segunda-feira, 4 de agosto de 2014

FALTA DE ATRAÇÃO SEXUAL




“A falta de atração sexual, por outras pessoas não é doença. O conceito de assexualidade surgiu nos Estados Unidos neste século e nada mais é do que uma das formas de manifestação da sexualidade humana, só que baseada na falta de atração sexual por outras pessoas. Pesquisas feitas nos EUA e Europa indicam que 1% da população se encaixa nessa categoria, mas o número pode ser maior.”
“Acredito que mais pessoas se considerariam assexuais se tivessem conhecimento do termo”, informa Elisabete Regina Baptista de Oliveira, doutoranda da faculdade de educação da USP. Não sentir atração sexual por outras pessoas não é uma doença. “São apenas pessoas que têm sua libido canalizada para outros objetivos, como a arte, a ciência e o trabalho”, explica José Carlos Riechelman, coordenador científico do Comitê Multidisciplinar de Sexualidade Humana da Associação Paulista de Medicina. Para esse especialista, a falta de interesse por sexo pode ter uma causa física, hormonal ou traumática, por influências que a pessoa recebe até os 6 anos de idade. Mas se ela se sente bem com isso, não há a necessidade de procurar ajuda médica.
“O uso de medicamentos, terapia ou reposição hormonal só faz sentido para aqueles que estão incomodados com a situação”, enfatiza. Os assexuais se dividem em românticos (que se apaixonam e sentem necessidade de ter relacionamentos amorosos) e arromânticos ( que não sentem necessidade de ter relacionamentos com outras pessoas). Além disso, há também os demissexuais, que têm interesse esporádico por sexo ou somente quando estabelecem fortes laços afetivos com o parceiro. “Mais importante do que se encaixar em alguma classificação é se conhecer e se sentir bem com seu próprio corpo e suas vontades”, explica Elisabete. Alguns assexuais têm capacidade de sentir prazer e de ter orgasmos e podem se valer da masturbação como uma forma de alívio para o corpo. “No entanto, eles não têm fantasias e não direcionam seu desejo a outras pessoas enquanto se masturbam” diz a doutora da USP.
Claudia Kawabata de 34 anos, orçamentista gráfica de São Paulo, informa que não gosta de fazer sexo e se sente muito feliz assim; curte namorar e se relacionar, mas sem beijo nem transa. Sou assexual e muito bem resolvida, diz ela. Afirma ainda: Quando começou a ler mais um romance espírita que adora, não imaginava que o livro ia mudar sua vida para sempre. É que na história havia um personagem com quem ela se identificou muito. Era uma mulher assexual, ou seja, que não sentia vontade de fazer sexo com outras pessoas. E isso não era nenhum problema para ela. Aquilo mexeu profundamente comigo, pois eu já estava com 30 anos e, apesar de já ter uma filha, também nunca tinha sentido vontade de transar. Pensei: “Quer dizer então que existem outras pessoas como eu?”
Conta ela, ainda, que nunca tinha ouvido falar em assexualidade antes daquele livro. Mas bastou conhecer o termo para ter a certeza de que ela era assexual. Desde adolescente, quando minhas amigas começaram a arranjar namorados, eu não sentia a menor vontade de ter um. Cheguei a me abrir com as mães das amigas, mas elas diziam que eu ainda era muito nova e que ia acabar sentindo essa necessidade quando crescesse um pouco mais. Aos 19 anos me apaixonei por um rapaz. Eu gostava de abraçá-lo, de dar e receber carinho, mas não sentia vontade de transar. Só que ele tinha muita vontade e eu acabei perdendo a virgindade. Foi uma sensação muito ruim, pois depois do sexo eu me sentia vazia. Cedia ao sexo para agradar-lhe, mas não sentia prazer nem orgasmo! Minha falta de interesse por sexo incomodava meu companheiro e ele começou a achar que eu tinha outro homem. Mesmo assim, acabei engravidando aos 20 anos, tive minha filha e no ano seguinte terminamos o relacionamento. Nunca mais tive outro relacionamento, embora eu sentisse falta de ter alguém ao meu lado, mas não de transar.
Procurei psiquiatras para tentar entender o que havia de errado comigo e cada um diagnosticava um transtorno diferente. Comecei a tomar antidepressivo, mas não comentava com ninguém sobre meu problema com medo do julgamento da sociedade. É difícil ser diferente e assumir que você não gosta de uma coisa que todo mundo acha maravilhoso. Por isso, quando li o livro que tinha uma personagem assexual, me reconheci nela logo de cara. Foi um baita alívio finalmente entender que eu não precisava ser como as outras pessoas e ter vontade de fazer sexo. Podia me aceitar como era, pois não tinha nada de errado em ser assexual. Minha filha que tem 13 anos me aceita como sou; ela não vê problema nenhum! Nessa mesma época, entrei para a comunidade A2 na Internet, voltada para pessoas como eu. Foi muito bom conversar com essas pessoas e entender melhor que isso não é nenhuma doença.
Outro depoimento à revista foi de Ediomar Stanga, de 25 anos, técnico em radiologia, de São Paulo. Diz ele: “Descobri minha falta de interesse por sexo aos 21 anos. Estava namorando uma guria havia duas semanas quando ela disse que queria ir pra cama comigo. Até então, eu também achava que queria, mas na hora me deu uma coisa muito esquisita e passei a ter nojo da ideia. Dai pra frente, pesquisei o assunto e entendi que eu era assexual. Fiquei aliviado ao saber que eu não era anormal. Desde então, não me relacionei com mais ninguém. Mas quero muito encontrar uma pessoa para ser minha companheira e dividir um lar. Sou um caro romântico, mas não é fácil, pois a maioria das assexuais que conheço pela Internet mora longe. Mas nada disso me impede de ter orgasmos e de me aliviar com masturbação de vez em quando. Mesmo assim, me aceito do jeito que sou e sei que é normal ser assim”.
Este assunto foi publicado na revista “Sou mais Eu”, edição 392, de 22/5/2014, na página Saúde, reportagem de Thais Helena Amaral. Achei por bem colocar no meu blog para orientar e acalmar outras pessoas que sofrem com o mesmo problema, que também tem sua conotação espiritual de outras existências.

Jc.