domingo, 23 de outubro de 2016

NÃO DEVEMOS JULGAR NINGUÉM





 “Não julgueis para que também não sejais julgados; porquanto  com a medida com que julgardes, também sereis julgados”.    Jesus
Recentemente tomamos conhecimento  de um artigo, em que era alegado que os espíritas, quando no conselho de sentença, costumam absolver sistematicamente os réus.
Ignoramos se realmente tem sido essa a norma de conduta dos espíritas no Juri. Quanto a mim, declaro que, todas as vezes que servi como jurado, absolvi  e disso não estou arrependido. Por isso, que entendemos, em consciência, que muitos réus deviam ser absolvidos. No entanto, não pretendemos firmar a doutrina da absolvição incondicional.
Casos há em que, para evitar um mal maior, seria lícito votar de modo a conservar o acusado prezo, dadas as suas condições de perigo para a segurança dos demais. Assim procedendo, não estaremos julgando, mas acautelando a coletividade da qual somos parte integrante. Demais, quem são os criminosos  senão anormais, desequilibrados, enfermos da alma, numa palavra. Faça-se, portanto, com eles o que se faz com os doentes de moléstias infectuosas: devemos segregá-los da sociedade a fim de evitar o mal maior que possa fazer.
Esta medida é razoável, é humana, porque não há outra a tomar, uma vez que se preste aos segregados a devida assistência reclamada pelas suas condições, pois não há direitos sem deveres. Se a sociedade tem o direito de separar os doentes dos sãos, cumpre-lhe e dever de assisti-los.
Não é o criminoso que se deve combater: é o crime em suas várias formas, de acordo com a medicina que não combate o enfermo, mas a enfermidade, suas causas e origens. Enquanto a questão não for encarada sob esse prisma, o crime continuará a proliferar, perturbando a ordem e a paz da sociedade. Julgar? Quem somos nós para julgar nossos irmãos, se somos réus no tribunal de nossas consciências? Fazê-lo em nome da sociedade? Pois é a sociedade mesma  tal como está constituída, a responsável por grande parte dos crimes que em seu seio se cometem. As piores doenças são fruto do ambiente. Quando o meio é miasmático e deletério, as enfermidades se alastram, tornando-se elas, endêmicas. Tal é a nossa sociedade. A reincidência do crime é efeito da hipocrisia  e da materialidade reinantes no século.
O código pelo qual se regem as nações, ditas cristãs e civilizadas, precisa ser reformulado, pois, esse código, cogita exclusivamente da aplicação de penas, quando deveria tratar de curar a alma. A forca, a guilhotina e a Cadeira elétrica não resolvem o problema em questão, como atestam as estatísticas de criminalidade dos países onde aquelas penalidades vigoram. Eliminar a existência física do criminoso não lhe modifica o caráter, não lhe altera nada no seu nível moral. Não é ao corpo, mas é ao Espírito que cabe a responsabilidade pelos atos delituosos. Despertar-lhe a consciência, elevar o grau de sua sensibilidade moral, eis o único processo eficiente no tratamento de tais enfermidades. Esse processo chama-se  educação.
A sociedade viverá sempre às voltas com os delinquentes, enquanto não cumprir o dever que lhe assiste de educá-                                                              los. Até aqui, a sociedade baseando-se no parecer de criminólogos materialistas, invoca apenas o direito de punir, e por isso ela também vai sendo punida. Há de suportar as consequências do seu erro até que entenda que deve se modificar.
A Doutrina Espírita vem ensinar a Humanidade a reger-se não mais pelo código judeu ou romano, mas pelo código divino que reflete a justiça que ampara e a soberana vontade do Céu!  Ela também nos recomenda, como Jesus, que não julguemos, porque o julgamento que fizermos nos será aplicado mais severamente ainda, porque eles não conhecem a Deus e por isso lhes será pedido menos que vós que sabeis as suas leis. Não sabeis que há muitas ações que o mundo não considera sequer como faltas leves e que aos olhos de Deus são crimes? Deus permite que alguns criminosos estejam entre vós, a fim de que vos sirvam de ensinamento.
Quando os homens forem conduzidos às leis de Deus, não haverá mais necessidades desses ensinamentos, e todos os que permanecerem impuros e revoltados serão dispersados nos mundos inferiores, de acordo com as suas tendências. Que diria Jesus se visse um infeliz desses perto de si? Lamentá-lo-ia, e veria como um doente bem miserável, e lhe estenderia a mão. Ainda não podemos fazer isso em realidade, mas, pelo menos, podemos fazer uma oração por ele. O arrependimento pode tocar-lhe o coração, se orardes com fé. Ele é vosso irmão e sua alma transviada e revoltada necessita se aperfeiçoar; ajude-o, pois, a sair dessa situação, orando por ele. Triunfareis se a caridade vos inspirar e se a sua fé sustentar...
Se o amor ao próximo é o princípio da caridade, amar aqueles  que ainda permanecem na escuridão, é sua aplicação sublime,  porque esta é uma das maiores vitórias sobre a ignorância, o egoísmo e a maldade.  Ninguém sendo perfeito, tem o direito de julgar o seu próximo!

Fonte:
Livro: “O Mestre na Educação”
Autor: Pedro de Camargo (Vinicius)
Livro: “O Evangelho Segundo o Espiritismo”

Jc.
São Luís, 25/8/2016

FOLHAS ESPARSAS - 2ª Parte





 Querer é Poder?  A sentença goza de há muito, de foros de provérbio consumado. Mas, exprimirá de fato uma verdade?  Eis a questão. A nossa ver, empregaríamos o verbo saber em lugar do verbo querer, e diríamos, então: Saber é poder. Esta máxima e uma verdade absoluta.
Aquele que sabe pode, porém o que ignora não pode, ainda que queira. Há muita gente que procura com afinco realizar seu “querer”, por qualquer meio, desprezando precisamente o processo seguro do êxito: o saber. Daí os fracassos, o desânimo, a descrença e o pessimismo de muitos.
Jesus apresentou-se ao mundo no caráter de mestre, e, como tal, teve discípulos. Sua missão era educadora. Ser cristão é matricular-se nessa escola e aprender com ele a ciência do bem e da verdade. Instruir-vos, moralizai-vos; tal é o lema que se deveria gravar no pórtico dos modernos templos cristãos. “Pedis e não recebeis: não recebeis porque não sabeis pedir”, disse o Mestre. A questão, pois, é de saber.  Saber é poder, repetimos; aquele que sabe, pode.
Mãe.  Donde virá a magia que esse nome encerra? Mãe!...  Porque será que, somente ao pronunciá-lo, um sentimento profundo e santo de respeito nos invade a alma? Donde lhe vem o culto que se lhe presta e a homenagem que lhe rendem todos, mesmos aqueles cujos caracteres ainda se ressentem de graves senões? Porque será que a simples palavra  -- mãe, tão singela, tão humilde, que só três letras requer, tem o privilégio maravilhoso  de fazer vibrar os sentimentos mais nobres, por mais embotados que estes estejam?
O que há nesse nome de extraordinário não está  nas letras, mas no sentimento que ele inspira. Mãe quer dizer abnegação, afeto, desvelo, carinho, renúncia, sacrifício, -- amor numa palavra. Daí a origem de sua fascinação, de seu prestígio, de sua força e encanto.
Ser mão não se resume ao fenômeno fisiológico da maternidade. Ser mãe é possuir aquelas virtudes, e proceder em tudo consoante o influxo que das mesmas deriva. A legitimidade do título vem, pois, da moral e não do físico, da alma e não do corpo. Há mulheres que geram filhos sem jamais se tornarem mães. Outras há que são mães de filhos que nunca tiveram, a exemplo de Maria que passou a ser mãe de João, e este, seu filho, por indicação de Jesus.
As Três Afirmativas de Jesus.  Eu Sou o Caminho, porque já fiz o percurso que ainda não fizestes; posso, portanto, ser, como de fato sou vosso guia, vosso roteiro, vosso mestre. Ninguém vos poderá  conduzir ou orientar senão eu mesmo, porque nenhum outro, de todos os que vieram à Terra, jamais fez o trajeto que conduz ao Pai. Por isso vos digo: ninguém realiza os eternos destinos, senão me acompanhando e seguindo as minhas pegadas.
Sou a Verdade, porque não fale de mim mesmo,  não fantasio como fazem os homens que buscam seus próprios interesses e sua própria glória; só falo o que ouvi e aprendi com o Pai, agindo como seu oráculo, como seu verbo encarnado.
Sou a Vida, porque sou ressurgido, dominei a matéria, sou imortal, tenho vida em mim mesmo. Não sou como os homens cuja existência efêmera e instável depende de circunstâncias externas.
Nem Frio Nem Quente.  É do educador Hilário Ribeiro esta sentença bem sugestiva:  “Não basta ter coração, é preciso ter bom coração.”  Tal pensamento sugere outro, ainda que menos poético: “Não basta deixar o mal; é preciso fazer o bem.”
Há pessoas cuja existência, não oferecendo margem  para qualquer censura, não deixa também transparecer o mínimo vestígio de abnegação, de coragem ou de altruísmo. Tudo nesses homens obedece a um cálculo prévio e seguro. Seus atos são medidos, suas palavras destituídas de arroubo; são serenas como o arrulhar das rolas. Seus gestos são como o movimento de um pêndulo. Agem em tudo e por tudo consoante um programa preestabelecido, e de acordo com certo interesse vital de seu foro íntimo.
Outros homens há que são o reverso da medalha, isto é, em cuja existência se notam várias lacunas, em cujos procedimentos há falhas  sensíveis, mas ao lado desses senões, se descobrem rasgos sublimes de generosidade, traços de coragem, atitudes de heroísmo e exemplos de bondade que edificam.
Os primeiros são incapazes  de fazer o mal, como são incapazes de fazer o bem. Os segundos são capazes, tanto de fazer o mal como o bem. No entanto, podemos dizer, sem receio de errar, que estes últimos estão mais perto de Deus e da sua justiça, que os primeiros. A mensagem do anjo revelador do Apocalipse reza o seguinte: “Sei as tuas obras; já vi que não és frio ou quente. Oxalá fosse frio ou quente; mas és morno.”  Há homens que não são nem frio nem quentes, são também mornos. O caráter morno ou medíocre dificilmente se modifica. Trás as cordas do sentimento frouxas como aqueles dois clérigos da Parábola do Bom Samaritano, passando ao largo do viajor espoliado e ferido que jazia à beira da estrada.
O caráter ardente é capaz de transformações e grandes surtos de progresso. É o que se verifica com o convertido de Damasco. Quando Saulo era fanático, e, como tal, capaz das maiores iniquidades, foi convertido e como Paulo, revelou-se um herói na defesa da verdade, um mártir na propaganda da nova fé abraçada.
Maria de Magdala é outro exemplo de nossa asserção.  Era uma mulher de costumes dissolutos, uma pecadora; porém possuía um coração ardente, cujas fibras vibravam intensamente. Daí a sua transformação súbita, chegando a merecer as simpatias do Mestre. Por que se deu aquela radical mudança? Porque se tratava de uma alma vibrante, de um coração sensível capaz de se inflamar ao primeiro convite do Céu.
 A Túnica Inconsútil.  A túnica usada por Jesus era inconsútil: não tinha costuras. Vemos nessa veste do Senhor um símbolo que se aplica à sua Doutrina. O Cristianismo é um corpo doutrinário sem remendos, sem peças justapostas. É um todo  harmônico, inteiriço, perfeito. A moral de Jesus não tem aspectos divergentes, não tem ambiguidades, não tem contradições. É uma moral pura, sã, completa, imaculada. Ele não emitiu sons discordantes, não enunciou frases dúbias, não articulou palavras ocas, não produziu coisas confusas. Foi claro, conciso, positivo e firme.
Donde vêm, então, as intermináveis cisões entre os credos que militam e dizem participar do Cristianismo? De onde parte essa confusão, existente no seio dessas igrejas, que se dizem cristãs, adotando doutrinas e princípios que não foram ensinados por Jesus? Donde vem essa rivalidade entre aqueles que deveriam ser exemplos de cordura, de harmonia e paz? Certamente a rivalidade, a confusão, vem da ignorância, do orgulho e do preconceito dessas igrejas que do Cristianismo, adotaram somente o título. Tem origem na ambição, no egoísmo do ser humano que tudo procura amoldar às exigências insaciáveis de seus mesquinhos interesses.
Enquanto as religiões continuam a se degladiarem, querendo cada uma se sobrepor as outras, estarão com isso,  demonstrando não haverem atingido o ideal sublime  da religião do amor. A túnica do príncipe da paz, não tem costuras, sendo o símbolo da união integral e perfeita, e a imagem da harmonia e confraternização irmanando os seres humanos numa só e única família.
A Luz de Todos os Tempos.  Em tempos idos, usava-se para iluminação o azeite recolhido em recipientes desengonçados aos quais de dava o nome de candeeiro. A luz que dele se irradiava  era fumegante, baça e fétida. Impregnava  a atmosfera de fumo e de odor nauseabundo. Mais tarde, passou-se a empregar para o mesmo fim o querosene do petróleo. Os lampiões, aparelhos elegantes possuíam melhoramentos apreciáveis como a mecânica destinada a graduar a chama; substituiu os candeeiros.
Descobriu-se depois, no correr do tempo, o processo de extrair do carvão de pedra o carbureto de hidrogênio que substituiu o petróleo, e foi empregado tanto na iluminação pública como residencial. Mas ainda não era tudo. O mundo continuou marchando na conquista do melhor. Aparece, finalmente, a eletricidade destronando o gás. A luz desta sobrepujou com vantagens indiscutíveis:  Era clara, límpida, inócua, e inodora. O gás foi relegado por sua vez. A eletricidade passou a ser o sol de nossas noites.
Ora, se em matéria de luz artificial se verifica um progresso contínuo, sucedendo-se os sistemas numa ascensão  para melhor, não há de suceder o mesmo no que respeita à luz espiritual? Se iluminar o interior não será, por acaso, um problema mais sério e mais importante que iluminar o exterior? Afastar as trevas do cérebro e do coração não será trabalho mais valioso que afastar as trevas que nos envolvem por fora? Como então descuidar da conquista do melhor, no gênero de luz espiritual, se tudo foi feito para alcançar o melhor no gênero de luz material? Se, deixamos o azeite pelo petróleo, desde para o gás e depois pela eletricidade, por que então não fazer o mesmo com relação aos velhos dogmas  que herdamos dos nossos antepassados?
Que a Humanidade tateia na tenebrosa escuridão da ignorância, do vício e do crime, quem ousará negá-lo? Por que fazer tudo pela luz que perece, e nada, ou quase nada, pela luz que vivifica? Volvamos, portanto, nossas atenções para a luz espiritual; busquemo-la, com o interesse de quem se acha no escuro, e que tem necessidade da luz de verdade, e seremos saciados.
Devemos nos desvencilhar dos dogmas arcaicos, dos preconceitos
e da crendice boba, das atitudes dúbias e hipócritas, das mentiras convencionais  e procuremos  obter uma luz cada vez mais intensa e brilhante, para iluminar nossa existência e nossa vida espiritual.
Evolução. A vida é sempre vida seja qual for á forma através da qual se oculte. Já existi como pedra, já vivi como  planta, hoje vivo como homem, amanhã viverei como espírito, e, no futuro, viverei como anjo. Vim do pequeno, caminho para o grande. Se vivo agora é porque vivi outrora e viverei para sempre.
Se noutras épocas eu tive outro nome, pertenci a outras famílias, habitei outras cidades, fui diferente, que importa? Eu nasci, senti, pensei, sofri, gozei, amei, tal como faço atualmente. Perdi minha individualidade? Não!  Minha individualidade é o meu ser, o meu “eu”, sede da minha inteligência, da minha razão, da minha consciência e dos meus sentimentos como espírito que sou. O que perdi outrora, não foi minha individualidade, mas a aparência e a veste com que então me servi no corpo físico.
Nesta nova existência, a minha aparência já se modificou. Casos há em que os pais desconhecem os filhos quando ausentes por muito tempo, tais as mudanças operadas em seu físico. Basta que permaneçam, por muito tempo, separados de nós para que notemos profundas alterações em seu exterior. A vida é a manifestação da vontade suprema de Deus; ela é instável enquanto se apresenta em aspectos materiais; é eterna quando, ressurgindo da carne, se perpetua como Espírito.
Negar a imortalidade é negar a própria existência. Se eu vivo, como não viverei depois? Mas e a morte? Se a morte tem poder para me destruir, como se explica eu ter morrido muitas vezes e não ter, contudo, sido aniquilado? Dirão os que não acreditam na imortalidade, que eu estou delirando!  Pois bem, expliquem-me, então, como é que trago e conservo comigo lembranças do meu passado? Tudo o que vive, viveu e viverá novamente; morrer é libertar-se do corpo físico e passar de um estado para outro; é despir uma forma (veste) para revestir outra, subindo de uma escala inferior para outra superior. “Nascer, viver, morrer, renascer ainda, progredindo sempre, tal é a Lei”.
Salvar é Educar.  Jesus é o Mestre, e como tal veio ao mundo educar a Humanidade para salvar o homem, através da educação. Imaginar-se a obra da salvação, separada da educação, é utopia dogmática incompatível com a orientação de Jesus.
Ser cristão não é uma questão de modo de crer: é uma questão de caráter. Não é o batismo, nem a filiação a uma religião que faz o cristão; mas o caráter íntegro, firme e consolidado no trabalho de autoeducação e de amor ao próximo.  A sociedade contemporânea necessita de uma força purificadora que a levante da degradação e do caos em que se encontra. Essa força deve atuar de dentro para fora, do interior para o exterior melhorando os sentimentos, despertando a razão e a consciência moral dos seres humanos. Tudo o mais são paliativos, quimeras, que jamais resolverão os graves problemas do momento atual.
O Cristianismo puro, tal como Jesus pregou e exemplificou, será a força que há de reformar a sociedade agindo nos corações e nos lares. É do coração renovado, é do lar convertido em templo de luz e de amor que surgirá a aurora de uma nova sociedade para a Humanidade. . .
O Bom Senso.   O pedreiro no desempenho do seu labor lança mão do prumo e do nível; o navegante tem os olhos na bússola que lhe dirige o caminho. Manejando o leme, aparelho simples e de pouca aparência, o timoneiro imprime a direção singrando a imensidão dos mares. Graças aos movimentos do pêndulo, os relógios marcam, com exatidão, as horas do tempo.
Da mesma sorte, existe algo no ser humano que orienta seus passos, que determina a natureza de sua conduta, que regula seus passos, suas palavras e seus sentimentos: é o bom senso. Sem esse predicado, tão modesto que qualquer pessoa pode possuir, o ser humano é o pedreiro sem prumo e nível,  o barco sem leme,  o navegante sem bússola e o relógio sem o pêndulo. O bom senso  é que valoriza as qualidades do espírito. Que valor tem a inteligência, o saber e a erudição, sem uma dose, ao menos, de bom senso?
Por que há pessoas que ganham pouco e vivem bem, enquanto outras ganham muito e vivem mal?  É porque aquelas têm, e estas não têm o bom senso necessário para equilibrar a receita com a despesa. A própria fé, despida do bom senso, ao invés de elevar o crente aos paramos da luz, precipita-o nas confusões do fanatismo.
A capacidade de ajuizar e discernir com acerto, o critério, o bom senso, em suma, é um predicado suscetível  de ser desenvolvido como qualquer outro, dependendo da educação do nosso espírito. O que denominamos inteligência, razão, consciência, vontade, bom senso, etc., não passa em realidade, de manifestações do espírito, que é tudo no ser humano. A Doutrina dos Espíritos, restaurando o verdadeiro Cristianismo, é a religião do Espírito. Flammarion, apelidando Allan Kardec de “bom senso encarnado”, falou como um verdadeiro profeta.
Os Filhos de Deus.  A qualidade de filho pressupõe a de herdeiro. Os filhos herdam dos pais; herdam em todo sentido: -- moral e material. Do físico, herdam traços fisiológicos que recordam os pais. Da moral, pela convivência, pela educação e pelo exemplo, herdam predicados e virtudes. É por isso que certas crianças, logo à primeira vista, despertam nas outras pessoas a lembrança de seus pais. Essa aparência, às vezes, acha-se tão em harmonia com o astral dos pais que parece fundir-se na figura do filho.
Segunda a palavra evangélica, o ser humano torna-se filho de Deus somente depois que aceita e põe em prática a moral divina revelada por Jesus. Deus é Espírito, e em espírito e verdade deve ser evocado. Como pode, portanto, o homem ser filho de Deus sem que reflita a imagem espiritual do Pai? Como pode ser filho de Deus se ainda não herdou os predicados e atributos que exprimem o caráter da Divindade?
Como pode o homem ser filho de Deus – que é puro Espírito – se ele é todo animalidade nada deixando transparecer de espiritual? Em verdade, como acertadamente ensina o Evangelho, o ser humano só se tornará filho de Deus, quando seguir nas pegadas do Mestre Jesus e se decidir a respeitar e praticar, (ou, ao menos tentar), as leis divinas que seu Filho Bem Amado, as ensinou e também exemplificou, durante sua jornada terrena. Até chegar a esse estágio, o homem será apenas uma criação de Deus. . .
Fonte:
Livro “Nas Pegadas do Mestre”
+ Acréscimos e supressões

Jc.                                                                                                       São Luís, 28/7/2016

domingo, 16 de outubro de 2016

ENERGIAS SUJAS





A humanidade depende cada dia mais de energia, mas a produção da energia tem tudo a ver com o aquecimento global do planeta. E o aquecimento se não for controlado ou evitado, pode levar à impossibilidade da existência humana na Terra.
É urgente se questionar: será que a humanidade precisa mesmo de toda a energia que consome para viver e ser feliz? Uma realidade precisa ficar clara: a humanidade não precisa de tudo que as empresas capitalistas produzem. É o marketing que cria as necessidades ilusórias. É possível reduzir muito a quantidade de energia suja, consumida, e suprir com energia limpa, sem prejudicar a vida das pessoas.
Partindo dessa possibilidade, e sendo necessidade imperiosa  rever o consumo de energia, vem à tona a questão: a energia realmente necessária pode ser produzida de forma limpa, sem a emissão de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso na atmosfera, como se dá com o uso do carvão, do petróleo, do gás e das águas das grandes represas,  agravando o problema do planeta.
Ponto de partida: não há nenhuma energia totalmente limpa – a não ser a que o sol e os ventos oferecem naturalmente, sem intervenção humana. Toda geração de energia, atualmente, implica extração de materiais da natureza, sua queima industrial, transformando-os em diferentes fontes de energia. Mas há possibilidade de escolha entre as fontes, assim como é possível tornar mais eficientes e diminuir os efeitos dos processos de industrialização fazendo-os mais eficientes.
É nessa direção que se costuma dizer que a energia produzida pela hidroelétrica seria limpa, porém, afirma-se que a energia eólica é ainda mais limpa, e que a energia solar seria a mais limpa de todas. Em que sentido se usa a expressão adjetiva “limpa?” – O primeiro uso é o comparativo. Por exemplo. A energia hidrelétrica seria mais limpa porque usa fonte renovável, a água dos rios, e não emitiria gases de efeito estufa como as usinas térmicas, que usam como fonte a queima de petróleo, gás, carvão, parecidas com a energia nuclear.
 A prioridade de uma política energética deve ser a diminuição e, se possível, o abandono do uso dos derivados do petróleo, do carvão e do gás. Mas isso não basta. É preciso examinar  os custos sociais e ecológicos da hidroeletricidade. Estudos científicos estão demonstrando que em todas as represas construídas para reter as águas e mover as turbinas, e de modo especial em regiões de alta biodiversidade como a Amazônia, há geração  e emissão significativa de gás metano para a atmosfera. Além disso, sua construção significa interferir nas funções ecológicas dos rios, remoção de algumas comunidades indígenas e ribeirinhas,  derrubada  ou enterro de áreas imensas de florestas, alteração do ambiente de vida de animais das águas e das matas, portanto, nada limpa.
Em relação às usinas nucleares, além dos riscos de contaminação das pessoas, de outros seres vivos, das águas e do próprio solo nos processos de extração, transporte e armazenamento do urânio, basta lembrar os desastres de Fukushima, para perceber que essa energia não pode ser definida como limpa. Outra mentira é a que apresenta os agro combustíveis como energia limpa, por ser gerada a partir de vegetais. Mas, se observarmos no presente o quanto tem aumentado o preço dos alimentos por causa dos solos ocupados com a produção de cana de açúcar, milho, soja, já se percebe como ela é socialmente suja. Além disso, como a produção é feita em imensas monoculturas com muitos produtos químicos e venenos, os estragos socioambientais  são gravíssimos, tornando-a uma energia nada limpa.
Em relação à energia eólica e solar, informamos: 1- Trata-se de fontes renováveis e limpas, proporcionada pelos ventos e pelo sol; 2-  Sua produção e uso é que podem ser consideradas limpas, a saber:  Os processos de produção industrial dos componentes necessários – as torres e hélices dos cata-ventos e as  células fotovoltaicas podem ser realizadas com cuidados e com o uso de mais ou menos energia, e a produção pode ser feita de forma centralizada em grandes usinas ou de forma descentralizada, em casas e prédios, no caso da solar, e em terrenos públicos e espaços comunitários com gestão coletiva, no caso da eólica, tornando-as energias mais limpas. 
Aqui onde moro, na cidade de São Luís, é uma ilha, com ventos e sol muito fortes, principalmente na orla marítima, durante o dia inteiro, onde, se houvesse interesse, seriam colocados os cata-ventos,  usando  a  força  dos ventos,  ou os  painéis  das
células fotovoltaicas, usando o calor do sol, para fornecer a energia limpa necessária a esta cidade e a outros municípios vizinhos. Infelizmente, o setor responsável nada fez até hoje, para aproveitar essas energias que nos são oferecidas pela natureza, e que seriam verdadeiramente limpas sem nenhum prejuízo para os seres humanos.
Esperamos que em algum tempo, as autoridades do Maranhão  se sensibilizem para essa forma de energia barata e limpa e tratem de imitar os outros Estados que já estão agindo assim.

Fonte:
Jornal “Mundo Jovem” – nº 441
Autor:  Ivo Poletto
+ Acréscimos

Jc.
São Luís, 25/9/2016
                                     


A NATUREZA HUMANA





 Um erro psicológico de funestas consequências domina a ortodoxia oficial. Pretendem que o ser humano seja visceralmente mau, perverso e, por natureza, corrupto.
Semelhante conceito é adotado, salvo raras exceções, por sociólogos, juristas, escritores, filósofos, cientistas e, o que é mais de admirar, pelos vários credos religiosos. Que os materialistas façam tal conceito do ser humano compreende-se; mas que sejam acompanhados pelos crentes e até pelas autoridades das religiões deístas é inominável, inconcebível.
Como é possível que o ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus, seja considerado mau? Como se compreende que o Arquiteto Supremo haja criado obras imperfeitas e defeituosas? Semelhante pensamento precisa ser combatido. Lavremos em nome da fé que professamos,  veemente protesto contra essa heresia.
O ser humano é uma obra inacabada; entre obra inacabada e obra defeituosa vai um abismo de distância. Os Espíritos trazem consigo os germes latentes do bem e do belo. A centelha divina, oculta embora, é como o diamante no carvão. O mal que no homem se verifica é extrínseco e não intrínseco. No seu íntimo cintila o divinal revérbero da face do Criador. Os defeitos, senões e falhas são frutos da ignorância, da fraqueza e do desequilíbrio de que a Humanidade ainda se ressente. Removidas tais causas, as decantadas maldade e corrupção desaparecerão.
Deus não cria os Espíritos como os escultores modelam as estátuas. As obras de Deus são vivas, trazem em si mesmas as  possibilidades de autodesenvolvimento, pois a vida implica movimento e crescimento. Os atributos de Deus estão, dadas as devidas condições de relatividade, palpitando em cada criatura. Apelando-se para as faculdades profundas do Espírito, logra-se o despertar da natureza que nele dorme, atestando a origem de onde proveio.
O problema do mal se resolve pela educação, e compreende-se por educação o apelo dirigido aos potenciais do Espírito. Educar é evoluir, e através do trabalho da educação, consegue-se transformar as trevas em luz,  o vício em virtude, a  loucura
em bom senso, a fraqueza em força. Tal é em que consiste a conversão do mau. Jesus foi o maior educador que o mundo já conheceu.
Sua atuação se efetuou sempre nesse sentido. Jamais o encontramos abatendo o ânimo ou aviltando o caráter do pecador, fosse esse pecador um ladrão confesso, fosse uma mulher adúltera apupada pela turba. “Os são não precisam de médicos, mas, sim, os doentes;” tal o critério que adotava. Invariavelmente agia sobre algo de puro e de incorruptível que existe no Espírito do ser humano.
O mal é uma contingência. Em realidade significa apenas a ausência do bem, como as trevas representam a ausência da luz. O mal e a ignorância são transes ou crises que o Espírito conjurará fatalmente, mediante o despertar de suas forças latentes purificadoras. A prova cabal de que a natureza íntima do ser  humano é divina, e, por conseguinte, incompatível com o mal, está na faculdade da consciência. Que é a consciência, senão o “divino” cuja ação se faz sentir condenando o mal e aplaudindo o bem? Por que razão o homem jamais consegue iludir ou corromper a sua própria consciência?
Ele pode, no uso do relativo  livre-arbítrio que lhe obedece, agir em contrário a sua consciência, porém nunca abafará seus protestos, nunca conseguirá fazê-la conivente com suas iniquidades e crimes. A consciência é o juiz íntegro cuja toga não se macula, e cuja sentença ouvimos sempre, quer queiramos, quer não, censurando nossa conduta irregular. Esse juiz é a centelha divina que refulge através da escuridão de nossa animalidade; é o diamante que cintila a despeito da negrura espessa do involucro que o circunda.
Perniciosas e desastrosas têm sido as consequências do falso conceito generalizado sobre o caráter humano. Tal pensamento gerou o pessimismo que domina a sociedade. O vírus que tudo polui e conspurca, é outro efeito oriundo da mesma causa. Que pretendem os industriais da cinematografia exibindo películas dissolventes e até indecorosas?  E os literatos e romancistas abarrotando as livrarias de obras frívolas, enervantes e imorais? E o empresário teatral com suas comédias impudicas, cheias de obscenidades? E os compositores  e  cantores  com  suas  músicas  imorais? E os costureiros e modistas com sua indumentária que peca pela falta de decência e decoro? Todos eles, convencidos de que a natureza humana é essencialmente corrupta, estão atuando através da corrupção, visando o lucro fácil e imaginando que o meio mais fácil e seguro de êxito seja esse. No entanto, se essas atividades se transformassem de escolas do vício em escolas de virtudes, deixariam de existir por isso?
A falsa ideia de que o êxito só se alcança apregoando o vício, a maldade, o crime e a ignorância humana, é uma mentira herética e execrável. A própria Teologia tem sustentado esse erro pernicioso, através dos séculos, pela palavra de seus corifeus, prejudicando seriamente a evolução da Humanidade. A Pedagogia, em seu glorioso advento, vai destronar esse conceito milenar, desembaraçando a mente humana dessa grande aberração.
Voltamos a dizer: O ser humano é uma obra inacabada; entre uma obra inacabada e uma obra defeituosa vai um abismo de distância. Como é possível que o ser humano (Espírito) criado a  imagem e semelhança de Deus, tenha sido feito para o mau? Somente, mentes ignorantes da criação de Deus pode assim pensar...

Fonte:
Livro: “O Mestre na Educação”
Autor: Pedro de Camargo (Vinícius)
+ Pequenas modificações.

Jc.
São Luís, 24/8/2016

domingo, 9 de outubro de 2016

FOLHAS ESPARSAS - 1ª Parte





 Origem do Cristianismo.  Vendo Deus os homens se hostilizarem numa existência de egoísmo – uns amontoando haveres, outros sucumbindo maltrapilhos e famintos, uns governando  como tiranos, outros obedecendo como escravos -, chamou Jesus, e disse-lhe: “Filho bem amado; vai á Terra, e dize àquela gente que eles todos são irmãos, filhos meus, criados por mim que tenho reservado a todos igual destino. Ensina-lhes que minha lei é o Amor. Esforça-te por fazê-los compreender essa lei; exemplificai-a do melhor modo  possível, ainda mesmo com o sacrifício  de tua parte. Faço empenho que o egoísmo desmedido, que impera no coração do homem, seja substituído pelo amor. Sei que isto é difícil, que vai custar muito,  mas não importa:  minha vontade é essa. Serás meu verbo na encarnação; falarás aos homens, instruindo-os na minha lei e Eu serei contigo”.
Jesus, filho dileto e obediente, ouviu as palavras do Pai, saturou-se delas, e, compenetrado da missão que recebera , veio ao mundo. Nasceu num estábulo, parta mostrar  em que desprezo  tinha as estultas vaidades deste mundo. Cresceu, fez-se homem, e deu início ao cumprimento da ordem recebida. Começou a instruir a Humanidade. Pregava nas ruas, nas praças públicas, nas praias, nas sinagogas, onde quer que o povo se reunisse. Percorria vilas, aldeias e cidades, anunciando e exemplificando a lei do Amor.
Dizia ele, dentre outras coisas:  Homens, vós sois irmãos; amai-vos mutuamente; pois em tal se resume a única e verdadeira religião. A vossa sociedade está dividida; há entre vós separações profundas. Uns dispõem de poder com tirania; outros se submetem como escravos. O grande oprime o pequeno. O fraco é esmagado pelo forte. Para os ricos, todas as regalias, todos os privilégios; para os pobres, trabalhos e angústias. Tendes concentrado toda a vossa aspiração na posse da terra com seus bens.  O egoísmo domina-vos. É necessário que vos reformeis. A existência que tendes no mundo passa como uma sombra, enquanto o Pai vos concede  para conquistardes  o futuro brilhante que Ele vos reserva. Aspirai, pois, aos bens espirituais, que o ladrão não rouba e a traça não rói. Tal é a vontade do Pai. Vós o adorais com os lábios, mas não o fazeis com o coração. Deus é Espírito e nesse caráter deve ser compreendido. Ele não está encarcerado nos templos de pedra, e a todos que o invocarem com fé, estes são seus filhos bem-amados. Os rituais e as cerimônias são coisas vãs, inventadas pelo homem.
 E enquanto assim ia falando, Jesus curava todas as enfermidades, inclusive leprosos, cegos de nascença e paralíticos. E tudo fazia por amor; não recebia nenhuma paga pelos benefícios que fazia. O povo escutava-o com avidez, pois, até então, jamais alguém pregara semelhante doutrina de amor e de igualdade. Grande era já o número dos que o seguiam e propagavam seus feitos.
O clero e as autoridades começaram a inquietar-se vendo na doutrina de Jesus um perigo para as instituições, e particularmente para os privilégios que desfrutavam  os representantes do Estado e da Igreja. Esses dois poderes resolveram agir em defesa de seus mútuos interesses seriamente ameaçados e trataram logo de prender Jesus. Antes de o fazer, prepararam o ânimo do povo, dizendo: O Nazareno é um impostor, inimigo da Igreja e de Cesar. Todos os prodígios que faz e por influência de Belzebu. E um herege quem nem guarda a tradição de Moisés e de nosso país. Sugestionado o povo ignorante, restava consumar-se a prisão.
Levado a Pilatos, que o achou inocente, disse aos sacerdotes: “Proponho que seja absolvido”. – Nunca! -  Disseram em coro os fariseus, os escribas e os sacerdotes. Se não o condenares apelaremos para César, pois ele é nosso rei, e Jesus se diz rei. Pilatos acovardado pela ameaça entregou Jesus para ser crucificado, ladeado por dois ladrões. Antes de Jesus exalar  o último suspiro, voltou-se para umas mulheres e alguns discípulos que choravam ao pé da cruz, e disse-lhes: - Não vos entristeçais; eu não vos deixarei órfãos, estarei sempre convosco, e, levantando os olhos para o céu, acrescentou: - Pai, cumpri o teu mandato...
O Sonho de Lutero.  Conta-se que certa vez, Lutero sonhara. Achava-se nos umbrais eternos e interrogou o anjo de guarda: - Estão aí os protestantes? – Não; aqui não se encontra nenhum protestante, respondeu o guarda. - que me dizes?!  Os protestantes não alcançaram a salvação mediante o sangue de Cristo? – Já disse e repito: aqui não há protestantes. – Será que aqui estejam os católicos daquela Igreja que abjurei? -        Não conhecemos aqui os filhos dessa Igreja. – Estarão aqui os seguidores de Maomé e Buda? – Não estão, nem uns, nem outros. – Por acaso o Céu está desabitado? – Tal não acontece. Incontáveis são os habitantes da Casa do Pai, ocupando as suas múltiplas moradas, disse o guarda. – Dize-me, então, quem são os que se salvam e a que Igreja pertenceram na Terra? – A todas e a nenhuma. Aqui não se cogita de denominações nem de dogmas. Os que se salvam são os que
fazem o bem, os que amam o próximo, os que amparam as viúvas e as crianças em suas aflições e que procuram aperfeiçoar-se, corrigindo-se de seus defeitos. Os que se salvam são os que obedecem à voz da consciência; os que aspiram à gloria de Deus, ao bem comum, à felicidade coletiva... – Basta! – atalhou Lutero. Já compreendi tudo: preciso voltar à Terra e fazer outra reforma na Reforma... Não sabemos se é verdadeiro este sonho atribuído ao ex-frade Agostinho. Se ele não sonhou isso, deveria ter sonhado.
O Estribilho Fatal.   É muito comum ouvirmos, aqui e acolá, este estribilho: “Se eu fosse rico, eu sei o que faria: Ao redor de mim jamais haveria necessitados, mas sou pobre, nada posso fazer”. “Se eu tivesse instrução, se soubesse falar, discorrer com acerto e precisão, defenderia com coragem a causa do Bem e do Direito, da Verdade e da Justiça, mas não tenho saber algum, vi-me impossibilitado, por isso ou aquilo, de estudar e de me instruir; portanto, que posso fazer?”  “Se eu fosse médico, ocupar-me-ia de preferência em atender com solicitude e carinho aos enfermos pobres, que vivem desprezados, e sucumbem à mingua de assistência. Mas, não sei curar, que hei de fazer?” “Se eu ocupasse posição de destaque na sociedade, se tivesse prestígio perante os que governam, muitas iniquidades eu evitaria muitos abusos eu saberia prevenir; mas não tenho influência algumas, que posso fazer?”  “Se eu dispusesse de tempo, ocupar-me-ia das coisas espirituais; procuraria educar e desenvolver as faculdades de meu Espírito. Mas, infelizmente não tenho tempo!”  “Se eu fosse industrial ou comerciante, tornaria os operários e caixeiros em meus interessados; mas ai de mim! vivo lutando pela existência!”  Até onde iriamos parar se continuássemos a dizer o enfadonho estribilho – “se eu fosse”, “se eu pudesse”  “se eu tivesse”?!
Por que será que todos se julgam deslocados quando se reportam a prática do Bem, ao cumprimento do dever moral? Porque não tem o rico a vontade de socorrer os pobres necessitados? Porque não se compadecem os médicos dos enfermos indigentes? E o homem culto, porque não pugna pelos ideais nobres, dando-lhes o melhor de sua inteligência e saber?  E o industrial e o comerciante prósperos, porque não se interessam em dividir seus gordos lucros com os operários e auxiliares honestos e diligentes??? Porque todos querem fazer o que não podem, e deixar de fazer o que podem? Porque não faz cada um o bem que podem fazer? Porque enxergam o dever alheio e não veem o seu próprio dever: Porque  alterar a ordem que o destino de cada um fez para si mesmo?

Porque lamentam “o não fazer” por “não poder”, quando se eximem de fazer o que podem e devem fazer? Porventura Deus vai julgar o ser humano pelo que ele deixou de fazer por não poder, ou o julgará por aquilo que deixou de fazer, podendo fazê-lo? Portanto, antes de nos lamentarmos do que não podemos fazer; façamos desde logo, o que podemos fazer, seja lá o que for. A verdade é  que nós podemos fazer alguma coisa, desde que queiramos. As lamúrias são subterfúgio, má vontade ou egoísmo, numa palavra.
Há pais que abandonam seus lares e filhos, e andam pregando moral às massas. Insensatos! Pretendem fazer o máximo sem fazer o mínimo. Pretendem atingir o dever longínquo, sem cumprir o dever imediato no lar.
A Força Positiva.  Nós nos achamos sob a influência de duas forças antagónicas entre si: a força positiva e a negativa. Consoante a ação desta ou daquela sentimo-nos grandes ou pequenos, capazes ou inertes, bondosos ou malvados. A primeira é força construtora, edifica sempre. A segunda é força demolidora, destrói fatalmente. Uma gera otimismo a outra engendra pessimismo; uma afirma a outra nega. A força positiva congraça, originando ondas simpáticas; a negativa dispersa, dando origem a ondas antipáticas. A corrente positiva é absoluta, tendo sua origem na fonte eterna da vida: Deus. A negativa é relativa, incerta, dúbia, ora ganhando ora perdendo intensidade e emana do ser humano, de seus defeitos, fraquezas e paixões. Logo que lhe seja dado discernir entre a influência negativa e a benfazeja, ele deixará de alimentar a força inimiga para absorver a energia criadora que tudo vivifica.
Ninguém triunfará na vida senão pela força positiva e nos planos superiores ela domina o ambiente. Nos planos inferiores é escassa e fugidia, como o clarão dos relâmpagos. Jesus comprazia-se em acentuar que só através da força positiva lhe era dado exercer sua missão de amor. O leproso de que nos fala a passagem, agiu mediante o influxo da força positiva, de que se achava possuído.  Seu pedido foi feito em linguagem firme:  “Senhor, se quiseres, podes tornar-me limpo”.  A resposta foi articulada no mesmo tom: “Quero; fica limpo”. A voz do céu, pela boca do seu legítimo intérprete, não podia vibrar em outro diapasão.  “A tua fé te curou”, “seja feito segundo tua fé”, “a tua fé te salvou”, e outros dizeres semelhantes têm sua explicação no poder dessa energia, na ação inconfundível da força positiva da qual Jesus operou as curas.
Ser e Não Parecer.  Trata-se de uma gravura representando um menino que, de cima de uma mesa, diz à sua mãe: “Veja como sou grande” A mãe lhe retrucou: “Meu filho, tu não és, mas apenas pareces grande, graças à altura desse móvel onde te achas. Procura ser e não parecer”.
Esta lição que o emérito educador Hilário Ribeiro, num dos seus livros, destina às crianças, é de toda a atualidade, até para os adultos. Se observarmos atentamente o que se passa na sociedade, verificaremos que tudo se faz, não no sentido  de ser, mas no de parecer. Realmente, quando se trata de qualidades e virtudes, é muito mais fácil simulá-las  que adquirir-las. O resultado, porém,  é que não é o mesmo.
Daí o transformarem a Religião em acervos de dogmas abstrusos e numa série de determinadas cerimônias que se executam quase maquinalmente: o Civismo, em toque de caixa e de cornetas, executados por indivíduos trajando uniformes; o Patriotismo, em discursos ocos e plataformas  pejadas de falazes promessas, formuladas já com o propósito de não se cumprirem; a Política, finalmente, em processo de enganar e explorar o povo.
A Moral, considerada outrora por Sócrates como a ciência por excelência, consiste hoje em acompanhar passivamente a opinião da maioria dominante, com menosprezo dos mais comezinhos princípios do decoro e da decência. E sob tal critério, tudo se agita e se move no afã de aparentar, de simular e de parecer aquilo que devia  ser, mas, em realidade, não o é.
Cumpre rememorar as palavras d’Aquele que foi, neste mundo, a personificação  da Verdade:  “Este povo honra-me com os lábios, mas seu coração está longe de mim. Naquele dia me dirão: Senhor, Senhor!  Mas eu retrucarei abertamente: “Não vos conheço; apartai-vos de mim, vós que vivestes na iniquidade e na mentira.”
 A Figueira Estéril.  “Um homem tinha uma figueira plantada na sua vinha e foi buscar fruto nela, e não o achou. Então, disse ao viticultor:  Há três anos que venho procurar  fruto nesta figueira, e não o acho; corta-a;  para que está ela ocupando a terra inutilmente? Respondeu-lhe o viticultor: Senhor, deixa-a por mais este ano, até que eu cave em volta e lhe deito adubo; e, se der fruto, bem está; mas se não, cortá-la-ás.”   (Evangelho)
A verdade central da parábola acima é a seguinte: Ninguém deve, inutilmente, ocupar  lugar  na  sociedade. Esta na Terra, como as
árvores, para produzir frutos. Para tal, o motivo da nossa  encarnação. Cada pessoa é uma célula do grande organismo chamado Humanidade: portanto, mister se faz que ela, semelhante às células do nosso corpo, desempenhe sua função. O parasita é aquele que consome, sem produzir nada. Todos consomem; logo todos têm obrigação de produzir. Aquele que foge ao cumprimento desse dever  é indigno da coletividade da qual faz parte.
O animal, agindo no círculo estreito de seu gênero, limita-se à luta pela sua conservação própria. O ser humano, cujos horizontes se dilatam para muito além  desse acanhado sistema, há de engendrar frutos mais preciosos. O fruto, portanto, que o ser humano deve apresentar é a melhoria própria, é o aperfeiçoamento de seu caráter, é o desenvolvimento de todos os atributos e faculdades de seu Espírito, de modo que, ao sair deste mundo se mostre aos olhos da sua consciência – esse juiz impoluto – melhor do que quando aqui chegou. E não será, acaso, esse o alvo da verdadeira religião?
A religião que ora ressurge das páginas do Evangelho não é a religião da velhice; é a religião forte e varonil dos moços. O descaso por este apelo do Senhor demanda o emprego de adubo e o revolvimento da terra em torno da figueira, para que gere figos; isto é, o sofrimento abalando o íntimo do nosso ser, desperta a consciência, acorda a razão, afina os sentimentos, transformando as almas em fecundas obras de amor...
O Céu de Jesus.  Jesus é a luz do mundo. O Cristianismo é um sol que não tem ocaso; acompanha a Humanidade em sua evolução, através dos séculos, determina, regula e promove mantendo o espírito do ser humano em constante comunhão com o Pai.
O Céu de Jesus é diferente de todos os outros céus. Nada tem de comum com os Campos Elísios dos gregos, nem com o Nirvana dos hindus, nem com o seio de Abraão dos judeus, nem com a mansão dos privilegiados da graça, nem com os tabernáculos de beatitude inerme, cujas portas se abrem mercê de cerimônias mercantilizadas. O Céu de Jesus é um campo de ação, e um teatro de atividades; é um meio onde a vida se ostenta sob aspecto cada vez mais intensos. E por ser assim, ele o compara, em seu Evangelho, com a semente e o fermento.
A semente contém em seu âmago fortes energias latentes, que só aguardam ocasião propícia para entrar em ação. O fermento é uma
força condensada que leveda, que põe em atividade a massa em cujo seio é introduzida, determinando seu crescimento. Elas são, pois, imagens de potências ocultas de poderes latentes, tal como se verifica no espírito do ser humano. O Céu de Jesus é o reinado do Espírito, é o estado da alma livre, que, emancipando-se do cativeiro material, ergue altaneiro voo sem encontrar mais obstáculos.
Tal ideia do Céu, que Jesus nos dá é o contraste dos outros céus, visto que, longe de ser a região da inércia, da estagnação e da beatitude passiva, é um local de ação, de atividade franca, de conquista dum bem maior, dum estado melhor cujo antegozo nos vai sendo dado fruir desde logo, a guisa de incentivo. Qual e a  consciência livre ou a inteligência lúcida, capaz de trocar a verdade informada pelo filho de Deus, pelas fantasias e quimeras forjadas pelas paixões humanas?
Valor Imperecível.  O ser humano vale mais que o mundo com as suas jazidas, os seus diamantes, e toda sorte de pedras preciosas. Não obstante, o homem esquecido de seu valor, cujo preço é inestimável, consome-se e esgota-se na conquista do que é perecível, daquilo cujo valor é muito discutível, visto como só vale mediante certa convenção estabelecida pelos caprichos e veleidades do mesmo homem.
Assim, pois, ele dá grande valor ao que, de fato, tem valor relativo ou nenhum, olvidando o valor de si próprio, valor positivo e incalculável. Resulta disso que o homem trata com grande zelo aqueles valores, menosprezando o tesouro fabuloso que em si mesmo encerra, que ele, o homem, em realidade é. Ao dinheiro, à prata, ao ouro e a outros bens materiais, tidos como preciosos, ele sacrifica o único bem real e inconfundível, que é ele mesmo.
É por isso que se julga, no mundo,  como perdida, a existência de alguém  que transcorre na humildade e na pobreza de um lar ou na reclusão  dum hospital. Em tais condições, o homem se vê sempre impossibilitado de buscar aquilo que ele supõe valioso. No entanto, é quase certo, que tais existências sejam preciosíssimas àqueles que as suportam.
O mundo admira o fausto, o luxo, a notoriedade, o exterior – numa palavra. Mas o verdadeiro valor está no interior do ser humano: está no seu caráter, nos seus sentimentos, na sua inteligência na sua moral. Não é o bem material que encerra o valor, mas é o espírito, a alma, o eu imortal, sede das faculdades e poderes  cuja origem é divina. Desenvolver e educar tais predicados, é realizar o objetivo supremo da vida.
Encerrem o ser humano num calabouço, escuro, húmido e infecto e aí mesmo ele conservará intacta a oportunidade de aprimorar seus sentimentos, de galgar novos degraus apelando para suas energias íntimas, logrando elevar-se, das misérias da Terra às grandezas do Céu. E é tão importante, tão santa e tão sagrada a conquista desse ideal, que Deus, em sua soberana justiça, assegura-lhe a possibilidade de realizá-la.
Evolucionismo.  Aquilo que vemos hoje não começou a ser tal como se nos apresenta na atualidade. Esta afirmação é verdadeira, já considerada no plano da existência.
A imprensa moderna com suas “Marinones” rotativas em nada se parece com a de Gutemberg; esta ao lado daquela, é uma péssima caricatura. Outro tanto podemos dizer dos barcos a vapor, das locomotivas, dos veículos, das máquinas destinadas às indústrias e o maquinismo em geral. Esses engenhos cuja perfeição admiramos, representam sempre o resultado de milhares de alterações e aperfeiçoamentos que se lhes foram introduzidos à medida  que suas falhas e senões eram  descobertos.
E da primitiva imprensa não existe mais que a ideia, assim sucedeu com o barco a vapor, de Fulton, que, comparado  com os barcos modernos, não passa de uma jangada disforme. A ideia irrompe no cérebro de um, porém a obra perfeita é resultante do concurso e da cooperação de muitos, através das gerações. As ciências, as artes, em suas várias modalidades e as religiões  e demais manifestações da atividade e do pensamento humano, tem sofrido através de todos os tempos, a influência benfazeja da evolução.
Passando para o plano da existência humana, verificamos precisamente o mesmo fenômeno. A Humanidade de hoje difere da Humanidade de outrora. Todos os seres representam estados de evolução. São obras inacabadas que vêm sofrendo modificações, que se vêm aperfeiçoando sob essas diferentes e múltiplas formas assumidas no cenário da vida.
A imprensa de Gutemberg, na forma primitiva, passou, mas a ideia vive hoje nas “Marinones” e viverá amanhã sob outros moldes ainda mais aperfeiçoados. Da mesma forma o homem de outrora vive no ser humano de hoje, e viverá eternamente, purificado, como anjo. “Para a frente e para o alto, tal é o dístico inscrito em cada átomo do Universo.” Deste asserto, decorrem dois postulados, que quais astros de primeira grandeza refulgem na constelação da fé espírita: Evolução e reencarnação. A doutrina das existências sucessivas é um fato atual. Senão, como explicar os fenômenos da evolução?
Assim como as ideias de  Gutemberg e  Fulton  transmigraram de geração em geração, resultando em melhoramos acumulados, assim também o princípio imortal, que anima a matéria, transmigra, levando consigo, numa ascensão contínua pela senda da eternidade, os aperfeiçoamentos e progressos conquistados. A reencarnação, postulado espírita, é a palingenesia de Pitágoras, é a ressurreição dos judeus expurgada de certos erros: negá-la é negar a evolução, é negar o senso da vida eterna.
O Tabor  e o Calvário.  Dois montes figuram na existência terrena de Jesus: O Tabor e o Calvário. Um deles foi esquecido. O outro se tornou celebridade, graças aos constantes e repetidos reclamos que têm feito e continuam a fazer as igrejas ditas cristãs.
Aparentemente aniquilado o Filho de Deus, começaram os homens, tempos depois,  a render culto à memória do seu sacrifício e morte. Criaram símbolos que representam aquele trágico acontecimento, fazendo da cruz e do Calvário toda a história do Cristianismo, como se em tal ele se resumisse. De tal sorte, enquanto as atenções se voltam para a cruz e o Calvário, jaz em completo esquecimento,  desconhecido da grande maioria, e deturpado pelo sacerdócio  interesseiro, o sublime ideal de ventura que o Cristianismo  encerra.
Em Jesus redivivo, exuberante de vida e bondade não se fala. O Tabor representa a glória e a autoridade outorgadas ao Filho de Deus, bem como a vida. O Calvário representa a cruz e nela pregado Jesus martirizado e morto. Fizeram da cruz um símbolo de fé, um instrumento de tortura, igual á forca e a guilhotina. Vemo-la na Inquisição, promovendo as perseguições e chacinas de milhares de vítimas; vemos também nas Cruzadas, semeando a desolação e a morte por toda parte; vemos ainda na Noite de São Bartolomeu, banhando de sangue as ruas de Paris; ela também estava em Ruão, atirando Joana d’Arc às chamas de uma fogueira; vemos ainda a cruz na morte de Giordano Bruno, João Huss e inúmeros outros mártires da razão e da liberdade sacrificados; vemo-la ainda manejada astuciosamente pelos exploradores, apavorando os humildes e fanatizando os ignorantes, pela mentira, pela hipocrisia
vil e pérfida, que tem arruinado nações, mantendo os povos  em atitudes de desconfiança e sobressaltos e em conflitos religiosos.
A tranquilidade e a paz dos seres humanos e do mundo exigem, pois, que se obedeça ao Jesus do monte Tabor, do Monte das Bem-aventuranças, e ao Jesus da Ressurreição, que nos comprovou a Imortalidade da alma (Espírito), abolindo-se, portanto, como já vem acontecendo, o Cristo crucificado e inerte do Calvário, imitado, encenado e comercializado, por aqueles que se dizem cristão, mas na verdade, eles, seguidores de Jesus não o são...

Fonte:
Livro de Vinícius.
“Nas Pegadas do Mestre”
+ Acréscimos e supressões.

Jc.
São Luís, 27/7/2016

OPERAÇÃO LAVA JATO




O surgimento da Operação Lava Jato, em Curitiba, sob o comando do juiz federal Sérgio Moro, trouxe a esperança ao povo brasileiro  de que, doravante, a situação de corrupção e impunidade que se alastrava pelo Brasil, tende a sofrer um freio, devido as ações realizadas no sentido de coibir essa situação vergonhosa em que vive o povo brasileiro. O exemplo da Lava Jato já está sendo seguido por outros juízes, neste imenso Brasil, despertando a consciência nacional para banir da sociedade essa situação de calamidade e falta de moral.
Alguns questionamentos e suas explicações.
1- Temos acompanhado estarrecidos, as investigações da chamada Operação Lava Jato, que tem exposto o clima de corrupção institucionalizada existente no país. Podemos concluir que as forças das sombras se abateram sobre nossa pátria?
R-  Sempre há a influência das sombras em eventos que contrariam  o bem  e a verdade, não como causa, mas como consequência do comportamento de muitas das pessoas. Longe de ser a origem, a ação do mal é mera consequência de nossas mazelas.
2-  Se assim é, por que se perpetua essa tendência, mesmo com  a renovação dos quadros políticos nas eleições regulares para os cargos administrativos e legislativos?
R-  É imperioso reconhecer que os quadros políticos representam o povo no poder. Ainda que se renovem periodicamente, exprimem as tendências da população.  Se o povo não prima pelo respeito à lei e à ordem, seus representantes seguirão no mesmo rumo.
3-  Diríamos, então, que nossos políticos nada fazem senão vivenciar  as tendências do povo brasileiro?
R-  Exatamente. Embora sua índole fraterna, os brasileiros ainda não superaram o chamado “jeitinho brasileiro”, que quase sempre é uma iniciativa para livrar-se de responsabilidades e tirar vantagens  nas situações do dia a dia. Os políticos, com exceções, vivenciam e levam ao extremo essa tendência, a começar pela legislação em causa própria, gerando milionárias mordomias e a vulgarização de conchavos que rendem muito dinheiro para os partidos e para si mesmo.
4-  Como você exemplificaria essa condição do povo brasileiro?
R-  Um exemplo é suficiente.  Há pouco tempo  um gari encontrou uma grande soma de dinheiro  numa pasta.  Ele sem titubear devolveu  tudo ao seu legítimo dono. Foi aclamado como herói. Seu nome saiu nos jornais, deu entrevistas...  Tudo isso simplesmente porque cumpriu o elementar dever, contrariando a tendência de reter o dinheiro para si, que caracteriza boa parcela da população, na base de “o que é achado não é roubado”.
5-  Podemos dizer que “há uma luz no fim do túnel” , com as diligências policiais e a punição dos corruptos culpados?
R-  Trata-se, sem dúvida, de um promissor movimento a favorecer a moralização  de nossas instituições. Entretanto, não é o bastante.  Na Itália, a operação “Mãos Limpas”, disparada a partir da iniciativa de um grupo de juízes, na década de 90, século passado, fez algo semelhante, mas não eliminou a corrupção, que continua entranhada em seus quadros políticos e sociais.  É indispensável mudar o comportamento da população.
6-  Como isso pode ser feito?
R-  A educação, sem dúvida, é fundamental, mas não apenas o verniz social que se recebe na escola (há políticos muito “envernizados” que cometem incríveis falcatruas) , mas, sobretudo a autoeducação, a disciplina do comportamento, reconhecendo que sem respeito pelo próximo e, por extensão, pela sociedade, caímos no “salve-se quem puder” que inviabiliza o equilíbrio, o progresso e a paz na comunidade.
7-  As religiões, de um modo geral,  pregam a honestidade, a retidão de comportamento, o respeito pelo próximo. Por que essa orientação não funciona no Brasil, não obstante as ameaças de castigos além-túmulo para os que se comprometem com o mal?
R-  As especulações teológicas do que nos aguarda afiguram-se na atualidade como histórias da carochinha, principalmente para aqueles que detêm alguma cultura. Atendiam às necessidades do passado, mas não atendem à realidade do presente, quando as pessoas, antes de crer, cogitam de entender e sentir que esses princípios guardam compatibilidade com a lógica. Por isso filósofos atrevidos como Nietzche proclamam que “Deus está morto” se referindo a Jesus.
8-  E a “Doutrina Espírita?”
R-  É a nossa esperança maior de moralização, a partir de um contato comprovado com o mundo espiritual, a nos mostrar as consequências do comportamento humano de forma clara e instigante. Impossível, ante tais evidências, não perceber que o cumprimento de nossos deveres para com Deus e o próximo, como  ensinava  Jesus,  é  intransferível,  a  fim  de  que  a  morte não nos Imponha penosas decepções. É oportuno ressaltar que dentre esses políticos, empresários e funcionários implicados na Operação Lava Jato, não conheço nenhum que seja espírita.

Fonte:
“Revista Internacional de Espiritismo”
Autor: Richard    Simonetti
+ Acréscimos

Jc.

São Luís, 19/9/2016

domingo, 2 de outubro de 2016

A PORTA MAIS LARGA DO MUNDO





  Conta-se que um dia um homem parou na frente de pequeno bar, tirou do bolso um metro, mediu a porta e falou em voz alta: “Dois metros de altura por oitenta centímetros de largura”. Admirado, mediu-a de novo. Como se duvidasse das medidas que obteve, mediu-a pela terceira vez. E assim tornou a medi-la outras vezes.
Curiosas, as pessoas que por ali passavam começaram a parar e observar. Primeiro um pequeno grupo, depois um grupo maior, por fim uma multidão. Voltando-se para os curiosos o homem exclamou, visivelmente impressionado: “Parece mentira! Esta porta mede apenas dois metros de altura e oitenta centímetros de largura, no entanto, por ela passou todo o meu dinheiro, meu carro, meus móveis, minha casa e o pão dos meus filhos. E não foram só os bens materiais; por ela passaram também a minha saúde, passaram as esperanças de minha esposa, passou toda a felicidade do nosso lar.
Além disso, passou também a minha dignidade, a minha honra, os meus sonhos e os meus planos. Sim senhores, todos os meus planos de construir uma família feliz, passaram por esta porta, dia após dia... gole após gole. Hoje eu não tenho mais nada... Nem família, nem saúde, nem esperança. Mas quando passo pela frente desta porta, ainda ouço o convite daquela que é a responsável  pela minha desgraça... Ela ainda me chama insistentemente... dizendo:  Só mais um trago! Só hoje! Uma dose apenas!
Ainda escuto suas sugestões em tom de estímulo: “Você bebe socialmente, lembra-se!”  Sim, essa era a senha. Essa era a isca. Esse era o engodo. E mais uma vez eu caia na armadilha, dizendo comigo mesmo: “Quando eu quiser, eu paro”. Isso é o que muitas pessoas que bebem  pensam, mas só pensam... Eu comecei com um cálice, mas hoje, a bebida me dominou por completo. Hoje eu sou um trapo humano... E a bebida, bem, a bebida continua  fazendo as suas desprevenidas vítimas      . Por isto é que eu lhes digo senhores: “Esta é porta mais larga do mundo! Ela tem enganado muitas pessoas... ela é a porta da perdição!”
Por esta porta, que pode ser chamada a porta do vício, de aparência tão estreita, pode passar tudo o que se tem de mais caro neste mundo. Hoje eu sei dos malefícios do álcool, mas muitas pessoas ainda não sabem, ou pensam que sabem e fingem que não, para não admitirem que estão sob o jugo da bebida.
E o que é pior, possuem esse maldito veneno, destruidor de vidas, dentro do próprio lar, à disposição, como um convite para os seus filhos. Se os senhores soubessem o inferno que é ter a vida destruída por esse vício, certamente passariam longe dele e protegeriam sua família contra suas ameaças.
Visivelmente amargurado, aquele homem se afastou, a passos lentos e trôpegos, deixando a cada uma das pessoas que o ouviram, motivos de profundas meditações...
Este pequeno drama nos convida a evitar o consumo de álcool. Se ele pode ser usado como remédio quando em pequenas doses, ele traz malefícios incalculáveis, se nos leva ao abuso. Se você já é usuário, para não ficar dependente, pare, enquanto é tempo, porque qualquer vício escraviza e transforma a pessoa num farrapo humano.
Não se vincule aos chamados “aperitivos sociais” por parecer-lhe uma postura social, mas que conduz aos lamentáveis processos de alcoolismo que se iniciam em pequenas doses, para culminar em cárcere moral, quando não em hospital psiquiátrico.  Uma existência sadia torna-se ditosa abençoada e prolongada, a benefício daquele que assim a preserva. Diga não ao álcool, mesmo que seja em alguma cerimônia social, onde começa geralmente esse vício destruidor das famílias.


Fontes:
“Minuto de Sabedoria”
Autor: Carlos Torres Pastorino
“Vida Feliz”
Autora: Joanna de Ângelis
“Seara Espírita” – n  139
Autor Desconhecido
 + Pequenas modificações.

Jc.
São Luís, 21/8/2016