domingo, 9 de outubro de 2016

FOLHAS ESPARSAS - 1ª Parte





 Origem do Cristianismo.  Vendo Deus os homens se hostilizarem numa existência de egoísmo – uns amontoando haveres, outros sucumbindo maltrapilhos e famintos, uns governando  como tiranos, outros obedecendo como escravos -, chamou Jesus, e disse-lhe: “Filho bem amado; vai á Terra, e dize àquela gente que eles todos são irmãos, filhos meus, criados por mim que tenho reservado a todos igual destino. Ensina-lhes que minha lei é o Amor. Esforça-te por fazê-los compreender essa lei; exemplificai-a do melhor modo  possível, ainda mesmo com o sacrifício  de tua parte. Faço empenho que o egoísmo desmedido, que impera no coração do homem, seja substituído pelo amor. Sei que isto é difícil, que vai custar muito,  mas não importa:  minha vontade é essa. Serás meu verbo na encarnação; falarás aos homens, instruindo-os na minha lei e Eu serei contigo”.
Jesus, filho dileto e obediente, ouviu as palavras do Pai, saturou-se delas, e, compenetrado da missão que recebera , veio ao mundo. Nasceu num estábulo, parta mostrar  em que desprezo  tinha as estultas vaidades deste mundo. Cresceu, fez-se homem, e deu início ao cumprimento da ordem recebida. Começou a instruir a Humanidade. Pregava nas ruas, nas praças públicas, nas praias, nas sinagogas, onde quer que o povo se reunisse. Percorria vilas, aldeias e cidades, anunciando e exemplificando a lei do Amor.
Dizia ele, dentre outras coisas:  Homens, vós sois irmãos; amai-vos mutuamente; pois em tal se resume a única e verdadeira religião. A vossa sociedade está dividida; há entre vós separações profundas. Uns dispõem de poder com tirania; outros se submetem como escravos. O grande oprime o pequeno. O fraco é esmagado pelo forte. Para os ricos, todas as regalias, todos os privilégios; para os pobres, trabalhos e angústias. Tendes concentrado toda a vossa aspiração na posse da terra com seus bens.  O egoísmo domina-vos. É necessário que vos reformeis. A existência que tendes no mundo passa como uma sombra, enquanto o Pai vos concede  para conquistardes  o futuro brilhante que Ele vos reserva. Aspirai, pois, aos bens espirituais, que o ladrão não rouba e a traça não rói. Tal é a vontade do Pai. Vós o adorais com os lábios, mas não o fazeis com o coração. Deus é Espírito e nesse caráter deve ser compreendido. Ele não está encarcerado nos templos de pedra, e a todos que o invocarem com fé, estes são seus filhos bem-amados. Os rituais e as cerimônias são coisas vãs, inventadas pelo homem.
 E enquanto assim ia falando, Jesus curava todas as enfermidades, inclusive leprosos, cegos de nascença e paralíticos. E tudo fazia por amor; não recebia nenhuma paga pelos benefícios que fazia. O povo escutava-o com avidez, pois, até então, jamais alguém pregara semelhante doutrina de amor e de igualdade. Grande era já o número dos que o seguiam e propagavam seus feitos.
O clero e as autoridades começaram a inquietar-se vendo na doutrina de Jesus um perigo para as instituições, e particularmente para os privilégios que desfrutavam  os representantes do Estado e da Igreja. Esses dois poderes resolveram agir em defesa de seus mútuos interesses seriamente ameaçados e trataram logo de prender Jesus. Antes de o fazer, prepararam o ânimo do povo, dizendo: O Nazareno é um impostor, inimigo da Igreja e de Cesar. Todos os prodígios que faz e por influência de Belzebu. E um herege quem nem guarda a tradição de Moisés e de nosso país. Sugestionado o povo ignorante, restava consumar-se a prisão.
Levado a Pilatos, que o achou inocente, disse aos sacerdotes: “Proponho que seja absolvido”. – Nunca! -  Disseram em coro os fariseus, os escribas e os sacerdotes. Se não o condenares apelaremos para César, pois ele é nosso rei, e Jesus se diz rei. Pilatos acovardado pela ameaça entregou Jesus para ser crucificado, ladeado por dois ladrões. Antes de Jesus exalar  o último suspiro, voltou-se para umas mulheres e alguns discípulos que choravam ao pé da cruz, e disse-lhes: - Não vos entristeçais; eu não vos deixarei órfãos, estarei sempre convosco, e, levantando os olhos para o céu, acrescentou: - Pai, cumpri o teu mandato...
O Sonho de Lutero.  Conta-se que certa vez, Lutero sonhara. Achava-se nos umbrais eternos e interrogou o anjo de guarda: - Estão aí os protestantes? – Não; aqui não se encontra nenhum protestante, respondeu o guarda. - que me dizes?!  Os protestantes não alcançaram a salvação mediante o sangue de Cristo? – Já disse e repito: aqui não há protestantes. – Será que aqui estejam os católicos daquela Igreja que abjurei? -        Não conhecemos aqui os filhos dessa Igreja. – Estarão aqui os seguidores de Maomé e Buda? – Não estão, nem uns, nem outros. – Por acaso o Céu está desabitado? – Tal não acontece. Incontáveis são os habitantes da Casa do Pai, ocupando as suas múltiplas moradas, disse o guarda. – Dize-me, então, quem são os que se salvam e a que Igreja pertenceram na Terra? – A todas e a nenhuma. Aqui não se cogita de denominações nem de dogmas. Os que se salvam são os que
fazem o bem, os que amam o próximo, os que amparam as viúvas e as crianças em suas aflições e que procuram aperfeiçoar-se, corrigindo-se de seus defeitos. Os que se salvam são os que obedecem à voz da consciência; os que aspiram à gloria de Deus, ao bem comum, à felicidade coletiva... – Basta! – atalhou Lutero. Já compreendi tudo: preciso voltar à Terra e fazer outra reforma na Reforma... Não sabemos se é verdadeiro este sonho atribuído ao ex-frade Agostinho. Se ele não sonhou isso, deveria ter sonhado.
O Estribilho Fatal.   É muito comum ouvirmos, aqui e acolá, este estribilho: “Se eu fosse rico, eu sei o que faria: Ao redor de mim jamais haveria necessitados, mas sou pobre, nada posso fazer”. “Se eu tivesse instrução, se soubesse falar, discorrer com acerto e precisão, defenderia com coragem a causa do Bem e do Direito, da Verdade e da Justiça, mas não tenho saber algum, vi-me impossibilitado, por isso ou aquilo, de estudar e de me instruir; portanto, que posso fazer?”  “Se eu fosse médico, ocupar-me-ia de preferência em atender com solicitude e carinho aos enfermos pobres, que vivem desprezados, e sucumbem à mingua de assistência. Mas, não sei curar, que hei de fazer?” “Se eu ocupasse posição de destaque na sociedade, se tivesse prestígio perante os que governam, muitas iniquidades eu evitaria muitos abusos eu saberia prevenir; mas não tenho influência algumas, que posso fazer?”  “Se eu dispusesse de tempo, ocupar-me-ia das coisas espirituais; procuraria educar e desenvolver as faculdades de meu Espírito. Mas, infelizmente não tenho tempo!”  “Se eu fosse industrial ou comerciante, tornaria os operários e caixeiros em meus interessados; mas ai de mim! vivo lutando pela existência!”  Até onde iriamos parar se continuássemos a dizer o enfadonho estribilho – “se eu fosse”, “se eu pudesse”  “se eu tivesse”?!
Por que será que todos se julgam deslocados quando se reportam a prática do Bem, ao cumprimento do dever moral? Porque não tem o rico a vontade de socorrer os pobres necessitados? Porque não se compadecem os médicos dos enfermos indigentes? E o homem culto, porque não pugna pelos ideais nobres, dando-lhes o melhor de sua inteligência e saber?  E o industrial e o comerciante prósperos, porque não se interessam em dividir seus gordos lucros com os operários e auxiliares honestos e diligentes??? Porque todos querem fazer o que não podem, e deixar de fazer o que podem? Porque não faz cada um o bem que podem fazer? Porque enxergam o dever alheio e não veem o seu próprio dever: Porque  alterar a ordem que o destino de cada um fez para si mesmo?

Porque lamentam “o não fazer” por “não poder”, quando se eximem de fazer o que podem e devem fazer? Porventura Deus vai julgar o ser humano pelo que ele deixou de fazer por não poder, ou o julgará por aquilo que deixou de fazer, podendo fazê-lo? Portanto, antes de nos lamentarmos do que não podemos fazer; façamos desde logo, o que podemos fazer, seja lá o que for. A verdade é  que nós podemos fazer alguma coisa, desde que queiramos. As lamúrias são subterfúgio, má vontade ou egoísmo, numa palavra.
Há pais que abandonam seus lares e filhos, e andam pregando moral às massas. Insensatos! Pretendem fazer o máximo sem fazer o mínimo. Pretendem atingir o dever longínquo, sem cumprir o dever imediato no lar.
A Força Positiva.  Nós nos achamos sob a influência de duas forças antagónicas entre si: a força positiva e a negativa. Consoante a ação desta ou daquela sentimo-nos grandes ou pequenos, capazes ou inertes, bondosos ou malvados. A primeira é força construtora, edifica sempre. A segunda é força demolidora, destrói fatalmente. Uma gera otimismo a outra engendra pessimismo; uma afirma a outra nega. A força positiva congraça, originando ondas simpáticas; a negativa dispersa, dando origem a ondas antipáticas. A corrente positiva é absoluta, tendo sua origem na fonte eterna da vida: Deus. A negativa é relativa, incerta, dúbia, ora ganhando ora perdendo intensidade e emana do ser humano, de seus defeitos, fraquezas e paixões. Logo que lhe seja dado discernir entre a influência negativa e a benfazeja, ele deixará de alimentar a força inimiga para absorver a energia criadora que tudo vivifica.
Ninguém triunfará na vida senão pela força positiva e nos planos superiores ela domina o ambiente. Nos planos inferiores é escassa e fugidia, como o clarão dos relâmpagos. Jesus comprazia-se em acentuar que só através da força positiva lhe era dado exercer sua missão de amor. O leproso de que nos fala a passagem, agiu mediante o influxo da força positiva, de que se achava possuído.  Seu pedido foi feito em linguagem firme:  “Senhor, se quiseres, podes tornar-me limpo”.  A resposta foi articulada no mesmo tom: “Quero; fica limpo”. A voz do céu, pela boca do seu legítimo intérprete, não podia vibrar em outro diapasão.  “A tua fé te curou”, “seja feito segundo tua fé”, “a tua fé te salvou”, e outros dizeres semelhantes têm sua explicação no poder dessa energia, na ação inconfundível da força positiva da qual Jesus operou as curas.
Ser e Não Parecer.  Trata-se de uma gravura representando um menino que, de cima de uma mesa, diz à sua mãe: “Veja como sou grande” A mãe lhe retrucou: “Meu filho, tu não és, mas apenas pareces grande, graças à altura desse móvel onde te achas. Procura ser e não parecer”.
Esta lição que o emérito educador Hilário Ribeiro, num dos seus livros, destina às crianças, é de toda a atualidade, até para os adultos. Se observarmos atentamente o que se passa na sociedade, verificaremos que tudo se faz, não no sentido  de ser, mas no de parecer. Realmente, quando se trata de qualidades e virtudes, é muito mais fácil simulá-las  que adquirir-las. O resultado, porém,  é que não é o mesmo.
Daí o transformarem a Religião em acervos de dogmas abstrusos e numa série de determinadas cerimônias que se executam quase maquinalmente: o Civismo, em toque de caixa e de cornetas, executados por indivíduos trajando uniformes; o Patriotismo, em discursos ocos e plataformas  pejadas de falazes promessas, formuladas já com o propósito de não se cumprirem; a Política, finalmente, em processo de enganar e explorar o povo.
A Moral, considerada outrora por Sócrates como a ciência por excelência, consiste hoje em acompanhar passivamente a opinião da maioria dominante, com menosprezo dos mais comezinhos princípios do decoro e da decência. E sob tal critério, tudo se agita e se move no afã de aparentar, de simular e de parecer aquilo que devia  ser, mas, em realidade, não o é.
Cumpre rememorar as palavras d’Aquele que foi, neste mundo, a personificação  da Verdade:  “Este povo honra-me com os lábios, mas seu coração está longe de mim. Naquele dia me dirão: Senhor, Senhor!  Mas eu retrucarei abertamente: “Não vos conheço; apartai-vos de mim, vós que vivestes na iniquidade e na mentira.”
 A Figueira Estéril.  “Um homem tinha uma figueira plantada na sua vinha e foi buscar fruto nela, e não o achou. Então, disse ao viticultor:  Há três anos que venho procurar  fruto nesta figueira, e não o acho; corta-a;  para que está ela ocupando a terra inutilmente? Respondeu-lhe o viticultor: Senhor, deixa-a por mais este ano, até que eu cave em volta e lhe deito adubo; e, se der fruto, bem está; mas se não, cortá-la-ás.”   (Evangelho)
A verdade central da parábola acima é a seguinte: Ninguém deve, inutilmente, ocupar  lugar  na  sociedade. Esta na Terra, como as
árvores, para produzir frutos. Para tal, o motivo da nossa  encarnação. Cada pessoa é uma célula do grande organismo chamado Humanidade: portanto, mister se faz que ela, semelhante às células do nosso corpo, desempenhe sua função. O parasita é aquele que consome, sem produzir nada. Todos consomem; logo todos têm obrigação de produzir. Aquele que foge ao cumprimento desse dever  é indigno da coletividade da qual faz parte.
O animal, agindo no círculo estreito de seu gênero, limita-se à luta pela sua conservação própria. O ser humano, cujos horizontes se dilatam para muito além  desse acanhado sistema, há de engendrar frutos mais preciosos. O fruto, portanto, que o ser humano deve apresentar é a melhoria própria, é o aperfeiçoamento de seu caráter, é o desenvolvimento de todos os atributos e faculdades de seu Espírito, de modo que, ao sair deste mundo se mostre aos olhos da sua consciência – esse juiz impoluto – melhor do que quando aqui chegou. E não será, acaso, esse o alvo da verdadeira religião?
A religião que ora ressurge das páginas do Evangelho não é a religião da velhice; é a religião forte e varonil dos moços. O descaso por este apelo do Senhor demanda o emprego de adubo e o revolvimento da terra em torno da figueira, para que gere figos; isto é, o sofrimento abalando o íntimo do nosso ser, desperta a consciência, acorda a razão, afina os sentimentos, transformando as almas em fecundas obras de amor...
O Céu de Jesus.  Jesus é a luz do mundo. O Cristianismo é um sol que não tem ocaso; acompanha a Humanidade em sua evolução, através dos séculos, determina, regula e promove mantendo o espírito do ser humano em constante comunhão com o Pai.
O Céu de Jesus é diferente de todos os outros céus. Nada tem de comum com os Campos Elísios dos gregos, nem com o Nirvana dos hindus, nem com o seio de Abraão dos judeus, nem com a mansão dos privilegiados da graça, nem com os tabernáculos de beatitude inerme, cujas portas se abrem mercê de cerimônias mercantilizadas. O Céu de Jesus é um campo de ação, e um teatro de atividades; é um meio onde a vida se ostenta sob aspecto cada vez mais intensos. E por ser assim, ele o compara, em seu Evangelho, com a semente e o fermento.
A semente contém em seu âmago fortes energias latentes, que só aguardam ocasião propícia para entrar em ação. O fermento é uma
força condensada que leveda, que põe em atividade a massa em cujo seio é introduzida, determinando seu crescimento. Elas são, pois, imagens de potências ocultas de poderes latentes, tal como se verifica no espírito do ser humano. O Céu de Jesus é o reinado do Espírito, é o estado da alma livre, que, emancipando-se do cativeiro material, ergue altaneiro voo sem encontrar mais obstáculos.
Tal ideia do Céu, que Jesus nos dá é o contraste dos outros céus, visto que, longe de ser a região da inércia, da estagnação e da beatitude passiva, é um local de ação, de atividade franca, de conquista dum bem maior, dum estado melhor cujo antegozo nos vai sendo dado fruir desde logo, a guisa de incentivo. Qual e a  consciência livre ou a inteligência lúcida, capaz de trocar a verdade informada pelo filho de Deus, pelas fantasias e quimeras forjadas pelas paixões humanas?
Valor Imperecível.  O ser humano vale mais que o mundo com as suas jazidas, os seus diamantes, e toda sorte de pedras preciosas. Não obstante, o homem esquecido de seu valor, cujo preço é inestimável, consome-se e esgota-se na conquista do que é perecível, daquilo cujo valor é muito discutível, visto como só vale mediante certa convenção estabelecida pelos caprichos e veleidades do mesmo homem.
Assim, pois, ele dá grande valor ao que, de fato, tem valor relativo ou nenhum, olvidando o valor de si próprio, valor positivo e incalculável. Resulta disso que o homem trata com grande zelo aqueles valores, menosprezando o tesouro fabuloso que em si mesmo encerra, que ele, o homem, em realidade é. Ao dinheiro, à prata, ao ouro e a outros bens materiais, tidos como preciosos, ele sacrifica o único bem real e inconfundível, que é ele mesmo.
É por isso que se julga, no mundo,  como perdida, a existência de alguém  que transcorre na humildade e na pobreza de um lar ou na reclusão  dum hospital. Em tais condições, o homem se vê sempre impossibilitado de buscar aquilo que ele supõe valioso. No entanto, é quase certo, que tais existências sejam preciosíssimas àqueles que as suportam.
O mundo admira o fausto, o luxo, a notoriedade, o exterior – numa palavra. Mas o verdadeiro valor está no interior do ser humano: está no seu caráter, nos seus sentimentos, na sua inteligência na sua moral. Não é o bem material que encerra o valor, mas é o espírito, a alma, o eu imortal, sede das faculdades e poderes  cuja origem é divina. Desenvolver e educar tais predicados, é realizar o objetivo supremo da vida.
Encerrem o ser humano num calabouço, escuro, húmido e infecto e aí mesmo ele conservará intacta a oportunidade de aprimorar seus sentimentos, de galgar novos degraus apelando para suas energias íntimas, logrando elevar-se, das misérias da Terra às grandezas do Céu. E é tão importante, tão santa e tão sagrada a conquista desse ideal, que Deus, em sua soberana justiça, assegura-lhe a possibilidade de realizá-la.
Evolucionismo.  Aquilo que vemos hoje não começou a ser tal como se nos apresenta na atualidade. Esta afirmação é verdadeira, já considerada no plano da existência.
A imprensa moderna com suas “Marinones” rotativas em nada se parece com a de Gutemberg; esta ao lado daquela, é uma péssima caricatura. Outro tanto podemos dizer dos barcos a vapor, das locomotivas, dos veículos, das máquinas destinadas às indústrias e o maquinismo em geral. Esses engenhos cuja perfeição admiramos, representam sempre o resultado de milhares de alterações e aperfeiçoamentos que se lhes foram introduzidos à medida  que suas falhas e senões eram  descobertos.
E da primitiva imprensa não existe mais que a ideia, assim sucedeu com o barco a vapor, de Fulton, que, comparado  com os barcos modernos, não passa de uma jangada disforme. A ideia irrompe no cérebro de um, porém a obra perfeita é resultante do concurso e da cooperação de muitos, através das gerações. As ciências, as artes, em suas várias modalidades e as religiões  e demais manifestações da atividade e do pensamento humano, tem sofrido através de todos os tempos, a influência benfazeja da evolução.
Passando para o plano da existência humana, verificamos precisamente o mesmo fenômeno. A Humanidade de hoje difere da Humanidade de outrora. Todos os seres representam estados de evolução. São obras inacabadas que vêm sofrendo modificações, que se vêm aperfeiçoando sob essas diferentes e múltiplas formas assumidas no cenário da vida.
A imprensa de Gutemberg, na forma primitiva, passou, mas a ideia vive hoje nas “Marinones” e viverá amanhã sob outros moldes ainda mais aperfeiçoados. Da mesma forma o homem de outrora vive no ser humano de hoje, e viverá eternamente, purificado, como anjo. “Para a frente e para o alto, tal é o dístico inscrito em cada átomo do Universo.” Deste asserto, decorrem dois postulados, que quais astros de primeira grandeza refulgem na constelação da fé espírita: Evolução e reencarnação. A doutrina das existências sucessivas é um fato atual. Senão, como explicar os fenômenos da evolução?
Assim como as ideias de  Gutemberg e  Fulton  transmigraram de geração em geração, resultando em melhoramos acumulados, assim também o princípio imortal, que anima a matéria, transmigra, levando consigo, numa ascensão contínua pela senda da eternidade, os aperfeiçoamentos e progressos conquistados. A reencarnação, postulado espírita, é a palingenesia de Pitágoras, é a ressurreição dos judeus expurgada de certos erros: negá-la é negar a evolução, é negar o senso da vida eterna.
O Tabor  e o Calvário.  Dois montes figuram na existência terrena de Jesus: O Tabor e o Calvário. Um deles foi esquecido. O outro se tornou celebridade, graças aos constantes e repetidos reclamos que têm feito e continuam a fazer as igrejas ditas cristãs.
Aparentemente aniquilado o Filho de Deus, começaram os homens, tempos depois,  a render culto à memória do seu sacrifício e morte. Criaram símbolos que representam aquele trágico acontecimento, fazendo da cruz e do Calvário toda a história do Cristianismo, como se em tal ele se resumisse. De tal sorte, enquanto as atenções se voltam para a cruz e o Calvário, jaz em completo esquecimento,  desconhecido da grande maioria, e deturpado pelo sacerdócio  interesseiro, o sublime ideal de ventura que o Cristianismo  encerra.
Em Jesus redivivo, exuberante de vida e bondade não se fala. O Tabor representa a glória e a autoridade outorgadas ao Filho de Deus, bem como a vida. O Calvário representa a cruz e nela pregado Jesus martirizado e morto. Fizeram da cruz um símbolo de fé, um instrumento de tortura, igual á forca e a guilhotina. Vemo-la na Inquisição, promovendo as perseguições e chacinas de milhares de vítimas; vemos também nas Cruzadas, semeando a desolação e a morte por toda parte; vemos ainda na Noite de São Bartolomeu, banhando de sangue as ruas de Paris; ela também estava em Ruão, atirando Joana d’Arc às chamas de uma fogueira; vemos ainda a cruz na morte de Giordano Bruno, João Huss e inúmeros outros mártires da razão e da liberdade sacrificados; vemo-la ainda manejada astuciosamente pelos exploradores, apavorando os humildes e fanatizando os ignorantes, pela mentira, pela hipocrisia
vil e pérfida, que tem arruinado nações, mantendo os povos  em atitudes de desconfiança e sobressaltos e em conflitos religiosos.
A tranquilidade e a paz dos seres humanos e do mundo exigem, pois, que se obedeça ao Jesus do monte Tabor, do Monte das Bem-aventuranças, e ao Jesus da Ressurreição, que nos comprovou a Imortalidade da alma (Espírito), abolindo-se, portanto, como já vem acontecendo, o Cristo crucificado e inerte do Calvário, imitado, encenado e comercializado, por aqueles que se dizem cristão, mas na verdade, eles, seguidores de Jesus não o são...

Fonte:
Livro de Vinícius.
“Nas Pegadas do Mestre”
+ Acréscimos e supressões.

Jc.
São Luís, 27/7/2016

OPERAÇÃO LAVA JATO




O surgimento da Operação Lava Jato, em Curitiba, sob o comando do juiz federal Sérgio Moro, trouxe a esperança ao povo brasileiro  de que, doravante, a situação de corrupção e impunidade que se alastrava pelo Brasil, tende a sofrer um freio, devido as ações realizadas no sentido de coibir essa situação vergonhosa em que vive o povo brasileiro. O exemplo da Lava Jato já está sendo seguido por outros juízes, neste imenso Brasil, despertando a consciência nacional para banir da sociedade essa situação de calamidade e falta de moral.
Alguns questionamentos e suas explicações.
1- Temos acompanhado estarrecidos, as investigações da chamada Operação Lava Jato, que tem exposto o clima de corrupção institucionalizada existente no país. Podemos concluir que as forças das sombras se abateram sobre nossa pátria?
R-  Sempre há a influência das sombras em eventos que contrariam  o bem  e a verdade, não como causa, mas como consequência do comportamento de muitas das pessoas. Longe de ser a origem, a ação do mal é mera consequência de nossas mazelas.
2-  Se assim é, por que se perpetua essa tendência, mesmo com  a renovação dos quadros políticos nas eleições regulares para os cargos administrativos e legislativos?
R-  É imperioso reconhecer que os quadros políticos representam o povo no poder. Ainda que se renovem periodicamente, exprimem as tendências da população.  Se o povo não prima pelo respeito à lei e à ordem, seus representantes seguirão no mesmo rumo.
3-  Diríamos, então, que nossos políticos nada fazem senão vivenciar  as tendências do povo brasileiro?
R-  Exatamente. Embora sua índole fraterna, os brasileiros ainda não superaram o chamado “jeitinho brasileiro”, que quase sempre é uma iniciativa para livrar-se de responsabilidades e tirar vantagens  nas situações do dia a dia. Os políticos, com exceções, vivenciam e levam ao extremo essa tendência, a começar pela legislação em causa própria, gerando milionárias mordomias e a vulgarização de conchavos que rendem muito dinheiro para os partidos e para si mesmo.
4-  Como você exemplificaria essa condição do povo brasileiro?
R-  Um exemplo é suficiente.  Há pouco tempo  um gari encontrou uma grande soma de dinheiro  numa pasta.  Ele sem titubear devolveu  tudo ao seu legítimo dono. Foi aclamado como herói. Seu nome saiu nos jornais, deu entrevistas...  Tudo isso simplesmente porque cumpriu o elementar dever, contrariando a tendência de reter o dinheiro para si, que caracteriza boa parcela da população, na base de “o que é achado não é roubado”.
5-  Podemos dizer que “há uma luz no fim do túnel” , com as diligências policiais e a punição dos corruptos culpados?
R-  Trata-se, sem dúvida, de um promissor movimento a favorecer a moralização  de nossas instituições. Entretanto, não é o bastante.  Na Itália, a operação “Mãos Limpas”, disparada a partir da iniciativa de um grupo de juízes, na década de 90, século passado, fez algo semelhante, mas não eliminou a corrupção, que continua entranhada em seus quadros políticos e sociais.  É indispensável mudar o comportamento da população.
6-  Como isso pode ser feito?
R-  A educação, sem dúvida, é fundamental, mas não apenas o verniz social que se recebe na escola (há políticos muito “envernizados” que cometem incríveis falcatruas) , mas, sobretudo a autoeducação, a disciplina do comportamento, reconhecendo que sem respeito pelo próximo e, por extensão, pela sociedade, caímos no “salve-se quem puder” que inviabiliza o equilíbrio, o progresso e a paz na comunidade.
7-  As religiões, de um modo geral,  pregam a honestidade, a retidão de comportamento, o respeito pelo próximo. Por que essa orientação não funciona no Brasil, não obstante as ameaças de castigos além-túmulo para os que se comprometem com o mal?
R-  As especulações teológicas do que nos aguarda afiguram-se na atualidade como histórias da carochinha, principalmente para aqueles que detêm alguma cultura. Atendiam às necessidades do passado, mas não atendem à realidade do presente, quando as pessoas, antes de crer, cogitam de entender e sentir que esses princípios guardam compatibilidade com a lógica. Por isso filósofos atrevidos como Nietzche proclamam que “Deus está morto” se referindo a Jesus.
8-  E a “Doutrina Espírita?”
R-  É a nossa esperança maior de moralização, a partir de um contato comprovado com o mundo espiritual, a nos mostrar as consequências do comportamento humano de forma clara e instigante. Impossível, ante tais evidências, não perceber que o cumprimento de nossos deveres para com Deus e o próximo, como  ensinava  Jesus,  é  intransferível,  a  fim  de  que  a  morte não nos Imponha penosas decepções. É oportuno ressaltar que dentre esses políticos, empresários e funcionários implicados na Operação Lava Jato, não conheço nenhum que seja espírita.

Fonte:
“Revista Internacional de Espiritismo”
Autor: Richard    Simonetti
+ Acréscimos

Jc.

São Luís, 19/9/2016