sábado, 26 de fevereiro de 2011

ANTONIO GONÇALVES DA SILVA - BATUÍRA

ANTONIO GONÇALVES DA SILVA (BATUÍRA)

Antonio Gonçalves da Silva, mais conhecido nos meios espíritas como Batuíra, nasceu na Freguesia das Águas Santas (Portugal), em 19 de março de 1839. Aos onze anos, emigrou para o Brasil, vivendo três anos no Rio de Janeiro, transferindo-se depois para Campinas-SP., onde trabalhou por alguns anos na lavoura de café. Mais tarde fixou residência na capital bandeirante, dedicando-se à venda de jornais.
Naquela época, São Paulo era uma cidade de 30 mil habitantes e ele entregava os jornais de casa em casa, conquistando, nessa profissão, a simpatia e a amizade dos seus fregueses. Muito ativo, correndo daqui para acolá, as pessoas da rua o apelidaram de “O Batuíra” (nome de uma ave pernalta muito ligeira de vôo rápido, que freqüentava os charcos em volta dos lagos).

Batuíra desempenhou uma série de atividades que não cabe nesta concisa biografia, entretanto, podemos afirmar que defendeu calorosamente a idéia da abolição da escravatura no Brasil, quer seja abrigando escravos em sua casa e conseguindo-lhes carta de alforria, quer fundando um jornal, a fim de colaborar na campanha dos grandes abolicionistas, Luis Gama, José do Patrocínio, Paulo Ney, Antônio Bento, Ruy Barbosa e tantos outros de ideais liberais.

De suas primeiras núpcias com dona Brandina Maria de Jesus, teve um filho, Joaquim Gonçalves da Silva que faleceu adulto. Certa vez um dos homens que viviam sob seu amparo, furtou-lhe um relógio e a corrente, ambos de ouro. A esposa de Batuíra, lamentou-se dizendo: “´E o único objeto de valor que lhe resta”. Houve uma denúncia e ameaça de prisão. Batuíra, porém, impediu que fosse tomada qualquer medida, dizendo: “Deixai-o, quem sabe, precisa mais do que eu”. Com as economias, adquiriu alguns lotes de terrenos no bairro Lavapés, onde construiu sua residência e, ao lado, abriu uma rua com várias casas que alugava aos humildes e que hoje se chama Rua Espírita. Homem de costumes simples, alimentava-se apenas de hortaliças, legumes e frutas plantadas no quintal da casa. Das segundas núpcias, casou-se com dona Maria das Dores Coutinho e Silva, que lhe deu outro filho, mas a felicidade que existia no lar não demorou. Na ocasião em que tudo parecia correr bem, desencarna, repentinamente sua filho aos 12 anos, por quem o casal tinha extremada dedicação e carinho. Antes de ser tornar espírita, ele demonstrava possuir elevado dote de moral cristã, pois inúmeras vezes escondia escravos fugidos dos maus tratos e quando eram descobertos, ele cuidava de comprar-lhes a liberdade.

As epidemias variólicas de 1873 e 1875 quando aconteceram na capital da província, Batuíra acolheu em sua casa, até curá-los, servindo de médico, enfermeiro e pai para os infelizes, dando-lhes não apenas os remédios e os desvelos, mas também o pão, o agasalho e o teto. Daí a popularidade de sua pessoa. Ele era baixo, entroncado e usava longas barbas que lhe cobriam parte do rosto e do peito. Quando, com o tempo, ela se fez branca, os amigos diziam que “ele era tão bom que se parecia com o Imperador”. Exemplo disso foi o Zeca, uma criança retardada e paralítica que conviveu em sua casa desde poucos meses, e o criou como filho até desencarnar. Despertado pela Doutrina Espírita, exemplificou no mais alto grau os ensinos cristãos. Praticava a caridade, consolava os aflitos, tratava os doentes com a homeopatia e difundia os princípios espíritas, tornando-se um dos pioneiros do Espiritismo no Brasil. No ano de 1889, Batuíra passou a ser, na cidade de São Paulo, o agente exclusivo do “Reformador”, cobrindo a lacuna deixada pela revista espírita “Espiritualismo Experimental”, a única existente que deixou de circular. Fundou o Grupo Espírita “Verdade e Luz”, onde no dia 6 de abril de 1890, diante de enorme assembléia, deu início a uma série de explanações sobre “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, e fundou em 20 de maio do mesmo ano, o jornal “Verdade e Luz”. Batuíra adquiriu uma pequena tipografia a que denominou “Tipografia Espírita”, onde passou a imprimir o quinzenário “Verdade e Luz”. Posteriormente transformado em revista, do qual foi diretor-responsável até a sua desencarnação. A tiragem dessa revista era das mais elevadas, pois, de dois mil conseguiu chegar até l5 mil, quantidade fabuloso naquela época, em que os jornais diários não ultrapassavam de três mil exemplares.

Nesses tempos, sua casa no Lavapés, era ao mesmo tempo hospital, farmácia, albergue, escola e asilo e ele a doou para a sede da Instituição Beneficente “Verdade e Luz”. Ele recolhia os doentes e os desamparados, infundindo-lhes a fé necessária para poderem suportar suas provas terrenas. Quem chegasse a casa, fosse quem fosse, tinha cama, mesa e cobertor. Além disso, havia ainda a revista onde Batuíra despendeu somas respeitáveis, já que as assinaturas somavam quantia irrisórias. Por volta do ano de 1902, foi levado a vender uma série de casas situadas na Rua Espírita, a fim de equilibrar as finanças. Abraçando as consoladoras verdades da Doutrina dos Espíritos, integrou-se nessa causa, procurando pautar seus atos nos moldes dos preceitos evangélicos que, ao contrário do “moço rico” da passagem evangélica, procurou dar uma demonstração da sua comunhão com os preceitos de Jesus, desfazendo-se de tudo que possuía, distribuindo o seu tesouro da Terra, para entrar na posse do outro tesouro do Céu. Batuíra criou grupos espíritas em São Paulo, Minas Gerais e Estado do Rio. Estudou os livros de homeopatia, a fim de medicar gratuitamente os doentes que lhe batiam à porta. Ele era também médium curador, sendo centenas as curas de caráter físico e espiritual, que obtinha com a água fluidificada e os passes magnéticos aplicados.

Proferiu inúmeras palestras espíritas por toda parte e criou a Livraria e Editora Espírita, onde se fez impressor e tipógrafo. Carregando sobre os ombros muitas responsabilidades, não sentiu, tão preso se achava ao compromisso do dever que suas forças vitais se esgotaram rapidamente com a idade. Súbita enfermidade assalta-lhe o corpo, e, zombando de todos os recursos médicos, em poucos dias transpôs as barreiras para o além. Referindo-se a sua partida, Afonso Schimidt escreveu: “Batuíra faleceu a 22 de janeiro de 1909. São Paulo se comoveu com seu desaparecimento. Que idade tinha? Nem ele mesmo sabia, mas o seu nome ficou por aí, como um clarão de bondade, de doçura, de delicadeza, como um clarão que brilhou e ficou como exemplo para outros...

Bibliografia:
Marinei Ferreira Rezende

Jc.
S.Luis, 11/02/2011

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