sábado, 27 de março de 2010

OS TALENTOS

OS TALENTOS

Em Mateus, Cap.XXV vrs. 14 a 30, encontramos a “Parábola dos Talentos”, que diz: “Um senhor que, partindo para outro país, chamou os seus servos e entregou-lhes alguns bens: ao primeiro, deu 5 talentos; ao segundo, deu 2 talentos; e ao terceiro, deu 1 talento, de acordo com a capacidade de cada um, e disse-lhes: Negociai até eu voltar”, e seguiu viagem. O que recebera 5 talentos, foi imediatamente negociar com eles e após algum tempo ganhou outros 5 ; o segundo fez do mesmo modo que o primeiro e ganhou também outros 2. Mas o que tinha recebido só 1 talento, fez uma cova no chão e escondeu o dinheiro do seu senhor.

Depois de algum tempo, voltou o senhor daqueles servos e ajustou contas com eles. Chegando o que recebera 5 talentos, apresentou-lhe mais outros 5, dizendo: “Senhor, entregaste-me 5 talentos e aqui estão outros 5 que ganhei”. O seu senhor lhe disse: “Muito bem, servo bom e fiel; já que foste fiel no pouco, confiar-te-ei o muito; entre no gozo do seu senhor”. – Chegou também o que recebera 2 talentos, e disse: “Senhor, entregaste-me 2 talentos; aqui estão outros 2 que ganhei”. Disse-lhe o seu senhor: “Muito bem servo bom e fiel, já que foste também fiel no pouco, confiar-te-ei o muito; entra no gozo do seu senhor”. – E chegou por fim o que havia recebido só 1 talento, dizendo: “Senhor, eu sei que és homem severo, que ceifas onde não semeaste e recolhes onde não puseste; e, atemorizado, fui esconder o teu talento na terra; aqui tens o que é teu”. Porém o seu senhor respondeu: “Servo mau e preguiçoso, sabias que era severo e por que então não entregaste o meu dinheiro ao banqueiro, e, vindo eu, teria recebido o que é meu com juros? Tirai-lhe, pois, o talento e dai-o ao que tem dez talentos; porque a todo que tem, dar-se-lhe-á, e terá em abundância; mas ao que não têm até o que tem ser-lhe-á tirado. E a esse servo inútil, lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes”.

É interessante notar que Jesus ao contar esta parábola, não fez menção a “dracma”, que era o dinheiro em circulação naquela época. Falou Ele de “talentos”, na narrativa de Mateus, que foi seu apóstolo e que vamos analisar.

Todos somos filhos de Deus, e o Pai reparte igualmente com todos, os talentos; a uns dá mais, a outros dá o necessário, a outros menos; sempre de acordo com a capacidade e o merecimento de cada um. A uns, dá bens materiais, a outros, dá sabedoria; a outros mais, dá dons espirituais; a alguns, concede todas estas dádivas reunidas; e a muitos, dá outros talentos, como: Saúde, paz, resignação, humildade, fé, esperança, que possibilitam o crescimento espiritual. Mesmo aqueles que nos parecem sem talento nenhum, possuem os sentidos e os membros que são bens inestimáveis, que nem sempre sabemos dar valor. Ninguém é excluído na Lei Divina, como não existem privilégios. O que parece ser privilégio é apenas o fruto do trabalho com os talentos recebidos. Os que se dedicam mais conseguem duplicar os talentos; enquanto os que não trabalham os bens recebidos, é igual ao servo que enterrou o talento recebido, sem querer trabalhar e fazê-lo crescer. . . Onde estão os servos e os talentos de que nos fala o Evangelho, nos dias atuais? Os servos somos todos nós, e os talentos são: A existência, a paz, a saúde, a família, os sentidos, a inteligência, os bens materiais, as oportunidades, os dons espirituais e a mediunidade; sendo que todos esses talentos devemos empregá-los em nosso benefício e também dos nossos semelhantes. Deus que reparte os talentos com todos os Seus filhos; que faz nascer o sol para bons e maus, e descer a chuva para justos e injustos; exige que esses talentos sejam acrescidos por nós, para nossa própria felicidade. Os que obedecem a Seus designos, têm o mérito de suas obras; os que desobedecem, são responsabilizados pela não observância de seus deveres, iguais ao servo inútil que foi lançado nas trevas, para sofrer as conseqüências de sua imprevidência. Os talentos nos foram concedidos para serem usados com sabedoria, assim como os dons espirituais nos foram concedidos para aumentarmos a nossa fé, através do trabalho de caridade e amor que devemos ter para com toda a criação divina. Quanto mais nos dedicarmos a aplicação desses talentos, mais e mais talentos nos serão confiados, conforme diz a parábola: “A todo que tem, dar-se-lhes-á, e terá em abundância”.

Os bens da Terra pertencem a Deus, que os dispensa à Sua vontade, e nós somos apenas usufrutuários, assim mesmo, temporários, porque o ser humano é possuidor apenas daquilo que trás quando chega ao mundo e que pode levar quando dele partir. E o que trouxemos quando chegamos e o que levamos? Somente trouxemos o patrimônio espiritual conseguido em outras existências, como a inteligência, a bondade o amor, ou seja, apenas o mérito das nossas boas ações ou o demérito de nossas ações más, praticadas anteriormente. Nada material ou que é para o uso do corpo nos pertence e podemos levar. Levamos, quando partir, apenas o que foi conquista da alma, que são os conhecimentos adquiridos, as qualidades morais desenvolvidas, o mérito das boas ações, praticadas com amor, que nos servirá como evolução no mundo espiritual. Não nos será perguntado o que fomos o título nem a posição que ocupamos na Terra; apenas o que fizemos de bem para o nosso semelhante. Pensem bem nisso.

Se os talentos foram conseguidos pelo nosso trabalho, deles nos serviremos tanto na Terra como no plano espiritual. Entretanto, bens colocados em mãos de alguns, servem de instrumento a tentações pela fascinação que exercem, excitando o orgulho, o egoísmo, e a existência de orgias. Porém, se os talentos são a fonte de muitos males, é preciso reconhecer que é o ser humano que deles faz mal uso. Se a riqueza produzisse somente o mal, Deus não a teria colocado sobre a Terra. Cabe ao ser humano que é possuidor temporário, dela, fazer bom uso criando oportunidades de trabalho, produzindo o progresso material, intelectual e o progresso moral, que conduzem ao caminho do bem.

Mas, nem todos possuem os bens materiais necessários ao socorro fraterno, ou de modo a cooperar nas realizações indispensáveis. Nem sempre dispomos de valores culturais suficientes para alcançarmos a solução dos problemas sociais. Nem sempre conseguimos ter bastante saúde para mobilizar o corpo no rumo dos serviços que desejaríamos executar... Porém, ninguém está deserdado do talento das horas para consagrar-se ao bem. O tempo, na realidade, é o talento que o Supremo Senhor nos proporciona para usarmos em todas as direções e em favor de todas as criaturas. Se dispomos de uma hora, não lhe percamos o sublime valor inutilmente. Com ela, é possível a obtenção de novos conhecimentos, o cultivo da fraternidade, o consolo ao irmão que padece nos braços da enfermidade, a conversação sadia que esclarece e auxilia o próximo necessitado, a plantação de alguma árvore que, mais tarde poderá nos oferecer fruto e sombra amiga, a oração em favor dos necessitados e sofredores. Não desperdicemos o sagrado talento dos minutos, comprando com eles as espinhosas sementes da leviandade, as aflições da maledicência, as amarguras da crueldade nem os remorsos do crime...

Muitas pessoas exigem do mundo, valiosos recursos de abastança e de felicidade, mas não se animam a gastar uma simples hora na construção dos alicerces indispensáveis à paz da própria consciência. Não esperemos pelo dinheiro, pelo poder pessoal, pelo título acadêmico, ou pelas situações favoráveis, para realizar a nossa evolução espiritual. Aproveitar o talento do tempo na prática do bem é armazenar tesouro. Vale a pena utilizar todos os momentos disponíveis para aumentar nossos talentos e a possibilidade de uma existência melhor. Jamais temores injustificados perante os acontecimentos da existência. Temos todos, oportunidades diversas nos caminhos do progresso. Crie o hábito de ler ou estudar para adquirir o conhecimento das lições que a própria existência nos apresenta a todo o instante. Não agir apressadamente, pois a correria cansa, desgasta e rende pouco. Preservar a saúde como valioso patrimônio que merece cuidados. Não deixe que o mau humor envenene a alegria de viver. Não empreste seus ouvidos para conversas tolas; audição bem aplicada é sintonia com a paz.

Ocupar a mente com valores e pensamentos reais e elevados; cabeça vazia ou mal direcionada, representa existência em desequilíbrio. Agir sempre, pois a inércia atrofia o corpo e impede o progresso. Não se impressione com as pessoas que gostam de ironizar, elas estão em desarmonia. Recomeçar, após um insucesso, é dom de quem é perseverante e acredita na vitória. Ajudar os sofredores e desiludidos, amparar os necessitados, reerguer os caídos, não é atributo dos fortes; é a qualidade das pessoas que se preocupam com o próximo por serem de bem. O Céu para nós, começa aqui na Terra. Procuremos viver na escalada rumo a Deus, através dos ensinamentos e exemplos deixados por Jesus. Um sorriso afetuoso, uma frase de compreensão, um pensamento de auxílio, uma oração fervorosa, podem ser os talentos que empregamos na direção do Paraíso que desejamos atingir. Não nos esqueçamos de que o dia que passa, não volta jamais...

Esta parábola dos talentos é bem apropriada a nós espíritas, que estamos convencidos de que a Doutrina dos Espíritos é a única capaz de nos conduzir ao caminho da verdade e da evolução. O Espiritismo vem multiplicar o número dos chamados, pela fé consistente que proporciona, da qual temos que dar testemunho, como também multiplicará o número de pessoas voltadas para o bem. Aos espíritas, muito será cobrado, porque muitos foram os talentos recebidos. Por essa razão, não podemos ficar acomodados nem recuar diante das tarefas a que fomos chamados a desempenhar, como trabalhadores da última hora. Alguns espíritas, por medo de reprovação, por medo de serem ridicularizados em função da sua fé, ou de serem minoria na sociedade, negam a sua condição de espírita; traem a própria consciência escondendo suas convicções, qual o servo que escondeu o talento que lhe foi confiado.
Os talentos bem aplicados, são uma fonte de felicidade; quando porém, enterrados ou mal aplicados, são remorsos cravados nas consciências e causa de sofrimentos, para os que não trabalharam. Aqueles que recebem os esclarecimentos da Doutrina, e os aplica em proveito próprio e dos seus semelhantes, são os que recebem os talentos e os fazem frutificar. A estes, Jesus dirá: “Servos bons, entrai no gozo do vosso Senhor”. Na “Parábola dos Talentos” devemos procurar descobrir quais tenham sido as vantagens a nós confiadas pelo Senhor. Algumas pessoas desoladas costumam afirmar: “O Senhor não me confiou talento algum aproveitável; não possuo fortuna, posição elevada, inteligência ou mesmo cultura excepcional, nem mesmo mediunidade que possa eu aplicar no serviço do Mestre”.

Entretanto, devemos saber que, muitas das vezes, os talentos que foram distribuídos para nós, surgem sob feição desfavorável, aparentemente, impossibilitando seus possuidores de maiores realizações, podendo se manifestar de várias maneiras, até mesmo como escassez material, incapacidade intelectual, falta de saúde e outras dificuldades. Resta a nós, descobrir de que forma se manifesta para nós a generosidade do Senhor, que a ninguém desampara, e a todos concede os recursos necessários ao próprio progresso espiritual e à prestação do auxílio fraternal aos semelhantes. Se não temos bens materiais, se não temos saúde para trabalhar em benefício dos outros, possuímos a mente, e por meio dela podemos fazer orações em favor daqueles nossos irmãos, também filhos de Deus como nós, que se encontram em piores situações do que a nossa. A verdade é que não podemos desperdiçar os talentos que recebemos, sejam eles quais forem, a fim de que não percamos a nossa preciosa existência terrena atual.

Ao finalizar esta exposição, relembro as palavras de Jesus quando disse: “Se alguém quer vir após mim, que renuncie a si mesmo (abra mão dos seus vícios, das suas frivolidades, das suas ambições terrenas), carregue sua cruz (aceite com resignação tudo o que vai passar na Terra e lhe melhorar na espiritualidade) e siga-me (vivencie os meus ensinamentos); porque aquele que quiser salvar a si mesmo (que acha que pode comprar o céu), se perderá; e aquele que se perder por amor a mim e ao Evangelho (que segue a Lei da caridade e do amor, ensinada por Jesus) se salvará. Se alguém se envergonha de mim e das minhas palavras, o Filho do homem se envergonhará também dele na presença do Pai”. Assim o será para com todas as pessoas e para os adeptos da Doutrina dos Espíritos, uma vez que esta doutrina não sendo outra senão a aplicação do Evangelho é aos espíritas principalmente, que são dirigidas estas palavras de Jesus. Semeiem na Terra o quer colherão na Espiritualidade: lá colherão os frutos da coragem e do trabalho, ou da covardia e da inércia, que hajam realizado. A nossa responsabilidade, como espíritas, é muito grande, pois com os talentos recebidos através da doutrina, não poderemos jamais alegar ignorância...

Bibliografia:
Novo Testamento
Evangelho Segundo o Espiritismo

Jc
S. Luis, 23/5/2000
Refeito em 05/2/2009.

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