domingo, 31 de janeiro de 2010

BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS

BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS

Jesus iniciou suas pregações nas sinagogas das cidades do interior, e somente mais tarde, quando a multidão aumentou, foi que Ele passou a pregar nas praças públicas e ao ar livre.

Oferecendo o Reino de Deus, sobre o dos homens, reino de harmonia, paz, misericórdia e justiça, Jesus tinha capacidade para promover a maior revolução social, dentre as que já haviam sido tentadas. De fato; bem distanciada das clássicas e das religiões dogmáticas, que até hoje existem, filiadas ao Cristianismo, a doutrina que Jesus pregava exigia reavaliações objetivas e imediatas; exigia ações moralizadoras e resultados; exatamente como a Doutrina dos Espíritos exige hoje de seus adeptos, e não concepções teóricas e filosofias vazias. Por isso Jesus dizia sempre: “Pelos frutos conhecereis as árvores e aquele que não der bons frutos, deve ser cortada e lançada fora.”

Quando vemos nos dias de hoje, nos ambientes ainda retardados ou ignorantes, que a tendência do povo é procurar confiadamente a curandeiros e charlatões, esperançosos em curas milagrosas, às vezes impossíveis, nada há de estranhável que naqueles dias, aquelas pessoas corressem desesperadas para junto de Jesus, que, realmente, tinha poderes e meios de auxiliar e curar aos que lhe solicitavam a cura.

Quando curava os leprosos e mandava que se apresentassem aos sacerdotes, era para que o benefício fosse completo, porque os sacerdotes eram obrigados a comprovar a cura e fornecer ao ex-doente, atestado de sua cura, cessando seu isolamento em lugares afastados, podendo eles, daí em diante, retornarem ao convívio da família e da sociedade.

As curas feitas por Jesus, eram aparentemente de processos diferentes: ora Ele impunha as mãos sobre os doentes, ora apelava para a fé do pedinte, ora utilizando seu imenso poder, simplesmente dizia: “estás curado”, ou “tua fé te curou”, ou “vai e não peques mais”. Muitas vezes por compaixão, curava vários doentes ou um grupo deles, estendendo os braços em sua direção, dizendo: “se tiverdes fé sereis beneficiados”, a exemplo do que fez com os dez leprosos; outras vezes operava curas à distância, usando apenas a palavra, e como exemplo; a cura do servo do centurião que pediu a Jesus, e que teve fé de que assim seria efetuado, sem precisar Jesus ir até sua casa, citados nos Evangelhos. Foram tantas as curas que Jesus fez que ficaram muitas sem serem mencionadas pelos evangelistas.

Vendo Jesus, a multidão que se aproximava e o procurava, mais pelas curas das enfermidades, do que pelos ensinamentos que transmitia, Ele subiu a um monte, sentou-se cercado dos seus discípulos e começou a pregar... O Sermão da Montanha. Não havia melhor oportunidade para que Ele falasse de temas tão essenciais para a Humanidade. Suas palavras se perpetuaram e, poucas pessoas souberam como Gandhi, o líder da Índia, dizer tão bem da relevância daquele sermão, quando disse: “Se se perdesse todos os livros sagrados, e só restasse o Sermão da Montanha, nada estaria perdido.”
Jesus então inicia a pregação dizendo: “Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados”... O sofrimento é a maneira com a qual resgatamos as faltas e os erros que, em nossa ignorância, cometemos na presente e em existências passadas, e, conseguimos a nossa felicidade futura; porque os que sofrem, têm contas a ajustar com a Justiça Divina. As lágrimas dos sofrimentos, quando suportadas resignadamente, lavam as manchas da consciência e purificam o nosso Espírito. Por isso, Jesus diz que são felizes os que choram, porque eles já iniciaram o resgate dos seus débitos, e, embora a Terra lhes reservem lágrimas, suaves consolações os esperam no mundo espiritual, libertos de remorsos, originados pelos maus atos praticados...

“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados”... A justiça da Terra é falha; ignora as causas profundas que levaram alguém a cometer uma falta; por isso julga superficialmente. Além disso, quantas injustiças tomamos conhecimento e quantos crimes ficam impunes. Qualquer um de nós pode observar diariamente, crimes que são praticados, mas que a justiça da Terra não castiga e nem corrige. Embora possamos iludir e nos livrar da justiça terrena, é impossível iludir a Justiça de Deus. E Jesus, profundo conhecedor da lei de “causa e efeito”, declara: “Não te importes se sofreres injustiças, ou se irmãos que te ofenderam e te iludiram, e não forem alcançados pela justiça das pessoas. No mundo espiritual, para onde irão todos, mais cedo ou mais tarde, pontifica um Juiz Incorruptível; Ele te fará justiça”.

Bem-aventurados os que sofrem perseguições da justiça, porque deles é o Reino dos Céus”... As nobres idéias que fazem com que a Humanidade progrida material, intelectual, moral, política e espiritualmente, encontram ferrenhos opositores que se esforçam por esmagá-las. E no mundo, formam-se castas, que se aproveitam de suas posições, para tirar o máximo proveito de seus poderes, e não admitem a mais leve mudança no regime que as mantém e favorece. Compreendendo a injustiça que semelhantes pessoas espalham na Terra, Jesus torna dignos da recompensa divina, as pessoas esclarecidas e de boa-vontade, que lutam para que a justiça reine em todos os setores das atividades humanas...

Essas compensações que Jesus promete aos aflitos da Terra, não podem ocorrer senão na vida espiritual. Sem essas certezas, as máximas pregadas por Jesus, seria um contra-senso, dizendo melhor, seria um engodo. Mas, então, pergunta-se, por que uns sofrem mais do que outros? Por que uns nascem na miséria e outros na opulência? Por que para uns, nada dá certo e para outros, tudo parece sorrir? – Compreende-se menos ainda, ver os bens materiais tão desigualmente repartidos; ver as pessoas virtuosas passarem dificuldades e sofrerem ao lado dos maus que prosperam e vivem nos prazeres. A fé no futuro pode consolar e levar à paciência, mas não explica essas anomalias que parecem brindar os maus e desmentir a Justiça Divina.

Porém, desde que se admita Deus, nosso Pai Celestial de infinito amor, justiça, bondade e misericórdia; não se pode concebê-lo sem perfeições infinitas, sem o que não seria Deus. Ora, meus irmãos, se Deus é soberanamente justo, não pode agir por capricho, nem com parcialidade, permitindo nascer crianças em perfeitas condições e outras defeituosas, existência de prazeres materiais para uns e sofrimentos para outros. Portanto, as vicissitudes da existência, têm, pois, uma causa, e, sendo Deus justo, essa causa deve ser justa também.

Elas são de duas espécies; uma tem a sua causa nas existências passadas e a outra na existência presente. Procurando a fonte dos males, se reconhecerá que muitos deles, são conseqüências do caráter e da conduta daqueles que os suportam. Quantas pessoas são vítimas de sua imprevidência, do orgulho, da ambição, do egoísmo, por má conduta, e por não terem limitado os seus desejos. Quantas uniões infelizes, algumas, porque foram realizadas sob a influência da vaidade e dos interesses, sem levar em conta a afinidade e os sentimentos. Quantos males e enfermidades, conseqüências dos excessos de todos os gêneros. Quantas atitudes impensadas e imprudentes que causaram desastres e sofrimentos. Quantos pais são infelizes com seus filhos, porque não combateram suas más tendências no princípio, recolhendo mais tarde o que deixaram acontecer; a falta de respeito e a ingratidão deles.

Que todos aqueles que são atingidos pelas vicissitudes e decepções da existência, interroguem friamente suas consciências, e verão o mais frequentemente, se não podem dizer: “Se eu tivesse, ou eu não tivesse feito tal coisa, eu não estaria hoje nesta situação. A quem culpar, pois, de todas as nossas aflições, senão a nós mesmos? O ser humano é assim, o próprio causador de seus males, mas ao invés de reconhecer, acha ele mais simples, acusar a sorte, a chance desfavorável, a má estrela e até mesmo a Providência Divina. O ser humano que sofre é semelhante a um devedor que deve uma grande quantia, e diz-lhe o seu credor: “Se me pagardes hoje, 50% do que me deves, eu vos darei quitação de todo o resto e sereis livre; se não o fizerdes, eu vos perseguirei até que tenhais pago o último centavos.” O devedor não seria mais feliz suportando toda sorte de privações para se liberar, pagando somente a metade do que deve? Ao invés de se lamentar do seu credor, não lhe agradeceria? Assim também procede o Pai Celestial com seus filhos devedores da sua Lei.

A pessoa evitará grande parte dos sofrimentos da existência, quando trabalhar para seu aprimoramento intelectual, moral e espiritual. Mas essa atitude, algumas vezes, vem um pouco tarde; quando a existência já foi prejudicada, as forças desgastadas, o tempo passou, e quando os atos negativos não podem mais ser reparados. Então a pessoa se põe a dizer: “Ah, se no início da existência eu soubesse o que sei agora, quantas faltas teria evitado. Perdi a jornada...” Mas, da mesma forma que o sol se ergue no dia seguinte, assim também depois da noite do túmulo, brilhará o sol de uma nova existência, na qual o Espírito poderá aproveitar a experiência do passado, como suas boas intenções para o futuro. Essa é a maneira pela qual o Pai Celestial concede a todos nós, a possibilidade de resgatarmos as dívidas do passado e fazermos a nossa própria evolução.

Se há males, dos quais, o ser humano é o causador na existência, há outros que na aparência, lhe são completamente estranhos e que parecem ser como por fatalidade. Citamos alguns exemplos: A perda de entes queridos, principalmente os que são arrimo de família; os acidentes que ninguém poderia impedir; os revezes de fortuna; os flagelos naturais; as enfermidades de nascimento, principalmente aquelas que tiram aos infelizes, os meios de ganhar seu próprio sustento pelo trabalho. Esses que nascem em semelhantes condições, seguramente, nada fizeram na existência presente, para merecerem uma “má sorte”.

Por que, pois, seres tão infelizes, ao passo que as vezes sob o mesmo teto, na mesma família, outros são favorecidos em todos os aspectos? Que dizer das crianças que morrem em tenra idade e não tomaram conhecimento de nada de bom ou de mal na existência? - Anomalias essas, que nenhuma religião até hoje pode explicar e justificar, a não ser a Doutrina dos Espíritos, e que seriam a negação da bondade e justiça de Deus, na hipótese de ser a alma, criada no mesmo tempo que o corpo. Que fizeram essas almas para suportar tantos sofrimentos, quando não puderam nem fazer o mal?

Deus, não nos pode punir pelo bem que se faz, nem pelo mal que não se fez. Porém, se o Espírito quando revestido de um corpo físico (ser humano) não fez o mal na presente existência, certamente o praticou em outras existências. Então, como não pode fugir da Justiça Divina, volta em nova existência para reparar e passar pelos mesmos problemas que causou aos seus semelhantes, no passado. Assim, o ser humano não é sempre punido nem resgata suas faltas na mesma existência, mas não escapa jamais às conseqüências de suas faltas. A sementeira é livre, ou seja, podemos fazer da nossa existência o que quisermos de bem ou de mal, entretanto sabendo, que vamos receber daquilo que plantarmos (realizarmos).

O Determinismo Divino é de progresso constante; podemos até estacionar por uma ou duas existências, mas se não evoluirmos pelo amor, o seremos impelidos pela dor. Não nos esqueçamos de que estamos vivendo num mundo inferior, onde somos mantidos pelas nossas próprias imperfeições. O sofrimento que não provoca lamentações, é sem dúvida uma expiação, como também é um indício de que foi escolhido voluntariamente pelo espírito, e não imposto, representando um sinal de progresso.

O espírito renasce, frequentemente, no mesmo meio em que viveu anteriormente, e em relação com as mesmas pessoas, a fim de reparar o mal que lhes fez, ou ajudá-los a progredir. Não lhe é permitido a lembrança da existência anterior, porque, se reconhecesse nela, aquelas pessoas que odiou, talvez seu ódio se revelasse. Se tivesse sofrido algum mal de quem é filho hoje, poderia repudiar sua mãe. Esse esquecimento, somente ocorre durante a existência no corpo físico. Reentrando na vida espiritual, o espírito retoma as suas lembranças de existências passadas e também as da existência que vêm de concluir, e se as ações praticadas durante ela, foram inferiores, o espírito sofre também na espiritualidade.

Tempo vem, em que o espírito liberto das suas imperfeições, alçará a planos superiores onde não mais passará pelas provas dos sofrimentos.

“Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados”...por estas palavras, Jesus nos anuncia a compensação que espera aqueles que sofrem com resignação, que faz abençoar o sofrimento, nos indicando a purificação da nossa alma. Essas faltas passadas e presentes que nos causam os sofrimentos, suportados pacientemente sobre a Terra, nos poupam séculos de dores em outras existências. Mas, para aquele que não crê na eternidade, que acredita que tudo nele se acaba com a existência material e que deseja abreviar seus sofrimentos e suas misérias pelo suicídio, deve ficar sabendo que a vida não se acaba e que esses sofrimentos serão acrescidos agora de suas funestas conseqüências, no plano espiritual.

Devemos, pois, ficar resignados e felizes porque Deus permitiu que pagássemos nossos débitos, o que nos assegura a Paz e a Felicidade no futuro. Seremos felizes se quitarmos os nossos débitos, porque estaremos livres; mas se continuarmos a nos endividar com a Justiça Divina, continuaremos sofrendo e mais difícil será alcançarmos a libertação tão almeja.

Do alto do Monte, tomado de tristeza pelas desventuras humanas, Jesus ensinava às multidões, dizendo: “Vós sois bem-aventurados, vós que sois pobres, porque o reino dos céus é para vós. Vós sois bem-aventurados, vós que agora tendes fome, porque sereis saciados. Vós sois felizes, vós que agora chorais, porque rireis”, e os meios de conquistar o Reino dos Céus... e recomendava ainda; resignação na adversidade, mansidão nas lutas do dia a dia, misericórdia no meio da tirania, e, higiene de coração, para que pudessem ver a Deus...


Senhor, nos ajude a trilhar o caminho que nos evite os sofrimentos.


Bibliografia:
“Livro dos Espíritos”
Evangelho de Jesus
Evangelho Segundo o Espiritismo

Jc.
S.Luis, 29/02/1996

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