quarta-feira, 3 de abril de 2013

JOAQUIM CARLOS TRAVASSOS




  JOAQUIM  CARLOS  TRAVASSOS
Os Travassos chegaram ao Brasil, procedentes de Portugal. Eram três irmãos e um deles escolheu o Estado  do Rio de Janeiro, para fixar residência, no município de Angra dos Reis-RJ, mais precisamente na Fazenda da Longa, onde o coronel Pedro José Travassos e sua esposa Emília Rita Travassos, agradeciam a Deus, pelo nascimento  no ano de 1839, de um menino que se chamou Joaquim Carlos Travassos.
A família era composta de sete irmãos: quatro homens e três mulheres. Todos receberam boa educação, e Joaquim, ao término dos estudos preparatórios ingressou na antiga Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, com 17 anos de idade, formando-se seis anos depois. A colação de grau de doutor, deu-se na presença das Majestades Imperiais em 1862.
Exercendo a medicina na cidade do Rio de Janeiro, ele dedicava-se aos doentes como se fossem seus parentes ou amigos muito queridos ao seu coração.  Por isso, sua tristeza ao ver partir alguns deles, quando vencidos pelas doenças. O jovem médico, após um breve noivado, contraiu núpcias com a senhorita Maria Antônia de Oliveira. Como ele tinha desejo de clinicar sozinho, o casal transferiu-se para a cidade de Angra dos Reis; contudo, não se adaptando, optou por mudar-se para a cidade de São José do Barreiro, no interior do Estado de São Paulo. Nessa cidade dona Maria Antônia dizia sentir mais a natureza, pois era exímia cavaleira e adorava cavalgar pelas estradas de terra rodeadas de verde e sentir o aroma das plantas silvestres.
Nessa cidade o casal teve a felicidade de ganhar duas filhas, de cujo futuro dona Maria não chegaria a participar, em virtude de um trágico acontecimento que traria profundas dores ao seu esposo. Um dia, quando dona Maria fazia sua costumeira cavalgada pela estrada junto a Serra da Bocaina, na descida da serra ela resolveu abrir inesperadamente a sombrinha; o cavalo, assustado com o fato, saiu em desabalada corrida, o que fez com que dona Maria Antônia caísse, ficando com o pé preso no estribo. O cavalo continuou a correr e o corpo da mulher foi arrastado por um quilômetro, serra abaixo, em pedaços. Nada pôde ser feito, pois na estrada havia muitas pedras; e quando Travassos recebeu a notícia, tentou de todas as formas ajudar a esposa, mas o corpo aos pedaços, só pôde ser recolhido pela polícia e levado ao sepultamento.
O estado emocional do médico Travassos era de abatimento e tristeza, e por isso, ele levou as crianças para morar com uma cunhada, que havia se oferecido para cuidá-las. Ele precisava fazer algo que o ocupasse, em que sua mente trabalhasse dia e noite. Como já existia a guerra do Paraguai contra o Brasil, ele resolveu dedicar-se em servir como médico às formas armadas, e apresentou-se como médico cirurgião, partindo para a frente de batalha em janeiro de 1867 e ali ficou até 1869, quando se retirou do campo de batalha.
Retornando a São Paulo, de imediato foi visitar as filhas. Esse encontro lhe trouxe muita alegria e muitas lágrimas. Dona Mafalda, sua cunhada, tratava as suas filhas como se fosse a verdadeira mãe, e ele foi convidado a fixar residência junto delas. O tempo passou e a admiração do médico pela cunhada foi-se tornando muito forte, até que ele a pediu em casamento. Aceito o convite, ela passou a ser a madrasta das meninas. Entretanto, querendo um melhor recomeço para a família, o médico resolveu mudar-se para Santos, onde Travassos abriu uma clínica que foi se firmando com o tempo. O casal foi contemplado com o nascimento de uma menina. Anos depois, querendo dar à dona Mafalda uns instantes de lazer, para refazimento de suas energias, Travassos a levou para uma viagem marítima onde tudo correu bem. A família estava em pleno retorno das férias, depois de momentos inesquecíveis na viagem, quando dona Mafalda começou a passar mal. Uma epidemia de varíola se espalhara pelo Estado e ela foi acometida pela doença, que em poucos dias interrompeu sua existência terrena. Era outro grande golpe que o médico recebia.
O mundo parecia desabar em sua cabeça, e ele, com os pensamentos revoltos, indagava para si mesmo: “Por que, meu Deus?”  E continuava questionando: “Sempre fiz o bem, procurei ser honesto, fiel aos meus deveres... onde errei?  Fui temente a Deus e sou correto em minha fé... Será castigo por alguma falta?  Onde eu a cometi sem perceber?”  E as lágrimas desciam pelas suas faces. Pouco tempo depois, nova amargura: o falecimento da primeira filha, ainda muito jovem. A tristeza de mais essa morte foi a gota d’agua para seu sofrido coração, e Travassos decidiu abandonar a clínica médica. Afinal ele, como médico e toda sua luta, não conseguia evitar a morte!
Com essa ideia na mente e as indagações sem respostas que o ajudassem a entender os flagelos pelos quais passara, Travassos foi em busca da verdade. A partir desse momento, a Espiritualidade fez com que ele despertasse para a tarefa que ele desenvolveria em seguida, traduzindo para o idioma português as obras de Allan Kardec, quando enfim a doutrina poderia ser mais bem conhecida no Brasil. As notícias sobre os fenômenos das “mesas girantes” começaram a surgir no Brasil entre os anos de 1853 a 1854 e os periódicos brasileiros anunciavam que, em 1858, no dia 1º de abril, em Paris, o professor Allan Kardec fundara a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Travassos se interessou pelo assunto, mas só existiam no Brasil, traduzidos para o português, dois opúsculos: O Espiritismo na sua expressão mais simples e Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita.
Travassos começou então a estudar muito mais as obras de Allan Kardec e seu interesse foi tão grande que o levou a ler outros autores. Sentindo a necessidade de dialogar com outros adeptos da Doutrina, procurou contatá-los, mas achou poucos grupos espalhados pelo país. Em face das constantes buscas  doutrinárias,  Travassos  encontrou  dados  de  que  o  primeiro  Centro 
Espírita fundado no Brasil estava localizado na Bahia, em Salvador, onde também surgiu o primeiro jornal espírita feito no Brasil, “O Eco de Além Túmulo”, lançado em julho de 1869.
Nasce então em 2 de agosto de 1873 o Grupo Espírita Confúcio, tendo em sua diretoria o doutor Joaquim Carlos Travassos. O Grupo deliberou por unanimidade que seguiriam , em seus estudos, as obras de Allan Kardec. Mas essas obras precisariam ser traduzidas para o português, porque só assim o povo brasileiro teria condições de adquiri-las  e estendê-las. E foi o que ele fez, logo em seguida, traduzindo e publicando com o pseudônimo de Fortúnio. “O Livro dos Espíritos” e depois “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. Assim que saiu a edição de “O Livro dos Espíritos” em português, Travassos ofereceu um exemplar ao Dr. Bezerra de Menezes, um amigo de longa data a quem admirava profundamente, pelo desprendimento e dedicaçã9o em salvar vidas, doando-se inteiramente a cada paciente como se fossem todos elementos de sua própria família.
 A obra atraiu a atenção do então ilustre político e famoso médico, que chegou ele a se declarar em plena praça pública, que abraçara de corpo e alma a Doutrina Espírita, como lema principal de sua existência.  A trajetória física de Travassos, nessas alturas d3e sua visão como espírita, lhe dava novas esperanças de reconstruir seu lar. Assim foi que, no ano de 1880, contraiu matrimônio com a viúva do doutor Mateus de Andrade, a senhora Francisca Ayrosa Galvão, filha do Barão de Sapucaia, por sinal, muito católica. Desse casamento nasceram-lhe mais dois filhos. O casamento, porém, só durou poucos anos, e o principal motivo foram as divergências religiosas, visto que a esposa não aceitava que Travassos militasse no campo espírita.
A desencarnação de Joaquim Carlos Travassos ocorreu no dia 6 de fevereiro de 1915, quando ele contava 76 anos de jornada física.

Fontes:
Jornal “O Seareiro”,
 do Núcleo de Estudos Espíritas “Amor e Esperança”
Transcrição de Marinei Ferreira Rezende
Jornal “O Imortal” – março/2013

Jc.
S. Luís, 3/4/2013