terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

A DÉCADA PETISTA NO GOVERNO, É A DÉCADA DA FALÁCIA

  



Na democracia, cabe á imprensa informar o país sobre os fatos. São eles que nos permitem distinguir as questões verdadeiras, urgentes e relevantes, daquelas que são da alçada do “Ministério dos Falsos Problemas”.

Marco Antônio Villa, historiador e autor de um livro sobre os dez anos do PT no poder, diz que os êxitos do partido são menores que a propaganda faz crer e que o Brasil é um país de miseráveis. Ele é uma exceção na academia. Ao contrário da maioria de seus pares nas ciências humanas, Villa é um crítico duro das práticas do PT e dos governos petistas. Na entrevista concedida à revista Época, edição de 2/12/2013, Villa critica a gestão econômica do PT,  analisa a prisão dos mensaleiros e critica o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, por ele ter sido contra a abertura do  processo de impeachment contra Lula, em 2005. Vamos à entrevista.

Época – Em seu livro, o senhor chama os primeiros dez anos do PT no poder, entre 2003 e 2012, de “década perdida”. Por quê?

Marcos – Nesses dez anos, o Brasil perdeu uma oportunidade histórica de dar um grande salto. Não só em termos de crescimento econômico, que foi muito baixo nos governos petistas, como também para enfrentar os graves problemas sociais do país. Pela primeira vez na história, tivemos a chance de combinar uma alta taxa de crescimento com um regime de liberdade democrática plena. Até a explosão financeira, no final de 2008, as condições externas eram favoráveis. A China crescia dois dígitos por ano. Puxava o preço das commodities e gerava uma renda extra ao país, um dos maiores exportadores mundiais de alimentos e minérios. Em vez de aproveitar o momento, a partir da âncora criada nos anos 1990, com a queda da inflação e a estabilidade fiscal e monetária, o governo abriu o baú da história. Desenterrou velhas leituras econômicas, um keinesianismo cheirando a naftalina, e ideias de presença do Estado na economia cheias de teias de aranha, dos tempos do governo Geisel. Nos anos 1980, que tiveram um alto custa para o país. Provavelmente, os três primeiros anos do governo Dilma estarão entre os piores da história econômica brasileira, e a perspectiva de melhora no curto prazo é baixa.

Época – Nos dez anos do PT no poder a renda da população subiu,

o emprego aumentou, a classe média se tornou maioria, e a economia teve grandes picos de crescimento no governo Lula. Faz sentido falar em década perdida?

Marcos – Os êxitos do PT são bem menores do que se propala por aí. Eles são repetidos de forma tão sistemática e tão eficaz, sem nenhuma resistência da oposição, infelizmente, que acabam por adquirir um manto de verdade.  Em 2009, houve uma recessão. Em 2010, o Brasil cresceu 7.5%, mas a partir de uma base muito baixa. Nos outros anos, o crescimento foi relativamente tímido. Em média, o Brasil cresceu menos que a América Latina e os países emergentes nesse período. Os argumentos do governo, de que a classe média se tornou maioria no país, são totalmente falaciosos. Classe média não mora em favela nem ganha dois ou três salários mínimos, ou até menos que isso por mês. Aconteceu é que o PT – como se fosse o Ministério da Verdade, do livro “1984 de George Orwell” – começou a criar novas categorias econômicas para dar êxito a um governo que é um fracasso. Ele inventou uma nova classe C, que seria outra classe média, diferente da classe média tradicional, e construiu a ideia de que o Brasil é um país de classe média. Não é. É um país de classe pobre.

Época – O Bolsa Família não é uma saída para reduzir a miséria no país? Esse crédito não deveria ser dado ao governo petista?

Marcos – Ninguém discorda de que precisa haver programas assistenciais, mas não só para a população não morrer de fome. É  preciso criar meios para enfrentar a miséria e a pobreza. Não meios que as petrifiquem, como os programas do PT. O governo gasta 0,5% do PIB com o Bolsa Família, mas não consegue melhorar a vida das pessoas. Enquanto isso, metade do país não tem saneamento básico, a situação da infraestrutura é lamentável, e o analfabetismo funcional e real não para de subir.

Época – No livro, o senhor dedica um bom espaço aos casos de corrupção, falando mensalão, e diz que o PT não combateu a corrupção. Só aconteceram coisas ruins nesses dez anos?

Marcos – Como historiador, não tenho culpa de que o volume de casos de corrupção tenha sido o maior da história republicana do Brasil.  Nunca antes na história deste país, houve tanta corrupção

como na década petista. Gostaria que não fosse assim, mas a sucessão de escândalos nos ministérios, de desvios de recursos, nos dois governos Lula e no governo Dilma, é um recorde. A década petista é a década do discurso, a década da falácia. Não há realização material. Diga-me, que grande obra pública foi construída nesses dez anos? Que usina hidroelétrica foi construída nesses dez anos? Nenhuma. A transposição do Rio São Francisco até hoje, um fracasso. Estradas, fracasso. Ferrovias, fracasso. Portos, fracasso. Aeroportos, fracasso. Há apenas a construção de estádios de futebol, deixando a saúde, a educação e a segurança a mingua  e não resolvem os problemas sociais. O PT é muito bom no palanque, mas um péssimo gestor da economia.

Época – Como o senhor explica, então, os altos índices de popularidade de Dilma nas pesquisas?

Marcos – Essas pesquisas não servem para nada, pois não permitem a compreensão da realidade, até pela forma como as perguntas são feitas pelos institutos de pesquisa e respondidas pelos entrevistados. As pesquisas dão apenas uma noção de como as pessoas veem o debate político. Mesmo tendo uma parcela de muitos eleitores, o PT nunca venceu uma eleição presidencial no primeiro turno. Em 2002, quando era oposição, ganhou no segundo turno. Em 2006 e 2010, quando era governo, idem. Em 2010, até uma semana antes do pleito, diziam que Dilma teria 54% dos votos no primeiro turno e teve apenas 46% Sempre há uma superavaliação da popularidade do governo do PT. Em 2010, apesar da derrota, a oposição recebeu 44% dos votos no segundo turno, sem existir verdadeiramente uma oposição, igual ao PT quando estava nessa condição.

Época – Em sua opinião, o que levou o PT a ganhar três eleições seguidas?

Marcos – Com o programa “Bolsa Família” e o “Bolsa Empresário”, bancado pelo BNDES, o PT estabeleceu uma sólida aliança entre a base da pirâmide e o grande capital. Levando em conta que o Bolsa Família tem 13.5 milhões de famílias cadastradas, e cada família tendo, no mínimo, três eleitores,  o pai a mãe e um filho com mais de 16 anos, só aí são 50 milhões de pessoas. O equivalente a quase um terço do eleitorado.  Ao mesmo tempo, o governo se aliou aos industriais,  os proprietários de terra, as construtoras e o setor mineral. Virou um instrumento de enorme eficácia o BNDES para financiar essa aliança entre o PT e o grande capital. Essa aliança na base da pirâmide e no topo alcançou tal solidez que, hoje, é muito difícil rompê-la. A oposição não consegue entender que essa  estrutura precisa ser rompida, mas a posição não sabe fazer política. Quer chegar ao poder sem fazer uma oposição verdadeira. Não foi por acaso, que foi derrotada nas eleições de 2002, 2006 e 2010. Se ela não se arregimentar, será derrotada em 2014.

Época – A que o senhor atribui essa fragilidade da oposição?

Marcos – De um lado o PSDB, o principal partido da oposição, não é um partido de fato. Está na oposição, mas não é oposição. É curioso, no populismo, o símbolo maior da oposição era a UDN, e nos tempos mais recentes, o PT. Qualquer oposição age sempre e  diuturnamente criticando a inércia ou a falta de atitude do governo, buscando uma aproximação com a sociedade, pensando sempre na próxima eleição, como fazia o PT na época de Fernando Henrique. O PSDB não age assim.  A impressão que se tem é que o PSDB se sente constrangido de ser oposição e parece que executa essa tarefa com desagrado. A oposição tem que ser agressiva e atuante. Quando o governo apresentar seus projetos, a oposição tem de se levantar e falar do que está errado, como se vê nos parlamentos da Inglaterra, da França, de Portugal e nos Estados Unidos.

Época – No livro, o senhor diz que o ex-presidente Fernando Henrique cometeu um erro ao ser contra o impeachment de Lula em 2005, para investigar sua participação no mensalão. Por quê?

Marcos – Para mim, Lula é o réu oculto do mensalão. Ele tinha ciência de tudo aquilo e chegou a ter até dois encontros com Marco Valério. Pode não ter participado da organização do esquema, mas é culpado por ser o principal favorecido. Na estrutura do PT, o chefe da quadrilha, José Dirceu, não faria aquilo sem a concordância de Lula. O que fez então Fernando Henrique? Saiu dizendo que um processo de impeachment de Lula criaria uma crise institucional que afetaria a economia e o crescimento do país. Essa é uma dívida que ele tem com o povo brasileiro. No momento em que o PT estava nas cordas, em vez de leva-lo a nocaute, como o PT faria se estivesse do outro lado, o que o PSDB fez por meio do seu principal líder, foi deixar Lula sangrando na arena, acreditando que nas eleições de 2006 o nocautearia facilmente. A oposição teve medo,

e esse medo é que deu combustível para que o PT virasse o jogo, estabelecendo uma aliança sólida com o PMDB e outros partidos e criasse o novo Lula, no último ano do seu primeiro governo, possibilitando não só a sua reeleição como a continuação do PT no governo,  apoiando e elegendo a Dilma.

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Guilherme Fiuza em seu artigo na revista Época de 16/11/2013, diz: O Brasil está atrapalhando o comitê do PT no Palácio do Planalto, mas isso não ficará assim porque a presidente Dilma Rousseff já reagiu falando grosso. Diante da recomendação para embargo de sete obras federais, por superfaturamento e outras fraudes, Dilma refutou dizendo: “Acho um absurdo parar obra”.  Se Dilma estivesse reformando sua casa, e os encarregados da obra começassem a enfiar a mão no bolso dela, será que ela também acharia absurdo parar a construção? Mas é totalmente diferente, porque o dinheiro público, como se sabe, não é de ninguém. Agora, com o populismo profissional se aproximando de 12 anos no poder, o dinheiro público tem dono: é do PT e as obras fraudadas não podem parar, porque fazem parte da propaganda de campanha para 2014. Sabendo-se que a taxa de investimento é uma das mais baixas entre os emergentes, chega-se à constatação cristalina: As riquezas do país sustentam a formidável máquina de Dilma, seus 40 ministérios e seu arsenal de caridades. Essa é a fórmula infalível para que a permanência do PT no poder seja eterna, enquanto dure o dinheiro dos contribuintes. . .

Enquanto essa situação perdurar, o Brasil  em Educação, está na rabeira do mundo, ocupando o 57º lugar, no percentual de alunos com aprendizado em português, matemáticas e ciências; e nos corredores da morte nos hospitais, faltam leitos, roupas, remédios, enfermeiros, médicos, anestesistas e também falta vergonha dos nossos dirigentes, isto é constatado em outros artigos nesta mesma edição da revista Época.

Fonte:

Revista Época nº 812

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Jc.

São Luís, 10/01/2014