sábado, 23 de abril de 2011

LUIS OLÍMPIO TELES DE MENEZES

LUÍS OLÍMPIO TELES DE MENEZES

O jornalista brasileiro, Luís Teles de Menezes é considerado como um dos pioneiros do Espiritismo no país. Filho de Fernando Luis Teles de Menezes, um oficial do Exército, e de sua esposa D. Francisca Umbelina de Figueiredo Menezes, esse valoroso pioneiro do Espiritismo, em nosso país, nasceu em Salvador, Bahia, no dia 26 de julho de 1825, fazendo parte da ilustre família dos Menezes, de velhos capitães, magistrados e clérigos portugueses, que desde os primórdios do século XVIII, chegara ao Brasil e se estabeleceu na Bahia, dando origem a extensa descendência.

Teles de Menezes, casou-se em primeiras núpcias, aos 23 anos de idade, com D. Ana Amélia Xavier de Menezes, da mesma idade. Teles de Menezes encontrou nela a esposa compreensiva e carinhosa de todos os instantes até a sua desencarnação no dia 28 de agosto de 1865. A descendência desse casamento foi pródiga, entre filhos, netos bisnetos e tetranetos. Teles de Menezes, prestou bons serviços ao Brasil Colônia e ao Brasil Reino. Ainda jovem, ele decidiu seguir a carreira do pai, que era militar e entrou para o curso de Artilharia, em sua cidade natal, porém logo a abandonou por faltar-lhe vocação. Estudioso, autodidata, dedicou-se então ao magistério, participando ardorosamente, da campanha contra o analfabetismo e ao incentivo da literatura entre os jovens baianos. O ensino das primeiras letras no Brasil decretado desde 1927 ainda não era bem aceito pelo povo, sendo exigida muita vontade e abnegação.

Por vários anos, Teles de Menezes foi professor de instrução primária e de Latim. Apreciador do purismo gramatical publicou um compêndio a que deu o título de: “Ortoépia da Língua Portuguesa”. Foi ele um dos fundadores do jornal “Época Literária”, foi presidente e membro da diretoria do Instituto Histórico da Bahia e companheiro de Ruy Barbosa no Conservatório Dramático da Bahia; foi professor primário, estenógrafo, funcionário da Assembléia Legislativa e Oficial de Biblioteca Pública da Bahia. Falava o Inglês, o Francês, o Castelhano e o Latim. Escreveu nos seguintes periódicos: Diário da Bahia, Jornal da Bahia, A Época Literária e foi autor do romance “Os Dois Rivais”.

Foi por causa da sua sede de cultura e de conhecimentos que Teles de Menezes veio a se interessar pelos fenômenos “inexplicáveis” que ocorriam em todos os países e que chamavam a atenção da humanidade. Durante toda a fase de implantação da Doutrina Espírita na França, por Allan Kardec, Teles de Menezes manteve relações de amizade com os espíritas franceses. O intercâmbio de idéias e a correspondência entre os dois países, facilitaram a chegada a terras baianas das tendências filosóficas e culturais que emergiam além-mar. A febre do magnetismo e os fenômenos espíritas explodiram em toda parte e ele interessou-se vivamente, por esses assuntos da mesma forma quanto Allan Kardec e os trabalhos que este desenvolveu com os espíritos codificadores e que culminaram com o lançamento em Paris, na França, do “Livro dos Espíritos”, em 18 de abril de 1857.
Teles de Menezes tornou-se sócio honorário correspondente da Sociedade Magnética da Itália, filiando-se igualmente, a várias instituições espíritas européias.
Dentre os distintos confrades com quem ele manteve correspondência, distinguem-se o professor Hippolyte Denizar Leon Rivail e seu secretário A. Desliens. Em 1860, surgiram no Brasil as primeiras obras espíritas, e cinco anos depois, precisamente às 22,30 hrs. no dia 17 de setembro de 1865, realizou-se em Salvador, na Bahia, a primeira sessão espírita no Brasil, sob a direção do pioneiro Luís Olimpio Teles de Menezes, surgindo também o primeiro Centro Espírita brasileiro, o Grupo Familiar do Espiritismo, primeira agremiação doutrinária espírita no Brasil. Naquela data, durante a primeira reunião do Grupo, um Espírito que se denominou “Anjo de Deus”, enviou por psicografia uma mensagem, cujo teor muito sensibilizou os presentes. O surgimento do Centro Espírita provocou imediata reação da Igreja, que encontrou em Teles de Menezes, um adversário corajoso e trabalhador.

No ano seguinte (1866) ele publicou o opúsculo “O Espiritismo – Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita”, uma seleção de trechos que traduziu de “O Livro dos Espíritos”. Esse periódico impresso na tipografia do Diário da Bahia, contava com 56 páginas e chegou a circular até no exterior: em Londres, Madri, Nova Iorque e Paris. Em breve se fez sentir a reação da Igreja Católica, que começou a pregar acerca dos malefícios da nova doutrina, vindo a lançar uma Carta Pastoral, divulgada em 25 de julho de 1867. Essa Carta, em forma de opúsculo, com o título “Erros perniciosos do Espiritismo”, acusava violentamente a doutrina espírita, recorrendo a inverdades.

Teles de Menezes, para refutá-la, escreveu uma carta aberta, ao Arcebispo da Bahia e Primaz do Brasil, D. Manoel Joaquim da Silveira, da qual foram publicadas duas edições no mesmo ano, onde ele afirmava: “O Espiritismo tem de passar por provas rudes, e nelas Deus reconhecerá sua coragem, sua firmeza e sua perseverança. Os que se ausentam por um simples temor, ou por uma decepção, se assemelham aos soldados que somente são corajosos em tempo de paz, mas que, ao primeiro tiro, abandonam as armas”. Sendo o ponto mais aceso da questão, a reencarnação, a polêmica veio a encerrar-se depois de longo tempo, quando o padre Juliano José de Miranda, sabendo que Teles de Menezes tinha sido católico, deu-a por encerrada, afirmando que “Espiritismo e Catolicismo são a mesma Igreja de Jesus Cristo”.– Acredita-se que essa carta tenha se constituído na primeira obra espírita de autor brasileiro publicada no Brasil.

Teles de Menezes detém também o título de pioneiro da imprensa espírita no Brasil. Em 8 de março de 1869, anunciou através de discurso proferido no Grêmio dos Estudos Espíritas da Bahia, o aparecimento do jornal “O Eco d’Além-Túmulo – Monitor do Espiritismo no Brasil”, o primeiro periódico espírita no país. Com 56 páginas, bimestral, circulava não só na Bahia, mas em outras partes do território nacional, bem como em Londres, Lyon, Paris, Madrid, Barcelona, Sevilha, Nova Iorque, Bolonha e Catânia. Esse jornal nasceu abolicionista, difundindo, em meio à efervescência política da época, os princípios imortais do Espiritismo, sustentados na máxima francesa: Igualdade, Liberdade e Fraternidade. Por volta de 1876, Teles
de Menezes partiu para o Rio de Janeiro onde fixou residência na Rua Barão de São
Felix, 165-sobrado, onde viveu com a segunda esposa, D. Elisa Pereira de Figueiredo
e alguns filhos do primeiro matrimônio.

Pouco tempo de existência terrena restava a Teles de Menezes e ele passou sob longos e dolorosos padecimentos causados pela nefrite. Em 16 de março de 1893, após sofre dolorosa e pertinaz enfermidade veio a desencarnar aos 68 anos de idade, um dos pioneiros do Espiritismo e o introdutor da Imprensa Espírita no Brasil. Desencarnou em pobreza extrema, sendo o enterro feito a expensas de dois taquígrafos, que lhe prestaram os melhores serviços. Luís Olímpio Teles de Menezes foi o primeiro presidente da Associação Espírita Brasileira, que tinha como objetivo o desenvolvimento moral e intelectual do ser humano e a exemplificação da caridade cristã, baseados na filosofia espírita.

Inscreveu-se no contexto da Imprensa Espírita, e, historicamente, no da Imprensa Brasileira, como um de seus mais lídimos exemplos de idealismo e honradez. Foi por ocasião de 8º Congresso Brasileiro de Jornalistas e Escritores Espíritas – BJEE, realizado em Salvador, na Bahia , em 1982, que se fixou o dia 26 de julho como o Dia Nacional da Imprensa Espírita, numa homenagem à data de nascimento desse valoroso trabalhador espírita...


Bibliografia:
Marinei Ferreira Rezende
Jornal ‘O Imortal” – 06/2008

Jc.
S.Luis, 21/4/2011

JORGE RIZZINI

JORGE RIZZINI

Defensor da pureza doutrinária do Espiritismo, Jorge Rizzini colocou a Doutrina Espírita acima das instituições e dos interesses puramente humanos.

O paulistano Jorge Toledo Rizzini, nasceu em 25 de setembro de 1924. Ele começou a manifestar mediunidade de cura desde a infância, e aos dez anos, curou as dores de sua mãe, Cecília Toledo Rizzini. Ele era de família tradicional espírita (a avó, os pais e os irmãos). O pai Joaquim Vicente de Andrade Rizzini, médium vidente e de psicofonia, participou das atividades de um Centro Espírita no Rio de Janeiro. Rizzini casou-se com D. Iracema Sapucaia e tiveram três filhos: Maria Angélica – advogada, Ricardo – engenheiro, e Eliana – bióloga. Ele tinha uma família numerosa e unida, com netos e bisnetos.

Jorge Rizzini foi grande trabalhador da Doutrina Espírita e defensor da pureza doutrinária, dentro e fora do movimento espírita. Ele colocava a Doutrina acima das instituições e dos interesses puramente humanos. Na televisão, participou de polêmicas que repercutiram em todo o Brasil, quando defendeu os médiuns Otília Diogo, Francisco Candido Xavier, Waldo Vieira e José Pedro de Freitas – o Zé Arigó, de quem também foi testemunha de defesa no segundo processo criminal.

Autor de várias obras não-doutrinárias recebeu em 1965 o Prêmio Narizinho, do Departamento de Cultura de São Paulo pela peça infantil Cidade Perdida e o prêmio Fábio Prado, em 1957, da União Brasileira de Escritores pelo livro de contos Beco dos Aflitos. Rizzini foi o primeiro biógrafo de Monteiro Lobato e autor da “Vida de Monteiro Lobato”. Fez parte da Comissão Monteiro Lobato, criada pela União Brasileira de Escritores para defender a memória do escritor. Seu livro “Eurípedes Barsanulfo, o apóstolo da Caridade”, foi também lançado pela União Espírita Francesa. Psicografou 44 poemas nacionais, portugueses e norte-americanos, que estão nos livros “Sexo e Verdade”, “Castro Alves Fala a Terra” e “Antologia do Mais Além”, prefaciados por José Herculano Pires, biografado por Rizzini, no livro “J. Herculano Pires – O Apóstolo de Kardec”.

Presidiu em 1959 o Clube dos Jornalistas Espíritas do Estado de São Paulo; lançou nesse mesmo ano o “Kardequinho”, a primeira revista infanto-juvenil espírita; criou em 1961 a Filmoteca Allan Kardec, a primeira no movimento espírita; filmou na França e nos Estados Unidos documentários sobre Allan Kardec e as Irmãos Fox; registrou com exclusividade as cirurgias realizadas por Zé Arigó e os trabalhos mediúnicos de Francisco Candido Xavier; criou e apresentou em 1966 o programa semanal de uma hora, “Em Busca da Verdade”, na TV Cultura de S.Paulo. Recebeu
músicas de vários compositores brasileiros e internacionais, gravados nos LPs “Compositores do Além”, volumes I, II e III, com canções que foram apresentadas em três Festivais de Músicas Mediúnicas, com a participação de cantores profissionais de renome, com acompanhamento da Orquestra Eldorado, Regional de Isaías e Seus Chorões e a Banda da Polícia Militar do Estado de S. Paulo; foi o primeiro apresentador no Teatro Municipal de S. Paulo, o segundo no Palácio das Convenções do Anhembi e o terceiro no Ginásio do Ibirapuera. Realizou o Festival da Música Mediúnica do Rio de Janeiro e em S.Paulo, daí resultando no CD “Compositores do Além” produzido por Oceano Vieira de Melo.

Jorge Rizzini fez palestras em vários países da América Latina e países europeus. Podem ser encontradas referências a Rizzini nas revistas “Oggi”, “Planète” e “Seleções de Reader’s Digest” e nos livros Arigó – Surgeon of the Rusty Knife, de John Fuller e no livro “Uri Geller”, de Andrija Puharich. Produziu ainda várias obras: “O Sexo nas Prisões”, “Materializações de Uberaba”-documentário, “O Regresso de Glória” e “Histórias de D. Santinha” – contos, e a literatura infantil “Carlito e os Homens da Caverna”; “A Vida Maravilhosa de Chico Xavier” e “A Vida Missionária de Allan Kardec”- textos teatralizados em CD. Ele falava sempre de assuntos que estava reunindo para serem publicados em um livro, cujo título seria “A Verdade Sem Véu”. Entre os seus papeis, foram encontrados documentos valiosos frutos de uma existência plena de realizações.

Para que se tenha um melhor conhecimento do papel importante desempenhado pelo confrade Jorge Rizzini, que foi o maior defensor da Doutrina Espírita, nas décadas de cinqüenta e sessenta, quando a doutrina sofreu ataques com difamações, por parte da revista “O Cruzeiro”, pertencente aos Diários Associados, do Sr. Assis Chateaubriand, que na época, era a revista de maior circulação no país que chegou a uma edição recorde de 4.650.000 exemplares, isto em 1964, o que causou tanto tumulto que os irmãos Chico Xavier e Waldo Vieira tiveram que sair de Uberaba, por estarem ameaçados de morte por fanáticos clericais, e antes de partirem fizeram entrega a Rizzini, de farto material para a defesa e pediram-lhe que botasse o Evangelho de lado e disseram-lhe: “Vá à luta”. Para conhecimento do que se passou é necessário acessar o artigo que tem o título “O Espiritismo e os Meios de Comunicação”, neste mesmo blog.

“Tudo passa”, “Tudo é ilusão”, “Os tempos são chegados”, eram repetidos por Rizzini nas conversas com os amigos, certo da transitoriedade da existência material e convicto de que era preciso que o Ser Humano aproveitasse o máximo o tempo disponível num trabalho que elevasse cada vez mais o seu Espírito. Numa entrevista para a jornalista Ana Carolina Coutinho, ela perguntou a Rizzini o que ele esperava encontrar, de imediato, após a sua desencarnação. Ele respondeu: “O meu Guia Espiritual e a minha mãe”.

Jorge Rizzini costuma dizer aos seus amigos que queria desencarnar tranqüilo, como um passarinho, e durante seus 84 anos de idade sofreu alguns enfartes, e no último que sofreu, em uma viagem aérea que fez à Argentina, seria preciso operá-lo, mas com a sua idade avançada, sem dúvida não suportaria. No dia l7 de outubro de 2008 desencarnou, deixando a esposa e três filhos. No dia seguinte, minutos antes da saída do corpo, do local onde estava sendo velado, para o enterro no cemitério Parque Morumbi, sua esposa, a pedagoga e escritora Iracema, agradeceu aos presentes e disse que Rizzini amava os amigos e que todos sabiam o quanto ele tinha lutado com amor pela Doutrina Espírita, deixando o que tinha de mais marcante: A sinceridade e a coragem de dizer o que falava o seu coração: “Sua grande lição – a luta”.

Sem dúvida os amigos da Espiritualidade estão em festa, pelo retorno de quem tanto defendeu a Doutrina e se realizou na divulgação dos ensinamentos de Jesus e de Allan Kardec.


Bibliografia:
Altamirando Carneiro
Jornal “O Imortal” 11/2008


Jc.
S.Luis, 18/04/2011

JAN HUSS

JAN HUSS

Jan Huss, encarnação anterior de Allan Kardec, viveu num século de contradições religiosas. Ele nasceu por volta de 1370, filho de uma pequena família camponesa que vivia na aldeia de Hussinek, na Boêmia, e ingressou na Universidade de Praga quando tinha dezessete anos. A partir de então, toda sua existência transcorreu na capital do país, excetuados os dois anos de exílio e encarceramento em Constança.

Jan Huss foi influenciado pelas idéias de Wycliff (1333-1384), teólogo e reformador inglês que desenvolveu alguns tratados sobre o dominium, ou seja, a idéia de que o poder vem de Deus e apenas é legítimo naqueles que se encontram em estado de graça. As suas teses contrariavam os interesses da Igreja Católica; expressava-se ele contra o poderio papal, os votos religiosos, os benefícios e riquezas do clero, as indulgências e a concepção tradicional acerca do sacerdócio, e por adotar essas idéias Jan Huss sofreu inúmeras admoestações por parte do clero. Completou o seu curso na Universidade onde se formou como bacharel em Teologia em 1394, e em Artes em 1396. Trabalhou na fixação da ortografia e na reforma da língua literária tcheca. Jan Huss, como professor da Universidade de Praga, distinguiu-se nas discussões, no conhecimento de Aristóteles, na Bíblia e nos Santos Padres. Ele procurou nos escritos de Matias Janov e Chtitny as soluções deles para as inquietudes que propagava a Bíblia, como única fonte de verdade e fé. Essa influência afastou Huss da doutrina católica e sua heterodoxia, com a leitura da obra de Wycliff, particularmente “Diálogos e Triálogos”, trazida de Oxford, por Jerônimo de Praga.

Em 1400 foi ordenado sacerdote, e no ano seguinte passou a ocupar o cargo de Reitor da Universidade, passando a considerar-se teologicamente sintonizado com o ponto de vista de John Wycliff. No ano seguinte (1401), tornou-se pregador na capela de Belém, em Praga capital da Boêmia e tinha o apoio do Arcebispo. Ali pregou com dedicação a Reforma pela qual muitos tchecos, propugnavam desde os tempos de Carlos IV. Sua eloqüência era tamanha que aquela capela em pouco tempo se transformou no centro do movimento reformador. Venceslau e sua esposa Sofia o escolheram para seu confessor e lhe deram seu apoio. Alguns dos membros mais destacados da hierarquia Católica começaram a encará-lo com receio, mas boa parte do povo e da nobreza parecia segui-lo, e o apoio dos reis ainda era suficientemente importante para que os prelados não se atrevessem a tomar medidas contra o pregador entusiasmado.

No mesmo ano em que passou a ocupar o púlpito de Belém, Huss foi feito reitor da Universidade, de modo que se encontrava em ótima posição para impulsionar a Reforma. Ao mesmo tempo em que pregava os abusos da Igreja, ele continuava sustentando certas doutrinas geralmente aceitas e nem mesmos seus piores inimigos atreviam-se a lhe censurar a sua existência ou suas idéias. Huss ensinava que o perdão dos pecados só se poderia obter por contrição e penitência sincera, e nunca comprada por dinheiro, conforme fazia a Igreja. Mais tarde, ele desmascarava a velhacaria dos que atraiam numerosos peregrinos a Wilsnack, com falsos milagres, e
com o apoio do Arcebispo, publicou um tratado onde desenvolvia a tese de que qualquer cristão não devia correr atrás de milagres.

Em 1411, Huss é excomungado de sua congregação, e todos os cultos, cerimônias de batizado e funeral feitos por ele, foram anuladas. Tal ato trouxe grande revolta aos cidadãos de Praga, os quais defenderam Huss. Um conflito surgiu então nos círculos universitários: Um discípulo de Huss, Jerônimo de Praga, passou algum tempo na Inglaterra, e trouxe consigo algumas das obras mais radicais da reforma inglesa. Sem demora, os ataques contra Huss, Jerônimo e seus seguidores ampliaram-se. Religiosos começaram a ver nos ensinos de Wycliff uma ameaça séria à Igreja A opinião de Huss e seus companheiros já eram conhecidas de todos, a ponto de terem surgido passeatas do povo, em protesto contra a maneira de Igreja explorar o povo tcheco. O resultado disso foi um grande tumulto popular em Praga, quando Huss com o apoio do rei Ladislau, proibiu a venda de indulgências e foi festejado como herói nacional. Ele sustentava que o perdão dos pecados só poderia ser por penitência e nunca por dinheiro, e que nem o Papa nem qualquer sacerdote podiam levantar a espada em nome da Igreja; que a infabilidade do Papa era uma blasfêmia. Houve ainda o discurso inflamado de Jerônimo de Praga e surgiram cortejos satíricos onde era ridicularizada a Igreja Oficial.

Em vista dessa situação o rei de Nápoles estabeleceu a pena de morte para quem ofendesse o Papa, e logo três moços foram decapitados e foram enterrados solenemente, e Huss lhes fez o necrológio. Huss então foi tido como o líder de uma grande heresia e até chegou-se a dizer que todos os boêmios eram hereges. O cúmulo da corrupção papal aconteceu em 1412, quando João XXII lançou uma cruzada contra o rei Ladislau e ofereceu a remissão completa dos pecados, a todos os que participassem da guerra, ou a indulgência para os que a suportassem. Ao tomar conhecimento da notícia contrária a todos os preceitos bíblicos, Huss se volta contra o papado por usar sanções espirituais e indulgências para fins pessoais e políticos. Em contra-ataque, Huss é excomungado em Roma, por não ter comparecido perante a corte papal, sendo fixado um prazo para ele se apresentar. Se não o fizesse, a cidade de Praga ou outro qualquer lugar que lhe desse acolhida, estaria sob interdição. Dessa forma, a suposta heresia de Huss resultaria em prejuízo para essa cidade, fato esse que o obrigou a deixar Praga.

Entrementes, o imperador Sigismundo prometeu a Huss um salvo-conduto, se consentisse em comparecer ao Concílio de Constança, em 1414, o que Huss atendeu. Diante da promessa, se pôs á caminho e em Constança recebeu o dito salvo-conduto, onde dizia que ele poderia transitar morar e residir livremente. Mas, com o pretexto de que ele queria retirar-se da cidade, prenderam-no e internaram-no no Convento dos Dominicanos, em infecto recinto. Instauraram um processo e o ato da acusação coube a Etienne Palec. Começara a via-crúcis de Huss e no dia 5 de junho de 1415, Huss compareceu diante do Concílio. Foi ele tratado com se tivesse tentado fugir e acusado formalmente de herege e de seguir a doutrina de Wycliff, cujas teorias haviam sido condenadas anteriormente pelo Concílio.

Huss tentou expor suas opiniões, mas não pode e o seu julgamento foi adiado para o dia 7 do mês seguinte. Não havia maneira de resolver o assunto, pois o Conselho pedia que Huss se submetesse a ele, retratando-se das suas doutrinas, mas não queria escutá-lo e nem ele pode defender-se, porque vozes exasperadas interromperam-no e abafaram a sua palavra. Huss, porém, manteve a doutrina de que apenas o Cristo e não Pedro era o chefe da Igreja, e resistiu às promessas e ameaças que lhe fizeram e logo percebeu a situação que lhe aguardava. O cardeal Zabarella preparou um documento que exigia de Huss a retratação e ele respondeu com o apelo de Jesus: “Em suas mãos eu ponho a minha causa, pois Ele há de julgar cada um, não com base em testemunhos falsos e Concílios errados, mas na verdadeira justiça”.

Encarceram-no por muitos dias para que ele fraquejasse, mas ele continuou firme nas suas convicções. Ficou sob a guarda do Bispo de Constança, e depois lhe transferiram para o torreão do Castelo de Gottlieben, onde ficou aprisionado com correntes assim permanecendo por muitos dias e noites, sendo levado depois para o Convento dos Franciscanos. Em 6 de julho de 1415, foi proclamada sua condenação, sendo levado em seguida para a Catedral de Constança, e ali, depois de um sermão sobre a teimosia dos hereges, foi vestido de sacerdote e recebeu o cálice, tão somente para em seguida arrebatarem-lhe ambos, como sinal simbólico de que estava perdendo suas ordens sacerdotais. Depois disso, cortaram-lhe os cabelos fazendo-lhe uma cruz na cabeça, e em seguida colocaram-lhe um chapéu de papel, onde se lia a inscrição: “Hic est hoere siarcha” (Eis o herege).

Jan Huss então foi conduzido a um terreno vazio, despiram-no, amarraram-no a um poste, ajuntaram lenha em torno do poste e atearam fogo. Antes de ser queimado ele teria proferido a seguinte frase: “Hoje, vós assais um pato, mas dia virá em que o cisne de luz voará tão alto, que as vossas labaredas não mais alcançarão”. Em seguida ouviram-no então cantar – “Cristo, Fili Dei vivi, miserere nobis”. – Quando ele ia cantar a segunda linha, foi envolvido pelas chamas e pela fumaça e a voz morreu-lhe na garganta. Suas cinzas foram lançadas no rio Reno. E assim desencarnou queimado, aos 46 anos de idade, quem pregou contra a injustiça, a venalidade e a insinceridade, tendo enfrentado a fogueira com muita coragem.

Um ano após o martírio de Jan Huss, um discípulo seu também foi imolado na fogueira da Inquisição: Jerônimo de Praga, em 1416.

Séculos depois, esse Espírito reencarnaria na França como Hippólyte Leon Denizard Rivail, que ao conhecer o Espiritismo e fazer a Codificação da “Doutrina dos Espíritos”, adotou o pseudônimo de ALLAN KARDEC.

Bibliografia:
Marinei Ferreira Rezende
Jornal “O Imortal”- março/2009

Jc.
S.Luis, l5/04/2011

FREDERICO FIGNER

FREDERICO FIGNER

Frederico Figner nasceu no dia 2 de dezembro de 1866, em Teynska na Tchecoslováquia, então Boêmia que fazia parte do Império Austro-húngaro. De origem judaica, viveu no lar paterno os preconceitos de rejeição de sua raça contra o carpinteiro de Nazaré. Na verdade, Figner, como outros judeus não tinham religião alguma, e deixou a casa dos pais aos 13 anos de idade, em busca de seus ideais. Era um missionário que como outros que vinham cumprir sua missão no Brasil, durante longa existência como brasileiro, entre os melhores. Francisco Valdomiro Lorenz, nascido em Zbislav e chegado ao Brasil dois anos depois de Figner. Ambos vinham da pátria dos grandes mártires do Cristianismo como João Huss e Jerônimo de Praga, divulgar aqui os ideais superiores. Figner e Lorenz trabalharam na Federação Espírita Brasileira, que era recém-criada quando eles chegaram ao Brasil. Figner levava como modelo de conduta a tenacidade dos pais que eram um exemplo a imitar para vencer na vida. Uma tempestade violenta foi o único incidente da travessia do oceano, mas foi-lhe rude a luta para adquirir estabilidade econômica de sorte a manter-se e ajudar os pais e irmãos. Estados Unidos, México, América Central e, finalmente, América do Sul, foram seus campos de batalha econômica.

Em 1892 estabeleceu-se no Rio de Janeiro onde, entre outras coisas, fundou a famosa Casa Edison e ajudou a divulgar a máquina de escrever em todo o Brasil. Prosperou e conheceu uma jovem de virtudes e alma de artista, D. Esther de Freitas Reys, filha de família ilustre. Em 1897, Frederico e Esther fundaram o lar pelo matrimônio. Recebia ele o prêmio de suas grandes lutas de trinta anos, mas não sonhava com o repouso, que não era ideal de seu caráter vibrante. Desse feliz enlace nasceram seis filhos: Rachel, Aluísio, Gabriel, Leonilda, Helena e Leia, muito devotados ao seu pai. Foi no Brasil, e quando já negociante próspero, com loja comercial e industrial no Rio e uma filial em São Paulo, que Figner veio a conhecer o Espiritismo.

Nos primeiros anos do século vinte, Figner iniciou relações de amizade com Pedro Sayão, filho do doutrinador Antonio Luis Sayão, pai da cantora Bidu Sayão. Pedro Sayão, durante cerca de dois anos, lhe freqüentou a loja e palestrava sobre o Cristianismo e o Espiritismo, sem que Figner se impressionasse pelo assunto, porém, numa de suas visitas ao seu estabelecimento de São Paulo, Figner ouviu a dolorosa história de um seu empregado, cuja esposa se achava gravemente enferma e necessitada de melindrosa operação cirúrgica. Ao regressar ao Rio, ele pediu ao seu amigo Pedro Sayão que lhe obtivesse uma receita espiritual para a cura da enferma de São Paulo. A receita foi dada e a cura se processou sem a intervenção de médico. Foi esse fato que inclinou Figner a favor do Espiritismo. Impressionado com a cura da doente, Figner foi procurado, em outra ocasião, na sua loja por um pobre, pai de família desempregado, em penosa situação econômica. Ouviu-lhe o relato de sua situação, deu-lhe um pouco de dinheiro e disse-lhe que voltasse oito dias depois. Pela primeira vez na existência de Figner, ele fez um pedido ao Carpinteiro de Nazaré: “Se é como dizem os cristãos, que Tu tens poder, ajuda a esse pobre pai de família; arranja-Lhe trabalho e meios de sobrevivência!”. Oito dias mais tarde, voltava o homem com um sorriso no rosto e lhe falou feliz: “Já estou trabalhando e brevemente virei restituir seu dinheiro, Sr. Figner. Eu fui procurado por uma pessoa que me convidou para um emprego inteiramente inesperado”. Figner se impressionou e repetiu semelhantes pedidos, com resultados positivos. Em vez de pedir a Jesus, passou a pedir para Maria e igualmente os resultados não se faziam esperar. Encheu-se de fé que transporta montanhas e estudou o Cristianismo e a Doutrina dos Espíritos, e com os conhecimentos adquiridos, passou a consagrar sua existência ao serviço dos outros.

Não se sabe ao certo quando se deu essa conversão, mas em 1903 já se encontrava em atividades espíritas na Federação Espírita Brasileira. Por ocasião da “gripe espanhola”, em 1918, já estava com 14 doentes em seu próprio lar e ele mesmo adoentado e febril, passava os dias na Federação, atendendo a doentes e necessitados que iam lá em grande quantidade, buscar recursos para situações aflitivas. Sua existência durante longos anos consistia em ir pela manhã e a tarde à Federação tomar ditados de receitas de diversos espíritos, chegando às vezes a receber de 150 a 200 receitas por dia e a dar passes em numerosos doentes. Levantava-se ele, às cinco horas da manhã e, antes de ir para a loja, ia à Federação, de onde só saia quando terminava esse serviço de anotar as receitas. Às quatro horas da tarde, lá estava ele de volta para orar e dar passes em doentes. E curava mesmo os enfermos, pois seus “fregueses”, como ele mesmo os chamava na intimidade, cresciam sempre.

Como propagandista da Doutrina, manteve sempre uma seção no jornal “Correio da Manhã”, órgão em circulação no Rio de Janeiro. Em 1921 polemizou com o Padre Florêncio Dubois pela “Folha do Norte”, do Pará. Promoveu a publicação de muitos livros, custeando as edições. Com uma disciplina digna de louvores dividia seu tempo entre a atividade profissional e os afazeres espíritas, chegando a presidir vários grupos na sede da FEB e em seu lar. Viajando ao exterior buscou contato com o médium Willy Hope e encontrou-se na Inglaterra com Sir Arthur Conan Doyle. Em 1920 perdeu a filha primogênita Rachel, e sua esposa ficou inconsolável. Ouvindo falar da médium de materialização D. Ana Pedro, em Belém do Pará, decidiu-se a partir para o Norte e no dia 1º de abril de 1921, embarcou com toda a família. O que aconteceu naquelas sessões, acha-se relatado no livro do Dr. Nogueira de Faria, intitulado “O Trabalho dos Mortos”, pela senhora D. Esther Figner, que regressando ao Rio e assistida pela sua filha Leontina, escreveu relato minucioso do que ocorrera.

O serviço de Figner nas obras de assistência e no trabalho profissional o afastava muito do lar, mas isso não prejudicava o cultivo de um sincero e extremado afeto entre pai e filhos. Amavam-se com ardor e se respeitavam reciprocamente nas idéias e crenças particulares de cada um. Trabalhou e serviu abnegadamente até que a enfermidade o prendeu ao leito, poucos dias antes da partida para a espiritualidade. Completou 80 anos em 2 de dezembro de 1946, e em 19 de janeiro de 1947, às 20 horas, partiu para o mundo espiritual, deixando aberto caminhos de luz, sobre a
Terra que pisara por tanto tempo.

Bibliografia:
Marinei Ferreira Rezende
Jornal “O Imortal” – 08/2007

Jc. - S.Luis, 1ll/4/2011