Sabemos que neste orbe, todos têm fome de pão, fome de luz, fome de paz, fome de amor, etc. Este é um mundo de famintos.
A fome de pão é a mais
ruidosa, é a que mais comove, porém não é a mais digna de comiseração. Que me
dizes, por exemplo, da fome de luz? Imagine a fome de um pobre Espírito que
anseia por conhecimentos e luz, nas trevas em que se encontra? E a fome de Paz
que atormenta as pessoas nos combates e nas bombas que caem sobre a cidade em
que residem? E o faminto de amor, que deseja que o queiram, e passa a
existência sem que ninguém lhe conceda uma migalha de carinho?
Todos os seres humanos têm
fome e todos nós estamos, por isso, em condições de exercer a caridade.
Aprendamos, pois, a conhecer a fome de quem nos procura, levando sempre em
consideração a advertência: - com exceção da fome de pão, todas as demais se
escondem. Quanto mais angustiosas, mais ocultas. A fome de pão restringe-se ao
indivíduo, não contamina terceiros, enquanto as diversas espécies de fome
espiritual se generalizam e suas consequências comprometendo a coletividade.
Tempos atrás os jornais
noticiaram um crime muito impressionante pelas suas proporções e pela maneira
trágica de como se revestiu. Um pai de família, depois de assassinar um seu
patrício, matou também a esposa e três filhos menores, suicidando-se em
seguida. Noticias dessa categoria são mais ou menos comuns nestes tempos, e é
raro o dia em que a imprensa deixa de registrar casos semelhantes. Como se
explica, ou melhor, qual a causa de tais tragédias? Incontestavelmente a causa
está na carência de luz, na miséria espiritual que lavra na sociedade em que
vivemos; está, positivamente, no descaso em que permanece a educação dos
sentimentos, a formação do caráter e da consciência moral das pessoas. Se o
principal personagem dessa tragédia bárbara tivesse recebido desde a infância
uma educação conveniente, procurando despertar em sua alma a noção de
responsabilidade e de senso de justiça, por certo não se sentiria capaz de
ferir ou matar. A inconsciência da responsabilidade e a incompreensão da lei
das consequências armam o braço do criminoso, encorajando-o à prática dos
maiores delitos.
O crime, pois, sob os
aspectos variados, resulta de uma falha moral, de um nível baixo de
espiritualidade, de um desequilíbrio psíquico, que só a educação bem
compreendida e bem ministrada pode solucionar. Muitas pessoas descreem do valor da educação, porque não podem
verificar os seus resultados imediatos. Querem milagres. Os seres humanos são
apressados, querendo tudo para o momento. Prever para prover, não está em suas
cogitações. Em todos os setores de atividades verifica-se o açodamento com que
pretendem resolver os problemas, cuja solução depende de medidas preliminares
que não foram tomadas.
Entram em ação os processos
tumultuários, imediatistas que geram confusão, dispêndios inúteis e perda de
tempo. Em geral os seres humanos querem fazer alguma coisa que os notabilize.
Empreender obras, cujo remate e resultados não sejam para os seus dias, não
lhes interessa, considerando que a glória vai caber á outra pessoa. Preferem
sempre, por isso, semear couves a plantar mangueiras.
Como pretendem combater o
crime? Enjaulando ou eliminando os criminosos, que significa incidir em crime
igual ou maior, porque premeditado e protegido pela lei. Educar o delinquente
leva muito tempo, ao passo que executá-lo é uma coisa mais rápida e sumaria.
Que remédio haverá para uma civilização tão desumana? Esse problema humano
encontrará a sua solução no problema da infância e da juventude, pois, a
criança pode ser educada; é como semear o bom grão, é preparar para uma nova
sociedade, é criar um novo mundo onde habitará a justiça: onde reinará a
fraternidade e a solidariedade, oferecendo ensejo de revelarem suas aptidões.
As palavras são as vestes das ideias, e por
isso, os seres humanos as interpretam segundo os seus interesses e pendores
pessoais das suas escolas e partidos. É assim que eles mudam as vestiduras de
uma ideia para outra, muito diversa, e, insistindo nessa troca, acabam
conseguindo que o falso passe como verdadeiro, o irreal como pura evidência. A
história humana está repleta de fatos dessa espécie. Vejamos, por exemplo, o
que foi o Cristianismo no seu berço, na sua fonte pura e o que ele é nos nossos
dias. Jesus deu testemunho de mansuetude, de solidariedade e das relações
fraternas que devem servir de norma à existência humana. Irmanou raças, nações
e povos, abolindo as causas de separação. O que fizeram os homens dessa divina
doutrina? Abandonaram os sábios preceitos, preferindo as bombas e os canhões
que arrasam cidades e campos, esquecidos de que Jesus nos recomendou
utilizarmos as forças espirituais.
As metralhadoras e canhões troam
sinistramente, há séculos e milênios, enchendo o espaço com o eco lúgubre de
seu ronco, sem
que jamais tenha resolvido algum problema
social. Que têm logrado os estadistas, os sociólogos, os economistas e
moralistas que, justificando o emprego da força, pontificaram e pontificam até
hoje?
A diferença entre um sábio e um ignorante;
entre o bom e o mau; entre o santo e o criminoso; o justo e o ímpio – nada mais
é do que o efeito da educação. Entre aqueles que edificam e aqueles que
destroem; entre os que tiram a existência do seu próximo, levando por toda
parte a desolação e a ruina e aqueles que dão a existência própria em prol do
bem da coletividade, verifica-se, apenas, uma diferença: a educação. Os seres
humanos são todos iguais; a diferença entre eles não é de essência, mas de grau
evolutivo só determinado pela educação.
A proposito, conta-se que Licurgo, orador
grego, certa ocasião foi convidado a falar sobre a Educação. Ele aceito o convite, porém pediu três meses
de prazo. Findo esse tempo, Licurgo apareceu trazendo dois cães e duas lebres.
Ele então soltou o primeiro cão e uma lebre. A cena a seguir foi bárbara. O cão
avançou feroz sobre a lebre e a despedaçou. Voltou ele a soltar o outro cão e a
outra lebre e os animais passaram a brincar um com o outro e a se afagaram.
Então, Licurgo dirigindo-se ao auditório, disse: “Eis aí o que é educação. O
primeiro cão é da mesma raça e idade do segundo. Foram tratados e alimentados
em idênticas condições. A diferença entre eles, é que um foi educado e o outro
não.”
Concluímos, pois, que o Cristianismo não
permaneceu como era, mas ficou sendo o que os homens o fizeram. Assim, caminha
a Humanidade, desviando-se de sua finalidade ,
precisando acender o facho da luz no interior das consciências, reformando e
tentando regenerando o ser humano através da Educação, tal como exemplificou o
Divino Mestre, em sua passagem por este mundo, saciando a fome de todos aqueles
necessitados de luz, paz e amor.
Fonte:
Livro “O Mestre na Educação”
Autor: Pedro de Camargo (Vinicius)
+ Pequenas modificações
Jc.
São Luís, 5/9/2016