É
preciso não confundir a Educação com a Instrução. A educação abrange a instrução, mas pode
haver instrução sem a competente educação.
A Educação desenvolve os poderes do Espírito, não só na aquisição do
saber, como também na formação e consolidação do caráter. A instrução,
portanto, faz parte da educação, por isso é que se refere aos meios e processos
empregados no sentido de orientar o ser humano, na aquisição de conhecimentos e
de disciplinas.
A
Instrução significa ilustrar a mente com conhecimentos sobre um ou vários ramos
de atividades. O intelectualismo não supre o cultivo dos sentimentos. “Não
basta ter coração; é preciso ter bom coração”, disse Hilário Ribeiro, educador
emérito cuja competência pedagógica estava na altura da modéstia e da simplicidade
que adornava seu Espírito.
“Não
esperemos que os professores consertem as falhas na educação de nossos filhos. Em
casa, devemos ensinar nossos filhos a: Cumprimentar, falar obrigado, ser
limpo, ser honesto, ser correto, ser pontual, falar bem, não xingar, ser
solidário, respeitar as pessoas,
mastigar com a boca fechada, não roubar, não mentir, ser organizado, cuidar das
próprias coisas e das coisas dos outros. Na escola, se aprende: Artes,
biologia, ciências, filosofia, física, geografia, gramática, história, línguas,
literatura, matemática, português, química, sociologia, e é onde são reforçados
os valores que os pais devem ensinar aos seus filhos”, informa Pepe Mujica, ex-presidente do
Uruguai.
Educação
e instrução, razão e coração devem marchar unidos na obra da perfeição do
Espírito, pois em tal importa o senso da existência. Descurar a aprendizagem da virtude,
deixando-se levar pelos deslumbramentos da inteligência, é erro de funestas
consequências. Não há muito tempo, o presidente dos Estados Unidos citou um
julgamento da “Suprema Corte de Justiça” de Massachusetts, no qual, entre
outros princípios, foi anunciado de que “o poder intelectual só e a formação
científica, sem integridade de caráter, podem ser mais prejudiciais que a
ignorância. A inteligência superior instruída, aliada ao desprezo das virtudes
fundamentais, constitui uma ameaça”.
Convém
acentuar que a consciência religiosa corresponde, neste particular, ao fator
principal na formação dos caracteres. A expressão –consciência religiosa – ao
invés de religião, para que não se
confundam as ideias. Religião há muitas, mas a consciência religiosa é uma só.
Por essa designação entendemos o império interior da moral pura e imutável ensinada e exemplificada por Jesus. A
consciência religiosa importa em um modo
de ser, e não em um modo de crer.
É
possível que alguém objete: mas, a moral cristã é tão velha, e nada tem
produzido de eficiente na reforma dos costumes.
É verdade, mas não pode
ser velho aquilo que não foi usado. A moral cristã é, em sua pureza e em sua
essência, desconhecida da Humanidade. Sua atuação ainda não se fez sentir nas
pessoas. O que se entende por Cristianismo é a sua contrafação. Dessa moral cristã
é que está dependendo a felicidade humana sob todos os aspectos. O
intelectualismo, não vai resolver os problemas sociais existentes no mundo.
Jesus
apresentou-se perante a Humanidade, como Mestre e Salvador, ao dizer: “Eu sou o
vosso mestre”. Daí, por que Jesus arrogou a si a denominação de Mestre,
considerando aqueles que o acompanhavam e todos que seguissem os seus
ensinamentos, como seus discípulos. A missão de Jesus é precisamente comprovar
aquele asserto, vencer os obstáculos conquistando a Humanidade. Essa obra, sendo de redenção divina, porque visa libertar o ser
humano dos liames que o predem a animalidade, cujos vestígios, nele, são
patentes, é portanto, uma obra de educação. Jesus veio nos trazer a verdade e
fez tudo quanto lhe competia fazer para o cabal desempenho dessa missão que o
Pai lhe confiara, mesmo com o sacrifício de sua existência terrena.
Quanto
aos compromissos que veio desempenhar neste mundo, nós o vemos claramente
através das atitudes que ele assumiu na sociedade terrena. Que fez Jesus?
Começou reunindo algumas pessoas simples, arrebanhadas das camadas humildes, e
lhes foi ministrando lições e ensinos por meio de singelas parábolas, prédicas
e discursos vazados em linguagem popular, cimentando com exemplos edificantes
tudo o que transmitia. A novidade da sua escola consistia sempre na divulgação
destes princípios: Todos os seres humanos são filhos de Deus; porque todos têm a
mesma origem. Da paternidade divina, decorre a fraternidade humana, isto é,
todos os seres humanos são irmãos. Portanto, devem amar-se reciprocamente
agindo em tudo segundo a lei de solidariedade.
O
mestre não fornece instrução: mostra como ela é obtida. Ao discípulo cumpre
empregar o processo mediante o qual adquirirá a instrução. Ao mestre compete
ainda dirigir e orientaras forças do discípulo, colocando-o em condições de
agir por si mesmo na conquista do saber. Resta, portanto, que o ser humano, o
discípulo, faça a sua parte para entrar na posse da verdade, essa luz que
ilumina a mente, consolida o caráter e aperfeiçoa os sentimentos. Os que
deixarem de preencher essa condição, continuam nas trevas, na ignorância, e
nelas permanecerão até que peçam e procurem por essa luz.
Jesus
veio nos trazer a redenção. É por isso nosso Salvador. Mas só redime aqueles
que amam a liberdade e a luz e se esforçam por alcançá-la. Os que se comprazem
na servidão das paixões e dos vícios não têm em Jesus um salvador. Continuarão
como escravos até que compreendam a situação
em que se encontram, e almejem conquistar a liberdade.
A
redenção, como a educação, é obra que se realiza gradativamente no transcurso
eterno da vida; não é obra miraculosa que se realiza num dado momento ou numa
única existência. O papel que cabe ao mestre é instruir e educar. Entendemos
por educação o desenvolvimento dos poderes psíquicos que todos possuímos em
estado latente, como herança havida D’aquele de quem todos nós procedemos.
Pestalozzi define assim a matéria ora em apreço, dizendo o seguinte: “Educação
é o desenvolvimento harmônico das faculdades do indivíduo.” Ao cultivarmos,
esta ou aquela faculdade do Espírito, não devemos desdenhar as demais.
Verifica-se
em geral, por parte dos pais, uma grande preocupação – até certo ponto louvável
– sobre a educação dos filhos no que diz respeito á inteligência. Querem vê-los
com um pergaminho, aureolados por um título que os habilite ao exercício duma
profissão, a qual, não só lhes assegure a independência econômica – o quê importa
em justa aspiração - mais ainda a riqueza, fama e glória. O futuro da prole é visto desse prisma
utilitário e vaidoso. Antes de tudo, os pais devem cuidar da educação moral dos
filhos, deixando às inclinações e vocações de cada um, a escolha da sua profissão.
Há
evidentemente uma ilusão nessa maneira de ver e proceder, porque, nós os pais,
somos vítimas do egoísmo com que nascemos. Queremos vê-los com o diploma e alvo
de aplausos e louvores, dando-nos a falsa ideia de havermos cumprido
perfeitamente o nosso dever com relação àqueles que a providência Divina nos
confiou para orientá-los na sua caminhada pela estrada da existência. Não
cogitamos do que concerne às qualidades morais, à formação e consolidação do
caráter, em fazê-lo homem de bem, caridoso e honesto, com aquele mesmo
interesse e afã que empregamos na ilustração do seu intelecto. Preocupamo-nos muito mais com o cérebro do
que com o coração. Fazemos tudo para enriquecê-lo de bens materiais,
deixando-os, às vezes, pobres de valores morais e de sentimentos.
O
que se dá é que geralmente se imagina que o ser bom, justo e verdadeiro, o ser
sincero e amável não requer aprendizagem. Supomos que tudo isso seja coisa tão
natural e comezinha que não constitui matéria que deve ser ensinada! Imagina-se
que essa parte da educação, incontestavelmente a mais excelente, há de efetuar-se por si mesma, à revelia de
cuidados, que são dispensados a outras modalidades de educação.
Tal
é o grande erro generalizado que é preciso corrigir. A ideia de geração
espontânea é quimérica. Do nada, nada se tira... Tudo o que germina, germina de
uma semente. Tudo que envolve, envolve dum germe ou embrião. Não podemos
esperar que aflore na alma da mocidade, qualidades nobres e elevadas sem que,
antes, tenhamos feito ali uma sementeira.
Todos
os problemas do momento atual se resumem em uma questão de caráter: só pela
educação podem ser solucionados. Demasiada importância se dá às várias
modalidades do saber, esquecendo-se do principal, que é a ciência do bem. A
crise em que se encontra o mundo é a crise de caráter, responsável por todas as
outras crises. O momento atual reclama a ação de homens honestos, escrupulosos,
possuídos do espírito de justiça e cientes das suas responsabilidades. Temos
vivido sob o despotismo da inteligência, porém, devemos sacudir-lhe o jugo
fascinador, proclamando o reinado do caráter, o império da consciência, da
moral e dos sentimentos nobres.
Honestidade,
espírito de justiça, noções do dever são como as artes, virtudes que se
adquirem tal como é adquirido o saber neste ou naquele ramo de atividades. Tudo
na existência depende de estudo, aprendizado, constância, experiência e
trabalho. A sementeira do bem e da verdade, da justiça e do amor, nunca se
perde. A obra da redenção humana é obra de educação, e Jesus é o divino
educador...
A
retórica deixou aos Tullios e aos D emóstenes;
a filosofia aos Platões e aos Aristóteles; as matemáticas aos Ptolomeus e aos
Euclides; a medicina aos Apolos e aos
Esculápios; e ainda, a jurisprudência aos Eolões e aos Licurgos; e para si,
Jesus tomou só a ciência de tornar bons e salvar os seres humanos.
Fonte:
Livro “O Mestre na
Educação”
Autor: Pedro de
Camargo (Vinícius)
+ Pequenas
modificações.
Jc.
São Luís, 22/8/2016