A infidelidade não é um desvio de caráter, mas um comportamento-padrão a evitar, afirma um psicólogo após estudar durante alguns anos milhares de casais.
As traições sempre
aconteceram em todos os tempos. Clássicos da literatura, como Anna Karenina, de
Liev Tolstói, Madame Bovary, de Gustav Flaubert, e O Primo Basílio, de Eça de
Queiroz, trataram do poder destruidor da infidelidade. Mesmo assim, pesquisas mundo
afora mostram que o número de adúlteros, entre homens e mulheres, só cresce –
talvez porque mais pessoas tenha coragem de admitir. Pouco se avançou em tentar
explicar as razões que levam à quebra do pacto de confiança e exclusividade, e
entender como evitá-la.
Em “o que faz o amor durar”
(editora Fontanar), o americano John Gottman, doutor em psicologia e
pesquisador na Universidade de Washington, apresenta uma nova forma de olhar
para esse desvio. Ao lado da mulher, também psicóloga Julie Schwartz Gottman,
ele estuda o comportamento de casais há mais de quatro décadas. Para ele,
existe um padrão de comportamento que leva à quebra do pacto, e há muitas
formas de infidelidade independentes da temida traição física. “Nossa cultura
relaciona a infidelidade a um desvio de caráter ou falta de disciplina, mas
isso não é verdade”, diz Gottman. E complementa: “A maioria das traições não é
causada pelo desejo sexual, mas sim por alguma carência afetiva”.
Um relacionamento amoroso
convencional é um contrato de confiança, respeito e proteção mútua. Tudo que
viole esse contrato constitui infidelidade. Trair vai além da intimidade física
com outra pessoa. Além dessa, outros dez tipos de infidelidade existem na lista
do psicólogo John Gottman:
Comprometimento condicional: Não
se está inteiro na relação. O comprometido flerta e se mantém “atento ao
mercado”;
Intimidade sem sexo: Há
uma relação íntima com um terceiro, com quem troca confidências, e não conta
isso ao parceiro/a;
Mentira:
Cansado de discutir, um parceiro passa a mentir sobre coisas banais, como um
jeito fácil de ficar em paz;
Aliança contra o parceiro: Um
dos parceiros se une regularmente a um terceiro – parente ou amigo – para
criticar o outro parceiro;
Ausência e frieza: O
parceiro não detecta as necessidades emocionais do outro nem se esforça para
aprender ou reaprender;
Perda de interesse sexual: Desaparece ou diminui muito a atração pelo
outro. Não há tentativa nem vontade de reavivar o interesse;
Desrespeito:
Não há preocupação em ser gentil e amoroso com o outro. Grosseria e indiferença
tornam-se parte da rotina;
Egoísmo: Atenção apenas às próprias necessidades.
Ocorre muito por medo de uma situação nova, como a chegada de um filho;
Injustiça: As
decisões deixam de ser tomadas de comum acordo. Uma das partes impõe
regularmente sua vontade;
Rompimento de promessas: O casal faz um pacto (Como guardar dinheiro)
e um deles quebra o acordo sem consultar o outro.
Apesar das credenciais
acadêmicas de Gottman, alguns estudiosos questionam esses padrões na
infidelidade. “Em relacionamentos, é difícil definir regras que sirvam a
todos”, diz a antropóloga Mirian Goldenberg, da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, autora do livro “Por que homens e mulheres traem?”. Ela estuda a
infidelidade há mais de 20 anos. “Nos casos que estudei, cada casal funcionava
de um jeito; não há um padrão”.
Gottman discorda. Afirma ter
detectado um ciclo de ações e reações que mais comumente levam casais a
sucumbir a quaisquer desses tipos de infidelidade, inclusive a física. Chama o
primeiro estágio de “estado de negatividade”. Tem início quando um dos dois
deixa de dar atenção ou apoio ao outro. Quando o sentimento de mágoa por essa
falta não se expressa, ele também não é esquecido. O lado magoado passa a
provocar o outro. Isso torna os atritos mais frequentes e leva ambos a assumir
uma atitude defensiva. A comunicação fica mais difícil e está instalado o
estado de negatividade. E aí começa a segunda etapa do ciclo que leva à
traição: As comparações negativas.
Nesse ponto, um dos
parceiros compara seu companheiro/a ao perfil de um estranho na internet, a um
colega de trabalho, a um parceiro do passado ou a um amor platônico a maioria
das comparações, o cônjuge perde, porque, no estado de negatividade, é difícil perceber e lembrar
as qualidades do outro. O distanciamento e a frustração criam o ambiente
propício para a traição física e para os outros dez tipos de infidelidade.
A estratégia mais aconselhável para manter-se
um bom relacionamento, segundo Gottman, é evitar o início do ciclo, em vez de
tentar interrompê-lo depois. E para isso é preciso conversar e expressar as
emoções sobre os incômodos. É necessário também manter em dia o pacto e as
combinações. Se uma parte não tem condições de cumprir o combinado, é melhor conversar
e mudar o pacto, em vez de desrespeitá-lo continuamente. Ele ensina ainda
técnicas que fazem a conversa render, como usar mais “eu” do que “você”. A
ideia é mais explicar ao outro o que se sente e menos fazer críticas.
Os casais devem atentar para
todas as formas de infidelidade e considerá-las sinais sérios. Melhor que
tentar resistir às tentações, é impedir que elas se realizem...
O adultério, ás vezes, é
consequência da infidelidade. Ele é condenado por Jesus, quando disse:
“Aprendestes o que foi dito aos Antigos: Não cometereis adultério. Mas eu vos
digo que todo aquele que tiver olhado uma mulher com um mau desejo por ela, já
cometeu adultério com ela, em seu coração”. A verdadeira pureza não está
somente nos atos, mas também no pensamento, porque aquele que tem o coração
puro não pensa mesmo no mal; foi isso que Jesus quis dizer: Ele condenou o
pecado, mesmo em pensamento, porque é um sinal de impureza.
À medida que o ser humano
avança espiritualmente, se esclarece e se despoja, pouco a pouco, de suas
imperfeições, segundo a vontade que emprega em virtude do seu livre arbítrio.
Todo mau pensamento, pois, resulta da imperfeição da alma. Mesmo um mau
pensamento torna-se para a alma uma ocasião de adiantamento, porque o repele
com energia e não cederá se apresentar-se uma ocasião para satisfazer um mau
desejo; e depois que tiver resistido, sentir-se-á mais forte e alegre com sua
vitória. Aquele, ao contrário, que procura a ocasião para o ato mau, e se não
realiza porque lhe falta oportunidade; ele é, pois, tão culpado como se o
cometesse.
A pessoa que não concebe o
pensamento do mal, o progresso já está realizado; naquele a quem vem esse
pensamento, mas ele o repele, o progresso está em vias de se cumprir; naquele,
enfim, que tem esse pensamento e nele se compraz, o mal está ainda com toda a
sua força. Deus que é justo e misericordioso considera todas essas diferenças
na responsabilidade dos pensamentos e dos atos do ser humano. Quem ama
verdadeiramente, não pratica a infidelidade...
Fontes:
Revista
Época – 11/8/2014
Jornalista
Natália Spinacé
“Evangelho
Segundo o Espiritismo”- cap. VIII
+
Pequenas modificações
Jc.
São
Luís, 18/8/2014