“Vinde a mim todos vós que andais em sofrimento e vos achais sobrecarregados, e Eu vos aliviarei” palavras de Jesus. (Mt. II;28)
A dor é um buril lapidador
dos vícios e dos enraizados hábitos infelizes. A dor não é um estigma
individual, aleatório, que se manifesta de tempos em tempos, direcionado a
determinadas pessoas ou grupos. Ela é um instrumento de burilamento educacional
e corretivo a fim de preparar o Espírito para as diferentes fases de sua existência.
Na realidade, a dor apresenta múltiplas formas e vertentes apropriadas a cada
situação e alguns determinados períodos da existência.
O grau e intensidade de seus efeitos se
manifestam de acordo com a moral e a sensibilidade física de cada ser. Há
circunstância em que a dor, por mais intensa que se apresente, atinge a pessoa
apenas de “raspão”; em outras, representa uma simples queda da qual se levanta
sem qualquer trauma; entretanto, outras há que, uma vez atingidas, não mais se
levantam e se deixam consumir sem reação. Em que consistem atitudes tão
diversas? Estaria na sensibilidade do ser ou na intensidade da dor, como
atestam alguns estudos, ou ainda é fato desconhecido? É um processo que, embora
ainda desconhecido de muitos, encontra explicação nas informações dos
Espíritos. Sendo a dor instrumento de provas e/ou expiações é natural se
expresse de acordo com a necessidade do Espírito.
É de Emmanuel a seguinte
explicação: “Podemos classificar o sofrimento do Espírito como a dor-realidade
e o tormento físico, de qualquer natureza, como a dor ilusão. Em verdade, toda
dor física faz o despertar da alma para os seus grandiosos deveres, seja como
expressão expiatória, como consequência dos abusos humanos, ou como advertência
da natureza material ao dono do organismo. Mas toda dor física é um fenômeno,
enquanto que a dor moral é essência. Daí a razão por que a primeira vem e
passa, ainda que se faça acompanhar das transições de falência dos órgãos
materiais, e só a dor espiritual é bastante grande e profunda para promover o
luminoso trabalho do aperfeiçoamento e da redenção do ser humano”.
A aflição, a dor e o
sofrimento de qualquer natureza faz presença marcante no tempo e no espaço, em
todas as civilizações, sendo resultado
das consequências variadas dos fenômenos da natureza; dos acidentes
diversos; do mando e desmando dos seres humanos; da imprudência, ociosidade,
revolta, inconformidade, violência, e de tantas outras situações que sempre
culminam no sofrimento humano, não deixa de expor o aspecto educador, corretivo
e conciliador, embora incompreendido e como tal inaceitável. É um mal
necessário ao amadurecimento educacional de cada pessoa.
Geralmente, após passar pelo
contingente da dor, a pessoa altera o seu modo de pensar e de agir perante os seres
e os problemas sociais. No entanto, nem todos os seres humanos estão preparados
para enfrentar as aflições com aceitação em suas múltiplas nuances e, em estado
desolador, mergulham na revolta contra tudo e contra Deus. Certamente o
instinto de sobrevivência, tangido pelas fibras sensíveis do ser desprevenido,
não encontra respaldo na coragem e na
fé; busca então os excessos, acreditando se ausentar do problema, quando, na
realidade, se aprisiona nas teias da revolta ou dos vícios, tais como a bebida,
a droga, o relacionamento sexual exacerbado; a introspecção, o medo e, em alguns
casos extremos, no crime e até no suicídio.
A presença de Jesus trouxe à
humanidade a certeza de um Deus Pai, amoroso, misericordioso e bondoso;
despertou no ser humano a esperança, a certeza de que em meio à dor jamais
estará órfão; trouxe o entendimento de que, exilado neste planeta de provas e
expiações, a dor representa a mestra infalível para o crescimento moral, o
incentivo à busca de meios para amenizá-la e até bani-la. O discípulo Paulo
entendeu tão bem essa verdade que abandonou uma vida de glória e poder, ao
primeiro chamado do Mestre, às portas de Damasco. Renunciou aos títulos e bens
terrenos, ao aconchego do lar e se propôs a divulgar a Boa Nova. Nessa atitude
incomparável de servo de Deus, passou por todas as dores físicas e morais, por
humilhações incontáveis a fim de servir o próprio Cristo. Não temeu, não fugiu
dessa força transformadora que lapida o Espírito para embates mais elevados.
Fiel servidor da seara divina desenvolveu um colossal movimento de divulgação
para que todos encontrassem os próprios meios de solver suas dores interiores e
exteriores provocadas pelas ações dos próprios homens.
Na atualidade, a dor toma
forma fantástica, assustadora, muitas vezes, ampliadas pela divulgação
desprovida de critérios morais. Todavia, não faltam elementos consoladores,
pois Jesus está no leme desta imensa embarcação terrena. A Espiritualidade
atenta estende as mãos aos sofredores. Entretanto, não é possível deixar tudo
por conta dos Espíritos; é importante que cada um faça a sua parte. Ninguém
conseguirá isolar-se numa plataforma de felicidade rodeada pela miséria e pela
dor, pois mais cedo ou mais tarde poderá ser atingido pelas chagas necessárias
à sua evolução.
Não é admissível permanecer
indiferente à miséria, à aflição e à dor que assolam a humanidade. É impossível
negar que na base das misérias morais estão os interesses materiais alimentados
pelo poder e pela ambição. Tal postura corrói os pilares principais do bem-estar
geral, dificultando a caminhada vertical da humanidade. Entretanto, sem fé em
Deus e amor ao próximo, sem caridade a evolução do Espírito emperrará,
dificultando-lhe a ascensão tanto intelectual como moral. É preciso revigorar e
viver o Evangelho de Jesus em sua essência. Por ele em prática é a única forma
de desconstruir os mecanismos que atraem as dores e, desta forma, ampliar os
instrumentos que impulsionarão o Espírito para a harmonização geral.
O início é árduo, exigem
esforço e perseverança, abrir mão dos privilégios, apagando preconceitos, vendo
no semelhante um irmão e amar sem condições; aceitar as vicissitudes da
existência com resignação e fé, cujas conquistas, haverá finalmente implantado
o Evangelho em seu coração, preparando-se para um futuro promissor em que as
dores não terão mais atuação. No momento em que o teu coração seja capaz de
superar o sofrimento, sem rebeldia nem queixa, terás chegado á meta que buscas
alcançar...
Fonte:
Revista
“O Reformador” – 02/2014
Joanna
de Ângelis
A. Merci
Spada Borges
+ Supressões e pequenas
modificações.
Jc.
São Luís, 11/5/2014