domingo, 31 de janeiro de 2010

O AMOR, O CASAMENTO, A SEPARAÇÃO

O AMOR, O CASAMENTO E A SEPARAÇÃO

O amor movimenta a Humanidade. E uma das formas de amor é a que existe e sobrevive, graças a união de um homem e uma mulher. Os parceiros da vida a dois, antes de chegarem a essa situação, passam por uma fase de aproximação e namoro, que se inicia geralmente, devido a uma forte atração física mútua, a qual pode desencadear uma paixão. A paixão por sua vez, poderá evoluir para o sentimento de amizade e daí para o amor. Paixão e amor, ainda que intimamente ligados, são sentimentos diferentes. A paixão se caracteriza por intensa atração física e conseqüente desejo erótico. O amor nasce a partir da descoberta do ser amado, com suas qualidades e defeitos, seus encantos e desencantos, e a afinidade que une ambos. Uma das formas de amor mais real é a que exalta a figura da mãe.

Conta uma lenda árabe que um homem decidira casar-se apenas se achasse uma mulher perfeita. Assim, saiu pelo mundo à busca de sua eleita. Trinta anos depois, já idoso e cansado, retornou à terra natal, sem realizar seu desejo. Um amigo comentou: “Então, tu viajaste em vão sem encontrara mulher perfeita!” – Ele respondeu: “Enganas-te meu amigo. Eu encontrei-a, só que ela também estava a procura de um homem perfeito...”

Por essa e outras razões é que o casamento é o mais discutido na sociedade. Uns a definem como “união social de pessoas de sexos diferentes”; outros, o chamam de “fundamento da sociedade”. Alguns afirmam como “grande escola fundada por Deus, para a educação das pessoas”. Há também os que dizem jocosamente: “’’Casar, é perder metade de seus direitos e duplicar deveres”.

Historicamente, quatro são as formas de casamento existentes no mundo: 1- Casamento por rapto ou captura, comum entre tribos em guerra; 2- casamento por compra ou troca, comum entre os índios; 3- casamento por ordem paterna, comum nos povos islâmicos e na China; 4- casamento por consentimento mútuo, ou com a autorização dos pais, quando realizado entre menores. No Brasil, com a Proclamação da República, o casamento civil foi instituído no País, pelo Decreto 181 de 24/01/1890. O casamento passou a ser um ato solene, com três elementos essenciais: l- Sexos diferentes: 2- consentimento dos contratantes; 3- testemunhas. De acordo com os artigos 192 e 194 do Código Civil, o novo Código, a partir de 11/1/2003, permite o casamento religioso em qualquer religião, com o registro da cerimônia no Cartório competente, para a devida legalização. Também o poder familiar foi estendido à mãe e a maioridade passou a ser de 18 anos de idade...

No dia a dia conjugal, muitas são as atribuições e problemas que ocupam o tempo e a mente do casal. Decorre então que o tempo físico e afetivo que sobra para os cônjuges dedicarem um ao outro, vai se estreitando perigosamente, o que para algumas pessoas que já não se dão bem, é até algo desejado. Numa relação afetiva permanente, o saber amar ou amar com competência, consistiria basicamente em evitar a falta de diálogo e a dispersão de cada um para um lado.

Emmanuel, no livro “Vida e Sexo”, diz: “A princípio, exposto a aventuras poligâmicas,
O homem avança de ensinamento em ensinamento, para a monogamia, reconhecendo
a necessidade de equilíbrio em matéria de amor.” Como figuração, lembramos que antigamente o homem possuía harém, onde co-existiam muitas mulheres para o seu prazer. Hoje o homem tem uma esposa ou companheira, enquanto outros homens ainda possuem esposa e amantes. É nessa área – a da realização amorosa – que se iniciam as primeiras dificuldades da existência a dois e, consequentemente, nas relações familiares. Dificilmente cônjuges que não se entendem no campo amoroso, poderão desempenhar satisfatoriamente as funções da paternidade e da maternidade.

Unir um homem e uma mulher pode ser mais complicado do que parece à primeira vista. Tanto um como o outro possuem dois lados, igual a uma moeda; o lado positivo e o lado negativo. Na fase de namoro até o casamento todos apresentam apenas o seu lado positivo, ficando o lado negativo, para ser conhecido posteriormente. A convivência vai depender da aceitação de ambos com suas duas faces.

Em cada país, em cada cultura, a união de pessoas assume características diferentes, que envolvem acordos de família; outras vezes é a fortuna, outras mais por segurança, por conveniências, por solidão e finalmente por amor. É muito raro vermos um par ideal; duas pessoas com visões de vida que se encaixam uma na outra, cuja situação evolutiva seja a mesma e com simpatias que se harmonizem. Tais uniões são raras e não se mostram muito desejáveis, pois é bom que uma pessoa evoluída se sinta atraída por outra menos evoluída, para benefício de ambas.

As vezes ouvimos alguém comentar: “Que pena fulano ter casado com cicrana! São tão diferentes.” Se essa pessoa tivesse mais vivência espiritual, saberia que ambos estão destinados a se beneficiar, nos poucos anos que passarem juntos. Não resta dúvidas que o resultado imediato dessa união, aparentemente inadequada, é uma série de dificuldades de adaptação de ambos. Haverá sempre choques de interesses e de graus evolutivos. Muitos casais vivem um verdadeiro inferno na intimidade, porém, para os parentes e outras pessoas, passam uma aparência de harmonia e felicidade.

É através de dificuldades, tais como viver com pessoas que não se afinam conosco, que aprendemos à verdadeira tolerância. Uma existência agradável e tranqüila, todos desejamos, mas nem sempre é melhor para a evolução do nosso espírito. Progredimos muito mais depressa ao longo do caminho da evolução, pelo sacrifício do trabalho ao nosso próximo e pelo sofrimento que resgata as nossas faltas, que nos parece às vezes, ser um método duro e impiedoso.

Analisando o elevado percentual de casamentos e uniões que terminam em separação, verificamos como é difícil haver entre as pessoas, compreensão, respeito, tolerância, paciência e outras virtudes, que se vivenciadas, fariam com que as uniões perdurassem até a morte. As exceções ocorrem entre os casais que sejam afins e realmente religiosos. Falamos daqueles que põem em prática os ensinamentos morais pregados por Jesus. Vemos dessa maneira, que a religião é importante nessas uniões, porque trava os instintos agressivos que ainda não conseguimos eliminar, mas que o serão quando estivermos mais evoluídos.

Na Lei de Deus, o amor é o primeiro mandamento. O amar entre as pessoas, quando
posto em prática, evita atritos e a paz do lar permanece para felicidade do casal e dos filhos. Não há pior espetáculo do que as crianças presenciarem discussões acaloradas e agressões físicas entre os pais. Essas brigas provocam as separações e os traumas nos filhos, sem falar nas disputas pela posse dos filhos e dos bens materiais. Vemos assim, como é essencial a religião aos pais e filhos, para evitar a desagregação do lar. Dizem até que as uniões que atingem os dois anos, já passaram pela fase mais difícil, porque nesse período as pessoas retiraram a máscara e se apresentam como elas realmente são. Depois da morte, alguns espíritos não continuam necessariamente juntos, nem em existências futuras. Ambas se beneficiaram por terem estado juntas durante um período de tempo.

Nossa existência na Terra pode ser comparada a uma viagem, cuja duração varia de acordo com as nossas necessidades e o Determinismo Divino. A viagem terrena não é turística; ela é baseada em compromissos a tem por objetivo resgates e a conquista da sabedoria e virtudes. O casamento, com a conseqüente formação do lar, é o item mais importante dessa viagem, porque envolve a existência dos cônjuges e dos filhos. Concluímos então que se João veio para viver com Maria, irão se encontrar no momento exato, não importando a nacionalidade, a raça, a cultura ou a posição social que tenham.

Martins Peralta, no livro “Estudando a Mediunidade”, classifica as uniões em cinco tipos principais: 1º- Acidentais – encontro de almas inferiorizadas, por efeito de atração momentânea, sem qualquer afinidade espiritual; 2º- Sacrificiais – reencontro de alma iluminada com alma inferiorizada, com o objetivo de ajudá-la a evoluir; 3º- Provacionais – reencontro de almas para reajustes necessários à resgates de débitos e à evolução de ambas; 4º- Afins – reencontro de almas amigas para consolidação de afetos e evolução espiritual; 5º- Transcendentais – reencontro de almas engrandecidas no bem, que se unem para ajudarem outras almas a evoluirem e promoverem realizações superiores. Com exceção da união acidental, todas as outras obedecem a uma programação feita no plano espiritual.

Sendo a Terra um planeta de provas e expiações, a grande maioria dos casamentos e uniões, são provacionais; as pessoas têm ligações de existências passadas e se encontram em processo de reajustes, ajudas, realizações e evolução espiritual. A Lei Divina os une, a fim de que, pelo convívio diário, transformem a animosidade de ontem em laços de fraternidade e amor no presente. A prova disso é a desarmonia, os desentendimentos, os problemas nos lares, que às vezes lamentavelmente, terminam em agressões físicas. Relações difíceis de reajustes devem evoluir para relações de amizade. Na medida em que elas evoluem para a amizade; mãe e filho, pai e filha, irmãos, demonstra que a distância espiritual existente, estaria diminuindo gradativamente. Significaria que inimigos do passado estão fazendo as pazes, tornando-se espíritos simpáticos e afins.

Não separeis o que Deus juntou. Com esse argumento, algumas religiões se posicionaram contra o divórcio, alegando que o casamento, sendo uma união divina, o
ser humano não tem autoridade para desfazê-lo, através de leis por ele criadas. A esse
argumento, a Doutrina dos Espíritos apresenta outro argumento muito mais sábio e coerente que diz: “Não separeis o que o Amor juntou.” Allan Kardec, no “Evangelho Segundo o Espiritismo”, dedica o capítulo 22 a questões sobre o casamento, do qual tiramos este trecho: “Imutável só o que vem de Deus. Tudo o que é obra dos homens está sujeito a mudanças. Na união ou casamento, o que é de origem divina é o sentimento de amor e a complementação dos sexos para que se opere a substituição dos seres que morrem. Existe ainda outra lei divina, imutável como todas as Leis de Deus, exclusivamente moral: A Lei do Amor. Como Deus é Amor, o casal que vive ligado pelos laços do amor, está abençoado por Deus e ninguém deve separá-los, sob a alegação de que não se casaram no civil ou nesta ou naquela religião.”

Segundo a Doutrina dos Espíritos, somente as Leis Divinas são eternas e imutáveis em todos os tempos e em todo o Universo. As leis humanas mudam segundo os tempos, os lugares e o progresso da Humanidade. A lei do casamento é humana e como tal, pode ser modificada. Se na convivência do casal, não existe mais amor, amizade, diálogo, compreensão e tolerância; se a desarmonia, o mal estar, a agressão verbal e física e a inimizade se instalou entre os dois, será difícil manter e, muito menos dizer que essa união é feliz e será duradoura. Após um período de convivência nessas circunstâncias, que pode ser curto ou longo, sem que haja entendimento, e, para que dessa união e desunião não venha a suceder algo pior que simples separação, é que com pesar, se aconselha separar, o que já estava de fato separado.

O divórcio também é uma lei humana, cuja finalidade é regularizar essa separação e dar liberdade às pessoas envolvidas, de prosseguirem vivendo, adiando parte do compromisso assumido na Espiritualidade. Com relação a adiar a dívida, Chico Xavier certa vez fez uma colocação oportuna. Disse ele: “Os bancos financeiros fornecem moratória e reformas para débitos de clientes. Será que o Banco da Providência Divina está em tal penúria que não nos possa dar tempo, para depois resgatarmos as nossas dívidas, para não cairmos em delito maior?”

André Luiz, no livro “Ação e Reação”, narra um caso de separação conjugal que evitou a consumação de um crime e o agravamento da dívida de um dos cônjuges. Conta ele que: “Um esposo seduzido pelos encantos de uma jovem, tudo fazia para que a esposa o abandonasse. Fascinado pela amante, passou a odiar a esposa. Planejou matá-la de forma que o fato passasse como autêntico suicídio. Assim acontecendo, poderia unir-se definitivamente com a amante. De madrugada, levantou-se, apanhou a arma e saindo do local onde dormia, pois já dormiam separados, passou pelo quarto das crianças e se dirigiu para o aposento onde dormia a esposa. Nesse momento, os espíritos protetores da família, utilizando-se de recursos magnéticos, despertam uma das filhas que aos gritos acorda a mãe. A esposa levantando e vendo o marido no corredor com o revolver, longe de suspeitar suas intenções de matá-la, lhe pede que ele não se mate; ela lhe concederia a separação que ele tanto lhe pedira e almejava.” E assim, foi evitado um crime com conseqüências maiores.

Analisando o caso, o assistente espiritual fez estas considerações: “Existe, no Evangelho de Mateus, certa passagem na qual afirma Jesus que a separação na Terra,
é permitida a nós, pela pobreza e dureza dos nossos sentimentos.” Emmanuel, refere-se ao divórcio como “medida extrema” a ser aplicada em situações muito graves. Nestes casos, o divórcio ou a separação resolve temporariamente o problema, porque interrompe a provação que terá de ser complementada no futuro, pelo menos por parte do que provocou a separação, ou que não fez esforço para levar até o fim a provação, se esta não chegou ao seu término.

O bom senso, com base nos ensinamentos morais de Jesus nos diz que devemos evitar recomendar a separação, assim como não devemos censurar, quem recorre a essa solução, para os problemas conjugais. A decisão é de cada um, que deve ouvir a sua consciência e assumir ou seus atos. Concluindo, nos esclarece ainda Emmanuel, quando diz: “De todas as instituições existentes na Terra, nenhuma talvez mais importante em sua função educadora e regeneradora, do que a família. Temos no instituto doméstico, uma organização de origem divina, em cujo seio se encontra os instrumentos necessários ao nosso próprio aprimoramento espiritual e para a edificação de um mundo melhor.”

Quando Deus disse pela voz dos profetas: “Vós não sereis senão uma mesma carne”, e quando Jesus disse: “Vós não separeis o que Deus uniu”, referia-se a união segundo a Lei imutável de Deus que é o Amor, e não segundo a lei variável dos homens. Paixão, amizade, amor, assim como incompreensão, desunião e separação, são sentimentos e situações que fazem parte da existência do ser humano, dada a nossa condição de inferioridade espiritual.

A pessoa que conseguir levar até o fim, sua jornada expiatória com resignação e paciência, estará no final da sua jornada terrena, liberta para alcançar morada superior na espiritualidade. O Espírito de Verdade, no capítulo VI do “Evangelho Segundo o Espiritismo” nos aconselha dizendo: “Aqueles que carregam seus fardos e que assistem seus irmãos, são meus bem-amados.” E completou ao dizer:”Bem-aventurados os aflitos porque serão consolados”.


Que a Paz do Senhor esteja em nossos corações.


Bibliogtrafia:
Livro “Vida e Sexo”
“Estudando a Mediunidade”
“Ação e Reação”
“A Vigem de Uma Alma”
“Evangelho Segundo o Espiritismo”
Médium Chico Xavier –
Mentor Espiritual “Emmanuel”

BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS

BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS

Jesus iniciou suas pregações nas sinagogas das cidades do interior, e somente mais tarde, quando a multidão aumentou, foi que Ele passou a pregar nas praças públicas e ao ar livre.

Oferecendo o Reino de Deus, sobre o dos homens, reino de harmonia, paz, misericórdia e justiça, Jesus tinha capacidade para promover a maior revolução social, dentre as que já haviam sido tentadas. De fato; bem distanciada das clássicas e das religiões dogmáticas, que até hoje existem, filiadas ao Cristianismo, a doutrina que Jesus pregava exigia reavaliações objetivas e imediatas; exigia ações moralizadoras e resultados; exatamente como a Doutrina dos Espíritos exige hoje de seus adeptos, e não concepções teóricas e filosofias vazias. Por isso Jesus dizia sempre: “Pelos frutos conhecereis as árvores e aquele que não der bons frutos, deve ser cortada e lançada fora.”

Quando vemos nos dias de hoje, nos ambientes ainda retardados ou ignorantes, que a tendência do povo é procurar confiadamente a curandeiros e charlatões, esperançosos em curas milagrosas, às vezes impossíveis, nada há de estranhável que naqueles dias, aquelas pessoas corressem desesperadas para junto de Jesus, que, realmente, tinha poderes e meios de auxiliar e curar aos que lhe solicitavam a cura.

Quando curava os leprosos e mandava que se apresentassem aos sacerdotes, era para que o benefício fosse completo, porque os sacerdotes eram obrigados a comprovar a cura e fornecer ao ex-doente, atestado de sua cura, cessando seu isolamento em lugares afastados, podendo eles, daí em diante, retornarem ao convívio da família e da sociedade.

As curas feitas por Jesus, eram aparentemente de processos diferentes: ora Ele impunha as mãos sobre os doentes, ora apelava para a fé do pedinte, ora utilizando seu imenso poder, simplesmente dizia: “estás curado”, ou “tua fé te curou”, ou “vai e não peques mais”. Muitas vezes por compaixão, curava vários doentes ou um grupo deles, estendendo os braços em sua direção, dizendo: “se tiverdes fé sereis beneficiados”, a exemplo do que fez com os dez leprosos; outras vezes operava curas à distância, usando apenas a palavra, e como exemplo; a cura do servo do centurião que pediu a Jesus, e que teve fé de que assim seria efetuado, sem precisar Jesus ir até sua casa, citados nos Evangelhos. Foram tantas as curas que Jesus fez que ficaram muitas sem serem mencionadas pelos evangelistas.

Vendo Jesus, a multidão que se aproximava e o procurava, mais pelas curas das enfermidades, do que pelos ensinamentos que transmitia, Ele subiu a um monte, sentou-se cercado dos seus discípulos e começou a pregar... O Sermão da Montanha. Não havia melhor oportunidade para que Ele falasse de temas tão essenciais para a Humanidade. Suas palavras se perpetuaram e, poucas pessoas souberam como Gandhi, o líder da Índia, dizer tão bem da relevância daquele sermão, quando disse: “Se se perdesse todos os livros sagrados, e só restasse o Sermão da Montanha, nada estaria perdido.”
Jesus então inicia a pregação dizendo: “Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados”... O sofrimento é a maneira com a qual resgatamos as faltas e os erros que, em nossa ignorância, cometemos na presente e em existências passadas, e, conseguimos a nossa felicidade futura; porque os que sofrem, têm contas a ajustar com a Justiça Divina. As lágrimas dos sofrimentos, quando suportadas resignadamente, lavam as manchas da consciência e purificam o nosso Espírito. Por isso, Jesus diz que são felizes os que choram, porque eles já iniciaram o resgate dos seus débitos, e, embora a Terra lhes reservem lágrimas, suaves consolações os esperam no mundo espiritual, libertos de remorsos, originados pelos maus atos praticados...

“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados”... A justiça da Terra é falha; ignora as causas profundas que levaram alguém a cometer uma falta; por isso julga superficialmente. Além disso, quantas injustiças tomamos conhecimento e quantos crimes ficam impunes. Qualquer um de nós pode observar diariamente, crimes que são praticados, mas que a justiça da Terra não castiga e nem corrige. Embora possamos iludir e nos livrar da justiça terrena, é impossível iludir a Justiça de Deus. E Jesus, profundo conhecedor da lei de “causa e efeito”, declara: “Não te importes se sofreres injustiças, ou se irmãos que te ofenderam e te iludiram, e não forem alcançados pela justiça das pessoas. No mundo espiritual, para onde irão todos, mais cedo ou mais tarde, pontifica um Juiz Incorruptível; Ele te fará justiça”.

Bem-aventurados os que sofrem perseguições da justiça, porque deles é o Reino dos Céus”... As nobres idéias que fazem com que a Humanidade progrida material, intelectual, moral, política e espiritualmente, encontram ferrenhos opositores que se esforçam por esmagá-las. E no mundo, formam-se castas, que se aproveitam de suas posições, para tirar o máximo proveito de seus poderes, e não admitem a mais leve mudança no regime que as mantém e favorece. Compreendendo a injustiça que semelhantes pessoas espalham na Terra, Jesus torna dignos da recompensa divina, as pessoas esclarecidas e de boa-vontade, que lutam para que a justiça reine em todos os setores das atividades humanas...

Essas compensações que Jesus promete aos aflitos da Terra, não podem ocorrer senão na vida espiritual. Sem essas certezas, as máximas pregadas por Jesus, seria um contra-senso, dizendo melhor, seria um engodo. Mas, então, pergunta-se, por que uns sofrem mais do que outros? Por que uns nascem na miséria e outros na opulência? Por que para uns, nada dá certo e para outros, tudo parece sorrir? – Compreende-se menos ainda, ver os bens materiais tão desigualmente repartidos; ver as pessoas virtuosas passarem dificuldades e sofrerem ao lado dos maus que prosperam e vivem nos prazeres. A fé no futuro pode consolar e levar à paciência, mas não explica essas anomalias que parecem brindar os maus e desmentir a Justiça Divina.

Porém, desde que se admita Deus, nosso Pai Celestial de infinito amor, justiça, bondade e misericórdia; não se pode concebê-lo sem perfeições infinitas, sem o que não seria Deus. Ora, meus irmãos, se Deus é soberanamente justo, não pode agir por capricho, nem com parcialidade, permitindo nascer crianças em perfeitas condições e outras defeituosas, existência de prazeres materiais para uns e sofrimentos para outros. Portanto, as vicissitudes da existência, têm, pois, uma causa, e, sendo Deus justo, essa causa deve ser justa também.

Elas são de duas espécies; uma tem a sua causa nas existências passadas e a outra na existência presente. Procurando a fonte dos males, se reconhecerá que muitos deles, são conseqüências do caráter e da conduta daqueles que os suportam. Quantas pessoas são vítimas de sua imprevidência, do orgulho, da ambição, do egoísmo, por má conduta, e por não terem limitado os seus desejos. Quantas uniões infelizes, algumas, porque foram realizadas sob a influência da vaidade e dos interesses, sem levar em conta a afinidade e os sentimentos. Quantos males e enfermidades, conseqüências dos excessos de todos os gêneros. Quantas atitudes impensadas e imprudentes que causaram desastres e sofrimentos. Quantos pais são infelizes com seus filhos, porque não combateram suas más tendências no princípio, recolhendo mais tarde o que deixaram acontecer; a falta de respeito e a ingratidão deles.

Que todos aqueles que são atingidos pelas vicissitudes e decepções da existência, interroguem friamente suas consciências, e verão o mais frequentemente, se não podem dizer: “Se eu tivesse, ou eu não tivesse feito tal coisa, eu não estaria hoje nesta situação. A quem culpar, pois, de todas as nossas aflições, senão a nós mesmos? O ser humano é assim, o próprio causador de seus males, mas ao invés de reconhecer, acha ele mais simples, acusar a sorte, a chance desfavorável, a má estrela e até mesmo a Providência Divina. O ser humano que sofre é semelhante a um devedor que deve uma grande quantia, e diz-lhe o seu credor: “Se me pagardes hoje, 50% do que me deves, eu vos darei quitação de todo o resto e sereis livre; se não o fizerdes, eu vos perseguirei até que tenhais pago o último centavos.” O devedor não seria mais feliz suportando toda sorte de privações para se liberar, pagando somente a metade do que deve? Ao invés de se lamentar do seu credor, não lhe agradeceria? Assim também procede o Pai Celestial com seus filhos devedores da sua Lei.

A pessoa evitará grande parte dos sofrimentos da existência, quando trabalhar para seu aprimoramento intelectual, moral e espiritual. Mas essa atitude, algumas vezes, vem um pouco tarde; quando a existência já foi prejudicada, as forças desgastadas, o tempo passou, e quando os atos negativos não podem mais ser reparados. Então a pessoa se põe a dizer: “Ah, se no início da existência eu soubesse o que sei agora, quantas faltas teria evitado. Perdi a jornada...” Mas, da mesma forma que o sol se ergue no dia seguinte, assim também depois da noite do túmulo, brilhará o sol de uma nova existência, na qual o Espírito poderá aproveitar a experiência do passado, como suas boas intenções para o futuro. Essa é a maneira pela qual o Pai Celestial concede a todos nós, a possibilidade de resgatarmos as dívidas do passado e fazermos a nossa própria evolução.

Se há males, dos quais, o ser humano é o causador na existência, há outros que na aparência, lhe são completamente estranhos e que parecem ser como por fatalidade. Citamos alguns exemplos: A perda de entes queridos, principalmente os que são arrimo de família; os acidentes que ninguém poderia impedir; os revezes de fortuna; os flagelos naturais; as enfermidades de nascimento, principalmente aquelas que tiram aos infelizes, os meios de ganhar seu próprio sustento pelo trabalho. Esses que nascem em semelhantes condições, seguramente, nada fizeram na existência presente, para merecerem uma “má sorte”.

Por que, pois, seres tão infelizes, ao passo que as vezes sob o mesmo teto, na mesma família, outros são favorecidos em todos os aspectos? Que dizer das crianças que morrem em tenra idade e não tomaram conhecimento de nada de bom ou de mal na existência? - Anomalias essas, que nenhuma religião até hoje pode explicar e justificar, a não ser a Doutrina dos Espíritos, e que seriam a negação da bondade e justiça de Deus, na hipótese de ser a alma, criada no mesmo tempo que o corpo. Que fizeram essas almas para suportar tantos sofrimentos, quando não puderam nem fazer o mal?

Deus, não nos pode punir pelo bem que se faz, nem pelo mal que não se fez. Porém, se o Espírito quando revestido de um corpo físico (ser humano) não fez o mal na presente existência, certamente o praticou em outras existências. Então, como não pode fugir da Justiça Divina, volta em nova existência para reparar e passar pelos mesmos problemas que causou aos seus semelhantes, no passado. Assim, o ser humano não é sempre punido nem resgata suas faltas na mesma existência, mas não escapa jamais às conseqüências de suas faltas. A sementeira é livre, ou seja, podemos fazer da nossa existência o que quisermos de bem ou de mal, entretanto sabendo, que vamos receber daquilo que plantarmos (realizarmos).

O Determinismo Divino é de progresso constante; podemos até estacionar por uma ou duas existências, mas se não evoluirmos pelo amor, o seremos impelidos pela dor. Não nos esqueçamos de que estamos vivendo num mundo inferior, onde somos mantidos pelas nossas próprias imperfeições. O sofrimento que não provoca lamentações, é sem dúvida uma expiação, como também é um indício de que foi escolhido voluntariamente pelo espírito, e não imposto, representando um sinal de progresso.

O espírito renasce, frequentemente, no mesmo meio em que viveu anteriormente, e em relação com as mesmas pessoas, a fim de reparar o mal que lhes fez, ou ajudá-los a progredir. Não lhe é permitido a lembrança da existência anterior, porque, se reconhecesse nela, aquelas pessoas que odiou, talvez seu ódio se revelasse. Se tivesse sofrido algum mal de quem é filho hoje, poderia repudiar sua mãe. Esse esquecimento, somente ocorre durante a existência no corpo físico. Reentrando na vida espiritual, o espírito retoma as suas lembranças de existências passadas e também as da existência que vêm de concluir, e se as ações praticadas durante ela, foram inferiores, o espírito sofre também na espiritualidade.

Tempo vem, em que o espírito liberto das suas imperfeições, alçará a planos superiores onde não mais passará pelas provas dos sofrimentos.

“Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados”...por estas palavras, Jesus nos anuncia a compensação que espera aqueles que sofrem com resignação, que faz abençoar o sofrimento, nos indicando a purificação da nossa alma. Essas faltas passadas e presentes que nos causam os sofrimentos, suportados pacientemente sobre a Terra, nos poupam séculos de dores em outras existências. Mas, para aquele que não crê na eternidade, que acredita que tudo nele se acaba com a existência material e que deseja abreviar seus sofrimentos e suas misérias pelo suicídio, deve ficar sabendo que a vida não se acaba e que esses sofrimentos serão acrescidos agora de suas funestas conseqüências, no plano espiritual.

Devemos, pois, ficar resignados e felizes porque Deus permitiu que pagássemos nossos débitos, o que nos assegura a Paz e a Felicidade no futuro. Seremos felizes se quitarmos os nossos débitos, porque estaremos livres; mas se continuarmos a nos endividar com a Justiça Divina, continuaremos sofrendo e mais difícil será alcançarmos a libertação tão almeja.

Do alto do Monte, tomado de tristeza pelas desventuras humanas, Jesus ensinava às multidões, dizendo: “Vós sois bem-aventurados, vós que sois pobres, porque o reino dos céus é para vós. Vós sois bem-aventurados, vós que agora tendes fome, porque sereis saciados. Vós sois felizes, vós que agora chorais, porque rireis”, e os meios de conquistar o Reino dos Céus... e recomendava ainda; resignação na adversidade, mansidão nas lutas do dia a dia, misericórdia no meio da tirania, e, higiene de coração, para que pudessem ver a Deus...


Senhor, nos ajude a trilhar o caminho que nos evite os sofrimentos.


Bibliografia:
“Livro dos Espíritos”
Evangelho de Jesus
Evangelho Segundo o Espiritismo

Jc.
S.Luis, 29/02/1996