sábado, 26 de fevereiro de 2011

BIOGRAFIA DE CÁRITAS

BIOGRAFIA DE CÁRITA OU CÁRITAS


Há no meio espírita uma prece que todos apreciam muito – a Prece de Cárita ou Cáritas, cuja denominação e origem têm sido muito estudadas e pesquisadas, embora poucos se arrisquem a dar um parecer sobre sua origem. “Chamo-me Caridade, sou o caminho principal que conduz a Deus; segui-me eu sou a meta a que vós todos deveis visar”, esse é o trecho de outra mensagem muito bela assinada pelo mesmo Espírito, que, segundo alguns, comunicava-se por intermédio de uma das grandes médiuns de seu tempo, Mme. W. Krell, ligada a um círculo espírita de Bordeaux, na França.

Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo” e na Revista Espírita, podemos ler várias mensagens de Cárita, ali inseridas por Allan Kardec. São mensagens muito belas, que estimulam a fraternidade, a solidariedade e a caridade. A prece foi psicografada pela Madame. W. Krell, na véspera do Natal de dezembro de 1873, portanto há quase 150 anos. Essa médium, esquecida no presente pode ser considerada uma das maiores médiuns psicógrafas da história do Espiritismo. A perfeição extraordinária de mensagens que ela psicografou, assinada pelos maiores nomes da poesia francesa, não poderia jamais deixar de merecer destaque. Lamartine, André Crênier, Saint-Beuve e Alfred de Musset, além do poeta americano Edgard Allan Poe, escreveram por intermédio dela, que recebia ainda constantes comunicações do Espírito de Verdade, de Alexandre Dumas, de Lacordaire, de Lamennais, de Pascal, de Fénelon e muitos outros.

No livro “Rayonnementes de la Vie Spirituelle”, cuja publicação ocorreu em maio de 1875, em Bordeaux (França), encontram-se a maioria das mensagens psicografadas por Madame Krell. Em março de 1875, Hahnemann, em mensagem fala sobre a importância e os benefícios obtidos com o uso dos fluidos e afirma: “A Homeopatia é o primeiro passo dado nesse sentido; o segundo, mais amplo, será a medicação por meio dos fluidos; o terceiro será a medicação puramente espiritual”.

Cárita teria sido Irene, martirizada em Roma. Acredita-se que Cárita foi no passado a jovem Irene, martirizada em Roma no ano 305, quando das perseguições aos cristãos, determinadas pelo imperador Diocleciano. O próprio Allan Kardec dá-nos essa informação, como podemos ver na Revista Espírita de 1862, página 52, na qual a revista noticia uma ajuda financeira enviada pela Sociedade Espírita de Paris aos pobres da cidade de Lyon, transcrevendo em seguida, uma mensagem de Cárita, que teria sido, segundo Kardec, Santa Irene. Na mensagem, Cárita agradece o gesto, sobretudo porque a boa ação foi disfarçada sob a capa do anonimato. ‘A Caridade é suave e merece que se a pratique”, diz ela, lembrando que “pouca coisa é necessária para transformar lágrimas em alegria, sobretudo em casa do trabalhador que não está habituado a visita da felicidade com freqüência”

Em poucas palavras, os fatos que causaram à perseguição e morte da jovem Irene.
No século IV, época em que governava o imperador romano Diocleciano, considerado o mais sanguinário perseguidor dos cristãos, era proibido que as pessoas portassem ou guardassem escritos que pregassem o Cristianismo. Todos os livros deveriam ser entregues às autoridades para serem queimados. Irene, ainda jovem, e suas irmãs Ágape e Quilônia pertenciam a uma família pagã da Tessalônica na Grécia, mas se converteram e passaram a pregar os ensinamentos de Jesus. As três irmãs foram denunciadas e em sua casa foi encontrado exemplares da Bíblia, razão pela qual foram elas presas e levadas a interrogatório diante do governador da Macedônia. Deveriam elas, como os demais cristãos, renegar a fé em Jesus e só se salvariam de idolatrassem os falsos deuses dos romanos, oferecendo publicamente comida e incenso a eles, além de queimar os textos evangélicos.

Naquela época, se os cristãos se negassem a renunciar a sua fé, geralmente eram queimados vivos. Foi o que se deu com elas. As suas irmãs foram encontradas antes, presas e interrogadas, negaram-se a adorar os falsos deuses e confirmaram sua fé. Foram por isso, executadas. Irene que havia escondido grande parte dos livros cristãos em sua casa e tinha fugido para as montanhas, foi encontrada e presa no dia do martírio das suas irmãs. Irene foi então submetida a interrogatório, mantendo-se firme em sua profissão de fé. Condenada pelo governador Dulcério, foi entregue aos carrascos, que a violentaram, lhe tiraram a roupa, expuseram-na à vergonha pública e depois a queimaram viva.

O culto a Santa Irene ainda é muito intenso no Oriente e no Ocidente, e se perpetuou até os nossos dias pelo seu exemplo de mártir, bem como pela tradução de seu nome, que em grego significa “paz”, e é muito reverenciado, principalmente entre os povos cristãos. A festa de Santa Irene acontece no dia 5 de abril, dia em que recebeu a palma do martírio pela fé em Jesus, no ano de 304.


Abaixo, transcrevemos o texto da Prece de Cáritas:

Deus nosso Pai, que sois todo poder e bondade, daí a força àquele que
passa pela provação; daí luz àquele que procura a verdade, ponde no
coração do homem a compaixão e a caridade.
Deus daí ao viajor a estrela guia; ao aflito a consolação; ao doente o
repouso. Pai, daí ao culpado o arrependimento, ao espírito a verdade,
à criança o guia, ao órfão o pai.

Senhor, que a vossa bondade se estenda sobre tudo o que criastes.
Piedade Senhor, para aqueles que não vos conhecem, esperança para
aqueles que sofrem.
Que a Vossa bondade permita aos Espíritos consoladores derramarem
por toda parte a paz, a esperança e a fé.
Deus, um raio, uma faísca do Vosso amor pode abrasar a terra.
Deixa-nos beber nas fontes dessa bondade fecunda e infinita, e todas
as lágrimas secarão, todas as dores acalmar-se-ão.
Um só coração, um só pensamento subirá até Vós, como um grito de
reconhecimento e amor.
Como Moisés sobre a montanha, nós vos esperamos como os braços
abertos, oh! Poder... oh! Bondade... oh! Beleza... oh! Perfeição, e
queremos de alguma sorte alcançar a Vossa misericórdia.

Deus, daí-nos a força de ajudar o progresso a fim de subirmos até
Vós; daí-nos a Caridade pura; daí-nos a fé e a razão; daí-nos a
simplicidade que fará de nossas almas, o espelho onde deve refletir a
Vossa santa e misericordiosa imagem.




Bibliografia:
Jornal “O Imortal”
“O Evangelho Segundo o Espiritismo”



Jc.
S. Luis, 25/02/2011

BEZERRA DE MENEZES, O DISCÍPULO

BEZERRA DE MENEZES, O DISCÍPULO BRASILEIRO

Bezerra de Menezes foi o mais destacado espírita brasileiro do século XIX. Contemporâneo de Allan Kardec, ele exerceu um papel destacado; por suas mãos a Doutrina dos Espíritos e o movimento espírita tomou o rumo evangelizador e cresceu em importância e em adeptos. Estudando o “Livro dos Espíritos”, ele direcionou sua atividade evangélica e demonstrou a necessidade da união de todos os espíritas na difusão dos Evangelhos e no entendimento da ligação entre o Cristianismo e o Espiritismo. Bezerra de Menezes foi também um devotado médico homeopata que privilegiou os mais necessitados. Foi como homem público e parlamentar, um atento observador e formulador de políticas para o desenvolvimento nacional; também foi um prolixo escritor e publicou dezenas de artigos e livros fundamentais.

Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti, (que posteriormente passou a assinar Menezes), nasceu na freguesia do Riacho do Sangue, hoje chamada Jaguaretama (CE), no dia 29 de agosto de 1831. De família ligada à política e ao militarismo, foi educado dentro dos padrões morais rígidos e segundo os padrões da religião católica. Aos sete anos de idade entrou para a escola pública da Vila do Frade. Seus pais eram o tenente-coronel da Guarda Nacional, Antônio Bezerra de Menezes e dona Fabiana de Jesus Maria Bezerra. Em 1842 sua família mudou-se para o Rio Grande do Norte devido a perseguições políticas. Em 1846 a família volta para o Ceará e ele entrou para o Liceu e completou seus estudos como o primeiro aluno da classe. No ano de 1851 morre o seu pai e ele muda-se para o Rio de Janeiro. No ano seguinte, ingressa como praticante no Hospital da Santa Casa de Misericórdia, e para poder estudar, dava aulas de Filosofia e Matemática. Durante esse período em que estudava, Bezerra de Menezes passou por muitas dificuldades financeiras. Numa dessas ocasiões, em que não tinha como resolver a situação, apareceu-lhe um jovem que vinha pedir para ele ensinar-lhe, e para tanto, após ajustado o valor, adiantou o pagamento equivalente as aulas, dizendo que voltaria no dia seguinte e nunca mais apareceu, como se fosse um anjo que viera atender seu pedido de ajuda.

Em 1856, doutorou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e tornou-se mais que médico: um dedicado missionário. Candidatou-se ao quadro de membros titulares da Academia Imperial de Medicina, sendo empossado em 1º de junho de 1857. Em 1858 foi nomeado “cirurgião-tenente”. Entre os anos de 1859 e 1861 foi redator dos “Anais Brasilienses de Medicina”, da Academia Imperial de Medicina.

Bezerra de Menezes casou-se com Maria Cândida de Lacerda, em 6 de novembro de 1858, que faleceu em 1863, deixando-lhe dois filhos. Em 1861 inicia sua carreira política sendo eleito vereador da cidade do Rio de Janeiro. Na Câmara Municipal da Corte desenvolveu grande trabalho na defesa dos humildes e necessitados, sendo reeleito para os períodos de 1864 a 1868 e de 1873 a 1881. Foi eleito deputado geral pelo Partido Liberal em 1867 e depois no período de 1878 a 1885. Criou e construiu a Cia. de Estradas de Ferro Macaé a Campos, e empenhou-se na construção da ferrovia de Santo Antonio de Pádua. Em 1875 foi presidente da Cia. Carris Urbanos de São Cristóvão. Bezerra de Menezes era também membro do Conselho do Liceu de Artes e Ofícios, sócio da Sociedade Físico-Química, membro honorário da Academia Nacional de Medicina, correspondente da Sociedade Geográfica de Lisboa, membro honorário do Instituto Farmacêutico e da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional.

Foi redator de “A Reforma”, órgão liberal da Corte e também redator do jornal
“Sentinela da Liberdade”, concluindo sua carreira política em 1885, ano em que também se casou em segunda núpcias com Cândida Augusta de Lacerda Machado, com quem teve sete filhos. Bezerra de Menezes escreveu as seguintes obras literárias: “A Escravidão no Brasil e as medidas que convém tomar para extingui-la sem dano para a Nação”; “Perfis Parlamentares”; “Breves Considerações sobre as secas no Nordeste”; “A Casa Assombrada”; “A Loucura sob Novo Prisma”; “Estudos Filosóficos”; “Os Carneiros de Panurgio”; “A Criança Tal Como é”; “Filosofia”; “O Bandido”; “História de Um Sonho”; “Pérola Negra”; “A Doutrina Espírita”; “Mensagens Psicografadas”; “Evangelho do Futuro”; “Os Mortos que Vivem”; “Lázaro, o Leproso” e outros mais.

Bezerra de Menezes toma conhecimento da Doutrina Espírita, em 1875, através de “O Livro dos Espíritos”, oferecido pelo seu tradutor, Dr. Joaquim Carlos Travassos.
Ele próprio narra o episódio: “Deu-mo na cidade e eu morava na Tijuca, a uma hora de viagem de bonde. Embarquei com o livro e, como não tinha distração para a viagem...disse comigo: ora, adeus! Não hei de ir para o inferno por ler isto... depois, é ridículo confessar-me ignorante desta filosofia, quando tenho estudado todas as escolas filosóficas. Pensando assim, abri o livro e prendi-me a ele, como acontecera com a Bíblia. Preocupei-me seriamente com este fato que me era maravilhoso e a mim mesmo dizia: parece que eu era espírita inconsciente, ou, como se diz vulgarmente, de nascença... Eu já tinha ouvido sobre o “Livro dos Espíritos”, mas eu tinha a certeza de nunca ter lido obra alguma espírita, e, portanto, me era impossível descobrir onde e quando me fora dado o conhecimento de semelhantes idéias que agora comprovava lendo o livro”. A partir desse momento, ele inicia um estudo aprofundado da Doutrina Espírita e intensifica sua ação benéfica como médico homeopata.

Apesar de convencido da verdade do Espiritismo, eu nunca tinha assistido, nem tentado assistir a qualquer trabalho. Tendo sido atacado de dispepsia, que me reduziu a um estado desesperador, sem que me tivesse proporcionado o menor alívio a medicina oficial, apesar de ter recorrido aos mais notáveis médicos desta capital, resolvi, depois de um sofrimento de cinco anos, recorrer a um médium receitista, de nome João Gonçalves do Nascimento. Eu não acreditava nem deixava de acreditar na medicina medianímica, e confesso que acreditava mais ser o tal médium um especulador. Por isso, combinei com o doutor Maia de Lacerda, que era desconhecido do médium, para ele fazer pessoalmente a consulta. O doutor Lacerda fez como lhe recomendei, e trouxe-me o que escreveu o médium, que não podia me reconhecer pelo meu nome próprio, “Adolfo”, visto ser conhecido geralmente por Bezerra de Menezes. Tomei o papel, que dizia: “Adolfo, vejo no organismo do consulente. . . seguia-se uma descrição minuciosa de meus sofrimentos e suas causas determinantes, tão exatos que não posso descrever o abalo que me produziu esse fato estupendo! Segui o tratamento espírita, e o que os mestres da Ciência não conseguiram em cinco anos, e em três meses, Nascimento havia me curado. Logo após este fato, deu-se o de minha mulher condenada como tuberculose em segundo para terceiro grau, por importantes médicos; e me disse Nascimento, a quem consultei, com cautela para ele não saber de quem se tratava: “Enganam-se os médicos que diagnosticaram tuberculose (como ele sabia que os médicos haviam feito tal diagnóstico?). Essa doente não tem tuberculose; seu sofrimento é puramente uterino, e, se for tratada, será curada. Se os médicos soubessem a relação que existe entre o útero, o coração e o pulmão esquerdo, não cometeriam erros como este”. Sujeitei a minha esposa, já que tinha febres, suores e todos os sinais da tísica em grau avançado, ao tratamento espírita, e em poucos meses tudo aquilo desapareceu, e já são decorridos dez anos, durante os quais ela tem tido e criado quatro filhos, sem mais sentir nenhum incômodo nos pulmões. Nada me impressionou mais do que ver um homem, sem conhecimentos médicos e até sem instrução regular, discorrer sobre moléstias sem claudicar, como bem poucos médicos o podem fazer. Como resistir à evidência de tais fatos?

Creio que se eu fosse ainda um incrédulo, desses que fecham os olhos para não ver, ainda assim não poderia resistir à impressão que me causou semelhantes fatos. Minha alma encontrou finalmente onde pousar, tendo deixado o vendaval de descrença, de dúvida, que devasta, que esteriliza, recordando as torturas de quem sente a necessidade de crer, mas não encontra onde assentar sua crença, porque o ensino de Jesus, me era oferecido sob um aspecto impossível de acomodar-se, com um sentimento íntimo, intuitivo, exato, que me desse a razão e a consciência de ali estar a verdade; mas a verdade não era aquilo. Ah! Igreja Católica Romana. O Cristianismo nunca terá tão forte inimigo! O materialismo nunca terá aliado tão prestimoso! Eu já disse como, antes de aceitar o Espiritismo, vivi a fugir de toda crença religiosa, por não poder aceitar uma que impõe à fé, por decreto de seus ministros, e a ser arrastado para essa mesma crença que minha consciência não podia aceitar. Posso dizer o meu “credo” espírita, com aplauso de minha consciência, e não por força de uma autoridade que se arroga o direito de impor a fé! Julgo pois, que me é lícito dizer que as novas opiniões acarretaram para mim sensível modificação moral. E, para confirmá-lo, basta este fato: antes de ser espírita, só pensar em perder um filho, fazia-me blasfemar, punha-me louco. Depois de espírita, já perdi quatro filhos adorados e criados, louvando e agradecendo a Deus, por aquele modo, minha obediência a seus sacrossantos desígnos.

Lançada em 1883, por Augusto Elias da Silva, a revista “o Reformador” Bezerra de Menezes tornou-se seu colaborador escrevendo comentários judiciosos sobre o catolicismo. Nesse mesmo ano os espíritas do Rio de Janeiro sentiram a necessidade de criar uma organização para ditar os rumos do movimento no país e minimizar as divergências entre místicos e científicos. Assim, em 27 de dezembro de 1883, Augusto Elias da Silva reuniu doze de seus colaboradores no jornal “O Reformador” e decidiram fundar uma nova instituição. Essa intenção se confirmou em primeiro de janeiro de 1884 com a criação da Federação Espírita Brasileira (FEB), que promoveria a doutrinação, a disciplina e o intercâmbio de experiências entre os diversos Centros Espíritas já existentes. A primeira sessão foi realizada no dia 9 de janeiro e foi estipulado um prazo de 60 dias para a adesão de quem quisesse figurar no quadro de fundadores. Em 23 de janeiro, o Grupo Espírita Menezes, foi o primeiro a aderir a Federação. Bezerra de Menezes foi um dos primeiros a ser convidado para assumir a posição de presidente da organização, mas não aceitou por não se considerar capaz de tal responsabilidade. Seu primeiro presidente foi o Marechal Ewerton Quadros.

Em 1889, o Marechal Quadros foi transferido para Goiás, fato que não permitiu a sua permanência à frente da Federação. A intenção dos federados era colocar um personagem de grande prestígio e força moral na presidência e o nome de Bezerra de Menezes foi escolhido. Nesse mesmo ano, em 5 de fevereiro, na sede da Sociedade Espírita Fraternidade, Allan Kardec se manifestou através do médium Frederico Pereira da Silva Junior com uma comunicação que passou a se denominar “Instruções de Allan Kardec aos Espíritas do Brasil”. A intenção era reorientar os espíritas brasileiros e promover uma união entre as diversas interpretações. Seguro das “Instruções”, Bezerra de Menezes convocou um congresso, em 31 de março de 1889, onde se reuniram 24 grupos. As “Instruções” forneciam as diretrizes para o trabalho, tanto que a certa altura da mensagem surge a pergunta: “Onde está a escola de médiuns?” – Já em 23 de maio do mesmo ano, Bezerra de Menezes criou a “Escola de Médiuns” e instalou a tradicional sessão de sexta-feira, em que explicava aos interessados, os princípios da Doutrina através da leitura de “O Livro dos Espíritos”.

Por outro lado, a Federação instituiu, em janeiro de 1890, um dos pilares do Espiritismo: a Assistência aos Necessitados. O doutor Polidoro Olavo de São Tiago, foi o responsável pela iniciativa que fornecia alimentos, roupas e medicamentos para os pobres e desvalidos. Essa prática atraiu grande número de benevolentes e a simpatia da população para os trabalhos da FEB. Nesse mesmo ano, na Europa, o Espiritismo vivia um clima voltado para à pesquisa dos fenômenos mediúnicos, tendência que chegou ao Brasil. Os estudos foram voltados para os fenômenos, dando pouca importância aos princípios morais enfocados pela Doutrina. Bezerra de Menezes que não podia compreender o Espiritismo sem a fé religiosa, se afastou da presidência da Federação, mas persistindo em seus propósitos. Em decorrência do fato, assumiu a presidência da FEB, o senhor Dias da Cruz. O período de presidente de Dias da Cruz, foi crítico para o movimento espírita brasileiro. Apesar de tentar a conciliação entre os místicos e os científicos, sua presidência foi marcada por divergências que continuaram e ocasionaram a dispersão dos espíritas. A crise se arrastou, até setembro de 1893, quando Dias da Cruz renunciou a presidência da Federação.

Os místicos estavam mais organizados e perceberam que precisavam de um nome respeitável e de valor indiscutível. Bezerra de Menezes, do Grupo Ismael, era o nome ideal, pois era sábio, bondoso, político e humilde, aos 63 anos, possuía ainda a seu favor, a ponderação da idade. Convidado, relutou, pois estava cheio de obrigações espíritas. Insistiram, dizendo que não era um convite, era um apelo, a Federação precisava de sua tolerância e conciliação. Só aceitou a difícil tarefa depois de receber a afirmação do seu guia espiritual, voltando a presidência da FEB pela segunda vez, em 3 de agosto de 1895. “O Reformador”, em sua edição de 15 de agosto publicou uma nota sobre a assembléia com estas palavras: “A Federação tem tudo a esperar do seu novo presidente e penso que, se o apoio e a boa vontade dos nosso irmãos se fizerem efetivos e reais, em breve tempo ela se terá firmado e engrandecido, nesta nova fase em que em boa hora entrou”. Assim, mudou-se o rumo da Federação e foi estabelecida a divisa: ‘Deus, Cristo e Caridade”, como máxima, e essa orientação permanece até os dias atuais. Na verdade, sua importância foi mais destacada como organizador, num momento crucial para o movimento espírita no Brasil. Uma situação de dispersão, desconfiança, de confronto; de um lado os chamados “místicos” e do outro os “científicos”. Bezerra de Menezes foi o único nome capaz de unir os espíritas, e apaziguou e promoveu a unificação de todos.

Em 16 de agosto de 1896, aos 55 anos de idade, perante um auditório de cerca de duas mil pessoas que lotavam o salão de honra da Velha Guarda, no Rio de Janeiro, este ouviu silencioso e atônito, o famoso médico anunciar sua conversão ao Espiritismo. Esse importante acontecimento foi assim narrado pelo jornal “O Paiz”, dois dias depois: “O orador, discorrendo sobre os motivos que o levaram a abraçar a nova doutrina, fez uma brilhante comparação a religião católica romana e a espírita, concluindo que a espírita e não aquela, era o coroamento da moral cristã. O orador foi aclamado com uma salva de palmas ao deixar a tribuna. O salão com mais de 1.500 pessoas esteve completamente lotado”.

Como médico, atendia a qualquer hora e adotava a homeopatia como método e filosofia de trabalho. Por sua dedicação aos doentes ficou conhecido como “Médico dos Pobres”. Bezerra de Menezes atendia gratuitamente aqueles que não podiam pagar. O dinheiro que recebia dos clientes que podiam pagar, era gasto com os pobres em remédios, roupas ou simplesmente auxílio em dinheiro. Certa vez apareceu para consultar uma jovem com uma criança doente, e ele após examiná-la, receitou os remédios. A jovem lhe disse que não tinha dinheiro para atender a receita, e, como a farmácia que atendia seus pacientes já não fornecia mais os remédios receitados por já estar ele, com grande débito, e ele se encontrar sem dinheiro, retirou seu anel de formatura do seu dedo e entregou à paciente dizendo-lhe que vendesse e comprasse os remédios para seu filho.

Para ele, a função de médico tinha o mais elevado conceito, por isso, ele dizia: “Um médico, não tem o direito de terminar uma refeição, nem de perguntar se é longe ou perto, quando um aflito qualquer lhe bate à porta. Aquele que não acode por estar com visita, por ter trabalhado muito, ou por ser alta hora da noite, e que pede um carro a quem não tem como pagar a receita, ou diz a quem lhe chora à porta, que procure outro médico - esse não é médico, é negociante de medicina, que trabalha para recolher capital e juros dos gastos da formatura. Esse é um desgraçado, que manda para outro, o anjo de caridade que veio lhe fazer uma visita e lhe trazia a única maneira que podia saciar a sede de riqueza do seu Espírito, a única que jamais se perderá nos vaivens da existência”.

Seu credo constava de: “Creio em Deus, Todo Poderoso, Criador do Céu e da Terra,
creio que sou um espírito por Ele criado para a imortalidade. Não sou cristão porque meus pais me criaram nessa lei; mas sim porque minha razão e minha consciência, livremente agindo, firmaram minha fé nessa doutrina sublime, que eleva o homem, em espírito, acima de sua condição carnal. A idéia desta doutrina, a pluralidade de existências, não é nova, embora aplicando mal a metempsicose. Ela vem da origem dos tempos e serve de característica à doutrina de Jesus. No Oriente, a caridade e a pluralidade de existências foram colunas em que assentou a doutrina de Buda. Jesus foi, portanto, quem fez germinar a semente da caridade, lançada à Terra desde o princípio da Humanidade. Não creio que o mal possa triunfar sobre o bem; não creio que um espírito criado por Deus possa fazer-lhe frente, resistir-lhe e destruir-lhe os planos e nem que o Senhor permita isso. Não creio na existência única, porque o homem é perfectível; não creio nas penas eternas, porque Deus é Pai; não creio na infalibilidade do papa, porque assim teríamos um Deus no Céu e outro na Terra. Eis o meu credo e digo-lhes: Tenho fé viva e esperança firme de subir com ele à sociedade de Deus na eternidade”.

Em dezembro de 1899, Bezerra de Menezes foi acometido por uma congestão
cerebral (acidente vascular cerebral) e desencarnou em 11 de abril de 1900, às onze e meia horas. Já o jornal “O Pais”, sob a direção de Quintino Bocaiúva, destacava em sua primeira página: “Desde que se divulgou a notícia, uma romaria constante passou a se dirigir para a Câmara Municipal da Corte, onde eram prestadas as homenagens pelos serviços prestados aos necessitados e ao país. A grande maioria era de pobres, os humildes e necessitados, no anonimato de sua condição em que, brilham excelsas virtudes, que lhe iam render o tributo da saudade e do reconhecimento, conquistados pela bondade, e cujos soluços e lamentações se confundiam com os da pobre família desolada”.

Hoje, na Espiritualidade, Bezerra de Menezes é Coordenador no Plano Espiritual Superior da Revolução Mundial dos Espíritos da Luz Celeste na Quarta Revelação.



Bibliografia:
“O Reformador” de agosto de 2006
Revista “Bezerra de Menezes” da Editora Minuano


Jc.
S. Luis, 23/2/2011

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AUGUSTO ELIAS DA SILVA

AUGUSTO ELIAS DA SILVA

Augusto Elias da Silva reencarnou em Portugal em 1848, justamente no ano em que uma onda de renovação espiritual, se irradiaria de Hydesville para o mundo inteiro. Como sabemos, em 31 de março de 1848, registraram-se no pequeno povoado americano os fenômenos que dariam, anos depois, origem à Doutrina dos Espíritos.

Fotógrafo de profissão, Elias da Silva despertou para o Espiritismo aos 33 anos de idade, como ele mesmo contou pelas páginas da revista “Reformador” de 1º de dezembro de 1891. Disse ele; “Em 1881, fui convidado a assistir a uma sessão na sala da Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade, à rua da Alfândega nº. 120. As minhas convicções nessa época eram as do mais forte indiferentismo religioso, não tendo a menor parcela de dúvida sobre a não existência da alma. Não admitindo os fenômenos das diversas religiões, só via nelas agrupamentos de ociosos e amigos de dominar, explorando a ignorância das massas, geralmente supersticiosas e inclinadas ao sobrenatural.

Foi-me aconselhada a leitura das obras de Allan Kardec. A leitura despertou-me o desejo de verificar experimentalmente as teorias que ia recebendo, e comecei a freqüentar as sessões dos grupos e sociedades então existentes, onde gradativamente fui recebendo as provas mais robustas da manifestação dos que eu chamava de “mortos”. Na segunda sessão de que participou, trabalhou como médium sonâmbula, a esposa do irmão Monteiro de Barros, a qual, não tendo produzido trabalho algum intelectual, caiu, em estado sonambúlico, ajoelhada na cadeira em que se encontrava e nessa posição ficou mais de vinte minutos, com os braços erguidos, na mais absoluta imobilidade. Como fotógrafo, Elias da Silva conhecia a dificuldade de se manter tal posição no estado normal e a esse fato, longe de modificar suas idéias, lhe despertou o desejo de investigar as leis que o determinaram.

Aos fatos, seguiu-se o estudo e, a partir daí, estudando com ardor as obras de Kardec e todas as demais que adquiriu para aumentar seus conhecimentos a cerca da Doutrina, em pouco tempo, Elias da Silva manifestou firme vontade de servir à Causa, tornando-se ativo membro da Comissão Confraternizadora da Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade, fundando em seguida o “Grupo Espírita Menezes”. Fundar e conservar um órgão espírita no Brasil era, naquela época, algo que poucos conseguiriam realizar, uma vez que todas as baterias do Catolicismo estavam assestadas contra a Doutrina Espírita. Amparado, e com o apoio dentro do lar de sua sogra e de sua esposa Matilde Elias da Silvas, com quem teve um filho também chamado Augusto, ambas espíritas convictas, Elias da Silva, lançou então a revista “Reformador”, em 21 de janeiro de 1883, com recursos tirados do seu próprio bolso, sendo a redação e as oficinas instaladas em seu atelier fotográfico, na Rua da Carioca 120, onde também residia com sua família.

Em 27 de dezembro de 1883, Elias da Silva reuniu em sua residência como sempre fazia semanalmente, os companheiros que mais de perto o auxiliavam na revista
“Reformador”. Nesse memorável dia firmou-se entre os presentes o ideal de fundar-
uma Sociedade nova, que federasse todos os Grupos por meio de “um programa equilibrado ou misto” e que difundisse por todos os meios a Doutrina dos Espíritos, principalmente pela imprensa e pelo livro. E, foi assim que, no dia 1º de janeiro de 1884, uma terça-feira, reunidos na residência de Elias da Silva, um grupo de espíritas, movidos pela fé e pela coragem, entre os quais, além da sogra e da esposa, estavam os confrades Francisco Raimundo Ewerton Quadros, Manoel Fernandes Figueira, Francisco Antonio da Silveira Pinto, Romualdo Nunes Vitório, Pedro da Nóbrega, José Agostinho Marques Porto, resolveram instalar a Federação Espírita Brasileira.

Durante vários anos exerceu várias funções na Federação, sendo sua última função o cargo de tesoureiro, para o qual foi eleito em 2/3/1888, sendo esse o último ano em que exerceu funções diretas na Diretoria, por sua própria deliberação, o que não impediu que continuasse a freqüentar as sessões da FEB, junto aos companheiros de lides doutrinárias, com eles estudando um sem número de questões e problemas relacionados a pontos de Doutrina e à orientação geral do Espiritismo em nossa terra, além de que propagava na tribuna os princípios espíritas.

Em face de sua constância nos trabalhos realizados pela entidade, pode-se dizer que, quase até o fim de sua existência, a Federação Espírita Brasileira foi para Elias da Silva, seu segundo lar, a que dedicou todo o seu amor e seu trabalho.

Algum tempo depois, minado seu organismo pela tuberculose pulmonar, aguardou ele sobre uma cama a hora em que passaria deste para o mundo espiritual, o que ocorreu no dia 18 de dezembro de 1903.

Hoje, tanto a revista “Reformador” como a Federação Espírita Brasileira, reverenciam a memória do seu fundador, um português que veio para o Brasil e aqui se notabilizou por criar um veículo de comunicação e uma entidade que congrega até o presente, as diversas instituições espíritas.


Bibliografia:
Jornal “O Imortal”


Jc.
S.Luis, 9/2/2011.

APARECIDA CONCEIÇÃO FERREIRA

APARECIDA CONCEIÇÃO FERREIRA

Aparecida nasceu na cidade de Uberaba-MG., no ano de 1914, e desencarnou na mesma cidade natal, na manhã de 22 de dezembro de 2009. Valorosa enfermeira, exemplo de humildade e amor ao próximo. Conhecida também como Dona Aparecida e “Vó Cida”, trabalhou como enfermeira do setor de isolamento da Santa Casa de Misericórdia, em Uberaba, especializando-se no tratamento de doenças contagiosas.

A decisão inesperada da direção do hospital em que trabalhava, ou seja, dar alta prematura a doze pacientes de pênfigo foliáceo, cujos corpos cobriam-se de dolorosas bolhas, sob a alegação de que o tratamento era longo e dispendioso, mudaria o curso da sua existência. Era o dia 8 de outubro de 1958. Inconformada com aquela atitude desumana e tomada de compaixão, abandonou o emprego para poder socorrer as pobres vítimas, levando-as para sua própria residência. Na época, a doença era considerada contagiosa e a família e os vizinhos ficaram apavorados. Seu marido e os filhos deram um ultimato: “Ou nós ou eles”. Ela lhes respondeu: “Vocês já estão todos grandes e criados, eles não têm ninguém; eu fico com eles”. Eles então saíram de casa, mas depois voltaram; compreenderam a importância de sua tarefa e passaram a ajudá-la. Ali, os doentes permaneceram por alguns dias até que a Prefeitura lhe cedeu um pavilhão no Asilo São Vicente, para que pudesse cuidar dos doentes. Embora a cessão fosse por apenas 10 dias, Aparecida permaneceu morando com as vítimas do fogo-selvagem por dez anos e, desde a primeira noite, Aparecida passou a morar com as vítimas.

Em 1959 Chico Xavier mudara-se de Pedro Leopoldo para Uberaba, e, Aparecida premida pelas dificuldades financeiras que enfrentava, resolveu pedir socorro ao conhecido médium, fazendo-se acompanhar de um amigo e de um dos doentes. Entretanto, não pode falar com ele, pois teve que voltar ás pressas porque o seu doente estava muito mal. Na tarde do dia seguinte, Aparecida teve uma surpresa. Recebeu de um auxiliar de Chico Xavier, dois conjuntos de roupas para cada doente; lençóis, fronhas, pijamas, toalhas de rosto e banho, e ainda, vestidos e um par de sapatos. Ela ficou perplexa. Nem havia conversado com o médium, na época, e cada doente tinha apenas um conjunto de roupas e, após o banho, precisa ficar nu, na cama, enquanto ela lavava e passava as roupas. Sua situação também era precária, pois andava descalça e tinha um único avental. Um detalhe deixou a enfermeira ainda mais impressionada: os sapatos eram de número quarenta, exatamente o tamanho do seu pé, um exagero para mulheres e um absurdo em relação a sua baixa estatura. Como Chico havia adivinhado?

Na mesma semana, o médium voltou à cena, desta vez ao vivo e em cores. Aparecida tentava arranjar dinheiro para pagar o óleo da cozinha, quando recebeu a visita de Chico Xavier. Ele apareceu sozinho e lhe entregou um envelope. Dentro dele, estavam trezentos cruzeiros, quantia suficiente para saldar a dívida e ainda reforçar a despensa. Ela continuou perplexa. Não acreditava em Espiritismo.

Dona Cida deu mostras reais de ser um Espírito abnegado. Chico Xavier disse-lhe,
certa vez, que ela estava tentando resgatar seus débitos havia muito tempo, mas sem sucesso, até que, desta vez, conseguiu seu objetivo ao reencarnar negra, pobre e cheia de filhos doentes para cuidar. Os insultos, o preconceito e os descasos que ela recebeu foram inúmeros. Mas ela sabia o porquê, visto que em conversas com o Chico, este lhe havia contado que ela na sua última encarnação tinha sido responsável pela morte de muitos “hereges” nas fogueiras da Inquisição. Na atual existência, ela resgatava sua dívida. Os doentes também tratados por ela, tinham obedecido às suas ordens e incendiado os corpos das vítimas.

O trabalho aumentava á cada ano. Em 1960, 187 doentes se amontoavam na enfermaria e em 1961, o número subiu para 363 e o pavilhão do São Vicente de Paulo ficou pequeno demais para abrigar tantos doentes. A enfermeira pôs na cabeça uma idéia fixa: iria construir um hospital. Um conhecido lhe ofereceu um terreno por 300 mil. Aparecida nem pensou duas vezes. Saiu ás ruas com seus doentes para pedir ajuda. Muita gente se apressava em lavar e desinfetar o chão por onde eles passavam, e, apesar de todo o mal estar, ela conseguiu juntar o dinheiro. Comprou o terreno, cortou as árvores e lançou a pedra fundamental. Estava pronta para começar a obra e nem imaginava que tinha caído numa armadilha: comprara o terreno da pessoa errada. Os proprietários eram outras pessoas e estavam dispostas a processá-la por invasão de propriedade alheia. Pior ainda, ela não tinha um documento para provar o pagamento do terreno. Voltou à estaca zero e pediu uma vez mais socorro ao Chico Xavier. Bem relacionado, o médium a encaminhou a um corretor de imóveis, que negociou a compra do terreno com os proprietários de verdade. Tudo sairia por 260 mil cruzeiros.

Mais calma, ela voltou até o Chico e comunicou; “Vou até São Paulo, porque, dizem; lá é só estender a mão que o povo dá”. Chico lhe perguntou se ela conhecia a cidade e ouvia a resposta: “Sei que fica para lá”, e apontou a direção. Chico então lhe deu um cartão endereçado a um radialista. Aparecida foi à procura dele e encontrou-se com Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados, e teve muita sorte. O empresário colocou à sua disposição suas emissoras de rádio. A campanha beneficente arrecadou 720 mil cruzeiros. Voltando a Uberaba, Aparecida tomou fôlego e avisou o Chico que iria iniciar as obras. Desta vez, ele foi desanimador dizendo que viria muita tempestade e que ainda não era o momento para iniciar a construção. Aparecida perdeu a paciência e não iria aguardar hora alguma. Comprou 22 mil tijolos e começou a acumular o material. Na semana seguinte, vizinhos pediram tijolos emprestados e nunca mais devolveram. A enfermeira se lembrou do conselho do Chico e sossegou.

Em janeiro de 1962, Chico apareceu com a boa notícia: “Você pode pôr os ovos para chocar, que agora vêm os pintinhos. Não espere pelos poderes públicos, São Paulo é que vai ajudar”. Em 1964, Aparecida voltou à capital paulista para pedir donativos. Com doentes ao redor, ela começou a abordar os transeuntes embaixo do Viaduto do Chá. Resultado: foi presa por mendigar em nome de entidade fictícia. Ficou presa oito dias até provar sua honestidade, com atestados e cartas da
Prefeitura, Câmara de Vereadores, juiz e delegado de Uberaba. De volta a cidade, começou a levantar o prédio e seria vítima de acusações constantes. Diziam que ela ganhava dinheiro à custa dos doentes. A cada nova sala construída, os boatos se multiplicavam. Um dia ela pensou em parar. Ouviu de Chico, já acostumado com a desconfiança geral, uma contra-ordem firme: - “Se desistir, vão dizer que você já roubou o suficiente”.

Aparecida em São Paulo, numa noite, foi a um Centro Espírita e depois sentiu vontade de sair de fininho. Ninguém a conhecia, mas o presidente da sessão chamou até a mesa a dirigente do Hospital do Fogo-Selvagem, pedindo que ela aplicasse um passe na presidente do Centro, vítima de uma paralisia repentina, que a impedia de andar. Aparecida nem se moveu; nunca tinha dado um passe em ninguém; o sujeito devia estar mal-informado. No fim da sessão, o mentor espiritual do Centro pedia a ajuda de Aparecida. Ela então tomou coragem e se apresentou. Todos se concentraram em torno da doente e Aparecida sentiu algo estranho nas mãos, no corpo e na cabeça. Sentiu medo, mas mesmo assim, com suas rezas, realizou um “milagre”. A doente se levantou no dia seguinte e se tornou não só sua amiga como também companheira em várias campanhas de assistência aos doentes do fogo-selvagem. A partir desse dia, começou a aplicar passes curadores em seus doentes, com resultados surpreendentes.

O Hospital do Pênfigo viraria Lar da Caridade, e, além de atender vítimas do fogo-selvagem, passou a atender os desamparados em geral. Aparecida se transformou em mais uma devota de Chico Xavier e passou a fazer o tratamento dos seus doentes sob os valores fundamentais – os doentes deveriam trabalhar e estudar com disciplina, para ter melhoras, e passou a reverenciar o aliado: - “Quando Chico vem ao hospital é como se Jesus chegasse”.

Segundo a supervisora do Lar da Caridade, Sayonara Regina Abreu, informou, Aparecida havia sido internada no Hospital São José, fazia poucos dias, com fortes indícios de pneumonia. Ela também já sofria de problemas no coração que, de uns tempos para cá, se tornaram mais freqüentes que o normal. Na manhã do dia 22 de dezembro de 2009, o país perdeu uma mulher batalhadora, valorosa, que por mais de cinqüenta anos cuidou dos doentes e também das crianças.

Logo que recebeu a notícia do seu desencarne, Divaldo Pereira Franco, disse: “Recebida com júbilos por verdadeira multidão capitaneada pelo irmão Chico Xavier, mais uma estrela retorna ao mundo espiritual, para iluminar a noite das almas errantes e sofredoras da Terra”. . .

Bibliografia:
Revista “O Espírita Mineiro”
“ “O Imortal”

Jc.
S.Luis, 9/2/2011

ANTONIO GONÇALVES DA SILVA - BATUÍRA

ANTONIO GONÇALVES DA SILVA (BATUÍRA)

Antonio Gonçalves da Silva, mais conhecido nos meios espíritas como Batuíra, nasceu na Freguesia das Águas Santas (Portugal), em 19 de março de 1839. Aos onze anos, emigrou para o Brasil, vivendo três anos no Rio de Janeiro, transferindo-se depois para Campinas-SP., onde trabalhou por alguns anos na lavoura de café. Mais tarde fixou residência na capital bandeirante, dedicando-se à venda de jornais.
Naquela época, São Paulo era uma cidade de 30 mil habitantes e ele entregava os jornais de casa em casa, conquistando, nessa profissão, a simpatia e a amizade dos seus fregueses. Muito ativo, correndo daqui para acolá, as pessoas da rua o apelidaram de “O Batuíra” (nome de uma ave pernalta muito ligeira de vôo rápido, que freqüentava os charcos em volta dos lagos).

Batuíra desempenhou uma série de atividades que não cabe nesta concisa biografia, entretanto, podemos afirmar que defendeu calorosamente a idéia da abolição da escravatura no Brasil, quer seja abrigando escravos em sua casa e conseguindo-lhes carta de alforria, quer fundando um jornal, a fim de colaborar na campanha dos grandes abolicionistas, Luis Gama, José do Patrocínio, Paulo Ney, Antônio Bento, Ruy Barbosa e tantos outros de ideais liberais.

De suas primeiras núpcias com dona Brandina Maria de Jesus, teve um filho, Joaquim Gonçalves da Silva que faleceu adulto. Certa vez um dos homens que viviam sob seu amparo, furtou-lhe um relógio e a corrente, ambos de ouro. A esposa de Batuíra, lamentou-se dizendo: “´E o único objeto de valor que lhe resta”. Houve uma denúncia e ameaça de prisão. Batuíra, porém, impediu que fosse tomada qualquer medida, dizendo: “Deixai-o, quem sabe, precisa mais do que eu”. Com as economias, adquiriu alguns lotes de terrenos no bairro Lavapés, onde construiu sua residência e, ao lado, abriu uma rua com várias casas que alugava aos humildes e que hoje se chama Rua Espírita. Homem de costumes simples, alimentava-se apenas de hortaliças, legumes e frutas plantadas no quintal da casa. Das segundas núpcias, casou-se com dona Maria das Dores Coutinho e Silva, que lhe deu outro filho, mas a felicidade que existia no lar não demorou. Na ocasião em que tudo parecia correr bem, desencarna, repentinamente sua filho aos 12 anos, por quem o casal tinha extremada dedicação e carinho. Antes de ser tornar espírita, ele demonstrava possuir elevado dote de moral cristã, pois inúmeras vezes escondia escravos fugidos dos maus tratos e quando eram descobertos, ele cuidava de comprar-lhes a liberdade.

As epidemias variólicas de 1873 e 1875 quando aconteceram na capital da província, Batuíra acolheu em sua casa, até curá-los, servindo de médico, enfermeiro e pai para os infelizes, dando-lhes não apenas os remédios e os desvelos, mas também o pão, o agasalho e o teto. Daí a popularidade de sua pessoa. Ele era baixo, entroncado e usava longas barbas que lhe cobriam parte do rosto e do peito. Quando, com o tempo, ela se fez branca, os amigos diziam que “ele era tão bom que se parecia com o Imperador”. Exemplo disso foi o Zeca, uma criança retardada e paralítica que conviveu em sua casa desde poucos meses, e o criou como filho até desencarnar. Despertado pela Doutrina Espírita, exemplificou no mais alto grau os ensinos cristãos. Praticava a caridade, consolava os aflitos, tratava os doentes com a homeopatia e difundia os princípios espíritas, tornando-se um dos pioneiros do Espiritismo no Brasil. No ano de 1889, Batuíra passou a ser, na cidade de São Paulo, o agente exclusivo do “Reformador”, cobrindo a lacuna deixada pela revista espírita “Espiritualismo Experimental”, a única existente que deixou de circular. Fundou o Grupo Espírita “Verdade e Luz”, onde no dia 6 de abril de 1890, diante de enorme assembléia, deu início a uma série de explanações sobre “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, e fundou em 20 de maio do mesmo ano, o jornal “Verdade e Luz”. Batuíra adquiriu uma pequena tipografia a que denominou “Tipografia Espírita”, onde passou a imprimir o quinzenário “Verdade e Luz”. Posteriormente transformado em revista, do qual foi diretor-responsável até a sua desencarnação. A tiragem dessa revista era das mais elevadas, pois, de dois mil conseguiu chegar até l5 mil, quantidade fabuloso naquela época, em que os jornais diários não ultrapassavam de três mil exemplares.

Nesses tempos, sua casa no Lavapés, era ao mesmo tempo hospital, farmácia, albergue, escola e asilo e ele a doou para a sede da Instituição Beneficente “Verdade e Luz”. Ele recolhia os doentes e os desamparados, infundindo-lhes a fé necessária para poderem suportar suas provas terrenas. Quem chegasse a casa, fosse quem fosse, tinha cama, mesa e cobertor. Além disso, havia ainda a revista onde Batuíra despendeu somas respeitáveis, já que as assinaturas somavam quantia irrisórias. Por volta do ano de 1902, foi levado a vender uma série de casas situadas na Rua Espírita, a fim de equilibrar as finanças. Abraçando as consoladoras verdades da Doutrina dos Espíritos, integrou-se nessa causa, procurando pautar seus atos nos moldes dos preceitos evangélicos que, ao contrário do “moço rico” da passagem evangélica, procurou dar uma demonstração da sua comunhão com os preceitos de Jesus, desfazendo-se de tudo que possuía, distribuindo o seu tesouro da Terra, para entrar na posse do outro tesouro do Céu. Batuíra criou grupos espíritas em São Paulo, Minas Gerais e Estado do Rio. Estudou os livros de homeopatia, a fim de medicar gratuitamente os doentes que lhe batiam à porta. Ele era também médium curador, sendo centenas as curas de caráter físico e espiritual, que obtinha com a água fluidificada e os passes magnéticos aplicados.

Proferiu inúmeras palestras espíritas por toda parte e criou a Livraria e Editora Espírita, onde se fez impressor e tipógrafo. Carregando sobre os ombros muitas responsabilidades, não sentiu, tão preso se achava ao compromisso do dever que suas forças vitais se esgotaram rapidamente com a idade. Súbita enfermidade assalta-lhe o corpo, e, zombando de todos os recursos médicos, em poucos dias transpôs as barreiras para o além. Referindo-se a sua partida, Afonso Schimidt escreveu: “Batuíra faleceu a 22 de janeiro de 1909. São Paulo se comoveu com seu desaparecimento. Que idade tinha? Nem ele mesmo sabia, mas o seu nome ficou por aí, como um clarão de bondade, de doçura, de delicadeza, como um clarão que brilhou e ficou como exemplo para outros...

Bibliografia:
Marinei Ferreira Rezende

Jc.
S.Luis, 11/02/2011

BIOGRAFIA DE S. AGOSTINHO

BIOGRAFIA DE S. AGOSTINHO

Aurelius Augustinus, mais conhecido na Igreja Católica como Santo Agostinho, nasceu em Tagaste de Numídia, província romana do norte da África, em 13 de novembro de 354. Foi o primogênito do pagão Patrício e da fervorosa cristã Mônica. Criança alegre, buliçosa, entusiasta do jogo, travessa e amante da amizade, não gostava muito de estudar porque os mestres usavam métodos agressivos e não eram sinceros.

Ante os adultos se revelava como “um menino de grandes esperanças”, com inteligência clara e coração inquieto. Nessa luta Agostinho vai contra o desejo da mãe, católica fervorosa, de ver o filho convertido ao Cristianismo, mas Agostinho é um homem comum cheio de vicissitudes que passou, ainda na juventude, a viver com uma mulher a quem foi fiel, tendo se tornado pai com apenas 19 anos. Depois da morte do pai foi para Cartago e se meteu num grupo de jovens baderneiros e, desorienta, ingressou na seita dos maniqueus, da qual participou por nove anos, sem ali conseguir a descoberta de uma verdade que lhe aquietasse a alma. Viveu assim longos anos com ânimo disperso.

Estando em Milão, ao ouvir uma canção infantil, na voz cristalina de uma criança que insiste “Toma, lê”, faz com que ele procure o livro a respeito de “Paulo” e ingresse no Cristianismo. Era outono do ano 386; contava ele então 32 anos. Agostinho começa a ensinar e busca a fama sem muita preocupação, buscando uma mundo diferente, um mundo novo. Os amigos o convenceram a viajar para Roma, onde conhece o bispo Ambrósio e aos poucos sua existência foi tomando novo rumo. Chegou a ser brilhante professor de retórica em Cartago, Milão e Roma. Deixando a docência, retira-se para Cassiaco, recinto de paz e silêncio e põe em prática o Evangelho em profunda amizade compartilhada: vida de quietude, animada somente pela paixão à verdade.

Agostinho renuncia inteiramente ao mundo, à carreira, ao matrimônio; retira-se, durante alguns meses, para a solidão e o recolhimento em Milão, onde escreve seus diálogos filosóficos e, na Páscoa do ano 387, juntamente com o filho Adeodato e o amigo Alípio, recebeu o batismo das mãos do bispo Ambrósio. Sua existência daquele momento em diante seria meditar, escrever livros, discursar. No ano de 391, é chamado a Hipona, um grande centro comercial, e cinco anos depois foi nomeado bispo auxiliar de Hipona. Consagrado mais tarde bispo, converteu sua residência em casa de oração e tribunal de causas. Inspirador da vida religiosa, pastor de almas, administrador de justiça, defensor da fé e da verdade, prega e escreve de forma infatigável e condensa o pensamento do seu tempo. Grande era a luta, à época, contra as chamadas heresias.

As palavras que mais aparecem em seus escritos são amor e caridade. Por vezes, desenvolvendo uma idéia, interrompe seu raciocínio para deixar escapar gritos de amor a Deus: “Ó Senhor, amo-Te. Tu estremeceste meu coração com a palavra e fizeste nascer o amor por ti. Tarde Te amei. ó Beleza tão amiga e tão nova, tarde Te
amei... Tocaste-me, e ardo de desejo de alcançar Tua paz”.

Agostinho defrontou-se com dificuldades para conciliar a criação da alma com o “pecado original”, porque não sabia explicar como a alma criada por Deus, podia nascer com o pecado original. Para ele, cada pessoa possui uma alma, sendo-nos impossível saber a sua origem, porque é um mistério divino, mas, depois que surge continua a existir eternamente. Daí a sua crença na imortalidade. Imaginava que a alma poderia ser feliz ou infeliz na eternidade, dependendo dos atos praticados na existência. Não foi, portanto, à toa que ele chegou à conclusão dessa dificuldade ao proferir sua célebre frase sobre o tempo, contida no Livro XI item 14, de suas “Confissões”.

Agostinho inspirou-se em Platão, e os problemas que o preocupam eram de ordem moral: o mal, a liberdade, a graça, a predestinação. Ele dizia que a razão ajuda o ser humano a alcançar a fé; em seguida, a fé orienta e ilumina a razão; e esta, por sua vez, contribui para esclarecer os conteúdos da fé. Para ele, “o homem é uma alma racional que se serve de um corpo mortal e terrestre”. O problema da liberdade está relacionado com a reflexão sobre o mal, sua natureza e sua origem.

Em 429 os vândalos, guiados por Genserico atravessam o Estreito de Gibraltar e atacam o norte africano. Agostinho, cercado com seu povo, sente amargura e luto, mas alenta o ânimo de seus fiéis e os convida à defesa. No terceiro mês do assédio, aos 76 anos de existência, em 28 de agosto de 430, morreu como um autêntico cristão, alegrando desse modo o coração da sua mãe que tanto rezou pela conversão do filho...

Convidado na Espiritualidade a participar da equipe do Espírito de Verdade, as ponderações do Espírito de Agostinho podem ser encontradas em vários momentos da Obra Kardequiana, como “O Livro dos Espíritos” (prolegômenos, resposta às questões 495, 919 e 1009); ‘O Evangelho Segundo o Espiritismo” (capítulo III, itens 13 e 19; capítulo V, item 19; capítulo XII, ltens 12 e 15; capítulo XIV, item 9; capítulo XXVII, item 23); “O Livro dos Médiuns” (capítulo XXXI, dissertações de números 1 e XVI).

O Espírito de Erasto, discípulo de Paulo, em uma de suas comunicações, afirma: “Agostinho é um dos maiores divulgadores do Espiritismo; ele se manifesta quase que por toda parte. Como muitos, ele também foi arrancado do paganismo. Em meio de seus excessos, sentiu o alerta dos Espíritos Superiores: a felicidade se encontra alhures e não nos prazeres imediatos. Depois de ter perdido sua mãe, disse: “Eu estou persuadido de que minha mãe voltará a me visitar e me dar conselhos, revelando-me o que nos espera na vida futura”.

A questão n. 919 de “O Livro dos Espíritos”, que aborda o tema “Conhecimento de si mesmo”, foi respondida pelo Espírito de Agostinho. Indagado pelo Codificador sobre qual é o meio prático mais eficaz que tem o ser humano de se melhorar nesta existência e de resistir à atração do mal, responde dizendo: “Um sábio da antiguidade vo-lo disse: “Conhece-te a ti mesmo”. E em seguida dissertou: “Fazei o que eu fazia, quando vivi na Terra; ao fim do dia, interrogava a minha consciência, passava em revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar. Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim precisava de reforma. Aquele que, todas as noites evocasse todas as ações que praticara durante o dia e inquirisse de si mesmo o bem ou o mal que houvesse feito, rogando a Deus e ao seu anjo guardião que o esclarecesse, grande força adquiriria para se aperfeiçoar, porque, crede-me, Deus o assistiria”. . .




Bibliografia:
Marinei Ferreira Rezende


Jc.
s.Luis, 8/2/2011

ADELAIDE AUGUSTA CÂMARA-AURA CELESTE

ADELAIDE AUGUSTA CÂMARA (AURA CELESTE)

Adelaide Augusta Câmara, foi uma das mais devotadas figuras femininas do Espiritismo no Brasil, bem conhecida pelo seu pseudônimo de Aura Celeste. Ela nasceu na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, em 11 de janeiro de 1874, filha de Henrique Leopoldo Soares da Câmara e de Dª Maria Balbina da Silva Câmara, e desencarnou em 24 de outubro de 1944, na cidade do Rio de Janeiro.

Aura Celeste, mudou-se para a antiga Capital Federal em janeiro de 1896, graças ao auxílio de alguns militantes do Protestantismo, a cuja religião pertencia, os quais lhe proporcionaram a oportunidade de lecionar no Colégio Ram Williams, o que fez com muita eficiência durante algum tempo, até que organizou, em sua própria residência, um curso primário, onde muitos homens ilustres do meio político e social brasileiro aprenderam as primeiras letras.

Seus primeiros passos na Doutrina dos Espíritos datam de 1898, quando começou a sentir as primeiras manifestações de suas faculdades mediúnicas e, assim, passou a freqüentar as sessões no Centro Espírita Ismael, cujo dirigente era o Dr. Bezerra de Menezes. Nessa época, o grande missionário dirigia também os destinos da Federação Espírita Brasileira, revestido da auréola de prestígio e de respeito que crentes e descrentes lhe prestavam, e o Espiritismo, era o assunto de todas as conversas, não só pelos fenômenos e curas mediúnicas, como também pela propaganda falada, pelos livros e pela imprensa.

Sob a sábia orientação de Bezerra de Menezes, ela iniciou sua notável carreira mediúnica como psicografa no Centro Espírita Ismael. Bezerra de Menezes, pela sua conhecida clarividência, prognosticou, certa vez, que Adelaide Câmara, com as suas prodigiosas faculdades, um dia assombraria crentes e descrentes. E essa profecia não se fez esperar, pois em breve tempo Adelaide como médium auditiva, começou a trabalhar na propagação da Doutrina, fazendo conferências e receitando, com tal acerto e exatidão, que as curas eram constantes e seu nome logo ficou conhecido por todo o País.

Com a desencarnação de Bezerra de Menezes em 1900, Adelaide Câmara aproximou-se de outro grande espírita, Inácio Bittencourt, e nas sessões do Círculo Espírita “Cáritas”, passou a prestar seu concurso como médium e propagandista de primeira grandeza. Contraindo núpcias em 1906, os afazeres do lar e a educação dos filhos, mais tarde, obrigaram-na a afastar-se dos Centros Espíritas, mas nem por isso ficou inativa. Nas horas de lazer, entrava em confabulações com os guias espirituais, e pode receber e produzir páginas admiráveis, que foram dadas à publicidade na obra “Do Além”, em 21 fascículos, e no livro “Orvalho do Céu”. Foi aí que adotou o pseudônimo de “Aura Celeste”, nome com que ficou conhecida no Brasil.

Em 1920 retornou à tribuna espírita e aos trabalhos mediúnicos, com tal vigor e entusiasmo, que o seu organismo de compleição franzina ressentiu-se um pouco,
mas não deixou por causa disso de cumprir com os seus deveres. O Dr. Joaquim Murtinho era o médico espiritual que, por seu intermédio, começou a trabalhar na cura de enfermos, diagnosticando e curando a todos quantos lhe batiam à porta, ao mesmo tempo em que desenvolvia, espontaneamente, diversas faculdades mediúnicas, além de incorporação, audição, vidência, psicografia, intuição e curas, Aura Celeste possuía a extraordinária faculdade de bilocação. Muitas curas ela operou, então em diferentes lugares do Brasil, a eles se transportando em “desdobramento fluídico”, sendo visível seu corpo perispiritual, como aconteceu em Juiz de Fora e Corumbá, fatos comprovadamente averiguados e comprovados por enfermos que, sob os seus cuidados, a viram aplicar-lhes “passes curadores”.

Aura Celeste era poetisa, conferencista, contista e ainda educadora, deixando diversas obras doutrinárias em prosa e versos, assinando geralmente com seu pseudônimo. Foi Assim que deu a público “Vozes d’Alma”, “Sentimentais”, “Aspectos da Alma”, “Palavras Espíritas”, “Rumo a Verdade” e “Luz do Alto”. Esparsos em jornais e revistas espíritas, há ainda muitas poesias e artigos doutrinários de sua autoria. O jornalista e literato Leal de Souza referiu-se certa vez a Adelaide Câmara, como a “grande musa moderna e espiritual”.

Em 1924, voltou-se para o campo da assistência às crianças órfãs e à velhice desamparada. Centralizou todos os seus esforços no propósito de materializar esse antigo anseio de sua alma. Pouco, entretanto, pode fazer em três anos de trabalhos. Aconteceu então que um confrade, João Carlos de Carvalho, estava angariando donativos para a fundação de uma instituição dessa natureza e, um dia, fez-lhe entrega de uma lista de donativos para que ela arranjasse novas doações para esse humanitário fim. Dias depois, João desencarnou, e ela ficou com a lista e o dinheiro arrecadado. Passado alguns meses, o Sr. Lopes, proprietário da Casa Lopes, que estudava a Doutrina, mostrou-se interessado na organização de uma instituição de amparo e assistência aos idosos e ela lhe informou possuir uma lista com alguns donativos para esse fim. A contribuição foi recebida com entusiasmo e logo o projeto foi concretizado. Alugaram uma casa no bairro Botafogo e ali foi instalado no dia 13 de março de 1927, o Asilo Espírita “João Evangelista”, sendo ela a sua primeira diretora.

Compareceu a festa de inauguração o Dr. Guillon Ribeiro, então secretário, representando a Federação Espírita Brasileira. Aura Celeste, em breves palavras, exprimiu o júbilo de sua alma, afirmando ter participado da realização do ideal de toda a sua existência – “Ser mãe de desamparados, graça do céu que não trocaria por todo o ouro e todas as grandezas do mundo”. Dedicou, daí em diante, todo o seu tempo a essa grandiosa obra de caridade, emprestando-lhe as luzes do seu saber e de sua bondade, até o dia em que serenamente entregou a alma a Deus.

Aura Celeste, com extremada dedicação, trabalhou em várias entidades espíritas beneficentes da cidade do Rio de Janeiro, dando a todas elas o melhor de suas energias e de sua inteligência. Foi, porém, no Asilo “João Evangelista”, que ela realizou sua tarefa máxima, não só como competente educadora, mas também
como hábil orientadora de inúmeras pessoas que ali receberam, como ainda recebem, instrução intelectual e educação moral. A existência dessa batalhadora foi uma escala de luz, uma afirmação de fé e humildade, e um perene testemunho de amor pelo semelhante. Era ela a grande educadora que ensinava educando e educava ensinando pelo exemplo.

Médium sem vaidades, sincera e de honestidade a toda prova, praticava a mediunidade como verdadeiro sacerdócio. Dotada de sólida cultura, teria, se quisesse, conquistado fama no mundo das letras. Poetisa de vastos recursos, oradora convincente e natural, senhora de estilo vigoroso e de fulgurante imaginação, tudo deu e fez, com o cabedal que possuía, para o bom nome e o engrandecimento da Doutrina Espírita.

O Asilo Espírita “João Evangelista”, no Rio de Janeiro, aí está ainda, em sede própria, atestando a obra e o devotamento à causa do bem, daquela nobre mulher que se chamou Adelaide Augusta Câmara, ou mais conhecida como Aura Celeste.

Assim procedem todos os missionários que fazem da sua existência na Terra, um exemplo de dedicação à causa do Mestre Amado Jesus, trabalhando, assistindo e amando os seus semelhantes. . .




Bibliografia:
Marinei Ferreira Rezende

Jc.
S.Luis, 17/02/2011

AS PARÁBOLAS QUE JESUS CONTOU

AS PARÁBOLAS QUE JESUS CONTOU

O que é uma parábola? – Parábola é uma exposição, uma história, uma alegoria, dentro da qual se disfarça uma idéia importante, em que se compara com outras coisas e situações, análogas ou não, até que fique bem clara e acessível na memória das pessoas que a ouvem. Os profetas antigos e os rabis também usaram das parábolas, mas nem sempre para ensinar.

Jesus, utilizando esse processo, empregava-os magistralmente, como recurso de imaginação, para os ensinamentos que difundia entre o povo simples, porém supersticioso. Ele assim fazia, procurando sempre promover as transformações morais dos ouvintes. Para isso, se servia de motivos naturais, ligados à vida do povo como, por exemplo: Os costumes, a família, a vida rural, a colheita, a semeadura, estabelecendo comparações com a realidade da vida.

Foram muitas as parábolas que Jesus pronunciou nas andanças pela Palestina, porém os Evangelistas só descrevem as que eles se lembraram. Trinta e três, foram os anos que Jesus viveu entre nós, e trinta e três, foram também as parábolas que ele contou, transmitindo seus ensinamentos, que estão nos Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João. Algumas delas, citadas por mais de um apóstolo, têm títulos diferentes, embora abordem o mesmo assunto. Essas parábolas estão relacionadas a seguir, com seus títulos, o apóstolo que a menciona, seus capítulos e seus respectivos versículos:

Nº. T Í T U L O APÓSTOLO CAPITULO VERSÍCULOS

01ª - Parábola do “SEMEADOR”. . . . . . . . . . . . . Mateus XIII 1 a 23
02ª - “Do TRIGO E DO JÓIO” . . . . . . . . . . . . . “ “ 24 a 30
03ª - “Do GRÃO DE MOSTARDA”. . . . . . . . . “ “ 31 a 32
04ª - “Do FERMENTO” . . . . . . . . . . . . . . . . . . “ “ 33
05ª - “Do TESOURO ESCONDIDO” . . . . . . . . “ “ 44
06ª - “Da PÉROLA” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . “ “ 45 a 46
07ª - “Da REDE” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . “ “ 47 a 50
08ª - “Da OVELHA DESGARRADA” . . . . . . . “ XVIII 10 a 14
09ª - “Do CREDOR INCOMPASSIVO”. . . . . . “ “ 23 a 35
10ª - “Dos TRABALHADORES DA VINHA” . “ XX 1 a 16
11ª - “Dos DOIS FILHOS” . . . . . . . . . . . . . . . . “ XXI 28 a 32
12ª - “Dos TRABALHADORES MAUS” . . . . . “ “ 33 a 41
13ª - “Das BODAS” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . “ XXII 1 a 14
14ª - “Da FIGUEIRA” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . “ XXIV 32 a 44
15ª - “Do BOM E O MAU SERVO” . . . . . . . . . “ “ 45 a 51
16ª - “Das DEZ VIRGENS” . . . . . . . . . . . . . . . . “ XXV 1 a 13
17ª - “Dos TALENTOS” . . . . . . . . . . . . . . . . . “ “ 14 a 30

18ª - “Da CANDÉIA” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Marcos IV 21 a 25
19ª - “Da SEMENTE” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . “ “ 26 a 29
20ª - “Do ALIMENTO” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . “ VII 14 a 23

21ª - “Do CEGO QUE GUIA OUTRO CEGO” Lucas VI 39 a 42
22ª - “Do BOM SAMARITANO” . . . . . . . . . . “ X 25 a 37
23ª - “Do AMIGO IMPORTUNO” . . . . . . . . . . “ XI 5 a 8
24ª - “Do RICO AVARENTO” . . . . . . . . . . . . . “ XII 16 a 21
25ª - “Do SERVO VIGILANTE” . . . . . . . . . . . “ “ 35 a 48
26ª - “Da FIGUEIRA ESTÉRIL” . . . . . . . . . . . “ XIII 6 a 9
27ª - “Dos PRIMEIROS LUGARES” . . . . . . . . “ XIV 7 a 14
28ª - “Da DRACMA PERDIDA” . . . . . . . . . . . “ XV 8 a 10
29ª - “Do FILHO PRÓDIGO” . . . . . . . . . . . . . . “ “ 11 a 32
30ª - “Do MORDOMO INFIEL” . . . . . . . . . . . . “ XVI 1 a 13
31ª - “Do JUIZ INÍQUIO” . . . . . . . . . . . . . . . . . “ XVIII 1 a 8
32ª - “Do FARISEU E DO PUBLICANO”. . . . . “ “ 9 a 14

33ª - “Do BOM PASTOR” . . . . . . . . . . . . . . . . . João X 1 a 16

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Informe complementar

Com este artigo sobre as parábolas, encerro a série de 150 artigos abordando diversos assuntos. Espero que os mesmos possam servir de alguma utilidade para algum irmão ou irmã que esteja precisando de uma orientação religiosa, uma palavra amiga. Prosseguindo no trabalho, vou apresentar as biografias de alguns vultos espíritas brasileiros e estrangeiros, como já fiz as biografias de alguns maranhenses espíritas, que se encontram expostas no título: “Missionários”.

Fraternalmente,

Jurandy Castro


Bibliografia:
Livro “O Redentor”
Evangelho de Mateus
“ de Marcos
“ de Lucas
“ de João

Jc.
S.Luis, 04/02/2011

A LEI DA DESTRUIÇÃO

A LEI DA DESTRUIÇÃO


Desde os tempos remotos, há bilhões de anos, quando os primeiros habitantes do orbe ainda eram animálculos unicelulares, abrigados no seio das águas dos mares, a saga evolutiva dos seres vivos sempre foi marcada pela constante luta pela sobrevivência, em que duelaram dois instintos: o da conservação e o da destruição.

Para sustentar a existência, as criaturas precisam de energia, que encontram-se nos alimentos. Nessa faina, impulsionados pelo instinto, entredevoram-se mutuamente. É quando se opera o ciclo de transferência de energias e de nutrientes, que segue numa espiral infinita. Em uma das pontas dessa cadeia estamos nós, seres humanos, que também nos alimentamos dos vegetais, dos minerais e das carnes e vísceras dos animais, “nossos irmãos inferiores”.

Não bastasse isso, os hóspedes da casa planetária têm, ainda, que enfrentar os flagelos naturais que ameaçam a existência e outros valores, causando grandes sofrimentos. Essa constatação, impactante a princípio, já nos dá uma idéia da faixa evolutiva em que ainda nos situamos, apesar da idade estimada do planeta em 4.6 bilhões de anos. Todavia, os mentores celestes, por meio do Espírito André Luiz, informam que o ser humano lida com a razão há apenas 40 mil anos, aproximadamente. Assim sendo, cálculos elementares nos levam a concluir que estamos ainda nas primeiras lições da cartilha da vida. Não é sem razão que o comportamento social da criatura humana, blindado com o verniz da civilização, ainda apresenta os atavismos de competição e beligerância.

(... com o mesmo furioso ímpeto com que o homem de Neandertal
aniquilava o inimigo, a golpes de sílex, o homem da atualidade,
classificada de gloriosa era dos grandes conhecimentos, extermina
o próprio irmão a tiros de fuzil.)

Por isso, a convivência em sociedade, muitas vezes marcada pela opressão e pela violência de todos os tipos contra o semelhante, é interpretada por algumas pessoas, com fundamento no célebre aforismo, cunhado pelo filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679), de que “o homem é o lobo do próprio homem”.

Que razão teria a Sabedoria Divina para estabelecer entre os seres vivos, como regra da Natureza, a luta pela sobrevivência, a destruição recíproca e a destruição pelos flagelos naturais? Estariam esses princípios em consonância com a bondade e a justiça do Criador? – O estudo das Leis Morais, reveladas em “O Livro dos Espíritos”, abre uma ampla visão filosófica e científica, baseada na unidade da criação, na imortalidade, na reencarnação e no progresso dos seres, que permite um entendimento melhor dos propósitos superiores da Inteligência Suprema, em que, “as aquisições de cada pessoa resultam da lei do esforço próprio no caminho ilimitado da Criação”.

(... Só o conhecimento do princípio espiritual, considerado na verdadeira
essência, e o da grande lei de unidade, que constitui a harmonia da
criação, pode dar ao ser humano a chave desse mistério e mostrar-lhe a
sabedoria providencial e a harmonia exatamente onde apenas vê uma
anomalia e uma contradição.)

O ser humano começa a perceber que também integra os ecossistemas, tanto que já propugna pela substituição do modelo de desenvolvimento atual, ecologicamente predatório, socialmente perverso e politicamente injusto, por outro sustentável, que tem por divisa progredir sem destruir. Mas será que é possível progredir sem destruir? Em caso afirmativo, onde estariam os limites éticos da destruição? Destruição no sentido comum, significa extinção, aniquilamento. Sob o ponto de vista espírita, contudo, a Lei de Destruição é uma transformação, uma metamorfose, tendo por fim a renovação e a melhoria dos seres vivos. Essa destruição tem dupla finalidade: manutenção do equilíbrio na reprodução, que poderia tornar-se excessiva, e utilização dos despojos do envoltório corporal que sofre a destruição.

(... É esse equilíbrio dinâmico – baseado em sofisticadas engrenagens,
que regem a existência e a morte – que assegura a perenidade dos
ecossistemas e dos seres vivos que neles existem.)

A parte essencial do ser pensante (elemento inteligente ou espírito) é distinta do corpo físico e não se destrói com a desintegração deste. Logo a verdadeira vida, seja do animal, seja do ser humano, não está no organismo físico. Está no princípio inteligente, que preexiste e sobrevive ao corpo material, que se consome nesse trabalho, ao contrário do Espírito, que sai cada vez mais forte, mais lúcido e mais evoluído. Enfim, a existência e a morte, dentro do planejamento divino, se apresentam como faces da mesma moeda:

(... a lei de destruição é, por assim dizer, o complemento do processo
evolutivo, visto ser preciso morrer para renascer, e passar por milhares
de metamorfoses, animando formas corporais gradativamente mais
aperfeiçoadas, e é desse modo que, paralelamente, os seres vivos vão
passando por estados de consciência cada vez mais lúcidos, até atingir,
na espécie humana, o reinado da razão e dos sentimentos.)

O instinto de destruição, coexiste com o de conservação, a título de contrapeso, de equilíbrio, para que a primeira não se dê antes do tempo, visto que toda destruição antecipada (suicídio), constitui obstáculo ao desenvolvimento do espírito, motivo pelo qual Deus fez com que cada ser experimentasse a necessidade de viver e de se reproduzir. Há dois tipos de destruição: a “destruição natural” e a “destruição abusiva”. A destruição natural opera-se com o objetivo de manter o equilíbrio dos ecossistemas, como, por exemplo, na morte natural dos corpos por velhice, nos incêndios naturais das matas que dizimam pragas, na erupção de vulcões, nos terremotos, nas cheias dos rios que regulam os ciclos de renovação da vida.

Os flagelos naturais, que ceifam a existência de milhares de pessoas, não se
constituem de meros acidentes da Natureza, uma vez que o planeta não está sob a direção de forças cegas. Ninguém sofre sem uma razão justa. Tais fenômenos representam fator de elevação espiritual, com vistas à felicidade das pessoas. Além de favorecerem o desenvolvimento da inteligência ante os desafios, auxiliam o desabrochar dos sentimentos, tais como a paciência, a resignação, a solidariedade e o amor ao próximo.

(... as comoções do globo são instrumentos de provações coletivas
Penosas. Nesses cataclismos, a multidão resgata os seus débitos de
outras existências, e cada elemento integrante da mesma, quita-se do
pretérito na pauta dos débitos individuais.)

Já a destruição abusiva, que exprime faces diferentes da violência, é aquela provocada de forma predatória, com propósitos egoísticos, a pretextos de se livrar de resgates com sofrimentos e para satisfazer paixões e necessidades supérfluas, a exemplo do consumismo desenfreado, das caçadas de animais por distração e das touradas. Além disso, o ser humano também ofende gravemente a Lei Divina quando assassina, quando pratica o suicídio e o aborto ilícito, quando provoca guerras, etc.

Os animais, por terem no instinto uma guia seguro, somente destroem para as suas próprias necessidades, mas o ser humano, dotado do livre-arbítrio, nem sempre utiliza sua liberdade com sabedoria, sujeitando-se ao princípio de causa e efeito. Há nos seres humanos períodos de transição no qual ele se distingue com dificuldade dos animais; nas primeiras idades, o instinto animal domina, e a luta tem, ainda, por motivo a satisfação das necessidades materiais; mais tarde, o instinto animal e o sentimento moral se contrabalançam; o ser humano então luta, não mais para se nutrir, mas para satisfazer suas ambições, seu orgulho, a necessidade de dominar; para isso lhe é, ainda preciso destruir. À medida que o senso moral predomina, a sensibilidade se desenvolve, a necessidade da destruição diminui; acaba por se apagar e se tornar odiosa; então o ser humano tem horror aos sofrimentos e a destruição.

Se a destruição é necessária, Deus não poderia empregar, para o aprimoramento da Humanidade, outros meios senão os flagelos destruidores? – Sim, e o emprega todos os dias, visto que deu a cada um os meios de progredir pelo conhecimento do bem e do mal. O ser humano é que não aproveita e por isso é necessário fazê-lo sentir as conseqüências do seu orgulho e de seus atos. As Leis Divinas são perfeitas! A necessidade de destruição tende a desaparecer, à medida que o ser humano (espírito encarnado), pela evolução intelectual e moral, sobrepuja os instintos da matéria. À medida que adquire senso moral, vai desenvolvendo a sensibilidade e tomando aversão à violência. É quando passa a ver no seu semelhante não mais o “lobo”, mas o irmão necessitado de amparo e solidariedade. Entretanto, ainda que se despoje dos instintos belicosos, o ser humano, até que desenvolva plenamente o Espírito, sempre estará sujeito aos desafios da luta humana, cuja superação depende do trabalho, do esforço, da experiência, do
conhecimento e da aquisição de valores morais.

(... Mas, nessa ocasião, a luta, de sangrenta e brutal que era, se torna
puramente intelectual e moral. O ser humano luta contra as dificuldades.
não mais contra os seus semelhantes.)

Há, da parte das instituições, grande preocupação com o desequilíbrio ambiental, com o crescimento demográfico e as desigualdades sociais, com a miséria, a criminalidade, a corrupção e a impunidade. As medidas tópicas, de ordem econômica, tecnológica, muitas delas com a utilização da força bruta, não alcançaram ainda as verdadeiras causas do problema, que estão na ausência da educação moral do Espírito; educação essa que deve iniciar-se desde a infância como forma preventiva.

É possível colher os benefícios de uma existência sóbria, sem necessidade de praticar a violência ou de destruir o seu próximo. “A existência é menos uma luta competitiva pela sobrevivência, e mais um triunfo da cooperação e da criatividade”. Que o ser humano não se iluda: sem primeiro dominar a si mesmo, ele jamais dominará a Natureza...



Bibliografia:
Christiano Torchi
Emmanuel – André Luiz
Allan Kardec – André Trigueiro
Rodolfo Calligaris - Fritjof Capra
“Livro dos Espíritos”
“A Gênese”
Revista “O Reformador” nº. 2183


Jc.
S.Luis, 25/2/2011