sábado, 21 de agosto de 2010

ASCENSÃO ESPIRITUAL

ASCENSÃO ESPIRITUAL


Em Gênese, no cap.28 vr.12, encontramos... “E eis que uma escada era posta na Terra, cujo topo tocava os Céus, e os anjos de Deus desciam e subiam por ela...”

Do ponto de vista corporal, o ser humano pertence à classe dos mamíferos, dos quais difere apenas na forma exterior; tendo a mesma composição química que todos os animais, os mesmos órgãos, as mesmas funções e os mesmos modos de nutrição, de respiração, de secreção, de reprodução; ele nasce, vive e morre nas mesmas condições, e, com a morte do seu corpo físico, ele se decompõe como tudo o que vive. Não há em seu corpo, um átomo diferente daqueles que se encontram no corpo dos animais. A analogia é tão grande que se estudam as funções orgânicas de certos animais, quando as experiências não podem ser feitas no ser humano.

Na infância da Humanidade, o ser humano só aplicava a sua inteligência na procura de sua alimentação, dos meios de se preservar das intempéries e de se defender dos animais ferozes; mas Deus lhe deu, a mais do que ao animal, o desejo incessante de melhorar-se, e é esse desejo que o leva à procura dos meios de melhorar sua posição, que o conduz às descobertas, às invenções, ao aperfeiçoamento da ciência que lhe proporciona o que lhe falta. Através das pesquisas, sua inteligência aumenta, sua moral se eleva; às necessidades do corpo sucedem às necessidades do espírito e é assim que o ser humano passa da selvageria à civilização, realizando sua ascensão espiritual.

Sabemos que, todos os desníveis entre dois planos pedem recursos de acesso para chegarmos ao alto, quais sejam: rampa, escada, elevador, teleférico, etc.. Assim também acontece no plano espiritual. Temos nas Revelações, os degraus de acesso aos planos superiores celestiais. A ascensão espiritual assemelha-se a uma escadaria praticamente imensa, cuja base assenta-se na Terra e o topo perde-se nas alturas... Para galgá-la, se fazem necessária á boa-vontade, trabalho, perseverança e fé no objetivo final, sem distorções, desvios, interrupções, nos degraus inferiores. À medida que subimos, o panorama vai se ampliando, e vislumbramos mais longe; chegamos mesmo a ficar pasmos quando nos conscientizamos de nossa anterior limitação, da pobreza de nossa compreensão e visão...

Nosso primeiro degrau foi construído por Moisés, ao nos trazer as primeiras noções de justiça e as Leis de Deus, constantes no Decálogo. O segundo degrau foi construído pelo próprio Jesus, e nesse nível, já nos foi possível vislumbrar o horizonte espiritual que então se descortinou às nossas vistas. O terceiro degrau, correspondendo aos ensinos complementares da Doutrina dos Espíritos, necessários para alcançarmos o plano superior, foi construído pelos Espíritos Superiores, sob a orientação do Mestre, e com a colaboração de Allan Kardec e dos demais mensageiros de Jesus.

Outro referencial do movimento de ascensão é o tempo. Ao que sabemos a Humanidade teve aproximadamente dois mil anos para percorrer cada um desses dois estágios. Levando-se em conta que dois estágios já foram vencidos, e os tempos são chegados, concluímos que temos tão somente mais mil anos para concluir a ascensão ao último e definitivo estágio da fase evolutiva em que nos encontramos. A alternativa para os que não conseguirem a ascensão dentro desse tempo, aproveitando as existências que ainda lhes são concedidas, será a queda, outra vez, para os níveis inferiores, onde as dificuldades serão maiores e os sofrimentos indescritíveis.

Estamos atualmente sendo convocados a ascender para este último nível que facultará a nossa libertação espiritual. Entretanto, sem querermos, em todo momento, estamos ainda sujeitos à “escorregões” que podem nos reter mais uma vez, nos abismos existenciais da ignorância, da preguiça e da maldade.

Cairbar Schutel, vale-se de uma parábola filosófica para fazer-nos compreender melhor a questão da ascensão espiritual e o momento evolutivo. Diz ele: “No meio de uma cadeia de montanhas, se eleva um pico isolado sobre o qual se percebe vagamente um antigo edifício. Certa vez um ousado viajante propôs-se alcançá-lo, e pôs-se à tarefa. As ervas suspensas nos flancos dos
precipícios, um tronco carunchoso, uma pedra escorregadia... tudo lhe serve de ponto de apoio; esforça-se , arrasta-se, salta e, finalmente, coberto de suor e fatigado, chega ao desejado cume. Aos seus olhos, espraia-se toda a enorme cadeia de montanhas e os mais belos horizontes se abrem diante dele. O que só via confusamente, agora abrange e domina num lance de vista... Em baixo, ao longe vê os obstáculos contra os quais empregou seus esforços e ri-se da sua inexperiência; de pé contempla os que se deixaram vencer sem tentar e admira-se da própria audácia.

Os companheiros, medrosos e sem força de vontade para vencerem as dificuldades da subida, não o puderam seguira não ser com a vista. Então, desbravando a subida, o viajante descobriu um atalho, porque só era visível do alto do pico. É por esse atalho que desce então o viajante que chegou ao alto, e é por ali, que ele se coloca à frente dos demais que ficaram ao sopé do pico, e lhes diz: “Segui-me!” Ele os conduzirá sem perigos e sem maiores esforços até o cume, cuja conquista lhe custara tanto esforço e sacrifício. Graças a ele a montanha já se tornou acessível ! Todos os viajantes podem agora do alto, admirar o formoso edifício, os panoramas sublimes, os magníficos horizontes que dali se descortinam.

Eis a imagem da nossa ascensão espiritual às gloriosas paragens da Imortalidade. Os seres humanos, na grande maioria, caminham sem se elevar ao cume da montanha, porque vão e voltam em delongas por caminhos da horizontalidade material, que não os conduzem às alturas espirituais. Algumas vezes, elevam-se até certo ponto, mas voltam atraídos aos planos inferiores, porque não desejam transitar pelo verdadeiro caminho do amor, que os
conduziriam com segurança às alturas da montanha espiritual.”

Explicando a parábola de Cairbar Schutel, vemos na cadeia de montanhas a representação das antigas religiões, e no edifício antigo, a Revelação. As ervas suspensas nos flancos são as virtudes que nos ajudam a beneficiar o próximo e nos conduzem ao amor de Deus; a volta aos planos inferiores, são as más paixões, o egoísmo, o orgulho e a maldade. O viajante que subiu ao cume é Jesus, seguido de seus mensageiros, onde se destaca Allan Kardec, que nos ensina o caminho para também chegarmos ao alto. Os companheiros que tentaram e conseguiram chegar até certo ponto, são todos os que atualmente se esforçam por chegar ao cume, mas que presos à atração da Terra e vencidos pelas dificuldades e pelas paixões inferiores, voltaram aos planos infelizes, atrasando o progresso espiritual.

A ascensão espiritual é resultado do esforço, da perseverança, da fraternidade e do amor, associado ao progresso moral e a elevação intelectual. Todos os que estudam, aprendem, trabalham e exemplificam estão caminhando nos dois planos de vida que se entrelaçam; um como complemento do outro; numa permuta constante; são finalmente, espíritos evoluídos que descem a auxiliar os que se encontram na Terra, que pelos seus esforços, também se tornarão melhores, porque estão trabalhando para subir o cume. Ninguém segue só
nessa difícil escalada. Deus e Seus mensageiros estão sempre atentos, e por isso nos enviou o Mestre Amado, o viajou da montanha, em busca das retardatárias ovelhas, para levá-las ao Aprisco Divino, no Reino de Deus.

Os seres humanos progridem, fazendo a ascensão espiritual, por si mesmos e pelos esforços de sua inteligência, mas, entregue às suas próprias forças, esse progresso é muito lento, se não são ajudados por outros seres mais avançados, como o aluno o é por seus professores. Todos os povos tiveram os seus homens de gênio, que viveram, em diversas épocas, para dar impulso aos mais atrasados e tirá-los da inércia.

Impossível é deter-se o progresso da humanidade. Uma nova ordem de coisas está se estabelecendo na Terra, substituindo uma anterior, a fim de que nosso mundo se transforme em um mundo de regeneração, conforme nos esclarecem os Espíritos Superiores. Essa transformação está se operando lentamente, apesar das grandes resistências que se lhe opõem, com nosso ou sem nosso concurso, e não há nesse campo de lutas, a opção da neutralidade. É necessário seguir uma regra de valores, e Paulo de Tarso nos aconselhou: “Cada um permaneça diante de Deus, naquilo a que foi chamado”, melhor dizendo: cada um procure o progresso, de acordo com suas possibilidades e nas condições em que se encontra na sociedade.

Busque, pois, o ser humano, no estudo das diretrizes da Doutrina dos Espíritos, os conhecimentos que poderão ampliar o discernimento, evitando as quedas e facultando-lhe uma escolha mais consciente e segura de seus próprios caminhos, no sentido da evolução espiritual. Somos os trabalhadores convocados a colaborar na Seara do Senhor, e aproveitemos essa oportunidade para progredir. Por isso, não nos basta apenas freqüentar habitualmente os Centros Espíritas, assistir as palestras doutrinárias, como se estivéssemos cumprindo obrigações meramente sociais e rotineiras; ineficiente será recebermos passes assiduamente, se não procurarmos retificar os nossos erros, a fim de transformá-los em verdades libertadoras; ilusão nossa a participação semanal em reuniões mediúnicas, se não brotar em nós o desejo sincero de correção das nossas atitudes; inútil nos apresentarmos com belas exposições às platéias espíritas, se não houver os bons exemplos, o desejo sincero e os esforços de reforma íntima; a nossa participação em encontros, congressos e outros eventos espíritas, será sempre apenas momento de lazer, se não surgir o dever da prática cristã, a vivência do companheirismo, da fraternidade, do “unir-vos e do amai-vos”.

Sem essas duas máximas que serviram de lema para os apóstolos e discípulos de Jesus, os outros que os seguiram e os que nos antecederam nessa jornada de trabalho, o nosso desejo de Ascensão Espiritual, através do nosso progresso será sempre prejudicado e realizado somente a custa de maiores sacrifícios, apesar dos nossos sinceros propósitos de cristão. Daí o convite de Jesus, harmonioso no Amor e na Misericórdia de Deus, para com todos os Seus filhos: “Segui-me !”


Bibliografia:
Livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo”
“ “A Gênese”


Jc.
S.Luis, 02/02/2005

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

CILÍCIO - (SOFRIMENTO VOLUNTÁRIO)

CILÍCIO (SOFRIMENTO VOLUNTÁRIO)


O dicionário define “cilício” como sacrifício ou mortificação a que alguém se submete, voluntariamente, atendendo a um propósito qualquer. É muito antiga a crença de que impor sofrimentos ao próprio corpo, constituiria uma forma de alcançar benefícios espirituais. Amplamente difundida no passado, ela ainda hoje sobrevive, em casos isolados, sempre como expressão de fanatismo, ignorância e superstição.

O ser humano ainda pouco esclarecido, comete com freqüência excessos e enganos na utilização do seu corpo, na falsa suposição de que o mesmo seria o causador de tais desvios de comportamento, pelo que, castigá-lo por meio de privações ou sevícias, constituiria o remédio para evitar ou corrigir tal tendência, impedindo suas manifestações. Isso é um equívoco, pois o corpo apenas atende, passivamente, às determinações de seu condutor – o Espírito. Por outro lado, tanto o cilício como o vício é danoso, pois enquanto o primeiro enfraquece e cria problemas diversos ao corpo, o segundo cria dependência que prejudica física e moralmente as pessoas.

Há um componente, não raro, de ignorância e fantasia no cilício, sugerindo, por exemplo, que a não satisfação de um desejo, declarado por uma grávida, envolvendo um alimento qualquer, possa marcar o filho que a gestante guarda no ventre, com um angioma (mancha vermelha no rosto). Pior acontecia na Idade Média, quando os cristãos, inspirados na ignorância, levaram a extremos a afirmativa de Jesus, contida no Sermão da Montanha: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados” (Mateus 5:4).

Entendendo esse consolo como uma compensação pelos sofrimentos, o ideal seria então sofrer bastante na Terra para garantir recompensas maiores no Céu. Tal entendimento, amplamente divulgado, gerou comportamentos absurdos, com destaque para as várias Cruzadas, guerras promovidas pelos reis cristãos na Europa, sob a alegação de que estavam libertando o solo sagrado da Palestina, em poder dos árabes. – Deus quer o sofrimento! - era o grito de guerra. Em função dessa orientação, envolveram-se milhares de fiéis ingênuos, dispostos ao tormentoso cilício dessa aventura, com a fantasia de que todos os “cruzados” (os que lutavam nessas guerras) seriam levados para o paraíso. Por outro lado á idéia do cilício como auto-flagelação, sugeria um comportamento alienado. Havia os que se internavam em mosteiros ou lugares ermos, totalmente isolados, com o propósito de fugir dos males e contatos com a sociedade. Muitos se propunham ao mutismo absoluto, passando anos sem pronunciar uma palavra. Outros açoitavam o próprio corpo para se livrarem dos seus pecados...

Em meados do século VI, em Antioquia, na Síria, um piedoso cristão chamado Simeão, instalou-se no alto de elevado monte. Inteiramente dedicado à devoção, era atendido em suas necessidades por amigos que mais tarde imitaram o
seu exemplo. Submetido às intempéries e ao desconforto, passou os restantes trinta anos de existência sem jamais descer do monte. Algum tempo após sua morte foi canonizado, recebendo o título de São Simeão. Nos dias atuais, se alguém tentasse realizar a mesma proeza, certamente seria internado em algum manicômio; mas na Idade Média, tais aberrações eram comuns, consideradas como atos de extrema piedade e fé. Não obstante o progresso alcançado pela humanidade, subsiste até hoje, pessoas ignorantes com a idéia do cilício, da mortificação, em favor da depuração do corpo, como passaporte para o Céu.

Há quem se proponha a carregar uma cruz, imitando o sacrifício de Jesus; outros subindo de joelhos as escadarias de igrejas por penitência. As próprias rezas, envolvendo intermináveis e cansativas repetições, nos rituais religiosos, representam uma forma amena de cilício a que se propõem certas pessoas, crendo com isso merecer os favores celestiais. Outras pessoas acreditam que o muito rezar, na maioria das vezes, apenas com os lábios, ficando o pensamento ocupado com outros assuntos, é que vai lhes garantir a assistência Divina. O que tem valor na oração é o pensamento e o sentimento voltado para a sintonia com o Pai Celestial, no sentido de sermos amparados pela Sua infinita misericórdia.

Temos um exemplo de sinceridade e fé, na pequena história do pedreiro Zé. Ele era analfabeto e trabalhava próximo a uma igreja; todos os dias ao sair do trabalho, ele entrava na igreja embora não soubesse rezar. Passado alguns meses, ele adoeceu e foi internado em uma enfermaria de hospital. As enfermeiras notaram que ele em determinada hora do dia, ficava alegre e muito feliz. Curiosas, elas perguntaram ao pedreiro Zé, qual o motivo daquela alegria diária. Ele então respondeu dizendo: “Quando eu trabalhava, todos os dias entrava na igreja e dizia: “Jesus, vim te visitar”. Agora que estou aqui, é Ele quem vem me visitar.

No capítulo V item 26 de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, diz um Espírito protetor: “Se quereis fazer um cilício, aplicai-o às vossas almas e não aos vossos corpos; fustigai o vosso orgulho, recebei sem murmurar as humilhações, eliminai o vosso egoísmo, deixai de ser ambicioso pelas posses terrenas. Aí tendes o verdadeiro cilício, porque atestarão a vossa coragem e a vossa submissão à vontade de Deus”. Fica, portanto, bem claro que o verdadeiro cilício está no combate às imperfeições espirituais, causas geradoras de nossos males.

As ciências psicológicas têm avançado bastante nesse particular, demonstrando que os males do paciente se originam muitas das vezes de complexos de culpa. Essas idéias aproximam-se dos princípios espíritas, faltando apenas, aos psicólogos, avançar nas pesquisas e descobrir que essas situações estão vinculadas ás nossas atitudes infelizes do presente e de existências passadas.

Na legislação penal humana, há as penas alternativas para crimes leves e para criminosos primários. Alguém que comete uma agressão ou outras infrações simples, ao invés de sofrer a privação da liberdade, assume o compromisso de realizar serviços comunitários por determinado período, ou o pagamento de cestas básicas a entidades filantrópicas. Assim vemos a justiça terrena imitando a Justiça Divina.

Sejam os nossos débitos determinados pelo que estamos fazendo ou pelo que fizemos, de comprometimento no presente ou no passado, é preciso lembrar uma afirmativa importante do profeta Oséias, citada por Jesus, em Mateus 9:13 que diz: “Misericórdia quero, e não sacrifícios”. A mesma idéia está no Sermão da Montanha, quando Jesus firma: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”. Mt. 5:7.

Deus não quer que mortifiquemos o nosso corpo, que nos isolemos da sociedade, que carreguemos complexos de culpa conscientes ou inconscientes a nos infelicitar. O Pai Celestial espera apenas que cultivemos a misericórdia, e poderíamos defini-la como a capacidade de nos compadecermos das misérias
dos nossos semelhantes, fazendo algo por amenizá-las. O supremo cilício consiste em lutar contra a tendência que temos ao acomodamento, à inércia; para que participemos efetivamente em favor de nosso semelhante. Todo aquele que cultiva o bem e ajuda o próximo, já tem o bem no coração, libertando-se de
temores, dúvidas, sacrifícios e superstições.

Uma dirigente de uma creche filantrópica deixou admirada uma repórter que preparava uma matéria sobre entidades de atendimento a crianças carentes. Observou a repórter que tudo estava organizado, limpo, trabalho impecável, funcionários dedicados, e ela comentou com a dirigente: - “Soube que a senhora é o cérebro e o coração desta entidade, dando-lhe essa feição acolhedora e eficiente, e comentam de sua dedicação e desprendimento na atividade”. A dirigente falou que “era um exagero, inspirado na bondade dos que trabalhavam com ela. Sou apenas uma peça na engrenagem, e saiba que não tenho mérito algum. Estou aqui cumprindo pena alternativa”. – A repórter espantou-se: - “Pena alternativa?” E completou dizendo: “Não posso imaginar a senhora praticando algum delito...” A dirigente voltou a dizer: - “Hoje não, minha filha; mas no passado fui uma criminosa”.

Falo agora como espírita. “Na existência anterior pratiquei várias vezes o aborto delituoso, acumulando desajustes que nesta existência se manifestaram desde a juventude, na forma de grande angústia, que terminou me levando para a depressão. Com isso sofri muito até conhecer a Doutrina dos Espíritos. Tomei conhecimento do meu passado e a Bondade Divina concedeu-me, por abençoada alternativa, me engajar nesta entidade. Estou resgatando meus débitos sem tristezas, sem reclamação, exercitando o amor que neguei outrora a outras crianças de quem deveria ser mãe. Abençoada Misericórdia Divina que nos oferece o trabalho no amor, substituindo a dor, no resgate dos nossos débitos!”

O Evangelho nos informa que Deus fez o ser humano, não para viver isolado, mas em sociedade, uns ajudando aos outros, progredindo todos. Os que fazem votos de silêncio, prescrito por certas seitas, apenas cometem uma tolice. Entretanto, o silêncio é útil, porque permite a concentração e a paz necessária ao espírito para entrar em contato com as forças da Natureza e da Espiritualidade.
Não há mérito em procurar as aflições por sofrimentos voluntários, a não ser quando o sofrimento ou a privação têm por objetivo o bem do próximo. Nesse caso é um ato de caridade, mas quando o objetivo é para si próprio, resulta em fanatismo, sem merecimento algum.

Contentai-vos com as provas que Deus vos possibilita e não aumenteis sua carga, orienta o Evangelho. Torturar e martirizar voluntariamente vosso corpo é desrespeitar a Lei de Deus, declara os Protetores Espirituais. Vejamos um exemplo de cilício na história de um jovem: - Será que sou um covarde ? Os “velhos” me avisaram sempre para não experimentar, pois depois não tem volta. Mas... se todo mundo avisa que é ruim e a turma fuma, é porque não é tão mau assim. Que será que eles sentem ? – “Tá com medo, em cara ? Bem que eu sabia que tu não era de nada”, falou o chefe da turma. E as risadas de deboche estavam em meus ouvidos. Não agüentava mais ser gozado na presença das garotas, além do mais eu queria ser admitido na turma. Eles eram admirados e ninguém se metia e podia com eles. Afinal, uma experimentadinha só, uma única
e se eu não gostar deixarei. Aí eu experimentei a droga . . .

(8 meses depois) Meu Deus! Estou ficando louco; acho que o meu velho já desconfia, pois a última vez que roubei dinheiro dele peguei demais! – Aquele desgraçado vendedor subiu o preço; mas eu precisava conseguir mais e tinha de arranjar o dinheiro de qualquer jeito. Acho até que o velho prefere que eu pegue o dinheiro dele do que de outra pessoa. Será? – Que importa, se não conseguir dele, vou conseguir de qualquer jeito e de qualquer um.

(Mais 4 meses depois) Não acredito, não posso acreditar! Será verdade? Disseram-me que ontem à noite, bati na minha “velha” porque ela não quis me dar dinheiro. Afinal, tinha tomado uma dose extra e ainda não estava satisfeito. Peguei na “marra” e ela quis me impedir de sair de casa e eu a derrubei violentamente, ficando ela desacordada no chão; e que me acharam tempo depois desmaiado na calçada do beco... Como é que eu não consigo me lembrar de nada? Como fui ficar nessa situação?

(Mais 6 meses depois) Estou preso. Nunca poderia imaginar que isso fosse me acontecer. Fui além do que me falaram. A prisão é horrível; a solidão e a vergonha de estar aqui é terrível. Será que o inferno é pior que isto? Estou um farrapo humano, desfigurado, cadavérico, doente e desprezado. Mas o pior não é a aparência externa; é no que me transformei; sem vontade própria, sem liberdade, e com o remorso na consciência do que fiz passar os meus “velhos”...
Onde estão os caras ‘bons”; aqueles que as garotas olhavam com admiração; os corajosos, os que sabiam das coisas? – Dois estão cumprindo pena aqui comigo, e me disseram que outros já morreram de over-dose. Daquela turma, só lembro do fornecedor da droga e também da lembrança do crime praticado. Eu fui um covarde e me deixei levar pela conversa dos outros, sem ouvir os conselhos dos meus “velhos”. . . (soluços) Meu Deus, como gostaria de continuar “não sendo de nada”, como disse o chefe da turma. Eu só queria ter uma chance de voltar atrás no tempo, mesmo que todos zombassem de mim... por que não segui os conselhos dos meus velhos ?- Aqui termina a história desse jovem.

A Doutrina dos Espíritos sempre se posicionou contra os sofrimentos voluntários, mostrando a sua inutilidade e seu caráter nocivo. Qualquer gênero de cilício que traga sofrimento nunca é agradável a Deus e a Doutrina Espírita nos alerta sobre tais práticas. É oportuno lembrar por fim, que o castigo imposto ao próprio corpo, assume muitas das vezes, caráter psicológico, por julgar-se, aquele que errou indigno de reparação e de ser feliz. Servir-se alguém da liberdade, de alguma ocasião de lazer sadio, para ajudar o próximo, é uma caridade legítima que trás felicidade sempre a todos os que gozam desse privilégio. Este é o único cilício que é agradável a Deus


Bibliografia:
Evangelho de Jesus
“Evangelho Segundo o Espiritismo”


Jc.
S.Luis, 22/8/2006

domingo, 15 de agosto de 2010

INSEGURANÇA ATUAL E A DOUTRINA

INSEGURANÇA ATUAL E A DOUTRINA


No Livro dos Espíritos, na pergunta 926, encontramos a seguinte resposta: “Os males deste mundo, estão em razão das necessidades fictícias que criais para vós mesmos. Aquele que sabe limitar seus desejos e vê sem inveja o que está acima de si, poupa-se a muitas decepções na existência. O mais rico não é o que tem maiores posses, mas aquele que tem menos necessidades”.

No Evangelho Segundo o Espiritismo, vamos encontrar o espírito de Fénelon a nos advertir, dizendo: “De tormentos se poupa, aquele que sabe contentar-se com o que tem; que observa sem inveja o que não possui; que não procura aparentar mais do que o que é. Esse é feliz, porquanto, se olha para baixo de si, vê sempre outras pessoas que têm menos do que ele. Ele é calmo porque não cria para si, desejos e necessidades quiméricas... Não será a calma, uma felicidade em meio das tormentas da existência?”

Muitas pessoas têm medo de tudo, de doenças, de tempestades, da situação econômica difícil, de desastres, da violência, enfim, de coisas que podem nunca acontecer com elas. É claro que, entrar em pânico não vai resolver nada; o que nos compete fazer é tomar as precauções para evitar o que pode ser evitado; jamais pensar o pior. A propósito, o psicólogo inglês Engler, apurou em pesquisa que, apenas 2%, vejam bem, 2% das nossas preocupações, são justas e merecem nossa atenção. Isso significa que 98% das nossas preocupações não têm sentido, só servindo para sobrecarregar nossa mente.

A melhor coisa para mantermos o equilíbrio emocional diante da existência é dirigirmo-nos diretamente ao Pai Celestial, para vencermos a insegurança, o medo e a ansiedade. Orar é um ato de fé, de confiança na bondade de Deus e no Seu imenso amor para com todos nós, pois Ele nos criou para sermos felizes. Há pessoas que vivem estressadas, no dizer popular: “com os nervos a flor da pele”. O ser humano sofre mutações psíquicas de acordo com o que vê, ouve e aprende. Tudo isso vai influenciar no que ele pensa, sente e faz, causando por vezes, danos materiais, morais e espirituais para si próprio. Para outras pessoas mais equilibradas, as mesmas coisas poderão passar despercebidas, sem maior importância, sem provocar reações que causem mal estar. Para evitar mágoas, constrangimento ou aborrecimentos é bom que vigiemos os nossos pensamentos, as palavras e as ações, administrando bem as nossas emoções e evitando a precipitação ou a preocupação antecipada dos fatos.

Vivemos difícil período com mercados em crise, bolsa em baixa, bancos quebrando e o desemprego rondando a existência de muita gente. A verdade é que a crise não veio como um furacão repentino para causar na sociedade o caos. Como tudo na vida segue padrões estabelecidos pela Natureza, com a crise não foi diferente. Ela veio de fininho, entranhando-se em nossas vidas, pelo exagero do consumismo; foi crescendo sem que percebêssemos e hoje chegou firme, pujante e mal-educada, ameaçando todos nós. Sim, fomos nós que plantamos essa crise mundial com nossas atitudes de alto consumo, no exagero e na busca do ter, que gerou toda essa situação em que hoje nos vemos envolvidos.

A sociedade de consumo exagerado plantou a ilusão de que devemos ter tudo, sem, entretanto, termos o poder aquisitivo para ter tudo de tudo. Produtos e mais produtos são lançados no mercado e grande parcela da população invade as lojas de todos os segmentos para adquirir as novidades, com e sem as condições necessárias. E, para que possamos ser felizes e bem-sucedidos, como prega a propaganda, temos que comprar, e para isso nos oferecem créditos e mais créditos; e com essas facilidades fomos comprando o necessário e também os supérfluos, não com dinheiro, mas com créditos, que é um dinheiro de “mentirinha”. Lógico que, com tanto crédito fácil, um dia as contas iriam ultrapassar nossos ganhos e fatalmente, as dívidas bateriam em nossa porta. Aí não adianta lamentar, natural é que paguemos pelo que compramos...

Há alguns meses atrás, víamos anúncios assim: “Compre seu carro sem entrada e pague em 100 meses”. Conhecemos pessoas que não tinham nem carteira de motorista e nem necessidade e compraram carro para impressionar os visinhos. Hoje, os meses estão sendo reduzidos juntamente com o crédito oferecido, enquanto os juros passaram a aumentar. Chegou o momento de se refletir e chegar à conclusão de que não precisamos de tantas coisas para viver. No momento, há ainda algo mais importante a considerar: A natureza que tanto nos concede está fatigada; chegou o momento de preservá-la; necessitamos voltar nossos olhos para a reciclagem, de modo que retiremos da natureza, somente o necessário do necessário. A crise é, portanto, para exercitarmos a criatividade e rever nossas necessidades e valores.

Imaginemos qual seria a postura de Allan Kardec, se estivesse encarnado nos dias de hoje, em relação à crise econômica. Quais seriam suas palavras, suas atitudes. Será que o Codificador vivendo no Brasil, compraria em carro financiado em 100 meses? Tomando como base suas idéias e seu ideal dirigido para a educação da alma humana, não é difícil prever quais seriam suas opiniões que, em realidade, já estão impressas em “O Livro dos Espíritos”, mais precisamente na resposta a questão nº 713, em que os Espíritos afirmam: “Os prazeres têm o limite traçado pela natureza, mas os seres humanos chegam ao extremo e são punidos pela própria volúpia, por seus desejos desregrados”.

A crise que se instalou mundialmente é um mecanismo para que nos eduquemos e aprendamos a viver com o necessário, sem o exagero do supérfluo. Não estamos aprovando à miséria; estamos apenas fazendo um apelo ao bom senso. Senão vejamos: Cerca de 80 milhões de brasileiros estão endividados por conta dos abusos do consumismo. A facilidade do crédito dá a falsa ilusão de alto poder aquisitivo. Há muito tempo, afirmam os economistas que, o cartão de crédito e limites bancários são utilizados como complemento de renda, o que equivale a dizer que, não sabemos viver com o que ganhamos, querendo sempre mais, e aí as dívidas e os juros nos tiram o sossego e a paz. Aliás, os altos preços de alguns bens, são frutos da procura frenética que empreendemos por eles.

Fazemos qual uma criança que quando vê uma coisa diferente, embora tenha muitos brinquedos, logo deseja essa coisa. A lei de mercado nos indica que quanto mais procurado, mais valorizado estará o bem e certamente mais caro será o seu preço. É possível viver bem e confortavelmente aproveitando os benefícios da tecnologia, sem partir para o consumismo exagerado que trás grande prejuízo para nós como também para á economia, à ecologia e o meio ambiente que é degredado. Buscar a existência com simplicidade, sem exageros, é fundamental para afastarmos toda e qualquer crise, além de evitar cobranças e dores de cabeça na hora de liquidá-las. Afinal, nossos objetivos na Terra são muito mais amplos, do que nos afogarmos em dívidas e juros.

A Doutrina dos Espíritos ensina-nos a viver com simplicidade; basta estudarmos atentamente as questões aqui mencionadas e teremos uma notável aula de economia e orçamento familiar. O Evangelho nos informa que as causas atuais das nossas aflições são devidas a nossa má conduta, e por não termos limitado nossos desejos. Quantos males e enfermidades são conseqüências dos nossos excessos de todos os gêneros. O nosso desejo de possuir mais e mais e o apego a esses bens terrenos é um dos mais fortes fatores do entrave ao nosso adiantamento moral e espiritual.

Deus conhece nossas necessidades, e as provê segundo o nosso merecimento; mas o ser humano, insaciável em seus desejos, não sabe se contentar com o que tem; o necessário não lhe basta, quer sempre mais e mais, mesmo sendo supérfluo. É então que a Providência Divina o deixa entregue a si mesmo; frequentemente é infeliz por sua própria culpa e por não ter ouvido a sua consciência que o advertia. Deus o deixa sofrer as conseqüências, a fim de que lhe sirva de lição para o futuro.

A Terra e a Natureza sempre produziram o bastante para alimentar todos os seres humanos. O alimento que a Terra generosamente produz para o sustento de todos, devia ser um patrimônio de toda a humanidade. A aquisição e a posse de bens terrenos, que consiste a felicidade na Terra para muitos, é uma quimera, ilusão para àqueles que não agem sabiamente, que, por uma semana, um mês ou um ano de completa satisfação, todo o resto se passa numa seqüência de amarguras e decepções; e notai que estamos falando dos felizes da Terra, daqueles que são invejados pelas multidões.

Jesus recomendou: “Não ajunteis tesouros na Terra, que são perecíveis; mas formai tesouros no Céu, porque são eternos”. Em outras palavras: Não vos preocupeis com a posse dos bens materiais, que são passageiros, mas sim com os bens espirituais; porque o ser humano só possui aquilo que pode levar deste mundo. Um espírito protetor, em mensagem no Evangelho Segundo o Espiritismo, declara: “Quando considero a brevidade da existência terrena, fico dolorosamente impressionado pela grande preocupação da qual o bem-estar material é para vós o objeto, ao passo que ligais tão pouca importância e não consagrais senão pouco ou nenhum tempo ao vosso aperfeiçoamento moral que deve ser contado para a vossa eternidade”.

Jesus, ainda falando da bondade do Pai Celestial, nos disse: “Observai os pássaros do Céu; eles não semeiam e não colhem e não amontoam em celeiros, mas vosso Pai Celestial os alimenta; não sóis vós muito mais do que eles? Procurai, pois, primeiramente o Reino de Deus e Sua bondade, e todas as outras coisas vos serão dadas por acréscimo”.

Chega de medos, chega de preocupações, chega de insegurança; vivamos com simplicidade e confiantes de que somos filhos bem amados, e que devemos trabalhar para progredir, cientes de que nosso Pai Celestial está sempre amparando todos nós. . .



Bibliografia:
“O Livro dos Espíritos”
“O Evangelho Segundo o Espiritismo”
Jornal “O Imortal”


Jc.
S.Luis, 25/5/2009

A CASA ESPÍRITA

A CASA ESPÍRITA


Uma casa só tem sentido a partir de sua finalidade, porque esta define a razão de ser daquela existir no mundo. Vale o mesmo para o mundo, enquanto casa dos espíritos encarnados, nossa morada, porque somos nós que lhe damos sentido. Se o mundo é de expiações e provas é porque os seres que o habitam ainda não se constituem de homens e mulheres de bem. (L.E.- questão 1019)

Devemos, pois, trabalhar o ambiente de regeneração na casa espírita, antecipando-se, assim, ao que vai ocorrer também com o mundo. Para que isso ocorra, cabe a nós espíritas dar sentido à casa espírita na qual trabalhamos voluntariamente, auxiliando, de modo direto ou indireto, a sociedade e as pessoas que por ela passam todos os dias. (L.E. 793-842)

As pessoas freqüentam a Casa Espírita porque nela se sentem bem, ora como participantes, ora como assistentes, e assim vão melhorando a existência. Mas será que elas conhecem a nossa Casa? Como ela começou quem foram seus fundadores, quais as atividades desenvolvidas? A Casa é própria ou alugada, qual o valor das despesas com água, luz, limpeza, IPTU e outras? Estamos colaborando no pagamento dessas despesas?

Quando chegamos para a reunião, encontramos tudo organizado. Se, gostamos de ler, existe uma modesta biblioteca com livros selecionados sobre a Doutrina dos Espíritos, tanto para emprestar como também para vender em outras Casas.
Necessitando de assistência espiritual, encontramos sempre as pessoas para nos atender. Incomoda-nos um problema familiar ou uma perturbação espiritual, nos socorremos do passe, da água fluidificada, das palestras e da orientação dos guias espirituais, para vencermos as dificuldades ou sabermos como conviver e administrá-las. Antecedendo outras necessidades, participamos da prece de abertura e ouvimos a leitura do Evangelho de Jesus com as devidas explicações à luz da Doutrina Espírita.

Na Casa Espírita tem também as mensagens que a Espiritualidade Superior nos oferece, através dos médiuns sérios que, com sabedoria, nos vão equilibrando pouco a pouco. Quem ainda se lembra da primeira vez que veio à Casa Espírita?
Há também na Casa, um quadro de avisos e, curioso é que quase ninguém lê, e que com freqüência, nele há informações importantes sobre cursos, eventos campanhas, que são realizados na Casa ou em outros Centros. Quando precisamos, por estar com algum problema psíquico ou alguém da nossa família, fomos assistidos pela equipe espiritual, tudo gratuitamente e com carinho, coisas raras de se encontrar hoje em dia.

Conta-nos, o confrade José Antonio de Paula, de Cambé no Paraná, que certa vez encontrando um conhecido, este lhe afirmou que as Casas Espíritas estavam se esvaziando, como se ninguém mais se interessasse pela Doutrina dos Espíritos, e completou dizendo, já ter sido espírita e freqüentado muitos Centros Espíritas, e que atualmente não era mais espírita. É evidente que quando uma pessoa diz
que já foi espírita, na verdade essa pessoa nunca foi. Pode ter acontecido de haver freqüentado algumas Casas Espíritas, com o propósito de resolver algum problema, receber algum benefício, ou até mesmo para conhecer, mas não entendeu os postulados da Doutrina e nem deixou que a Doutrina alcançasse sua consciência e entendimento.

O fato é que essa afirmação do conhecido pôs o confrade José a pensar, principalmente, quando foi convidado para fazer uma palestra numa pequena cidade do interior, e sendo logo informado pelo dirigente, de que não estranhasse as poucas pessoas que estariam presentes, em virtude do Centro Espírita estar com pouca freqüência. Ele então pediu ao dirigente que lhe fez o convite, para programar a palestra para um ambiente neutro, fora do Centro Espírita, mas que mantivesse nos convites, a palavra “Espiritismo”, e o tema: “Uma visão espírita do sofrimento”. Para surpresa do dirigente do Centro, mais de cem pessoas compareceram a palestra, ficando ele impressionado e aliviado. Então uma pergunta surgiu na mente do confrade José de Paula: - Se as pessoas se interessam pela Doutrina Espírita, por que não vão ao Centro Espírita? – Seria culpa dos próprios dirigentes dos Centros? Os trabalhos espíritas são tão fechados que acabam afastando as pessoas que gostariam de freqüentar? Será que qualquer pessoa que se aproxima da Casa Espírita, não recebe atenção e nem lhe perguntam se precisa de alguma ajuda?

Na verdade é que há pessoas que agregam, juntam, e outras que desagregam. Nem sempre os que têm mais conhecimentos da Doutrina, são os que estão mais qualificados para assumir a direção da Casa Espírita. Isso não impede que ocupem outros espaços, ministrando palestras, cuidando de outros setores. Só quem tem em sua personalidade, a firmeza de caráter, a compreensão e a caridade para com o próximo, que o cargo exige, deveria dirigir uma Casa Espírita. A Doutrina dos Espíritos pede conhecimento e responsabilidade, porém em maior proporção, precisa do exemplo daqueles que representam a Casa Espírita.

O Centro Espírita que é a nossa segunda casa, é uma Instituição jurídica, e tem compromissos legais, além de ter livro de atas, caixa, etc. Então caberia a pergunta: Por que diante de tantas dificuldades, as pessoas abrem Casas Espíritas? Porque maiores que sejam os problemas, é a vocação dos espíritas para a caridade. Cada Centro aberto evita que muitas pessoas acabem internadas em manicômios. A orientação evangélica e a assistência espiritual contribuem para diminuir a venda de psicotrópicos, porque orienta a alma e, por conseqüência, harmoniza a saúde. Cada reunião de desobsessão retira das trevas, espíritos que viveram desordenadamente, e hoje, escravizam por sintonia inferior à existência das pessoas. O trabalho executado no Centro Espírita representa oportunidade de valores morais e espirituais. A segurança que nos envolve quando estamos no acolhedor espaço da Casa Espírita, é comprovado por quantos a freqüentam. Em tais momentos, tornam-se parte de nossas existências, e o Centro torna-se realmente uma segunda casa para nós. E qual tem sido nosso comportamento perante essa Casa que nos acolhe?
O que temos oferecido como retorno? Qual a nossa cota de colaboração a essa Casa que para nós representa a escola, a oficina, o templo e o hospital? Pelo menos, prestigiamos os irmãos que se esforçam na divulgação da Doutrina, geralmente com sacrifício pessoal? Comparecemos à Casa Espírita para sermos melhor a cada dia, ou é apenas para buscar uma melhora? Instruímo-nos com a Doutrina, como convêm a todo espírita, ou estamos na Casa Espírita apenas a procura de benéficos materiais? Quais os progressos em nossas ações, pensamentos e sentimentos? Prestamos atenção ao irmão ou irmã que veio cumprir a sua missão voluntária, mantendo-se no serviço... ou será que pensamos que os trabalhadores espíritas são isentos ao cansaço e ao sofrimento?

É importante analisarmos o nosso proceder na Casa Espírita, junto aos nossos irmãos de ideal. Devemos colaborar com as atividades da nossa Casa, doando de nós para que o bem que sentimos se faça mais forte, de maior alcance aos outros e com mais amor. Sejamos irmãos e amigos, e não estranhos ou adversários uns dos outros. Por isso Jesus disse: “Conhecereis meus discípulos por muito se amarem”.

Após este esboço do que acontece na Casa Espírita, onde até o amor entre as pessoas algumas vezes está ausente, é necessário que todos nós nos unamos, cada um fazendo aquilo que pode, pois, todos nós formamos essa redentora Doutrina que não depende de ministros, sacerdotes, pastores ou mestres. Somos o exemplo da Doutrina do auxílio mútuo, onde não há maior ou menor, conforme a lição de Jesus, a fim de que as pessoas possam ser beneficiadas. Cada um que servir, estará dando o exemplo e animará o que está ao seu lado para que participe também. No momento atual em que a palavra crise é a mais pronunciada, somente existe uma saída para mudar a situação das pessoas – Fraternidade.

Allan Kardec alertou no livro “Gênese” (cap. III item 8), onde chamou de mal a ausência do bem, naquele que pode fazê-lo e não faz. Enumeramos a seguir, alguns itens que podem ser identificados em nossa conduta, que consideramos importantes e devem ser combatidos: l- Quando deixamos a preguiça, o comodismo, a falta de ânimo nos impedir, quando temos que desempenhar uma tarefa doutrinária a nós confiada (Livro dos Espíritos, questão 192-A); 2- Quando aceitamos os desvios doutrinários realizados por pessoas pseudo-sábias que se intrometem indevidamente (LE. Questão 812); 3- Quando perdemos a noção de justiça e amor, do bom humor ou da boa vontade, no trato com nossos semelhantes (l.E. questão 828); 4- Quando nos deixamos levar pela teocracia mediúnica que imobiliza as iniciativas e ações das pessoas, na decisão de tudo, dentro da Casa Espírita (LE. questão 532); 5- Quando não evitamos o disse-me-disse e a formação de subgrupos, que não se assemelham aos esperados irmãos, na prática do bem geral com humildade e amor (L.E. questão 303); 6- Quando o espaço da divulgação doutrinária é ocupado por elite, distante dos menos favorecidos e dos que não possuem dotes intelectuais (L.E. questão 980); 7- Quando não realizamos a evangelização das crianças, dos jovens e adultos e não preparamos alguns destes últimos, para futuras substituições no quadro de
direção da Casa Espírita (L.E. questão 199-A); 8- Quando isolamos a Casa Espírita do contato com o Movimento Espírita, evitando assim que irmãos compartilhem da salutar troca de experiências, no esforço de unificação do Movimento Espírita brasileiro, regional ou nacional (L.E. questão 768); 9- Quando a Casa Espírita deixa de se orientada basicamente pelas obras fundamentais da Doutrina dos Espíritos, codificada por Allan Kardec, mesmo que outras obras espíritas estejam sendo utilizadas como roteiro das atividades doutrinárias (l.e. Conclusão item VIII 6º).

Algumas vezes ouvimos a pergunta que nos é feita: “Você é espírita kardecista?”
A resposta deve ser sempre: “Sou espírita”. Todo espírita é kardecista, pois, Espiritismo e Espírita foram palavras criadas por Allan Kardec para definir a Doutrinas dos Espíritos e seus seguidores, e está na introdução de “O Livro dos Espíritos”.

Atualmente, algumas obras têm sido consideradas patrimônio a ser incorporadas às obras de Kardec. Não questionamos o valor e a qualidade, mas, considerá-las como verdades inquestionáveis e serem simplesmente seguidas, vai uma longa distância. Vejamos o que diz o evangelista João: “Meus amados, não creiais em qualquer espírito; experimentai se os espíritos são de Deus”. Assim, devemos colocar em questão as mensagens de espíritos, seja qual for o médium, e o nome dado pelo espírito comunicante, conforme já ensinava Kardec: “Devemos por força da razão, investigar qualquer informação transmitida, independentemente da projeção alcançada”.

O desejo de venerar e seguir nomes famosos, por vezes cega o espírita, que quer santificar homens e espíritos, ao invés de respeitá-los por suas contribuições intelectuais, passível, como qualquer outro, de estudo e discordância, mesmo porque, muitos espíritos inferiores usam nomes famosos para darem comunicações absurdas, destituídas de lógica e moralidade, com o propósito de pregar peças nos incautos e nos ingênuos. Esses complementos à obra de Allan Kardec acabarão por igualá-lo às religiões dogmáticas, obrigando seus adeptos a acatarem como certezas os mais mirabolantes sistemas e idéias. Diante dessas coisas, cheguei à conclusão de que sou espírita convicto, bem diferente de outros irmãos que estão em casas autodenominadas de espíritas.

A Casa Espírita abriga a causa. A Causa dá sentido à Casa e aos que a freqüentam. Os bons espíritas é que mantêm a Causa Espírita viva e atuante dentro e fora do Centro, através do estudo da Doutrina dos Espíritos e da prática constante da Caridade. Que outra Casa abriga e incentiva uma Causa tão feliz para a sociedade humana? A Doutrina dos Espíritos é o Consolador Prometido por Jesus, e para nós, é uma honra servir como humilde tarefeiro nessa Causa do Bem, na Casa Espírita. (Conclusão L.E. item 5 parag.4)

Só assim estaremos realmente fazendo do nosso convívio no Centro Espírita, uma casa de amor, uma reunião de família. É nosso dever principal confraternizar, pois só assim estaremos seguindo as recomendações de Jesus,
quando disse: “Que vos ameis uns aos outros, como eu vos amei. Assim fazendo, todos saberão que sois meus discípulos”.

É chegado o tempo em que haverá a renovação espiritual da Terra e os espíritos que não procurarem evoluir através do amor e da caridade, lamentarão depois a oportunidade desperdiçada. Grande, portanto, é a nossa responsabilidade tanto no convívio no lar, na Casa Espírita, ou em qualquer outro lugar, nesta hora de definição.

O nosso futuro está em jogo; a época não é mais de acomodação, mas de realização e isto só depende de nossa decisão...

Que a Paz do Senhor, esteja em nossos corações, orientando-nos no bem.



Bibliografia:
“O Livro dos Espíritos”
Livro “A Gênese”


Jc.
S.Luis, 22/10/2004.