Em passado não muito distante, a forca e a guilhotina, eram instrumentos utilizados pela “justiça” arbitrária dos homens, para ceifarem as existências de criminosos e de outros indivíduos que incomodavam as autoridades perversas e dominadoras. Hoje a paisagem é quase semelhante, em decorrência da promiscuidade moral, que ergue motéis para encontros rápidos e sem compromissos com o amor, julgando encontrar o que atribuem ser a felicidade, ampliando o contágio das enfermidades devastadoras, como a sífilis, HIV e outros fatores degenerativos, por lhes faltarem ideais de maior profundidade.
Antigamente
os campos ficavam despovoados de homens e de famílias que acorriam às grandes
cidades, em busca de oportunidades e subempregos. Atualmente ocorre o mesmo
fenômeno, porque pessoas em grupos, procurando uma ocasião que nem sempre lhes
chega, se transferem para as cidades, formando favelas de horror e residindo
debaixo de pontes e viadutos, ou ainda em casebres miseráveis feitos de papelão.
Totalmente desprezados pela sociedade, entregam-se aos efeitos dos vapores
alcoólicos e pelos tóxicos de fácil consumo, enveredando nos crimes mais
variados e sendo vítimas de chacinas que chocam pela sua brutalidade.
As
autoridades que os deveriam socorrer, concedendo-lhes cidadania e dignidade, os
mantém em esquecimento e desprezo, e por incomodarem com as suas condições de
extremas penúria e miséria, os visita somente nos períodos pré-eleitorais,
quando os enganam com o cinismo, apresentando discursos irônicos nos quais
prometem trabalho, saúde, educação, moradia, justiça, etc., que sabem nunca se
realizarão, mas que também não tem importância, porque são esquecidos e o
fantasma da fome, da prostituição, do analfabetismo, do crime, continua
convivendo com eles.
As
raízes da miséria sócio-econômica estão fincadas no egoísmo predominante, que é
o responsável pela desgraça moral que domina a maior parte da sociedade, que
somente pensa em si, na sua comodidade, nos seus banquetes, fazendo do seu
próximo um animal de carga para servir-lhes. Nesses abismos aos quais são
atirados, à sombra da ignorância, não se dão conta da própria desdita, nem
sequer aspiram por nada melhor, pois, foram exauridos de forças e de
sentimentos, o que os impede de pelo menos sonhar com uma situação menos
infeliz.
Assim
agiram os dominadores das massas, nas mais variadas épocas da humanidade. Matam
primeiro os ideais, convencem os miseráveis de que são inoperantes e de
situação inferior, o que não lhes permite romper os grilhões que os prendem.
Esquecem-se esses exploradores das massas, a inexorável marcha do tempo
trazendo os fenômenos orgânicos que os levam às doenças degenerativas da
velhice e a morte que os alcança inapelavelmente... Deixam pegadas de ódio e, porque
temidos, são detestados, porque foram poderosos, não possuíam amigos, mas sim
bajuladores que desejavam beneficiar-se da transitória situação.
Iniciada,
porém, a saga dos “direitos humanos”, a cidadania começou a desenhar novas
alternativas para o ser humano, que merece viver com dignidade, cabendo ao
Estado zelar pela sua existência. A liberdade é a maior benção pela qual devem
desejar os seres humanos e as nações, preservando-se da libertinagem e do
abuso, que sempre sucedem aos grandes momentos de libertação de qualquer tipo
de escravidão e dependência. Para que seja efetivada, é indispensável que
exista a consciência da justiça, que responde pelo equilíbrio legal e moral da
sociedade. Como exemplo, vejamos a história de sabor oriental cujo título é: Mohamed
– O Justo. “Ele era um monarca muçulmano que julgava os casos segundo a
ótica do livro sagrado. Cerca vez meditava
passeando em seus jardins, quando teve sua atenção despertada por uma
balbúrdia. Acercou-se da cena e viu uma mulher em andrajos. Estava
ela sentada no chão e chorava. Com ela havia algumas frutas. Seu Grão-Vizir
acusava-a. Ante o quadro, Mohamed indagou do seu ministro sobre os
acontecimentos, sendo informado de que aquela mulher havia furtado frutos do
pomar real, e isto era um crime. Mohamed dirigiu-se à mulher e perguntou-lhe
sobre a acusação. Ela respondeu dizendo que tinha um filho muito doente em casa
à beira da morte, faminto como seus irmãos. Desesperada, ela saiu a mendigar,
nada conseguindo. Foi então à feira para, pelo menos, recolher as sobras
naturais, mas nesse dia nada sobrou ou foi descartado. Retornando ao lar, sem
conseguir nada, passou pelo pomar real e observou várias frutas no chão, que
por certo não seriam aproveitadas. Sabia ela ser proibido colher frutas naquele
pomar e que poderia ser punida, mas, sua angústia e necessidade lhe forçou a
essa atitude. Pensando nos filhos, recolheu algumas frutas do chão em sua saia
e foi apanhada cometendo o crime.
Inteirado
de que a sentença era a morte por apedrejamento, propôs Mohamed que a execução
fosse feita no local onde o crime tinha sido praticado. Seu ministro argumentou
que ela deveria ser apedrejada no templo, local sagrado onde estavam depositadas
as pedras para tal ato, e que ali onde se encontravam não havia pedras. Mohamed então apanhou as pedras preciosas que
adornavam suas vestes, sugerindo aos demais que fizessem o mesmo, e ele começou
a lançar suas jóias contra a criminosa, os demais, relutantes, o acompanharam
no gesto. A mulher estupefata não compreendeu e, aturdida, ouviu seu Soberano
dizer-lhe que recolhesse todas as pedras que lhe eram jogadas e que as vendesse
para dar de comer aos seus filhos, e, cumprida a sentença, ela estava livre a
partir daquele momento; que Alá a abençoasse...”
Em
uma sociedade onde existam mendigos de rua, exploração do homem pelo homem, o
uso indevido do poder público e econômico, a justiça é falha e a liberdade se
encontra amordaçada pelos interesses dos governantes e pelos dominadores. A justiça para ser verdadeira deve considerar
o indivíduo como cidadão e não como instrumento de servidão para outros, sem
direito de opinião ou ação, criando leis que regulem a conduta e a moral, e
atenda a todos igualmente, sem privilégios nem exceções, mantendo os mesmos
critérios para com todas as pessoas.
A
justiça para ser benéfica, deverá centrar a sua atenção nos
valores
morais, evitando as brechas que sirvam a alguns dos
“homens
da lei”, quando a serviço dos poderosos, dos “colarinhos brancos” e dos
criminosos, em detrimento dos fracos. Tomando com parâmetro o Decálogo recebido
por Moisés, e na Lei do amor preconizada pelo Mestre judeu, a Justiça deveria
ser um modelo de dignidade e honradez para todas as criaturas, porque elaborada
com a finalidade de construção de uma sociedade feliz e justa, na qual não
faleça a esperança de viver, nem prolifere a miséria social, sem exclusão de
raça, de ideologia filosófica e de expressão, de partido político e de
religião. O cidadão consciente da sua responsabilidade perante a existência e o
mundo fará o seu papel com elevação e respeito, que se edificará em padrões de
honestidade e de paz.
Em
“O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec na pergunta 873, indaga dos Espíritos
Superiores: - O sentimento de justiça está na Natureza ou resulta de ideias adquiridas?
– Resposta: - Tanto está na Natureza, que vos revoltais ao pensamento de uma
injustiça. O progresso moral desenvolve, sem dúvida, esse sentimento, mas não o
dá: Deus o colocou no coração do ser humano. Eis porque encontrareis frequentemente,
entre os homens primitivos e simples, noções mais exatas da justiça, que entre
os que têm muito saber. Na pergunta 875, Kardec volta a indagar: - Como se pode
definir a justiça? – Resposta: - A justiça consiste no respeito aos direitos de
cada um. Indaga ainda Kardec: - O que determina
esses direitos? – Resposta dos Espíritos Superiores: - Duas coisas os
determinam: a lei humana e a lei natural. O direito estabelecido pelos homens,
portanto, não está sempre conforme a justiça. Ele regula certas relações
sociais, porém, na vida particular, há uma imensidade de atos que são
unicamente da alçada do tribunal da consciência.
Hoje,
a justiça e feita por intermédio de vários tribunais, que, no entanto não
deixam de praticar muitas injustiças, porque a jurisprudência atual é favorável
aos criminosos nas leis brasileiras. Em virtude dessas leis falhas alguns
“advogados” se servem de artifícios para colocar de volta as ruas, criminosos que
deveriam cumprir as penas que lhes foram impostas pelos tribunais. As suas vítimas
são as eternas esquecidas e abandonadas pelo Estado. Enquanto os seres humanos
forem imperfeitos, a justiça dos homens será falha, gerando benefícios injustos
para uns e grandes injustiças para muitos. A todos os que sofreram e sofrem as
injustiças dos homens, resta ainda á esperança de que a Justiça Divina, mais
perfeita e justa, faça valer a justiça para todos os que foram injustiçados e
que dela necessitam. . . Jesus certa vez, falando da justiça disse: - “A cada um será dado, segundo as suas obras”.
Bibliografia:
“O Livro dos Espíritos”
Jornal
“O Imortal”
Jc.
S.Luis,
12/03/2006
Refeito
em 13/05/2017