domingo, 15 de agosto de 2010

A CASA ESPÍRITA

A CASA ESPÍRITA


Uma casa só tem sentido a partir de sua finalidade, porque esta define a razão de ser daquela existir no mundo. Vale o mesmo para o mundo, enquanto casa dos espíritos encarnados, nossa morada, porque somos nós que lhe damos sentido. Se o mundo é de expiações e provas é porque os seres que o habitam ainda não se constituem de homens e mulheres de bem. (L.E.- questão 1019)

Devemos, pois, trabalhar o ambiente de regeneração na casa espírita, antecipando-se, assim, ao que vai ocorrer também com o mundo. Para que isso ocorra, cabe a nós espíritas dar sentido à casa espírita na qual trabalhamos voluntariamente, auxiliando, de modo direto ou indireto, a sociedade e as pessoas que por ela passam todos os dias. (L.E. 793-842)

As pessoas freqüentam a Casa Espírita porque nela se sentem bem, ora como participantes, ora como assistentes, e assim vão melhorando a existência. Mas será que elas conhecem a nossa Casa? Como ela começou quem foram seus fundadores, quais as atividades desenvolvidas? A Casa é própria ou alugada, qual o valor das despesas com água, luz, limpeza, IPTU e outras? Estamos colaborando no pagamento dessas despesas?

Quando chegamos para a reunião, encontramos tudo organizado. Se, gostamos de ler, existe uma modesta biblioteca com livros selecionados sobre a Doutrina dos Espíritos, tanto para emprestar como também para vender em outras Casas.
Necessitando de assistência espiritual, encontramos sempre as pessoas para nos atender. Incomoda-nos um problema familiar ou uma perturbação espiritual, nos socorremos do passe, da água fluidificada, das palestras e da orientação dos guias espirituais, para vencermos as dificuldades ou sabermos como conviver e administrá-las. Antecedendo outras necessidades, participamos da prece de abertura e ouvimos a leitura do Evangelho de Jesus com as devidas explicações à luz da Doutrina Espírita.

Na Casa Espírita tem também as mensagens que a Espiritualidade Superior nos oferece, através dos médiuns sérios que, com sabedoria, nos vão equilibrando pouco a pouco. Quem ainda se lembra da primeira vez que veio à Casa Espírita?
Há também na Casa, um quadro de avisos e, curioso é que quase ninguém lê, e que com freqüência, nele há informações importantes sobre cursos, eventos campanhas, que são realizados na Casa ou em outros Centros. Quando precisamos, por estar com algum problema psíquico ou alguém da nossa família, fomos assistidos pela equipe espiritual, tudo gratuitamente e com carinho, coisas raras de se encontrar hoje em dia.

Conta-nos, o confrade José Antonio de Paula, de Cambé no Paraná, que certa vez encontrando um conhecido, este lhe afirmou que as Casas Espíritas estavam se esvaziando, como se ninguém mais se interessasse pela Doutrina dos Espíritos, e completou dizendo, já ter sido espírita e freqüentado muitos Centros Espíritas, e que atualmente não era mais espírita. É evidente que quando uma pessoa diz
que já foi espírita, na verdade essa pessoa nunca foi. Pode ter acontecido de haver freqüentado algumas Casas Espíritas, com o propósito de resolver algum problema, receber algum benefício, ou até mesmo para conhecer, mas não entendeu os postulados da Doutrina e nem deixou que a Doutrina alcançasse sua consciência e entendimento.

O fato é que essa afirmação do conhecido pôs o confrade José a pensar, principalmente, quando foi convidado para fazer uma palestra numa pequena cidade do interior, e sendo logo informado pelo dirigente, de que não estranhasse as poucas pessoas que estariam presentes, em virtude do Centro Espírita estar com pouca freqüência. Ele então pediu ao dirigente que lhe fez o convite, para programar a palestra para um ambiente neutro, fora do Centro Espírita, mas que mantivesse nos convites, a palavra “Espiritismo”, e o tema: “Uma visão espírita do sofrimento”. Para surpresa do dirigente do Centro, mais de cem pessoas compareceram a palestra, ficando ele impressionado e aliviado. Então uma pergunta surgiu na mente do confrade José de Paula: - Se as pessoas se interessam pela Doutrina Espírita, por que não vão ao Centro Espírita? – Seria culpa dos próprios dirigentes dos Centros? Os trabalhos espíritas são tão fechados que acabam afastando as pessoas que gostariam de freqüentar? Será que qualquer pessoa que se aproxima da Casa Espírita, não recebe atenção e nem lhe perguntam se precisa de alguma ajuda?

Na verdade é que há pessoas que agregam, juntam, e outras que desagregam. Nem sempre os que têm mais conhecimentos da Doutrina, são os que estão mais qualificados para assumir a direção da Casa Espírita. Isso não impede que ocupem outros espaços, ministrando palestras, cuidando de outros setores. Só quem tem em sua personalidade, a firmeza de caráter, a compreensão e a caridade para com o próximo, que o cargo exige, deveria dirigir uma Casa Espírita. A Doutrina dos Espíritos pede conhecimento e responsabilidade, porém em maior proporção, precisa do exemplo daqueles que representam a Casa Espírita.

O Centro Espírita que é a nossa segunda casa, é uma Instituição jurídica, e tem compromissos legais, além de ter livro de atas, caixa, etc. Então caberia a pergunta: Por que diante de tantas dificuldades, as pessoas abrem Casas Espíritas? Porque maiores que sejam os problemas, é a vocação dos espíritas para a caridade. Cada Centro aberto evita que muitas pessoas acabem internadas em manicômios. A orientação evangélica e a assistência espiritual contribuem para diminuir a venda de psicotrópicos, porque orienta a alma e, por conseqüência, harmoniza a saúde. Cada reunião de desobsessão retira das trevas, espíritos que viveram desordenadamente, e hoje, escravizam por sintonia inferior à existência das pessoas. O trabalho executado no Centro Espírita representa oportunidade de valores morais e espirituais. A segurança que nos envolve quando estamos no acolhedor espaço da Casa Espírita, é comprovado por quantos a freqüentam. Em tais momentos, tornam-se parte de nossas existências, e o Centro torna-se realmente uma segunda casa para nós. E qual tem sido nosso comportamento perante essa Casa que nos acolhe?
O que temos oferecido como retorno? Qual a nossa cota de colaboração a essa Casa que para nós representa a escola, a oficina, o templo e o hospital? Pelo menos, prestigiamos os irmãos que se esforçam na divulgação da Doutrina, geralmente com sacrifício pessoal? Comparecemos à Casa Espírita para sermos melhor a cada dia, ou é apenas para buscar uma melhora? Instruímo-nos com a Doutrina, como convêm a todo espírita, ou estamos na Casa Espírita apenas a procura de benéficos materiais? Quais os progressos em nossas ações, pensamentos e sentimentos? Prestamos atenção ao irmão ou irmã que veio cumprir a sua missão voluntária, mantendo-se no serviço... ou será que pensamos que os trabalhadores espíritas são isentos ao cansaço e ao sofrimento?

É importante analisarmos o nosso proceder na Casa Espírita, junto aos nossos irmãos de ideal. Devemos colaborar com as atividades da nossa Casa, doando de nós para que o bem que sentimos se faça mais forte, de maior alcance aos outros e com mais amor. Sejamos irmãos e amigos, e não estranhos ou adversários uns dos outros. Por isso Jesus disse: “Conhecereis meus discípulos por muito se amarem”.

Após este esboço do que acontece na Casa Espírita, onde até o amor entre as pessoas algumas vezes está ausente, é necessário que todos nós nos unamos, cada um fazendo aquilo que pode, pois, todos nós formamos essa redentora Doutrina que não depende de ministros, sacerdotes, pastores ou mestres. Somos o exemplo da Doutrina do auxílio mútuo, onde não há maior ou menor, conforme a lição de Jesus, a fim de que as pessoas possam ser beneficiadas. Cada um que servir, estará dando o exemplo e animará o que está ao seu lado para que participe também. No momento atual em que a palavra crise é a mais pronunciada, somente existe uma saída para mudar a situação das pessoas – Fraternidade.

Allan Kardec alertou no livro “Gênese” (cap. III item 8), onde chamou de mal a ausência do bem, naquele que pode fazê-lo e não faz. Enumeramos a seguir, alguns itens que podem ser identificados em nossa conduta, que consideramos importantes e devem ser combatidos: l- Quando deixamos a preguiça, o comodismo, a falta de ânimo nos impedir, quando temos que desempenhar uma tarefa doutrinária a nós confiada (Livro dos Espíritos, questão 192-A); 2- Quando aceitamos os desvios doutrinários realizados por pessoas pseudo-sábias que se intrometem indevidamente (LE. Questão 812); 3- Quando perdemos a noção de justiça e amor, do bom humor ou da boa vontade, no trato com nossos semelhantes (l.E. questão 828); 4- Quando nos deixamos levar pela teocracia mediúnica que imobiliza as iniciativas e ações das pessoas, na decisão de tudo, dentro da Casa Espírita (LE. questão 532); 5- Quando não evitamos o disse-me-disse e a formação de subgrupos, que não se assemelham aos esperados irmãos, na prática do bem geral com humildade e amor (L.E. questão 303); 6- Quando o espaço da divulgação doutrinária é ocupado por elite, distante dos menos favorecidos e dos que não possuem dotes intelectuais (L.E. questão 980); 7- Quando não realizamos a evangelização das crianças, dos jovens e adultos e não preparamos alguns destes últimos, para futuras substituições no quadro de
direção da Casa Espírita (L.E. questão 199-A); 8- Quando isolamos a Casa Espírita do contato com o Movimento Espírita, evitando assim que irmãos compartilhem da salutar troca de experiências, no esforço de unificação do Movimento Espírita brasileiro, regional ou nacional (L.E. questão 768); 9- Quando a Casa Espírita deixa de se orientada basicamente pelas obras fundamentais da Doutrina dos Espíritos, codificada por Allan Kardec, mesmo que outras obras espíritas estejam sendo utilizadas como roteiro das atividades doutrinárias (l.e. Conclusão item VIII 6º).

Algumas vezes ouvimos a pergunta que nos é feita: “Você é espírita kardecista?”
A resposta deve ser sempre: “Sou espírita”. Todo espírita é kardecista, pois, Espiritismo e Espírita foram palavras criadas por Allan Kardec para definir a Doutrinas dos Espíritos e seus seguidores, e está na introdução de “O Livro dos Espíritos”.

Atualmente, algumas obras têm sido consideradas patrimônio a ser incorporadas às obras de Kardec. Não questionamos o valor e a qualidade, mas, considerá-las como verdades inquestionáveis e serem simplesmente seguidas, vai uma longa distância. Vejamos o que diz o evangelista João: “Meus amados, não creiais em qualquer espírito; experimentai se os espíritos são de Deus”. Assim, devemos colocar em questão as mensagens de espíritos, seja qual for o médium, e o nome dado pelo espírito comunicante, conforme já ensinava Kardec: “Devemos por força da razão, investigar qualquer informação transmitida, independentemente da projeção alcançada”.

O desejo de venerar e seguir nomes famosos, por vezes cega o espírita, que quer santificar homens e espíritos, ao invés de respeitá-los por suas contribuições intelectuais, passível, como qualquer outro, de estudo e discordância, mesmo porque, muitos espíritos inferiores usam nomes famosos para darem comunicações absurdas, destituídas de lógica e moralidade, com o propósito de pregar peças nos incautos e nos ingênuos. Esses complementos à obra de Allan Kardec acabarão por igualá-lo às religiões dogmáticas, obrigando seus adeptos a acatarem como certezas os mais mirabolantes sistemas e idéias. Diante dessas coisas, cheguei à conclusão de que sou espírita convicto, bem diferente de outros irmãos que estão em casas autodenominadas de espíritas.

A Casa Espírita abriga a causa. A Causa dá sentido à Casa e aos que a freqüentam. Os bons espíritas é que mantêm a Causa Espírita viva e atuante dentro e fora do Centro, através do estudo da Doutrina dos Espíritos e da prática constante da Caridade. Que outra Casa abriga e incentiva uma Causa tão feliz para a sociedade humana? A Doutrina dos Espíritos é o Consolador Prometido por Jesus, e para nós, é uma honra servir como humilde tarefeiro nessa Causa do Bem, na Casa Espírita. (Conclusão L.E. item 5 parag.4)

Só assim estaremos realmente fazendo do nosso convívio no Centro Espírita, uma casa de amor, uma reunião de família. É nosso dever principal confraternizar, pois só assim estaremos seguindo as recomendações de Jesus,
quando disse: “Que vos ameis uns aos outros, como eu vos amei. Assim fazendo, todos saberão que sois meus discípulos”.

É chegado o tempo em que haverá a renovação espiritual da Terra e os espíritos que não procurarem evoluir através do amor e da caridade, lamentarão depois a oportunidade desperdiçada. Grande, portanto, é a nossa responsabilidade tanto no convívio no lar, na Casa Espírita, ou em qualquer outro lugar, nesta hora de definição.

O nosso futuro está em jogo; a época não é mais de acomodação, mas de realização e isto só depende de nossa decisão...

Que a Paz do Senhor, esteja em nossos corações, orientando-nos no bem.



Bibliografia:
“O Livro dos Espíritos”
Livro “A Gênese”


Jc.
S.Luis, 22/10/2004.

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