sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O SUICÍDIO DE DEUS

O SUICÍDIO DE DEUS

A liberdade de culto, concedida aos cristãos através do Édito de Milão, no ano de 313, acarretou lamentáveis conseqüências para o Cristianismo. Saídos das sombras em que até então se escondiam, em virtude das terríveis perseguições que sofriam, os cristãos se viram livres para criar, cultivar e expandir antigas divergências originadas nos primeiros tempos do Cristianismo. Alcançaram eles o poder temporal e nele foram acolhidas e oficializadas as situações que melhor servissem aos objetivos de poder e dominação dos governantes. Começaram assim, oficialmente, as grandes defecções do Cristianismo, que perduram até os dias de hoje.

Três fatos importantes serviram para deturpar a pureza e a simplicidade existente no Cristianismo dos primeiros tempos: 1º- A deificação de Jesus, obra do Concílio de Nicéia, no ano de 325, convocado por Constantino, cuja finalidade era nitidamente política, para igualar Jesus aos demais deuses romanos. 2º- O Édito de Tessalônica, no ano de 380, de autoria de Teodósio I, que elevou o Cristianismo à condição de religião oficial do Império Romano. 3º- Sob a inspiração do mesmo Teodósio, o Concílio de Constantinopla I, no ano de 381, introduziu a figura do Espírito Santo, como também fazendo parte de Deus. Os cristãos, já nessa época, sob a sombra do catolicismo romano nascente, viram-se obrigados a conviver com o ininteligível, confuso e misterioso dogma da Santíssima Trindade.

A partir desses acontecimentos, a doutrina de amor e de consolação, de humildade e simplicidade, pregada e exemplificada pelo Mestre, cedeu lugar ao autoritarismo, aos dogmas, ao radicalismo, à intimidação e à violência, passando os religiosos a ocupar os suntuosos e sinistros templos pagãos, a freqüentar os palácios do poder, e eles que se tinham à conta de únicos detentores dos ensinamentos de Jesus, foram aos poucos, transformando-se em terríveis perseguidores dos cristãos que ousavam discordar de seus pontos de vistas e dos dogmas criados para agradar aos imperadores.

Acertado e definido que Jesus também era Deus, somente restava ao ser humano conviver com esse dilema criado pelos teólogos romanos. Assim, o Deus-Filho era em tudo igual ao Deus-Pai, pelo irrefutável fato de que ambos eram um só Deus, o que implicava na conclusão da mais absoluta igualdade entre ambos. Foi o que passou a ser ensinado pelos religiosos, e quem não aceitava era levado à fogueira.

Era ensinado também que Jeová, o Deus-Pai, era possuidor de um gênio vingativo e, ao ver-se contrariado nos seus caprichos, condenava as criaturas a penas severas e muito desproporcional à gravidade da falta cometida, estendendo a condenação aos futuros descendentes, conforme de lê no Velho Testamento; ao contrário do Deus-Filho(Jesus), pacífico e manso por excelência, que ensinava o amor e o perdão.
Essa culpabilidade hereditária por faltas que não cometeram, tem perseguido o ser humano ao longo de sua existência, por séculos e séculos. Agride o senso de justiça que existe dentro de cada um e conflita até com as frágeis leis dos homens. A Constituição do Brasil, obedecendo a uma norma de âmbito internacional no mundo moderno, estabelece no seu Artigo 5º, que nenhuma pena passará da pessoa do condenado. Isso demonstra que a justiça de um país do chamado terceiro mundo, se coloca muito acima da justiça emanada pelo Deus-Pai.

Uma análise da já referida diferença de gênio e de comportamento do Deus-Pai para o Deus-Filho, embora apregoada a identidade entre um e outro, mostra que o Deus-Pai, o primeiro, é rancoroso, vingativo, incapaz de relevar uma ofensa, mesmo sabendo que seu autor, era possuidor da mais profunda ignorância; enquanto que o Deus-Filho, o segundo, é compreensivo, paciente, possuidor de grande amor e tolerância, em face da indigência e dos poucos conhecimentos do ser humano. Vítima que foi o Deus-Filho, do mais hediondo crime cometido na Terra pelos homens, não se insurgiu contra os seus algozes e nem os condenou. Apenas, os perdoou, por sabê-los ignorantes do que faziam.

Para completar e complicar mais ainda essa história, os religiosos inventaram o dogma da Santíssima Trindade, e aí a participação divina deixou de ser dupla para ser trina, em razão da equivalência da unidade da trindade, o que significa dizer, mais simplesmente, que um é igual a três. Na tripartição divina, que embora tríplice é una, Jesus é igual a Deus, que, por sua vez é igual ao Espírito Santo, que de sua parte é igual a Jesus. Assim, Jesus é Deus; Deus é Jesus, ambos são o Espírito Santo, e este também é Jesus e Deus ? ? ?

Por esse dogma é inevitável o raciocínio de que tanto Jesus o Deus-Filho, quanto o Espírito Santo-Deus, colaboraram na ação do Deus-Pai, quando criou o Universo, o mundo, o homem e tudo o mais que existe sobre a Terra, debaixo dela, nos oceanos e em cima, no ar. Isso porque, durante dois mil anos de Cristianismo, os teólogos da Igreja Romana (ainda bem que é Romana e não Cristã) têm ensinado de acordo com os dogmas criados, de que os três, são o único e mesmo Deus. Daí se conclui que dessa tríplice unidade, torna-se impossível à separação dos três, para o fim específico de divisão e de definição das responsabilidades por tudo o que existe de bom ou de mal sobre a Terra.

Em face de tamanhas dificuldades de entendimento, produto exclusivo da capacidade criadora da mente humana descobrimos que o Deus-Pai, com a concordância do Deus-Filho e do Espírito Santo, ao exigir o sacrifício de Jesus, que também era Deus (3 em 1), para salvar a humanidade, exigiu o seu próprio sacrifício; o que significa dizer: Deus se matou. Estamos diante de um suicídio, e o que é mais grave: Suicídio de Deus ! - Sem se dar conta destas conclusões, é o que ensina a Igreja de Roma aos seus fiéis...

Já dizia Diderot: “Deus matou Deus, para apaziguar Deus”.
Depois de toda esta exposição, com tantas dificuldades para se entender, não é mais fácil e racional os ensinamentos dos Espíritos Superiores a Allan Kardec, afirmando que Jesus é um Espírito de elevada Superioridade, enviado por Deus para ajudar a Humanidade. Ele mesmo não procurou desdizer Simão Pedro, quando lhe respondeu: “Tu és o Cristo, Filho de Deus Vivo”, tendo Jesus lhe confirmado dizendo: “Bem-aventurado és, porque não foi a carne e o sangue quem te revelou, mas meu Pai que está nos Céus”.

Em sua própria voz, por diversas ocasiões, disse Jesus ser o Enviado do Pai, como mostram os textos abaixo, nos Evangelhos: “Aquele que me despreza, despreza aquele que me enviou” Lucas 10:16; “Aquele que me recebe não me recebe a mim, mas recebe aquele que me enviou” Marcos 9:37; “Ainda estou convosco por um pouco tempo e vou em seguida para aquele que me enviou” João 8:42 “Não tenho falado por mim mesmo; meu Pai, que me enviou, foi quem me prescreveu , por mandamento seu, o que devo falar; e sei que o seu mandamento é a vida eterna, o que, pois, eu digo é segundo o que meu Pai me ordenou que o diga” João 12:49/50 “Se me amásseis, rejubilaríeis, pois que vou para meu Pai, porque meu Pai é maior do que eu” João 14:28

Está bem caracterizado nas citações transcritas acima, que Jesus falava em nome do Pai Celestial (Deus) e foi por Ele enviado, fato este que mostra com clareza uma dualidade de personagens e exclui a igualdade entre elas, visto que o enviado é sempre alguém subordinado àquele que o envia. Em nenhuma passagem da sua existência na Terra, Jesus se disse ser Deus, mas apenas Filho de Deus, como também somos todos nós. Quanto ao Espírito Santo, constituem-se de Espíritos Superiores que são os mensageiros que cumprem as missões determinadas por Deus.

Para que se tenha uma melhor definição sobre Deus, servimo-nos de “O Livro dos Espíritos”, no capítulo primeiro, em que Allan Kardec pergunta aos Espíritos Superiores: “Que é Deus ?” – Os Espíritos respondem: “ Deus é a inteligência suprema, causa primaria de todas as coisas”. E completam dizendo ainda: “Deus é eterno, imutável, imaterial, único, todo-poderoso e soberanamente bom e justo.” Ainda volta a perguntar Kardec: “Onde se pode encontrar a prova da existência de Deus?” - Respondem os Espíritos: “Num axioma que aplicais às vossas ciências: não há efeito sem causa. Procurai à causa de tudo o que não é obra do homem, e vossa razão vos responderá”.


Bibliografia:
Velho e Novo Testamento
Livro dos Espíritos
Jornal “O Imortal”

Jc. 22/03/2005
Refeito em 28/12/2010

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