para que possamos também amparar os nossos irmãos mais necessitados do que nós, hoje, amanhã e sempre. . .


Bibliografia:
A Bíblia
Norton Lorenz
Evangelho de Jesus

Jc.
15/04/2007
Refeito em 24/04/2017


   

ROMEU DO AMARAL CAMARGO




  Romeu Camargo nasceu na cidade de Rio Claro, estado de São Paulo, no dia 2 de fevereiro de 1882. Ele foi um grande vulto espírita, não só no estado de São Paulo, como em todo o Brasil. Autor de vários livros e em perfeita sintonia com o Evangelho,  afirmou-se um dos mais proeminentes lideres do Espiritismo Cristão, cuja palavra autorizada era recebida e acatada pelos espíritas.
Ele fez o curso primário com professores particulares. Formado pela antiga Escola Complementar, anexa a Escola Normal da capital de São Paulo, ingressou no magistério público em 1903, tendo exercido vários cargos de carreira, entre outros, foi inspetor de ensino em Limeira, professor da Escola Normal do Brás e diretor do Grupo Escolar Campos Sales, com mais de 3 mil alunos, na capital. Bacharelou-se no ano de 1915, em Ciências Jurídicas e Sociais, pela Faculdade de Direito de São Paulo, exercendo a advocacia de 1917 a 1929.
Jornalista e escritor, colaborou com diversos órgãos da imprensa diária, tanto da capital como do interior. Católico de nascimento converteu-se ao Protestantismo em 1901. Membro professo desde 1902 foi eleito e ordenado diácono em 1913, pela 1ª Igreja Presbiteriana Independente da capital de São Paulo, cuja assembleia era constituída de mais de 800 membros e sob o pastorado de Revmo. Eduardo Pereira. Oficial da Igreja desde julho de 1909 ocupou o púlpito de quase todas as igrejas protestantes da capital paulista e de outras cidades do interior. Em seu benéfico trabalho dentro do Protestantismo escreveu um folheto de leitura edificante intitulado “Historia da Conversão de Um Criminoso” distribuído nos presídios.
Estudando sempre a Bíblia e obras teológicas, eis que os seus 22 anos de vivência religiosa no meio protestante, não lhe apagaram as dúvidas acerca do fundamento cristão dos dogmas da “predestinação divina” e da “eternidade das penas”. Em 1923, foi-lhe dado conhecer novas luzes nas páginas do Evangelho: as obras de Allan Kardec esclareceram-lhe lógica e racionalmente aqueles pontos obscuros. Dissiparam-se as suas dúvidas e as dificuldades que ofuscavam o sentido claro das palavras de Jesus!
Definitivamente, atraído para a Doutrina dos Espíritos, Romeu
Camargo se ausentou da sua igreja, o que fez com que alguns pastores o fossem visitar e procurassem  afastá-lo da Doutrina Espírita. Tudo em vão, porém. Em 21 de fevereiro de 1925, ele foi convidado a comparecer a uma reunião da Igreja Presbiteriana Independente.  Feita a “acusação” pelo secretário teve a palavra o “acusado”, que durante duas horas  produziu  a sua defesa,  firmada no Evangelho de Jesus. No dia 1º de junho de 1925, Romeu Camargo publicava em o “Reformador”  a sua confissão pública de adesão ao Espiritismo. Ele o fez com o artigo – Aos Pés do Mestre – em resposta a um artigo do pastor protestante Isaac Gonçalves do Vale, publicado no “Estandarte”, órgão da Igreja Presbiteriana Independente.
Convicto das verdades contidas nas obras fundamentais da Doutrina dos Espíritos, o professor Romeu Camargo tornou-se um pregador do seu  aspecto moral-evangélico, tendo tomado parte, de modo intensivo, em várias Instituições, e escrito quatro obras notáveis, que enriqueceram as bibliotecas espíritas: “Protestantismo e Espiritismo à Luz do Evangelho”, “De Cá e de Lá”, “Salvação pela Fé ou Pelas Obras?” e “Um Só Senhor”.  Todas elas constituindo vibrante defesa e a refutarem as objeções levantadas contra a doutrina, pelo bispo de Pouso Alegre e o psiquiatra Pacheco e Silva.
Romeu Camargo escreveu para os mais importantes jornais da imprensa espírita brasileira, principalmente no “Reformador”, órgão da Federação Espírita Brasileira, pois ele tinha grande saber das Escrituras Sagradas e vastos conhecimentos sobre Filosofia e Religião. Ele foi presidente da União Federativa Espírita Paulista, na época a principal sociedade espírita bandeirante. Em 1936, tornou-se o 1º Secretário da recém-fundada Federação Espírita do Estado de São Paulo. Contribuiu para a fundação da Rádio Piratininga, a primeira estação espírita, em 30 de março de 1940, sendo ele diretor-tesoureiro. Durante vários anos foi o redator–secretário da revista “Verdade e Luz”, fundada pelo confrade Batuíra.
Em 1937, escreveu-lhe o Espírito Emmanuel através de Francisco Cândido Xavier: “Continue na sua bela missão de levar a luz espiritual do Evangelho pelos caminhos da Terra”. Romeu continuou seu trabalho até o fim de sua jornada terrena e disse em 1943: “Educado na Igreja Protestante Presbiteriana, onde realizei  minha formação espiritual, o que me interessa é por em prática o Evangelho de Jesus, que é “Luz para mim”.
Ele desencarnou  na cidade de  São Paulo, em 10 de dezembro de 1948, quando datilografava  uma carta ao presidente da Federação Espírita Brasileira, com o qual sempre mantinha correspondência.

Fonte:
Federação Espírita Brasileira
Jornal “O Imortal” 12/2016

Jc.
São Luís, 12/2/2017