sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

A VIDA E A OBRA DE CAIRBAR SCHUTEL

A VIDA E A OBRA DE CAIRBAR SCHUTEL

Hugo Gonçalves, nascido em Matão-SP., que teve contato direto e pessoal, quando adolescente, com o apóstolo do Espiritismo no Brasil, faz um depoimento sobre a existência e a obra de Cairbar Schutel, cujo nascimento é comemorado pelos espíritas, no dia 22 de setembro.

Falar de Cairbar Schutel, é muito difícil porque ele foi, a meu ver, o expoente da verdade, da justiça e do amor. Um homem que soube ser grande dentro da sua humildade; que se escondeu atrás de seus feitos extraordinários; que soube se conduzir no mundo, defendendo a Doutrina e propagando-a com todo o seu esforço, todo seu carinho e com toda sabedoria e amor. Por isso, digo ser difícil falar dele com uma linguagem à altura do que ele foi, do que representou e do que ele fez”, afirma Hugo Gonçalves.

“Cairbar nasceu no Rio de Janeiro, sendo seu pai comerciante de móveis. Aos 9 anos, ficou órfão de pai; dentro de pouco tempo perdeu também a mãe, sendo entregue aos cuidados do avô, que se encarregou de sua criação, educação e orientação. Mais tarde, foi morar em Araraquara-SP., onde se empregou na maior farmácia que ali existia, e, sendo tão bom farmacêutico, não demorou muito a ser convidado a assumir a gerência da farmácia. Depois resolve se mudar para Matão-SP., onde começou uma próspera carreira de boticário, como era conhecido o dono de uma botica, hoje farmácia.

Antes de ser espírita ele se tornou político, tanto que foi quem levou Matão a se tornar município, com seu trabalho e prestígio. Ele foi o primeiro prefeito de Matão, e comprou com seu próprio dinheiro, a casa que serviu para instalar a Prefeitura. Quando mais tarde, conheceu a Doutrina dos Espíritos, ele deixou de ser político; abandonou a política humana para abraçar a política do Céu.

Cairbar sentia muitas saudades de seus pais, e perguntava a si mesmo: Onde estarão eles? No inferno não podem estar porque eles não foram ruins. Para o Céu também não podem ter ido, porque não eram anjos nem santos. Onde estariam eles? – Por duas vezes ele fez essa pergunta ao vigário que era seu confessor. Na primeira vez, o padre disse-lhe que não se preocupasse com essas coisas, e na segunda vez lhe respondeu dizendo: “Olha, meu filho, isso é mistério de Deus. Nós não podemos querer imiscuir-nos nos mistérios da vida. Esqueça isso e cuide da sua existência”, concluiu o vigário.

Mas Cairbar insistiu e queria saber onde estavam seus pais e começou a pesquisar, a analisar e perguntar, até que um dia soube que na cidade havia um senhor conhecido por Manoel Calixto, cujo pai fazia sessão espírita. E foi então, através da mediunidade de Calixto Nunes Oliveira que ele assistiu pela primeira vez a uma sessão espírita, onde muitos espíritos se comunicaram; entre eles, manifestou-se um espírito que deu uma mensagem que encantou Cairbar Schutel. Jamais poderia aquele médium, homem humilde, que tinha uma linguagem tão simples, falar daquele jeito, dizendo coisas lindas, coisas maravilhosas e aspectos da sua existência e da tarefa que Cairbar teria que desempenhar em Matão. No dia seguinte, solicitado, Calixto forneceu a ele o endereço da Federação Espírita do Rio de Janeiro, e ele pediu por telegrama, as obras de Allan Kardec.

Quando começou a estudar a Doutrina dos Espíritos, ele descobriu um mundo novo. Ele então sentiu a necessidade de levar a doutrina a todas as pessoas, principalmente à gente de sua cidade, porque ele achava que todos deveriam saber dessas coisas que para ele eram sublimes. Então decidiu que deveria ter um local onde pudesse reunir as pessoas e estudar juntos, surgindo a idéia da fundação do Grupo Espírita Amantes da Pobreza, que foi inaugurado em 15 de julho de 1905. Ali ele começou os trabalhos, que não se limitaram apenas a reunir as pessoas para estudar e fazer trabalhos mediúnicos. Ele queria, antes de tudo, preparar as pessoas e começou a fazer palestras baseadas nas obras de Kardec. Então, muitas delas começaram a se encantar com os ensinamentos inclusive os pais de Hugo Gonçalves, que foram os primeiros companheiros dele. À medida que ele foi ampliando os seus conhecimentos e o seu trabalho na divulgação da Doutrina dos Espíritos, o vigário local se incomodava. O padre João Batista achava que o demônio estava querendo se alojar na cidade de Matão, e reuniu os fiéis, começando uma campanha contra Cairbar e a Doutrina, a ponto de ter sido convocado à cidade, um delegado que pudesse, unido à Igreja, proibir que Cairbar continuasse a fazer as pregações e os trabalhos mediúnicos.

Tudo foi em vão, e o vigário ampliou seu trabalho de perseguições mandando vir padres estrangeiros para Matão a fim de expelir o demônio da cidade. Foi então que Cairbar pensou que deveria ter um veículo de comunicação que levasse ao povo a palavra da verdade e desmascarasse os hipócritas. Surgiu assim, o jornal espírita “O Clarim”, justamente um mês depois da fundação do Centro Espírita. O primeiro exemplar do jornal saiu no dia 15 de agosto de 1905 e era publicado semanalmente e distribuído gratuitamente a todas as pessoas. Diz Hugo Gonçalves, que seu pai era um dos que saía levando o jornal pelas casas da cidade.

Havia gente que pegava o jornal com dois pauzinhos ou pano, para não contaminar as mãos, e punha-o no meio da rua e botava fogo; isso acontecia semanalmente na cidade. Foi assim que o “Clarim” realizou e realiza até hoje, o esclarecimento das passagens evangélicas e as consolações da doutrina espírita. Para fazer o jornal Cairbar montou uma gráfica, comprando uma máquina, cuja fotografia aparece no livro “Uma Grande Vida”, do professor Leopoldo Machado. Cairbar foi o primeiro no mundo a pregar o Espiritismo através do rádio, pela Rádio Cultura de Araraquara. Desse trabalho surgiu o livro “Conferências Radiofônicas”, onde estão as palestras que ele fez pelo rádio. Todos os domingos la estava ele na emissora, transmitindo a mensagem espírita. O programa era pago, e muito bem pago, porque ele só poderia conseguir isso com dinheiro. A repercussão foi grande, tanto que Cairbar se tornou conhecido em toda a região e em grande parte do estado de São Paulo. As conferências na rádio eram anunciadas na Revista Internacional de Espiritismo.

Ernesto Bozzano, na Itália, recebendo a revista e vendo nela a notícia sobre o programa radiofônico num lugarejo do estado de São Paulo, mandou para Cairbar, um cartão de parabéns pelo seu trabalho. Mas não veio só um cartão; vieram dois ambos com os mesmos dizeres, por causa da dúvida se chegaria ao seu destino. Isso foi providencial, porque naquela época estava no poder, o Sr. Getúlio Vargas e os Centros Espíritas estavam ameaçados de fechamento pelo Governo. A própria Federação Espírita Brasileira foi ameaçada de ser fechada. Cairbar ao receber os cartões de Ernesto Bozzano, que era a estrela do Espiritismo naquela época, na Itália, mandou um dos cartões para o Sr. Getúlio Vargas, junto com uma carta. Getúlio, diante disso, também se enterneceu por ver que na longínqua Itália, o maior dos cientistas estava parabenizando um trabalho que ele, Getúlio, desconhecia. Tudo isso serviu para afastar a ameaça de fechamento da Federação e dos Centros Espíritas, e ele pode continuar seu trabalho de divulgação do Espiritismo.

Cairbar na tribuna empolgava e emocionava, porque ele tinha uma voz que cativava, tinha muito conhecimento e ainda o dom da palavra arrebatando as multidões. Tanto é que, quando houve o movimento em favor da Constituição Brasileira, que daria a liberdade de pensamento e expressão, ele teve a coragem de organizar um congresso na cidade de São Carlos, que ele presidiu, e arrebatou as massas com sua palavra vibrante, defendendo a liberdade de pensamento, chegando até ao conhecimento das autoridades do País.

Certa vez o padre de Matão moveu uma campanha muito intensa contra Cairbar, procurando ele, por todos os meios, desfazer o trabalho que o espírita vinha realizando. Um dia ele estava pregando no Centro, quando chegou próximo dali a procissão da Igreja, com banda de música, com cantorias e foguetório, e ao passar em frente do Centro, o barulho era tanto que Cairbar parou de falar porque ninguém conseguia ouvi-lo. Ele então ficou esperando que a procissão passasse e o barulho cessasse. O pai de Hugo Gonçalves, português, quis sair à rua com uma tranca de porta para espalhar a multidão, no que foi impedido por Cairbar, que lhe disse: “Zé Maria, lembre-se do que disse o Mestre: “Quem com ferro ferre com ferro será ferido”. O português se sentou e nesse exato momento, houve um alarido e uma debandada geral na rua. Uns dizem que alguém gritou: - “Olha o boi!” Outros dizem que foi – “Olha o fogo!” O certo é que houve enorme confusão e todo mundo saiu a correr. No dia seguinte, os empregados da Prefeitura estavam recolhendo os pedaços de imagens de santos, de andores, de velas, porque naquele tempo saíam todas as imagens dos santos da igreja durante as procissões.

Cairbar era um verdadeiro cristão e defendia a Doutrina Espírita. Seria capaz de entregar até a camisa, se preciso fosse em favor de alguém que precisasse dele, mas na hora em que dissessem algo que denegrisse os princípios espíritas, ele era um gigante que defendia por todos os meios e forças as idéias espíritas. Ele se esquecia de si mesmo para servir a todos. O seu amor se estendia às criaturas como também aos animais e as plantas que ele mesmo cultivava. Nos fundos da sua casa, existiam seis quartos, em que colocava os doentes que ele mesmo tratava. Ele conduzia seus doentes numa carrocinha, conhecida como a “ambulância de Cairbar Schutel”, onde colocava um colchão para melhor acomodar a pessoa a ser transportada para sua casa, porque não havia hospital em Matão. Ele os tratava com remédios e os orientava para as verdades espirituais.

Cairbar achou que não podia ficar restrito à cidade de Matão, a umas dezenas de pessoas, a seus familiares e a seus amigos; todo aquele conhecimento que tinha poderia ser oferecido a muitas outras pessoas. Para isso, nada melhor do que outro veículo de comunicação – o livro. Então ele instalou uma Editora e só depois escreveu vários livros, sendo um dos mais conhecidos o que tem o título: “Parábolas e Ensinos de Jesus”, onde ele menciona todas as trinta e três parábolas proferidas por Jesus. No preâmbulo desse livro, ele afirma que a religião não se baseia unicamente na teoria, mas sim, na Historia, na Filosofia, nos fatos. Os fatos são o “tudo” na religião, como também na Ciência e na Filosofia. O que é a Ciência sem os fatos; a Química sem as reações; a Física sem os fenômenos; a Botânica sem as plantas; a Fisiologia sem o corpo humano; a Astronomia sem as estrelas? Assim também, como conceber a Religião sem os fatos que lhe servem de arrimo, e que vêm demonstrar a existência e sobrevivência da alma, e sua evolução contínua?

Na verdade, o que seria o Cristianismo sem as curas, sem as manifestações diversas, sem as aparições? O que seria o Cristianismo sem o cântico dos Anjos (espíritos), anunciando o nascimento de Jesus; sem os sonhos proféticos de José; sem a multiplicação dos pães e peixes; sem as aparições de Moisés e Elias no monte Tabor; sem as aparições de Jesus por quarenta dias após a sua morte física? – A Religião não se limita a um só mundo, a um só planeta; tem caráter universal e é muito mais do que os sacerdotes proclamam muito mais do que as igrejas concebem. Abrange os mundos o universo, e para que tenha caráter eterno, está no infinito, sem a dependência da vontade humana e sem estar circunscrita a uma família, a um povo, a uma nação, a um mundo.

Cairbar tinha um grupo mediúnico e os trabalhos de desobsessão eram realizados até mesmo sem a presença dos doentes que ficavam nos quartos. Aos domingos havia os trabalhos públicos com palestras. Ele era além de passista, possuidor também de faculdades de psicografia, psicofônia, vidência, audiência, curas, e sofria também como os outros que tratava, pois tinha de problemas cardíacos; angina do peito. No dia 30 de janeiro de 1938, após o trabalho público no Centro, os amigos conversavam animados no salão ao lado quando o médium Urbano de Assis Xavier foi incorporado por um espírito que disse: “Calma! Não se impressionem, mas peçam a Francisco Volpe que ponha as mãos sobre a cabeça de Cairbar Schutel”. Feito isso Cairbar reclinou a cabeça e desencarnou suavemente. Vinte minutos depois, o mesmo médium sentia a presença de Cairbar ao seu lado que lhe disse: “Urbano, conforte o pessoal. Estou satisfeitíssimo!” - Para que se tenha uma idéia da elevação espiritual de Cairbar Schutel, basta dizer que quando ocorre uma desencarnação, o espírito fica por algum tempo sem consciência, em sono reparador, assistido por Benfeitores Espirituais, e só após algum tempo, que pode durar até anos, é que ele pode se comunicar, o que não aconteceu com Cairbar e outros espíritos evoluídos que não precisam passar por esse estágio preparatório.

O sepultamento do corpo de Cairbar foi emocionante. A cidade parou, o comércio fechou as portas e a beira do túmulo, o Dr. Souza Ribeiro, em comovente despedida do amigo, chamou-o de: “O Espírita nº. 1 do Brasil”. Realmente se não fosse a atuação de Cairbar em defesa dos direitos de liberdade de pensamente e crença na Constituição Brasileira, talvez ainda estivéssemos sofrendo pressões e perseguições. . .”

Este foi o depoimento sobre a existência e a obra de Cairbar Schutel, feita por Hugo Gonçalves, editor do jornal “O Imortal”, da cidade de Cambé, no Paraná, que conviveu com Cairbar.


Bibliografia:
Jornal “O Imortal”


Jc.
S. Luis, 25/01/2004

O SUICÍDIO DE DEUS

O SUICÍDIO DE DEUS

A liberdade de culto, concedida aos cristãos através do Édito de Milão, no ano de 313, acarretou lamentáveis conseqüências para o Cristianismo. Saídos das sombras em que até então se escondiam, em virtude das terríveis perseguições que sofriam, os cristãos se viram livres para criar, cultivar e expandir antigas divergências originadas nos primeiros tempos do Cristianismo. Alcançaram eles o poder temporal e nele foram acolhidas e oficializadas as situações que melhor servissem aos objetivos de poder e dominação dos governantes. Começaram assim, oficialmente, as grandes defecções do Cristianismo, que perduram até os dias de hoje.

Três fatos importantes serviram para deturpar a pureza e a simplicidade existente no Cristianismo dos primeiros tempos: 1º- A deificação de Jesus, obra do Concílio de Nicéia, no ano de 325, convocado por Constantino, cuja finalidade era nitidamente política, para igualar Jesus aos demais deuses romanos. 2º- O Édito de Tessalônica, no ano de 380, de autoria de Teodósio I, que elevou o Cristianismo à condição de religião oficial do Império Romano. 3º- Sob a inspiração do mesmo Teodósio, o Concílio de Constantinopla I, no ano de 381, introduziu a figura do Espírito Santo, como também fazendo parte de Deus. Os cristãos, já nessa época, sob a sombra do catolicismo romano nascente, viram-se obrigados a conviver com o ininteligível, confuso e misterioso dogma da Santíssima Trindade.

A partir desses acontecimentos, a doutrina de amor e de consolação, de humildade e simplicidade, pregada e exemplificada pelo Mestre, cedeu lugar ao autoritarismo, aos dogmas, ao radicalismo, à intimidação e à violência, passando os religiosos a ocupar os suntuosos e sinistros templos pagãos, a freqüentar os palácios do poder, e eles que se tinham à conta de únicos detentores dos ensinamentos de Jesus, foram aos poucos, transformando-se em terríveis perseguidores dos cristãos que ousavam discordar de seus pontos de vistas e dos dogmas criados para agradar aos imperadores.

Acertado e definido que Jesus também era Deus, somente restava ao ser humano conviver com esse dilema criado pelos teólogos romanos. Assim, o Deus-Filho era em tudo igual ao Deus-Pai, pelo irrefutável fato de que ambos eram um só Deus, o que implicava na conclusão da mais absoluta igualdade entre ambos. Foi o que passou a ser ensinado pelos religiosos, e quem não aceitava era levado à fogueira.

Era ensinado também que Jeová, o Deus-Pai, era possuidor de um gênio vingativo e, ao ver-se contrariado nos seus caprichos, condenava as criaturas a penas severas e muito desproporcional à gravidade da falta cometida, estendendo a condenação aos futuros descendentes, conforme de lê no Velho Testamento; ao contrário do Deus-Filho(Jesus), pacífico e manso por excelência, que ensinava o amor e o perdão.
Essa culpabilidade hereditária por faltas que não cometeram, tem perseguido o ser humano ao longo de sua existência, por séculos e séculos. Agride o senso de justiça que existe dentro de cada um e conflita até com as frágeis leis dos homens. A Constituição do Brasil, obedecendo a uma norma de âmbito internacional no mundo moderno, estabelece no seu Artigo 5º, que nenhuma pena passará da pessoa do condenado. Isso demonstra que a justiça de um país do chamado terceiro mundo, se coloca muito acima da justiça emanada pelo Deus-Pai.

Uma análise da já referida diferença de gênio e de comportamento do Deus-Pai para o Deus-Filho, embora apregoada a identidade entre um e outro, mostra que o Deus-Pai, o primeiro, é rancoroso, vingativo, incapaz de relevar uma ofensa, mesmo sabendo que seu autor, era possuidor da mais profunda ignorância; enquanto que o Deus-Filho, o segundo, é compreensivo, paciente, possuidor de grande amor e tolerância, em face da indigência e dos poucos conhecimentos do ser humano. Vítima que foi o Deus-Filho, do mais hediondo crime cometido na Terra pelos homens, não se insurgiu contra os seus algozes e nem os condenou. Apenas, os perdoou, por sabê-los ignorantes do que faziam.

Para completar e complicar mais ainda essa história, os religiosos inventaram o dogma da Santíssima Trindade, e aí a participação divina deixou de ser dupla para ser trina, em razão da equivalência da unidade da trindade, o que significa dizer, mais simplesmente, que um é igual a três. Na tripartição divina, que embora tríplice é una, Jesus é igual a Deus, que, por sua vez é igual ao Espírito Santo, que de sua parte é igual a Jesus. Assim, Jesus é Deus; Deus é Jesus, ambos são o Espírito Santo, e este também é Jesus e Deus ? ? ?

Por esse dogma é inevitável o raciocínio de que tanto Jesus o Deus-Filho, quanto o Espírito Santo-Deus, colaboraram na ação do Deus-Pai, quando criou o Universo, o mundo, o homem e tudo o mais que existe sobre a Terra, debaixo dela, nos oceanos e em cima, no ar. Isso porque, durante dois mil anos de Cristianismo, os teólogos da Igreja Romana (ainda bem que é Romana e não Cristã) têm ensinado de acordo com os dogmas criados, de que os três, são o único e mesmo Deus. Daí se conclui que dessa tríplice unidade, torna-se impossível à separação dos três, para o fim específico de divisão e de definição das responsabilidades por tudo o que existe de bom ou de mal sobre a Terra.

Em face de tamanhas dificuldades de entendimento, produto exclusivo da capacidade criadora da mente humana descobrimos que o Deus-Pai, com a concordância do Deus-Filho e do Espírito Santo, ao exigir o sacrifício de Jesus, que também era Deus (3 em 1), para salvar a humanidade, exigiu o seu próprio sacrifício; o que significa dizer: Deus se matou. Estamos diante de um suicídio, e o que é mais grave: Suicídio de Deus ! - Sem se dar conta destas conclusões, é o que ensina a Igreja de Roma aos seus fiéis...

Já dizia Diderot: “Deus matou Deus, para apaziguar Deus”.
Depois de toda esta exposição, com tantas dificuldades para se entender, não é mais fácil e racional os ensinamentos dos Espíritos Superiores a Allan Kardec, afirmando que Jesus é um Espírito de elevada Superioridade, enviado por Deus para ajudar a Humanidade. Ele mesmo não procurou desdizer Simão Pedro, quando lhe respondeu: “Tu és o Cristo, Filho de Deus Vivo”, tendo Jesus lhe confirmado dizendo: “Bem-aventurado és, porque não foi a carne e o sangue quem te revelou, mas meu Pai que está nos Céus”.

Em sua própria voz, por diversas ocasiões, disse Jesus ser o Enviado do Pai, como mostram os textos abaixo, nos Evangelhos: “Aquele que me despreza, despreza aquele que me enviou” Lucas 10:16; “Aquele que me recebe não me recebe a mim, mas recebe aquele que me enviou” Marcos 9:37; “Ainda estou convosco por um pouco tempo e vou em seguida para aquele que me enviou” João 8:42 “Não tenho falado por mim mesmo; meu Pai, que me enviou, foi quem me prescreveu , por mandamento seu, o que devo falar; e sei que o seu mandamento é a vida eterna, o que, pois, eu digo é segundo o que meu Pai me ordenou que o diga” João 12:49/50 “Se me amásseis, rejubilaríeis, pois que vou para meu Pai, porque meu Pai é maior do que eu” João 14:28

Está bem caracterizado nas citações transcritas acima, que Jesus falava em nome do Pai Celestial (Deus) e foi por Ele enviado, fato este que mostra com clareza uma dualidade de personagens e exclui a igualdade entre elas, visto que o enviado é sempre alguém subordinado àquele que o envia. Em nenhuma passagem da sua existência na Terra, Jesus se disse ser Deus, mas apenas Filho de Deus, como também somos todos nós. Quanto ao Espírito Santo, constituem-se de Espíritos Superiores que são os mensageiros que cumprem as missões determinadas por Deus.

Para que se tenha uma melhor definição sobre Deus, servimo-nos de “O Livro dos Espíritos”, no capítulo primeiro, em que Allan Kardec pergunta aos Espíritos Superiores: “Que é Deus ?” – Os Espíritos respondem: “ Deus é a inteligência suprema, causa primaria de todas as coisas”. E completam dizendo ainda: “Deus é eterno, imutável, imaterial, único, todo-poderoso e soberanamente bom e justo.” Ainda volta a perguntar Kardec: “Onde se pode encontrar a prova da existência de Deus?” - Respondem os Espíritos: “Num axioma que aplicais às vossas ciências: não há efeito sem causa. Procurai à causa de tudo o que não é obra do homem, e vossa razão vos responderá”.


Bibliografia:
Velho e Novo Testamento
Livro dos Espíritos
Jornal “O Imortal”

Jc. 22/03/2005
Refeito em 28/12/2010

O PÃO DA TERRA, O ALIMENTO DO CÉU

O PÃO DA TERRA; O ALIMENTO DO CEU

Quando fazemos as orações diárias, os que assim procedem, pedimos sempre “o pão nosso de cada dia, nos dai hoje”.

Conseguimos o pão material pelo nosso trabalho e pelo nosso merecimento, enquanto que o alimento espiritual conseguimos pelo cumprimento e pelo respeito às Leis Divinas. Entretanto, poucas são as pessoas que se preocupam em adquirir o alimento espiritual que é duradouro, para sempre. Disse Jesus, no Sermão da Montanha: “Portanto vos digo, não andeis cuidadosos, pensando o que comereis. Não é a alma, mas que a comida?”

A excessiva preocupação das pessoas pelas coisas materiais é responsável por grande parte do desassossego em que vivem. Travamos uma luta silenciosa, diariamente, não só para conseguirmos o necessário, como também o supérfluo. Sabendo disso, Jesus nos ensina que devemos nos preocupar menos com as coisas materiais e muito mais com as coisas do Espírito. Jesus não quis dizer com isso que cruzemos os braços; mas que trabalhemos confiantes no Pai Celestial, e nada nos faltará. O considerar e tratar apenas das coisas materiais apresenta grande perigo: - embrutece a alma. Todo aquele que só cuida do corpo, esquecido da centelha divina que traz dentro de si, materializa seu espírito, o que lhe acarretará grandes perturbações e necessidades na existência material, como na vida espiritual, pois quem esquece de Deus, não está amparado nem recebe a assistência divina, retardando ainda o progresso do espírito e mergulhando em dolorosas reencarnações.

Jesus nos ensinou ainda: “Olhai as aves do céu, não semeiam, contudo Vosso Pai as alimenta. Por ventura, não sois vós mais do que elas?” – Assim como Deus não abandona os mais humildes e pequeninos seres, cuidando para que tenham o alimento, assim também, se tivermos merecimento, não nos deixará faltar nada do que seja realmente necessário para a manutenção de nossa existência. Na verdade, nossos desejos, cuidados, ansiedade e ambições terrenas, não podem contrariar os desígnios de Deus. Devemos, portanto, aceitar humildemente Sua soberana vontade, porque só Ele pode dispor dos bens da Terra; e se não podemos acrescentar nada às coisas materiais que o Senhor determinou para nós, podemos aumentar em muito o nosso patrimônio espiritual, aplicando-nos em trabalhar o progresso de nossa alma.

Existem muitas pessoas julgando que o tempo empregado em assuntos espirituais, como a prece que se faz pelos necessitados e sofredores, o estudo do Evangelho, a visita a um doente, o pão repartido, o esforço para eliminar os vícios, o trabalho para nos tornarmos melhores, tolerantes, pacíficos e caridosos, seja tempo perdido, que melhor seria aproveitado no trato das coisas materiais. A todos os que procuram seu progresso espiritual, o Pai Celestial possibilitará as coisas materiais, por acréscimo de Sua misericórdia,
porquanto vosso Pai sabe que tendes necessidade de todas elas.
É maravilhosa a maneira como Jesus nos faz ver a Providência Divina cuidando da Sua criação. Desde a tenra e pequenina erva do campo, as aves e até o ser humano, tudo é objeto do Amor do Pai Celestial. Ninguém está abandonado nem desamparado; não há órfãos. A erva do campo e as aves do céu recebem seus alimentos através dos canais da Natureza, sem maiores esforços. O ser humano, entretanto, que já atingiu a idade do raciocínio, deve prover a sua própria subsistência. Deus sabe do que precisamos e todas as facilidades nos serão concedidas para vivermos. Deus deixa que as pessoas creiam que o pão terrestre é conquista delas, para que se aperfeiçoem no dom do trabalho. A verdade é que o pão de cada dia procede da Providência Divina. Senão vejamos: O lavrador cavará o solo, espalhará as sementes, cuidará e defenderá a lavoura e cooperará com a Natureza, mas... a germinação, o crescimento, a floração e a frutificação não são realizadas pelo lavrador, pois são da vontade do Pai Celestial.

‘Trabalhai, não pela comida que perece e precisa sempre ser renovada, mas pelo alimento que permanece para a Vida Eterna, a qual o Filho do Homem vos dará, porque vem de Deus”. O alimento da Terra acaba com o corpo enquanto que o alimento espiritual permanece para sempre. Quem somente se preocupa com o pão da terra, não tem o alimento do Céu; entretanto, quem trabalha pelo alimento do Céu, tem também por acréscimo, o pão da terra. No trabalho exclusivo do pão terreno, os membros se cansam, o suor goteja, o cérebro se aniquila, a existência se extingue. Entretanto, no trabalho do alimento do Céu, a fronte se eleva, o corpo se fortalece, a mente se aclara, a alma se engrandece e a existência se eterniza. “Trabalhai pela comida que precisa sempre ser renovada para manter o vosso corpo, porém não descuideis do alimento da alma, que permanece para a Vida Eterna”.

Joanna de Angelis, no livro “Alerta”, comenta: “Aplicas dinheiro na bolsa de valores, no mercado de capitais, em ações, atormentando-te com resultados incertos. Investes em títulos e moedas estrangeiras, em seguros diversos, pensando nas surpresas da má sorte. Acumulas cédulas, compras metais e pedras preciosas, resguardando-te em previdência. Adquires imóveis e contas de poupança capitalizando juros ante a inflação que elimina os recursos financeiros...”. Todas essas atitudes são materiais, e nos tempos atuais, mais realidade adquire essas palavras, neste mundo em que, ao lado daqueles que lutam para sobreviver, existem aqueles que esbanjam para “super-viver”, mesmo que isso custe a eles uma dívida moral perante a justiça divina.

Joanna complementa afirmando: “Entretanto, por maior prudência e previdência, os rumos do futuro são imprevisíveis. As bolsas, os mercados, os títulos, os imóveis, as jóias e os seguros não oferecem paz a ninguém... Muitos investidores, nos jogos e oscilações, ficam na miséria, enlouquecem, suicidam-se e, mesmo que tudo transcorra em ritmo normal, com resultados felizes, os bens de que se fizeram mordomo temporário, amanhã mudam de mãos com a
chegada da morte”. Eis aí a grande realidade para a qual muitos fecham os olhos e outros se servem da corrupção, da impunidade, da violência, da violação dos direitos do próximo, tentando amealhar valores do mundo, que no mundo permanecerão, porque não poderão levar para o outro mundo. Por isso, nos sugere Joanna: “Investe no amor; transforma parte dos valores em pães, títulos de instrução, capitais de medicamentos, amparo às existências dos que falecem na miséria e na fome; porque, bom investidor, é aquele que, aplicando valores no campo social, pensando no exemplo de Jesus e seguindo a Lei de Deus, se faz merecedor das graças divinas no Plano Espiritual, para onde deverão ir um dia”.

O melhor dia para iniciarmos a prática do bem e do amor foi ontem, mas, mesmo assim, não percamos a oportunidade do dia de hoje, para que amanhã não tenhamos que lamentar a ocasião perdida e o vazio em nossa existência... Cientes da nossa responsabilidade, não podemos deixar de participar sempre das reuniões evangélicas, onde é feita a distribuição do alimento espiritual que alimenta para sempre, a exemplo da água viva, oferecida por Jesus, para a mulher samaritana; jamais ela voltaria a ter sede.

Se porventura alguém acha que cinco minutos, duas vezes ao dia, em 24 horas, o mínimo tempo de comunhão com o Pai Celestial, for demorado, é melhor se preparar para dificuldades e sofrimentos que podem tanto ser na Terra como na Espiritualidade. Tudo tem um fim neste mundo; o dinheiro se acaba, a saúde termina, as posses terrenas se esvaem, as preocupações, os compromissos e até o nosso corpo se acaba, mas as palavras do nosso Divino Mestre Amado permanecem em nosso espírito para sempre, porque são “Palavras da Vida Eterna”.

O nosso principal dever é lutar para conseguir os bens imperecíveis da alma, os bens espirituais, realizando assim o Reino de Deus em nosso íntimo. Quanto às coisas materiais, podemos estar tranqüilos: A Providência Divina fará com que elas nos cheguem às mãos, à medida que nossas necessidades reais se apresentarem. Não são alimentados por Ele os pássaros do Céu?’



Bibliografia:
Evangelho de Jesus
Livro “Alerta”

Jc.
S.Luis, 20/01/2009