domingo, 8 de abril de 2012

TRANSCOMUNICAÇÃO E MEDIUNIDADE

TRANSCOMUNICAÇÃO E MEDIUNIDADE

Frequentemente ouve-se falar de Transcomunicação Instrumental ou TCI. A partir da literatura existente sobre o assunto é possível de dar uma opinião sob a ótica espírita. Inicialmente não devemos confundir a TCI com a Doutrina dos Espíritos, pois são coisas distintas, embora ambas se interessem pela comunicação entre os dois planos, onde vivem encarnados e desencarnados.

O termo Transcomunicação deriva das raízes “trans” (para além de... ou através de...) ato de emitir, transmitir e receber comunicações. Evidentemente, para nós, espíritas, a comunicação com os espíritos remonta à pré-história e ocorre com o precioso concurso da mediunidade. A Arqueologia nos informa de evidencias que sustentam, já na pré-história, a ocorrência de fenômenos de efeitos físicos, ectoplasmias, parapirogenias. Eles foram às formas dos mortos tentarem se comunicar. Possivelmente o culto aos mortos, hábito de antepassados mais remotos, se fundamentavam nos fenômenos de efeitos físicos
provocados pelos desencarnados na intenção de alertarem os encarnados para sua presença no ambiente. Não só na pré-história isso acontecia como também no Egito Antigo, na Grécia Clássica e em Roma, na época do Império.

O Velho Testamento encontra-se repleto de passagens que mostram a “transcomunicação” ou a mediunidade, como queiram. Curiosa, por exemplo, é a referência repetida com relação a duas pedras de que se serviam os antigos hebreus para comunicação com os “mortos”, chamadas de: “urim e tumim”. Elas eram usadas pelos sacerdotes para fazerem “consultas” aos espíritos desencarnados. Há referência destas pedras em Levíticos 8:8, Números 27:21, Deuteronômio 32:8, Esdras 2:63, Nehemias 7:65 I Samuel 28:6 e seguintes, onde lemos: “Saul consultou a Jehovah, porém Ele não lhe respondeu nem por sonhos, nem por Urim, nem por profetas”. A passagem se refere ao encontro do rei Saul, de Israel, com o profeta Samuel, já desencarnado, por meio da mediunidade da pitonisa (médium) de Em-Dor. Samuel se materializa, utilizando os fluidos da médium e tenta aconselhar o aflito rei Saul, infelizmente em vão, de desistir da guerra. Antes de consultar a pitonisa, Saul lançou mão dos “sonhos” do “Urim” e dos profetas.

Hermínio Miranda esclarece o que seja o “Urim e o Tumim”, no livro “O Que é Fenômeno Mediúnico”. O conjunto “urim e tumim” representam á letra inicial e a última letra do alfabeto hebraico. O que teria isso a ver com a transcomunicação e a mediunidade? Isso nos remete às conhecidas “mesas falantes”, composta pelo alfabeto, números e termos “sim” e “não”, muito usado para comunicação com os espíritos, na famosa diversão com o copo, e entre os hebreus, a tábua e as duas pedras, seriam utilizadas nessa comunicação com os espíritos. O Novo Testamento, está repleto também de fenômenos físicos mediúnicos e de comunicações com os ‘mortos”. Modernamente, a partir de 11 de dezembro de 1847, em Hydesville com as irmãs Margareth, Kate e Leah Fox. Logo depois, em 1840, a Europa foi assolada pelas “mesas girantes”. Em 1854, Kardec ouviu falar do fenômeno e em 1855, presenciou-o pela primeira vez, e em 1857, lançou “O Livro dos Espíritos”, onde nos explica perfeitamente tais fatos, relacionando-os à mediunidade. Mais recentemente vimos surgir, em diversos pontos do planeta, um movimento que se especializou em estudar o que ficou convencionado por “transcomunicação instrumental” (TCI). Ela se diferencia segundo alguns de seus estudiosos, pelo fato de dispensar o concurso de um médium, ocorrendo o fenômeno diretamente por ação de um desencarnado atuando sobre a pessoa, ou por telefone, rádio, fax, computador, televisão, etc. A TCI teria também os seus precursores que teriam tentado a comunicação com os espíritos, através de aparelhos, sem a ajuda de médiuns. Foram eles, Thomas Edison, Guglielmo Marconi e vários outros.

O excelente livro do professor Hernani Guimarães Andrade, “A Transcomunicação Através dos Tempos” é uma obra completa de informações.
Caso notável, contudo, é o do nosso conterrâneo Coelho Neto, que narrou em entrevista ao “Jornal do Brasil”, de 7 de junho de 1923, como se comunicou com sua neta Ester, desencarnada em tenra idade. Coelho Neto escutou a fala de Ester com a mãe por uma extensão telefônica, no seu escritório. Ester referiu-se a episódios íntimos de natureza familiar, só conhecido por poucos. Seu depoimento público teve enorme impacto, pois se tratava de famoso escritor, pertencente à Academia Brasileira de Letras.

A TCI moderna teve início, a rigor, com o trabalho de Friedrich Jurgenson, jornalista, em sua casa de campo em Molbno, na Suécia, em 1959, quando tentava gravar gorjeios de pássaros para um documentário. Posteriormente, ao ouvir a gravação, descobriu, entre os sons dos pássaros, vozes humanas, ora em alemão, ora em sueco, que se identificaram mais tarde, e disseram serem pessoas já falecidas. Davam elas, informações sobre o mundo espiritual e Jurgenson publicou sua experiência em 1964, no livro ‘Telefone para o Além”. As vozes descreviam determinado plano na espiritualidade, semelhante ao nosso e também um plano inferior, habitado por espíritos mais atrasados moralmente. Tudo muito parecido com o que conhecemos ao ler os livros de André Luiz, na série ditada a Chico Xavier. Jurgenson obteve o registro das vozes em simples gravador da década de 1950.

Entretanto, não podemos ignorar que a própria Espiritualidade já tinha se referido à possibilidade futura de obtenção de mensagens do mundo espiritual através de tecnologias modernas. Na obra “Devassando o Invisível”, na página 177, edição de FEB, a médium Yvonne Pereira relatou o interessante aviso do espírito de Bezerra de Menezes, recebido pelo médium Silvestre Lobato, em 1915, em São João Del-Rei, na casa dos pais do conhecido médium. Bezerra anunciou ainda o advento do rádio e da televisão, assegurando que esta última facultaria ao ser humano, mais tarde, captar panoramas e detalhes do mundo espiritual, o que seria de utilidade para o convencimento de pessoas mais materialistas, sobre a realidade do mundo espiritual. A TCI não constitui mais
novidade, para quem milita na área espírita, porque a comunicação é aceita. O que muda, de acordo com os tempos, são os meios de comunicação: métodos toscos na pré-história, “mesas falantes” no século XIX, aparelhos eletrônicos na época atual. Amanhã, com o surgimento de novas tecnologias, certamente os espíritos tentarão utilizá-las para se comunicarem conosco.

Uma grande discussão que envolve a TCI diz respeito à mediunidade. Para muitos entusiastas da TCI, o fato acontece sem o concurso de um médium, atuando o espírito diretamente sobre o aparelho terrestre. Aceitamos que esteja presente sempre um médium de efeitos físicos auxiliando no processo, mesmo que inconscientemente. A prova disso é o testemunho do professor Henrique Rodrigues, espírita e psico-biofísico, grande estudioso que observou diversas situações, constatando que, quando “alguém” (podendo ser o próprio observador) se afastava do recinto, o fenômeno diminuía ou mesmo desaparecia. Isso comprovou a necessidade de um médium de efeitos físicos para o fenômeno ocorrer e se manter.

Abelardo Idalgo Magalhães, antigo vice-presidente da FEB, narrou certa vez o que ocorreu durante uma reunião espírita a que compareceu. O dirigente da reunião fez uma longa prece que foi gravada em aparelho simples, pelos idos de 1960. Ao fim da reunião, ao ouvirem a fita, todos ficaram surpresos: com a prece, ficou registrada uma espécie de fundo musical, com a execução de divina música por orquestra sinfônica que, obviamente, não estava no recinto. Em ambos os casos, a aparelhagem de gravação era modesta, mas o efeito foi bastante efetivo.

Esperamos que a TCI venha a se consolidar, quem sabe no futuro, nos propiciando a visão e a audição de entes queridos que já encontram-se no outro lado da vida. Nunca é demais lembrar que como ocorre com a mediunidade, a TCI é neutra, podendo servir ao Bem como também se prestar para certas confusões indesejáveis, aliás, como muito bem nos adverte a Doutrina dos Espíritos. Por isso o estudo e o uso do bom senso são mais que necessários e indispensáveis mesmos, nesses casos.




Bibliografia:
Gilberto Peres Cardoso
Revista Espírita de Campos – 10-11-12/2011
Pequenas alterações e supressões.



Jc.
S.Luis, 17/3/2012