quinta-feira, 21 de agosto de 2014

AMA A TUA DOR




 “Vinde a mim todos vós que andais em sofrimento e vos achais sobrecarregados, e Eu vos aliviarei” palavras de Jesus. (Mt. II;28)
A dor é um buril lapidador dos vícios e dos enraizados hábitos infelizes. A dor não é um estigma individual, aleatório, que se manifesta de tempos em tempos, direcionado a determinadas pessoas ou grupos. Ela é um instrumento de burilamento educacional e corretivo a fim de preparar o Espírito para as diferentes fases de sua existência. Na realidade, a dor apresenta múltiplas formas e vertentes apropriadas a cada situação e alguns determinados períodos da existência.
 O grau e intensidade de seus efeitos se manifestam de acordo com a moral e a sensibilidade física de cada ser. Há circunstância em que a dor, por mais intensa que se apresente, atinge a pessoa apenas de “raspão”; em outras, representa uma simples queda da qual se levanta sem qualquer trauma; entretanto, outras há que, uma vez atingidas, não mais se levantam e se deixam consumir sem reação. Em que consistem atitudes tão diversas? Estaria na sensibilidade do ser ou na intensidade da dor, como atestam alguns estudos, ou ainda é fato desconhecido? É um processo que, embora ainda desconhecido de muitos, encontra explicação nas informações dos Espíritos. Sendo a dor instrumento de provas e/ou expiações é natural se expresse de acordo com a necessidade do Espírito.
É de Emmanuel a seguinte explicação: “Podemos classificar o sofrimento do Espírito como a dor-realidade e o tormento físico, de qualquer natureza, como a dor ilusão. Em verdade, toda dor física faz o despertar da alma para os seus grandiosos deveres, seja como expressão expiatória, como consequência dos abusos humanos, ou como advertência da natureza material ao dono do organismo. Mas toda dor física é um fenômeno, enquanto que a dor moral é essência. Daí a razão por que a primeira vem e passa, ainda que se faça acompanhar das transições de falência dos órgãos materiais, e só a dor espiritual é bastante grande e profunda para promover o luminoso trabalho do aperfeiçoamento e da redenção do ser humano”.
A aflição, a dor e o sofrimento de qualquer natureza faz presença marcante no tempo e no espaço, em todas as civilizações, sendo resultado  das consequências variadas dos fenômenos da natureza; dos acidentes diversos; do mando e desmando dos seres humanos; da imprudência, ociosidade, revolta, inconformidade, violência, e de tantas outras situações que sempre culminam no sofrimento humano, não deixa de expor o aspecto educador, corretivo e conciliador, embora incompreendido e como tal inaceitável. É um mal necessário ao amadurecimento educacional de cada pessoa.
Geralmente, após passar pelo contingente da dor, a pessoa altera o seu modo de pensar e de agir perante os seres e os problemas sociais. No entanto, nem todos os seres humanos estão preparados para enfrentar as aflições com aceitação em suas múltiplas nuances e, em estado desolador, mergulham na revolta contra tudo e contra Deus. Certamente o instinto de sobrevivência, tangido pelas fibras sensíveis do ser desprevenido, não encontra respaldo na coragem  e na fé; busca então os excessos, acreditando se ausentar do problema, quando, na realidade, se aprisiona nas teias da revolta ou dos vícios, tais como a bebida, a droga, o relacionamento sexual exacerbado; a introspecção, o medo e, em alguns casos extremos, no crime e até no suicídio.
A presença de Jesus trouxe à humanidade a certeza de um Deus Pai, amoroso, misericordioso e bondoso; despertou no ser humano a esperança, a certeza de que em meio à dor jamais estará órfão; trouxe o entendimento de que, exilado neste planeta de provas e expiações, a dor representa a mestra infalível para o crescimento moral, o incentivo à busca de meios para amenizá-la e até bani-la. O discípulo Paulo entendeu tão bem essa verdade que abandonou uma vida de glória e poder, ao primeiro chamado do Mestre, às portas de Damasco. Renunciou aos títulos e bens terrenos, ao aconchego do lar e se propôs a divulgar a Boa Nova. Nessa atitude incomparável de servo de Deus, passou por todas as dores físicas e morais, por humilhações incontáveis a fim de servir o próprio Cristo. Não temeu, não fugiu dessa força transformadora que lapida o Espírito para embates mais elevados. Fiel servidor da seara divina desenvolveu um colossal movimento de divulgação para que todos encontrassem os próprios meios de solver suas dores interiores e exteriores provocadas pelas ações dos próprios homens.
Na atualidade, a dor toma forma fantástica, assustadora, muitas vezes, ampliadas pela divulgação desprovida de critérios morais. Todavia, não faltam elementos consoladores, pois Jesus está no leme desta imensa embarcação terrena. A Espiritualidade atenta estende as mãos aos sofredores. Entretanto, não é possível deixar tudo por conta dos Espíritos; é importante que cada um faça a sua parte. Ninguém conseguirá isolar-se numa plataforma de felicidade rodeada pela miséria e pela dor, pois mais cedo ou mais tarde poderá ser atingido pelas chagas necessárias à sua evolução.
Não é admissível permanecer indiferente à miséria, à aflição e à dor que assolam a humanidade. É impossível negar que na base das misérias morais estão os interesses materiais alimentados pelo poder e pela ambição. Tal postura corrói os pilares principais do bem-estar geral, dificultando a caminhada vertical da humanidade. Entretanto, sem fé em Deus e amor ao próximo, sem caridade a evolução do Espírito emperrará, dificultando-lhe a ascensão tanto intelectual como moral. É preciso revigorar e viver o Evangelho de Jesus em sua essência. Por ele em prática é a única forma de desconstruir os mecanismos que atraem as dores e, desta forma, ampliar os instrumentos que impulsionarão o Espírito para a harmonização geral.
O início é árduo, exigem esforço e perseverança, abrir mão dos privilégios, apagando preconceitos, vendo no semelhante um irmão e amar sem condições; aceitar as vicissitudes da existência com resignação e fé, cujas conquistas, haverá finalmente implantado o Evangelho em seu coração, preparando-se para um futuro promissor em que as dores não terão mais atuação. No momento em que o teu coração seja capaz de superar o sofrimento, sem rebeldia nem queixa, terás chegado á meta que buscas alcançar...

Fonte:
Revista “O Reformador” – 02/2014
Joanna de Ângelis
A.    Merci Spada Borges
+ Supressões e pequenas modificações.

Jc.
São Luís, 11/5/2014