terça-feira, 25 de junho de 2013

A FÉ CONSISTENTE






Se não dermos consistência à virtude da Fé, não teremos entusiasmo e coragem para levar avante, no campo material ou espiritual, tarefas e obrigações, deveres e responsabilidades, na execução segura de nosso programa de crescimento com e para Deus. O Evangelho, repositório sublime de eternas verdades, está repleto de exemplos de fé consistente, nos quais revela a pessoa da “Fé na própria fé”. Há também no Evangelho, exemplos de fé vacilante, fruto da imaturidade espiritual.

No pensamento da mulher, que sofria havia doze anos, um fluxo sanguíneo: “Se eu apenas lhe tocar as vestes (de Jesus), ficarei curada”, há prova de muita fé, de fé legítima. Quando desceram um paralítico pelo telhado, para que Jesus o curasse, quatro homens demonstraram a fé legítima. E o Senhor, vendo-lhes a fé, disse ao doente: “Filho, os teus pecados estão perdoados”. O cego de Jericó, insistindo em altos brados: “Filho de David, tem misericórdia de mim”, acreditava na própria fé. Nas palavras de Jesus: “Vai, a tua fé te salvou”, o fato é acentuado; isto é: o valor da fé é confirmado. A expressão; “Senhor, se quiseres, podes purificar-me” dita com humildade por um leproso, diante de Jesus, constitui afirmação de “fé na fé”, de fé consistente. Na passagem em que dez leprosos suplicam a Jesus e foram curados, apenas o que voltou à sua presença, tinha fé legítima, e agradeceu. Jesus então lhe diz: “Vai, a tua fé te salvou”.

Porém, o exemplo de maior fé consistente, está narrado por Mateus, cap.8 vs. 5 a 13, que diz o seguinte: “Tendo Jesus entrado em Cafarnaum, chegou-se a Ele, um centurião (comandante de cem soldados) e rogou-lhe: “Senhor, o meu criado jaz em casa paralítico, padecendo horrivelmente”. - Disse lhe Jesus: “Eu irei curá-lo”- Mas o centurião respondeu: “Senhor, eu não sou digno de que entres em minha casa; mas dize somente uma palavra e o meu criado há de sarar, porque também sou homem sujeito à autoridade e tenho soldados às minhas ordens, e digo a um; vai ali, e ele vai; a outro vem cá, e ele vem; e ao servo, faze isto, e ele o faz”. Jesus ouvindo isto admirou-se e disse aos que o acompanhavam:  “Em verdade vos afirmo que nem em Israel (entre meus irmãos) encontrei tamanha fé”. Então disse Jesus ao centurião: “Vai-te, e como creste, assim te será feito”. E naquele mesmo momento, sarou o criado.

Qual é o médico que, sem ver o doente, sem o examinar, sem fazer exames, sem inquirir ao doente, ou da pessoa que o assiste, pode dizer categoricamente: Eu irei curá-lo? – Sabemos que os médicos podem dizer, ao serem chamados para atender a um doente: - Eu irei vê-lo e tratá-lo; porém dizer “Eu irei curá-lo”, nunca, porque não sabem o estado do doente. Somente um Espírito Superior, com as qualidades de Jesus, poderia dizer e fazer curas a distância sem ver o paciente. O Evangelho registra também, como dissemos, casos de  “falta de fé na própria fé”, caracterizada na atitude vacilante.

Estando Jesus a pregar, um homem se aproximou dele, lançou-se de joelho aos seus pés, e lhe disse: “Senhor, tem piedade de meu filho, que está lunático e sofre muito, porque ele cai ora no fogo ora na água. Eu o apresentei aos vossos apóstolos, mas eles não puderam curá-lo”. E Jesus lhe respondeu, dizendo: “Trazei-me aqui essa criança”. E Jesus tendo ameaçado o espírito malvado, ele saiu da criança, que foi curada no mesmo instante. Então seus apóstolos vieram ter com Jesus em particular e lhe disseram: “Por que não pudemos, nós outros  expulsar esse demônio?” – Jesus lhes respondeu: “É por causa da vossa incredulidade; porque eu vos digo em verdade: se tivésseis fé como um grão de mostarda ( uma das menores sementes) , diríeis a esta montanha: Transporta-te daqui para ali e ela se transportaria, e nada vos seria impossível”.

Quando os discípulos, apavorados na barca, em pleno mar, acordaram Jesus, clamando: “Senhor, nos salva”. Demonstraram a fé vacilante, incerta, sem convicção, em fase embrionária, designada por Jesus como “pequena fé”. Noutra passagem, também no mar, encontramos adequada lição sobre a fé. Fitando Jesus, que andava sobre o mar, em tarde açoitada por ventania, pede Simão Pedro: “Se és tu, Senhor, manda-me ir ter contigo sobre as águas”. E Jesus incontinenti diz: “Vem”. Pedro descendo do barco andou sobre as águas, e aproximou-se do Mestre. Reparando, porém, na força do vento, teve medo e, começando a submergir, gritou: “Me salve Senhor!” E prontamente Jesus, estendendo-lhe a mão, lhe disse: “Homem de pouca fé, por que duvidastes?”

Quando Pedro falou a Jesus: “Ainda que todos se escandalizem, eu não”, não possuía a fé vigorosa, consistente, que viria a revelar mais tarde. Jesus, reconhecendo o idealismo do velho pescador, identifica-lhe na alma sincera, a “pequena fé”, e avisa-o: “Em verdade te digo, que nesta mesma noite, antes que o galo cante, me hás de negar por três vezes”, o que efetivamente aconteceu, quando Jesus foi preso.

A fé consistente é o maior tesouro da alma. A fé é a luz que ilumina os nossos destinos. Ela não se compra nos templos, nem nos mercados, não se adquire por herança, nem se dá por esmola; porque a fé não se adquire sem estudo, sem trabalho, sem o livre exame, sem convicção e sem o exercício do livre-arbítrio. A Esperança brilha como um astro no espaço infinito; a Caridade aquece, ilumina e ampara como o sol, mas a Fé só se obtém pelo conhecimento e cumprimento dos mais sagrados deveres. A respeito, disse Allan Kardec: “Fé verdadeira é a que pode encarar a razão face a face, em qualquer época da Humanidade”. É essa fé racional que a Doutrina dos Espíritos prega e proporciona para todas as pessoas.

A Fé é definida nos dicionários como Primeira Virtude; crença religiosa, convicção, confiança, certeza adquirida. A confiança nas próprias forças nos torna capaz de executar coisas que não se poderia fazer, quando duvidamos. Noutra concepção, a fé se diz da confiança que se tem, no cumprimento de uma ação; da certeza de se atingir um fim. A fé, não se prescreve nem se impõe; porém, não há ninguém que esteja privado dela. A fé precisa de uma base que é a inteligências ou o conhecimento perfeito daquilo em que se deve crer; e para crer, não basta ver, é preciso também entender, compreender e comprovar.

Até então, a fé só era compreendida sob o aspecto religioso; na crença dos dogmas particulares das diferentes religiões, pois todas as religiões têm os seus artigos de fé. Nesse aspecto, a fé pode ser cega ou raciocinada. A fé cega, não examina nada, aceita o falso como verdadeiro, e se choca, a cada passo contra os fatos, a razão e a ciência; levada ao excesso produz o fanatismo. Quando a fé está sobre o erro, ela mais cedo ou mais tarde, se desfaz se destrói; enquanto que, a fé verdadeira tem por base a verdade; é a única imbatível, consistente, porque não tem nada a temer do progresso das luzes, porque o que é verdadeiro na obscuridade, o é igualmente em plena luz.

Jesus que realizou curas milagrosas mostrou o que pode o ser humano fazer, quando tem fé consistente, isto é, quando existe a vontade de querer e a certeza de que essa vontade pode realizar. Não é isso o que acontece a todo instante e em todos os dias de nossa existência? Precisamos ter fé em Deus, na Sua misericórdia, na Sua bondade e também na Sua justiça. Não precisamos da fé nas nossas orações e súplicas, para que elas possam nos beneficiar? Não precisamos da fé nos nossos atos diários e nos nossos empreendimentos? Quem é que vai se submeter a uma operação ou a um concurso, que não apele para a fé, que vai se sair bem? Quem é que faz uma viagem aérea e não acredita que chegará a seu destino? – A fé, faz parte do nosso dia a dia, e por isso ela é a Virtude Primeira.  

A fé pode ser humana ou divina, segundo apliquemos nossas faculdades; às necessidades terrenas ou às aspirações espirituais. O ser humano para realizar alguma atividade e triunfar, precisa ter fé para lhe aumentar as possibilidades. A pessoa de bem, crendo em seu futuro melhor, pratica nobres e belas ações, na certeza da felicidade que o espera. Nós, crentes, cristãos, evangélicos, espíritas, temos fé na vitória do bem, mais cedo ou mais tarde, porque cremos que esse é o determinismo divino. Esperamos e confiamos, na luta, na alegria e no sofrimento, sem desesperar, porque sabemos que nenhuma das ovelhas confiadas pelo Pai a Jesus, se perderá.

Observamos os desajustes humanos com tristeza, mas a fé consciente e consistente na Divina Providência, nos faz continuar trabalhando, servindo e amando, na esperança de dias melhores para a Terra, pois sabemos que no leme da nau, que é o mundo, está Jesus, o Mestre Comandante, nos convidando à Fé imbatível, inabalável, consistente, que remove montanhas...

Existem muitas pessoas sem fé que, quando falam de religião costumam dizer: Deus é um assunto muito sério e complexo e como não tenho tempo para analisar, aceito tudo e não reprovo nada, e assim, quando morrer e chegar à porta do Céu; se Pedro me perguntar se fui religioso na Terra, responderei que sim. Se ele me disser que a fé legítima é a da Igreja Católica, eu responderei que comungava, confessava e assistia a missa. Se ele me disser que a fé está no Protestantismo, eu lhe direi que assistia o culto, pagava o dízimo e sempre lia a Bíblia. Se ele me disser que a fé ardente é a da  Umbanda, eu direi que acendia a minha vela, assistia cerimônias e homenageava os “pretos velhos”. Porém, se ele me disser que a verdadeira e consistente fé está na Doutrina dos Espíritos, ainda uma vez mais, eu direi: Freqüentava os Centros Espíritas, ouvia as palestras, tomava os passes e bebia a água fluidificada... Outras pessoas acham que não precisam de nada mais a não ser freqüentar alguma religião, sem maiores compromissos, que já estão aptas a irem para o paraíso.

Muitas pessoas, iguais a essas, na realidade não são religiosos e nem possuem a fé consistente pregada por Jesus. São elas apenas caçadoras de interesses pessoais e vantagens celestiais. Também não estão com essas atitudes, enganando a ninguém a não serem elas mesmas, pois ao desencarnarem, esperançosas de um lugar no céu vão se defrontar com a ilusão que criaram para si. É por isso que muitos espíritos que desencarnam na Terra, acalentando ocupar um Céu fabricado e comprado, sem valores morais ou merecimento, retornam desiludidos e decepcionados à atmosfera terrena influenciando os seus parentes e amigos.

Por que não lhes apareceu nenhum guia e esses espíritos não puderam prosseguir para frente e para o alto?  Será que o Caminho ensinado por Jesus não existe? – O caminho, e a ascensão espiritual sempre existiram ligando os dois planos de vida. O problema é que o aparente “crente” sem fé e também sem obras, mudando de rumo e de crença constantemente, de conformidade com seus interesses e conveniências, fingindo professar ao mesmo tempo uma ou várias religiões, não se preocupou em atender as recomendações de caridade e amor ao próximo, preocupado exclusivamente em garantir a sua entrada no Céu.

Se tivesse cumprido as Leis de Deus de caridade e amor ao próximo, por meio da palavra amiga, do gesto fraterno, da oração benéfica do auxílio material aos necessitados, certamente que teria merecimento e seria amparado na sua chegada à Espiritualidade. Faltou-lhe o exercício da fé acompanhada da caridade e do amor desinteressado ao seu semelhante. Não é pulando de galho em galho, igual a um religioso sem fé, que vai garantir melhorar sua situação, quando passar para o outro lado da vida.

A fé deve ser sempre acompanhada da esperança e da caridade. Por isso Jesus sempre que beneficiava uma pessoa, se servia destas palavras: “A tua fé te curou” ou “A tua fé te salvou”. Porém, das três virtudes, A Caridade é a que mais depressa nos leva a evolução. Por isso o discípulo Paulo, afirmou: “Se eu tiver fé do tamanho de uma montanha, falar a língua dos anjos, mas se eu não tiver a Caridade, eu nada tenho”. Conta-se até uma pequena fábula de dois viajantes que seguiam uma estrada que levava ao destino de ambos. Devido a intensas chuvas, o riacho que deveriam atravessar estava muito forte. O que fez eles? O primeiro como era religioso, pôs-se a orar pedindo ajuda para seguir caminho e ficou sentado, esperando que viesse a colaboração do céu. O segundo, embora não fosse muito religioso, pediu ajuda espiritual e ficou pensando numa maneira de atravessar o rio. Logo lhe veio à inspiração de cortar alguns paus e fazer uma jangada, e assim fez. Dentro de algum tempo, ela estava pronta, e ele sobre a jangada e impulsionando com uma vara, atravessou o rio e chegou à outra margem, seguindo sua viagem. O outro ficou orando, crente de que a sua fé faria o milagre de transportá-lo até o outro lado. Moral da lenda: O primeiro na sua indolência, por ter fé vacilante, achou que o Céu ia resolver o seu problema; o segundo foi ajudado pelo Céu, com a intuição e trabalhou para resolver a sua situação.

Assim também acontece com muitas pessoas que ficam a esperar que tudo se resolva, sem quererem tomar nenhuma atitude. Existe até um ditado que diz: “Ajuda-te, que o Céu te ajudará”.


Que a Paz do Senhor nos ampare e reforce a nossa fé para ajudar os nossos irmãos.



Bibliografia:
Livro “Evangelho Segundo o Espiritismo”
         “Parábolas e Ensinos de Jesus”


Jc.
28/10/2000                                                                                                                   
Refeito em 24/06/2013