“Acaso sou responsável por meu irmão?”, foi á resposta de Caim a Jeová disfarçando a própria culpa, porquanto o havia assassinado, cometendo o primeiro fratricídio da História, segundo a Bíblia, em Gênese, cap.4: 9.
Diariamente, o Deus
Pai, de infinito amor e misericórdia revelado por Jesus, nos faz a mesma
pergunta, na intimidade de nossa consciência, a respeito de todos aqueles que
cruzam o nosso caminho, em casa, na rua, no serviço, na cidade em que
residimos; todos eles nossos irmãos em Humanidade.
Certamente não
teremos como Caim, cometido um fratricídio, mas dificilmente alguém deixará de
ser culpado num fraternicídio; que é o assassinato da fraternidade, ante as
carências de nossos irmãos em humanidade, cujo procedimento de indiferença,
ocasiona o questionamento. Somos sim, responsáveis por nossos irmãos, em
virtude da lei de solidariedade que rege a vida universal, e será inteligente
de nossa parte, se assumirmos nossos compromissos para com o próximo,
considerando alguns efeitos.
1º Efeito: Borboleta
– Trata-se de uma teoria desenvolvida por Eduard Norton Lorenz, cientista, nos
anos setenta do século passado, para explicar a dificuldade de uma previsão
meteorológica, em face da insuficiência dos meios de observação, para detectar
fenômenos isolados que podem produzir grandes efeitos atmosféricos. Como exemplo ele apresentou a idéia simbólica
de que o bater de asas de uma borboleta no Brasil, poderia produzir um furacão
ou tornado nos Estados Unidos.
Aplicando o efeito
borboleta à vida social, vamos considerar uma criança que nasce em miserável
favela, com pai desconhecido ou mãe alcoólatra. Cresce ela sem orientação
moral, sem estudo, sem assistência espiritual. Aos sete anos é um menino de
rua, pedindo esmolas. Aos dez, torna-se
“laranja”, termo usado pelos traficantes para crianças que eles usam
para a entrega das drogas. Aos treze anos aprende a usar armas de fogo; aos
dezoito anos já matou alguma pessoa em assaltos. Aos vinte anos talvez mate um chefe de
traficantes e assuma seu lugar. Depois, elimina os concorrentes, amplia a área
de sua atuação; torna-se notório e perigoso inimigo público, produzindo
devastação no meio social.
É a culminância do
cruel efeito borboleta que começou no choro desalentado de uma criança
desamparada. Porém, se essa pequena criança houvesse recebido amparo,
orientação e amor; se a sociedade houvesse se mobilizado para atender aquele
favelado, dando escola e ajuda aos pequeninos; se as pessoas soubessem que o
menino mirrado que bateu à sua porta, pedindo comida, era a borboleta que
poderia gerar o perigoso criminoso, a levar sua segurança, sua tranqüilidade,
seus bens, e, talvez até a sua existência ou a existência de um familiar... com
certeza, não deixaria de fazer todo o possível para ajudar, e ainda, mobilizar
a sociedade em favor das crianças carentes de sua cidade. Se fosse concedida
àquela criança a oportunidade de uma existência decente, com lar, carinho e
orientação, em favor de seu crescimento moral e espiritual, ela seria bem
diferente. Poderia ela converter-se em alguém de projeção social, no campo
profissional, político ou religioso, a contribuir em favor do progresso e do
bem-estar da sociedade.
Dependendo de como é
tratado, o efeito borboleta pode produzir terra arrasada ou campos verdejantes.
Temos a seguir, um interessante exemplo de um garoto que quase morreu afogado
na piscina de sua rica residência. Foi ele salvo pelo filho do jardineiro da
propriedade. Salvo o filho, o dono da casa quis recompensá-lo, no que o
jardineiro respondeu ao patrão dizendo que não se preocupasse, pois seu filho
apenas cumprira seu dever. Entretanto, devido à insistência de querer ajudá-lo,
o jardineiro informou ao patrão que o sonho do seu filho, desde criança, era
ser médico. Imediatamente o patrão tomou as devidas providências para oferecer
as condições para que ele se matriculasse para seguir a carreira da medicina. O
filho do jardineiro chamava-se Alexandre Fleming.
O agitar abençoado
das asas da gratidão favoreceu a Alexandre que foi o descobridor da penicilina,
o antibiótico que tem salvado milhões de pessoas. A história não terminou
ainda. Um desdobramento do efeito borboleta ocorreu com o próprio menino salvo,
cujo nome era Winston Churchill – o grande estadista inglês, batalhador da
liberdade, na luta contra Hitler e seu desejo de domínio do mundo.
Durante o transcorrer
da 2ª guerra mundial, a Inglaterra tremeu quando Churchill ficou gravemente
enfermo, acometido de uma pneumonia. Foi chamado um médico de grande prestígio,
cujo nome era Alexandre Fleming, que o curou com a aplicação de penicilina. Após a recuperação, o inglês comentou
bem-humorado: “Não é sempre que alguém tem a oportunidade de agradecer, ao
mesmo homem por haver lhe salvo a existência por duas vezes...”
O efeito borboleta
tem essa característica de expandir-se sempre, tanto para o bem quanto para o
mal, dependendo de como se originou.
Essa história lembra
a parábola de Jesus, contida em Mateus, cap.13 vrs. 31/32: “O Reino dos Céus, é
semelhante ao grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. Embora
seja a menor semente de todas as sementes, ela quando germina é maior do que as
hortaliças e se transforma em árvore, de sorte que vêm as aves do céu e se
aninham em seus ramos”. – Pequenas sementes de boa vontade e fraternidade, no
empenho de servir, produzem benefícios para muita gente. Porém, sementes mal
cuidadas geram maldade, maledicência, desonestidade, vícios, que resultam em
transtornos e prejuízos para a existência humana.
2º Efeito: Bumerangue
– Determinado objeto atirado retorna depois ao lugar de onde ele partiu. Os nossos estados
de ânimo são sempre decorrentes da natureza de nossas ações. Se más, resultam em mal-estar. Se boas,
resultam em
bem-estar. Assim sendo, nossa infelicidade será sempre o
reflexo da infelicidade alheia, tanto quanto, a felicidade nossa é fruto
abençoado do esforço por minorar o sofrimento de nossos irmãos. De que nos tem
servido saber corretamente a conjugação do verbo amar, se não temos sabido amar
o nosso próximo? Para que nos tem servido aprender a operação de dividir, se
não temos aprendido a dividir com os necessitados, um pouco sequer de nossa
felicidade? Sabemos conjugar o verbo amar e efetuar a operação de dividir; mas,
praticamente, só temos sabido ignorar, subtrair e odiar. Compreendemos que a
divisão, segundo as leis da matemática, é uma subtração sucessiva, mas o que ainda
não compreendemos é que... a divisão com
os outros, segundo as leis do amor, é uma autêntica multiplicação de bênçãos.
Portanto, na
matemática da felicidade, quanto mais multiplicamos boas ações, mais felizes
seremos. Não é por mera coincidência que as pessoas mais felizes da Terra, são
aquelas que elegem o esforço do bem por objetivo de existência. A prática do
bem é o amor em ação.
Sejamos bons primeiro, depois seremos felizes. Não
pretendamos o salário antes do trabalho. Jesus recomendou que devemos amar a
Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos; o que significa
que essas duas manifestações amorosas só podem ser exercitadas em consonância. Quando
colocamos o amar a nós mesmo entre esses dois amores, quebra-se a magia,
perde-se a capacidade de amar a Deus e ao próximo, colhendo como conseqüência a
infelicidade.
3º Efeito: Lastro –
Nos balões de ar quente tradicionais, o lastro é o conjunto de sacos de areia
que lhes dão estabilidade, e que devem ser dispensados, quando se pretenda
reduzir o peso para que suba. Na jornada humana, há lastros que, em princípio,
nos garantem relativo equilíbrio, quais sejam: - a família, os bens materiais,
a profissão, o emprego, etc... Mas é
fundamental que não os coloquemos em demasia no balão da nossa existência, se
desejamos superar o imediatismo terrestre, cultivando os valores morais e
espirituais, o conhecimento superior, as virtudes cristãs, o empenho de servir
e a oportunidade de nos elevar... Se ao longo da existência terrena acumulamos
lastros de imediatismo e apego aos bens materiais transitórios, seremos
prisioneiros atormentados e desajustados. Se o lastro for excessivo, estaremos
presos na insatisfação e na intranqüilidade, sem poder alcançar a elevação e a
evolução espiritual.
4º Efeito: Evangelho
– A vinda de Jesus ao plano físico do planeta visou especialmente complementar,
com os valores morais e espirituais de seu Evangelho, o sentido mais importante
da vida. Esse é gerado a partir de nosso
empenho em seguir as lições de Jesus, e colocá-las em prática. As realidades
do ser humano só se caracterizam como progresso verdadeiro quando acompanhadas
da evolução dos valores éticos e morais. O ser humano na Terra tem-se
preocupado especialmente com as atividades exteriores, aplicando sua
inteligência, seu potencial de trabalho na busca de melhores condições de vida,
o que tem conseguido; porém, para produzirmos bons efeitos borboleta,
bumerangue e lastro, devemos reconhecer que nosso empenho maior deve ser a
edificação do Reino de Deus em nós, a fim de superarmos as nossas inquietações humanas.
Diz Jesus, em o Sermão da Montanha, que
se praticarmos os dois mandamentos de amor a Deus acima de todas as coisas e ao
próximo como a nós mesmos, tudo o mais de que precisamos nos será dado por
acréscimo... Todos somos irmãos pelos laços da consangüinidade, constituídos
pela família, como também somos irmãos pela Criação Divina, devendo, portanto,
em função dessas condições, auxiliarmo-nos mutuamente por sermos membros da
família universal.
Assim, somos
responsáveis, não só pelas nossas ações, mas também pelo que nossas ações
possam causar aos nossos irmãos e todas as suas conseqüências. Se hoje estamos
em melhor condição, ajudemos o nosso irmão, pois amanhã talvez estejamos a
necessitar o auxílio desse mesmo irmão quando a situação se inverter, pois
durante a existência estamos quase sempre subindo e descendo.
E todos aqueles que
cumprem a Lei de Deus, são irmãos estimados de Jesus e dignos de assistência...
Façamos, portanto, por merecer essa condição amparando e amando os nossos
irmãos, não só os que se encontram em jornada terrena, mas também os que já
estão na espiritualidade, esperando a nossa lembrança e uma oração em seu
benefício.
Jesus afirmou: “Quem
é minha mãe e quem são meus irmãos? E
estendendo a mão para os apóstolos, disse: Eis minha mãe e meus irmãos. Porque
qualquer um que fizer a vontade de meu Pai Celeste, esse é meu irmão, irmã e
mãe”.
Que o Senhor nosso
Pai Celestial, nos ampare para que possamos também amparar os nossos irmãos
mais necessitados do que nós, hoje, amanhã e sempre. . .
Bibliografia:
A Bíblia
Norton Lorenz
Evangelho de Jesus
Jc.
15/04/2007
Refeito em 24/04/2017