domingo, 11 de setembro de 2016

TODOS TEM FOME





 Sabemos que neste orbe, todos têm fome de pão, fome de luz, fome de paz, fome de amor, etc. Este é um mundo de famintos.
A fome de pão é a mais ruidosa, é a que mais comove, porém não é a mais digna de comiseração. Que me dizes, por exemplo, da fome de luz? Imagine a fome de um pobre Espírito que anseia por conhecimentos e luz, nas trevas em que se encontra? E a fome de Paz que atormenta as pessoas nos combates e nas bombas que caem sobre a cidade em que residem? E o faminto de amor, que deseja que o queiram, e passa a existência sem que ninguém lhe conceda uma migalha de carinho?
Todos os seres humanos têm fome e todos nós estamos, por isso, em condições de exercer a caridade. Aprendamos, pois, a conhecer a fome de quem nos procura, levando sempre em consideração a advertência: - com exceção da fome de pão, todas as demais se escondem. Quanto mais angustiosas, mais ocultas. A fome de pão restringe-se ao indivíduo, não contamina terceiros, enquanto as diversas espécies de fome espiritual se generalizam e suas consequências comprometendo a coletividade.
Tempos atrás os jornais noticiaram um crime muito impressionante pelas suas proporções e pela maneira trágica de como se revestiu. Um pai de família, depois de assassinar um seu patrício, matou também a esposa e três filhos menores, suicidando-se em seguida. Noticias dessa categoria são mais ou menos comuns nestes tempos, e é raro o dia em que a imprensa deixa de registrar casos semelhantes. Como se explica, ou melhor, qual a causa de tais tragédias? Incontestavelmente a causa está na carência de luz, na miséria espiritual que lavra na sociedade em que vivemos; está, positivamente, no descaso em que permanece a educação dos sentimentos, a formação do caráter e da consciência moral das pessoas. Se o principal personagem dessa tragédia bárbara tivesse recebido desde a infância uma educação conveniente, procurando despertar em sua alma a noção de responsabilidade e de senso de justiça, por certo não se sentiria capaz de ferir ou matar. A inconsciência da responsabilidade e a incompreensão da lei das consequências armam o braço do criminoso, encorajando-o à prática dos maiores delitos.
O crime, pois, sob os aspectos variados, resulta de uma falha moral, de um nível baixo de espiritualidade, de um desequilíbrio psíquico, que só a educação bem compreendida e bem ministrada pode solucionar. Muitas pessoas descreem  do valor da educação, porque não podem verificar os seus resultados imediatos. Querem milagres. Os seres humanos são apressados, querendo tudo para o momento. Prever para prover, não está em suas cogitações. Em todos os setores de atividades verifica-se o açodamento com que pretendem resolver os problemas, cuja solução depende de medidas preliminares que não foram tomadas.
Entram em ação os processos tumultuários, imediatistas que geram confusão, dispêndios inúteis e perda de tempo. Em geral os seres humanos querem fazer alguma coisa que os notabilize. Empreender obras, cujo remate e resultados não sejam para os seus dias, não lhes interessa, considerando que a glória vai caber á outra pessoa. Preferem sempre, por isso, semear couves a plantar mangueiras.
Como pretendem combater o crime? Enjaulando ou eliminando os criminosos, que significa incidir em crime igual ou maior, porque premeditado e protegido pela lei. Educar o delinquente leva muito tempo, ao passo que executá-lo é uma coisa mais rápida e sumaria. Que remédio haverá para uma civilização tão desumana? Esse problema humano encontrará a sua solução no problema da infância e da juventude, pois, a criança pode ser educada; é como semear o bom grão, é preparar para uma nova sociedade, é criar um novo mundo onde habitará a justiça: onde reinará a fraternidade e a solidariedade, oferecendo ensejo de revelarem suas aptidões.
As palavras são as vestes das ideias, e por isso, os seres humanos as interpretam segundo os seus interesses e pendores pessoais das suas escolas e partidos. É assim que eles mudam as vestiduras de uma ideia para outra, muito diversa, e, insistindo nessa troca, acabam conseguindo que o falso passe como verdadeiro, o irreal como pura evidência. A história humana está repleta de fatos dessa espécie. Vejamos, por exemplo, o que foi o Cristianismo no seu berço, na sua fonte pura e o que ele é nos nossos dias. Jesus deu testemunho de mansuetude, de solidariedade e das relações fraternas que devem servir de norma à existência humana. Irmanou raças, nações e povos, abolindo as causas de separação. O que fizeram os homens dessa divina doutrina? Abandonaram os sábios preceitos, preferindo as bombas e os canhões que arrasam cidades e campos, esquecidos de que Jesus nos recomendou utilizarmos as forças espirituais.

As metralhadoras e canhões troam sinistramente, há séculos e milênios, enchendo o espaço com o eco lúgubre de seu ronco, sem
que jamais tenha resolvido algum problema social. Que têm logrado os estadistas, os sociólogos, os economistas e moralistas que, justificando o emprego da força, pontificaram e pontificam até hoje? 
A diferença entre um sábio e um ignorante; entre o bom e o mau; entre o santo e o criminoso; o justo e o ímpio – nada mais é do que o efeito da educação. Entre aqueles que edificam e aqueles que destroem; entre os que tiram a existência do seu próximo, levando por toda parte a desolação e a ruina e aqueles que dão a existência própria em prol do bem da coletividade, verifica-se, apenas, uma diferença: a educação. Os seres humanos são todos iguais; a diferença entre eles não é de essência, mas de grau evolutivo só determinado pela educação.

A proposito, conta-se que Licurgo, orador grego, certa ocasião foi convidado a falar sobre a Educação.  Ele aceito o convite, porém pediu três meses de prazo. Findo esse tempo, Licurgo apareceu trazendo dois cães e duas lebres. Ele então soltou o primeiro cão e uma lebre. A cena a seguir foi bárbara. O cão avançou feroz sobre a lebre e a despedaçou. Voltou ele a soltar o outro cão e a outra lebre e os animais passaram a brincar um com o outro e a se afagaram. Então, Licurgo dirigindo-se ao auditório, disse: “Eis aí o que é educação. O primeiro cão é da mesma raça e idade do segundo. Foram tratados e alimentados em idênticas condições. A diferença entre eles, é que um foi educado e o outro não.”

Concluímos, pois, que o Cristianismo não permaneceu como era, mas ficou sendo o que os homens o fizeram. Assim, caminha a Humanidade, desviando-se de sua finalidade  , precisando acender o facho da luz no interior das consciências, reformando e tentando regenerando o ser humano através da Educação, tal como exemplificou o Divino Mestre, em sua passagem por este mundo, saciando a fome de todos aqueles necessitados de luz, paz e amor.

Fonte:
Livro “O Mestre na Educação”
Autor: Pedro de Camargo (Vinicius)
+ Pequenas modificações


Jc.
São Luís, 5/9/2016