JOAQUIM CARLOS TRAVASSOS
Os Travassos chegaram ao
Brasil, procedentes de Portugal. Eram três irmãos e um deles escolheu o
Estado do Rio de Janeiro, para fixar
residência, no município de Angra dos Reis-RJ, mais precisamente na Fazenda da
Longa, onde o coronel Pedro José Travassos e sua esposa Emília Rita Travassos,
agradeciam a Deus, pelo nascimento no
ano de 1839, de um menino que se chamou Joaquim Carlos Travassos.
A família era composta de
sete irmãos: quatro homens e três mulheres. Todos receberam boa educação, e
Joaquim, ao término dos estudos preparatórios ingressou na antiga Faculdade de
Medicina do Rio de Janeiro, com 17 anos de idade, formando-se seis anos depois.
A colação de grau de doutor, deu-se na presença das Majestades Imperiais em
1862.
Exercendo a medicina na
cidade do Rio de Janeiro, ele dedicava-se aos doentes como se fossem seus
parentes ou amigos muito queridos ao seu coração. Por isso, sua tristeza ao ver partir alguns
deles, quando vencidos pelas doenças. O jovem médico, após um breve noivado,
contraiu núpcias com a senhorita Maria Antônia de Oliveira. Como ele tinha
desejo de clinicar sozinho, o casal transferiu-se para a cidade de Angra dos
Reis; contudo, não se adaptando, optou por mudar-se para a cidade de São José
do Barreiro, no interior do Estado de São Paulo. Nessa cidade dona Maria
Antônia dizia sentir mais a natureza, pois era exímia cavaleira e adorava
cavalgar pelas estradas de terra rodeadas de verde e sentir o aroma das plantas
silvestres.
Nessa cidade o casal teve a felicidade
de ganhar duas filhas, de cujo futuro dona Maria não chegaria a participar, em
virtude de um trágico acontecimento que traria profundas dores ao seu esposo.
Um dia, quando dona Maria fazia sua costumeira cavalgada pela estrada junto a
Serra da Bocaina, na descida da serra ela resolveu abrir inesperadamente a
sombrinha; o cavalo, assustado com o fato, saiu em desabalada corrida, o que
fez com que dona Maria Antônia caísse, ficando com o pé preso no estribo. O
cavalo continuou a correr e o corpo da mulher foi arrastado por um quilômetro,
serra abaixo, em pedaços. Nada pôde ser feito, pois na estrada havia muitas
pedras; e quando Travassos recebeu a notícia, tentou de todas as formas ajudar
a esposa, mas o corpo aos pedaços, só pôde ser recolhido pela polícia e levado
ao sepultamento.
O estado emocional do médico
Travassos era de abatimento e tristeza, e por isso, ele levou as crianças para
morar com uma cunhada, que havia se oferecido para cuidá-las. Ele precisava
fazer algo que o ocupasse, em que sua mente trabalhasse dia e noite. Como já
existia a guerra do Paraguai contra o Brasil, ele resolveu dedicar-se em servir
como médico às formas armadas, e apresentou-se como médico cirurgião, partindo
para a frente de batalha em janeiro de 1867 e ali ficou até 1869, quando se
retirou do campo de batalha.
Retornando a São Paulo, de
imediato foi visitar as filhas. Esse encontro lhe trouxe muita alegria e muitas
lágrimas. Dona Mafalda, sua cunhada, tratava as suas filhas como se fosse a
verdadeira mãe, e ele foi convidado a fixar residência junto delas. O tempo
passou e a admiração do médico pela cunhada foi-se tornando muito forte, até
que ele a pediu em casamento. Aceito o convite, ela passou a ser a madrasta das
meninas. Entretanto, querendo um melhor recomeço para a família, o médico
resolveu mudar-se para Santos, onde Travassos abriu uma clínica que foi se
firmando com o tempo. O casal foi contemplado com o nascimento de uma menina.
Anos depois, querendo dar à dona Mafalda uns instantes de lazer, para refazimento
de suas energias, Travassos a levou para uma viagem marítima onde tudo correu
bem. A família estava em pleno retorno das férias, depois de momentos
inesquecíveis na viagem, quando dona Mafalda começou a passar mal. Uma epidemia
de varíola se espalhara pelo Estado e ela foi acometida pela doença, que em
poucos dias interrompeu sua existência terrena. Era outro grande golpe que o
médico recebia.
O mundo parecia desabar em
sua cabeça, e ele, com os pensamentos revoltos, indagava para si mesmo: “Por
que, meu Deus?” E continuava
questionando: “Sempre fiz o bem, procurei ser honesto, fiel aos meus deveres...
onde errei? Fui temente a Deus e sou
correto em minha fé... Será castigo por alguma falta? Onde eu a cometi sem perceber?” E as lágrimas desciam pelas suas faces. Pouco
tempo depois, nova amargura: o falecimento da primeira filha, ainda muito
jovem. A tristeza de mais essa morte foi a gota d’agua para seu sofrido
coração, e Travassos decidiu abandonar a clínica médica. Afinal ele, como
médico e toda sua luta, não conseguia evitar a morte!
Com essa ideia na mente e as
indagações sem respostas que o ajudassem a entender os flagelos pelos quais
passara, Travassos foi em busca da verdade. A partir desse momento, a
Espiritualidade fez com que ele despertasse para a tarefa que ele desenvolveria
em seguida, traduzindo para o idioma português as obras de Allan Kardec, quando
enfim a doutrina poderia ser mais bem conhecida no Brasil. As notícias sobre os
fenômenos das “mesas girantes” começaram a surgir no Brasil entre os anos de
1853 a 1854 e os periódicos brasileiros anunciavam que, em 1858, no dia 1º de
abril, em Paris, o professor Allan Kardec fundara a Sociedade Parisiense de
Estudos Espíritas. Travassos se interessou pelo assunto, mas só existiam no
Brasil, traduzidos para o português, dois opúsculos: O Espiritismo na sua
expressão mais simples e Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita.
Travassos começou então a
estudar muito mais as obras de Allan Kardec e seu interesse foi tão grande que
o levou a ler outros autores. Sentindo a necessidade de dialogar com outros
adeptos da Doutrina, procurou contatá-los, mas achou poucos grupos espalhados
pelo país. Em face das constantes buscas
doutrinárias, Travassos encontrou
dados de que
o primeiro Centro
Espírita fundado no Brasil
estava localizado na Bahia, em Salvador, onde também surgiu o primeiro jornal
espírita feito no Brasil, “O Eco de Além Túmulo”, lançado em julho de 1869.
Nasce então em 2 de agosto
de 1873 o Grupo Espírita Confúcio, tendo em sua diretoria o doutor Joaquim
Carlos Travassos. O Grupo deliberou por unanimidade que seguiriam , em seus
estudos, as obras de Allan Kardec. Mas essas obras precisariam ser traduzidas
para o português, porque só assim o povo brasileiro teria condições de adquiri-las e estendê-las. E foi o que ele fez, logo em
seguida, traduzindo e publicando com o pseudônimo de Fortúnio. “O Livro dos
Espíritos” e depois “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. Assim que saiu a
edição de “O Livro dos Espíritos” em português, Travassos ofereceu um exemplar
ao Dr. Bezerra de Menezes, um amigo de longa data a quem admirava
profundamente, pelo desprendimento e dedicaçã9o em salvar vidas, doando-se
inteiramente a cada paciente como se fossem todos elementos de sua própria
família.
A obra atraiu a atenção do então ilustre
político e famoso médico, que chegou ele a se declarar em plena praça pública,
que abraçara de corpo e alma a Doutrina Espírita, como lema principal de sua
existência. A trajetória física de
Travassos, nessas alturas d3e sua visão como espírita, lhe dava novas
esperanças de reconstruir seu lar. Assim foi que, no ano de 1880, contraiu
matrimônio com a viúva do doutor Mateus de Andrade, a senhora Francisca Ayrosa
Galvão, filha do Barão de Sapucaia, por sinal, muito católica. Desse casamento
nasceram-lhe mais dois filhos. O casamento, porém, só durou poucos anos, e o
principal motivo foram as divergências religiosas, visto que a esposa não
aceitava que Travassos militasse no campo espírita.
A desencarnação de Joaquim
Carlos Travassos ocorreu no dia 6 de fevereiro de 1915, quando ele contava 76
anos de jornada física.
Fontes:
Jornal
“O Seareiro”,
do Núcleo de Estudos Espíritas “Amor e
Esperança”
Transcrição
de Marinei Ferreira Rezende
Jornal
“O Imortal” – março/2013
Jc.
S.
Luís, 3/4/2013