quinta-feira, 10 de maio de 2018

CASAMENTOS E SEPARAÇÕES




  
“Não basta casar-se. É imperioso saber por quê?”
Desde 1984, quando tiveram início no Brasil os estudos estatísticos sobre o divórcio, o número de separações só tem aumentado. De 30 mil naquele ano, para mais de 344 mil em 2016, segundo a mais recente pesquisa do IBGE. Um dado curioso desse último levantamento foi que a maioria das separações foi consensual. Se por um lado isso é bom, pois poupa os desgastes do litígio, por outro lado pode sugerir que ambas as partes possivelmente não se toleravam mais, querendo encerrar logo um ciclo de existência frustrado para depois de algum tempo, começar um novo relacionamento com novas expectativas.
Por que há tantas separações de casais? – A relação conjugal é uma coisa bem complexa. Características individuais, influência dos lares de origem, compromissos reencarnatórios, e uma infinidade de motivações que surgem durante a convivência, podem criar laços duradouros entre o casal ou, em muitos casos, promover um desgaste precoce que inviabiliza a união do casal. As separações são de todos os tempos, mas é inegável que o mundo moderno, extremamente artificial e superficial fomente ainda mais. O desenvolvimento científico-tecnológico trazendo facilidades e também o desejo ansioso de “ser feliz” a qualquer preço, as liberdades excessivas, o abastardamento cultural generalizado, e outras tantas razões, baratearam as relações das pessoas e aturdiram a humanidade, que passou a eleger valores cada vez mais imediatistas, em vista da sua inabilidade no trato da vida moral.
Tanto ontem quanto hoje, sempre sobraram desculpas para justificar o rompimento de uma relação conjugal. E na lista dos motivos sempre faltaram a compreensão, a tolerância e o respeito recíprocos. Ora, se ao longo das décadas, os sentimentos que davam alguma saúde ao casamento e garantiam certa estabilidade conjugal e também familiar foram perdendo intensidade, e se, ao  mesmo tempo, a sociedade, cada vez mais induzida à materialidade, adotou comportamento egoísta calcado na descrença de valores, era de esperar que as relações entre as pessoas se tornassem frívolas e sem profundidade.
Elementos de desconstrução nos Espíritos – Numa época em que a liberdade sexual degenerou em permissividade e a irresponsabilidade gerou impacto explosivo no meio social e fez crescer muito índices indesejáveis como os das doenças sexualmente transmissíveis, estupros, agressões à mulher e, dentro outros, o do divórcio. Todo esse cenário ambíguo fomentou elementos de desconstrução no espírito dos jovens das últimas gerações, que se criaram nesse meio e que vêm devolvendo à sociedade o que aprenderam. É certo que os tempos são outros e a dinâmica da existência se acelerou, mas aquelas etapas do relacionamento que antecediam  o dito casamento e que ajudavam os jovens no conhecimento recíproco, são hoje “puladas” sem cerimônia. Isso pode contar na coluna dos prejuízos para as relações conjugais? Talvez.
O amor é o motivo dessas uniões? – Quando falamos em casamento, lembra-se do amor e resume-se que esse sentimento seja o motivo das uniões. Muitas cerimônias religiosas copiam o Evangelho, afirmando: “O que Deus uniu o homem não separe” (Mateus, XIX, 3-9) Mas, que união se está celebrando? Da alma ou do corpo?  Allan Kardec, tratando do assunto, pergunta no capítulo XXII de O Evangelho Segundo o Espiritismo: “Nas condições ordinárias do casamento é levado em conta á lei do amor?  Quando o amor é o laço que une o casal, as coisas do mundo realmente não têm força suficiente para separá-lo. Quando se projeta a construção de uma família, de um lar,  em bases sinceras e verdadeiras, as aflições da existência e mesmo as muitas tentações que surgirem servirão somente para amadurecer a união. Quando o coração e não as conveniências sela o compromisso de existência a dois, pode-se dizer que Deus abençoou o casamento de almas.
Recurso paliativo para o fracasso. – Nas uniões terrenas, em que as imperfeições morais são tão gritantes, não se poderia evidentemente desconsiderar o recurso do divórcio como paliativo para casamentos malogrados. Um casal em conflito que desconhece o diálogo e vive mergulhado nas influências das paixões inferiores corre o risco do agravamento da própria situação. A convivência torturada pela incompreensão, pela aversão, pelo desrespeito, pela inconstância, pode gerar atitudes impensadas que acarretem prejuízos graves aos parceiros na trajetória espiritual. O divórcio é, portanto,  um recurso humano “que separa legalmente o que já estava separado de fato”, diz Allan Kardec.
O divórcio desobriga do convívio forçado aqueles que se ligaram por frágeis interesses, em que as considerações de ordem espiritual do casamento não foram devidamente refletidas ou não são sequer conhecidas. Sobre o tema Emmanuel afirma no capítulo 11 do livro ”Na Era do Espírito”, na psicografia de Chico Xavier: “Entretanto, nos dias difíceis do lar recorda que o divórcio é justo, mas na condição de medida desejada em última instância”.
O casamento é um desejo natural. – Nada impede que um casal  separado refaça sua existência conjugal com outras pessoas. Há situações insustentáveis que precisam ser contornadas antes que algo pior aconteça.  Porém, devemos considerar que as uniões na Terra têm, na sua quase totalidade, vínculos de obrigação moral-espiritual entre os parceiros. Verdadeiros acordos são firmados entre os cônjuges bem antes de reencarnarem, com objetivos de retificar experiências malogradas no passado e construir a harmonia entre eles. O rompimento do compromisso assumido, nem sempre por causas justificadas, transfere para o futuro as obrigações não cumpridas.
A mesma pesquisa do IBGE que indicou o crescimento dos casos de divórcio no Brasil apontou também um número de casamentos menor que nos anos anteriores. Segundo os pesquisadores, em períodos de crise, “é natural que as pessoas adiem os planos de casamento”. No entanto, o casamento continua sendo um desejo natural da imensa maioria. Em O Livro dos Espíritos, na questão 695, consta que o casamento “É um progresso na marcha da Humanidade”. Na questão 696, Allan Kardec comenta: “A união livre e fortuita dos sexos pertence ao estado de natureza. O casamento é um dos primeiros atos de progresso nas sociedades humanas porque estabelece a solidariedade fraterna e se encontra entre todos os povos, embora nas mais diversas condições. A abolição do casamento seria, portanto, o retorno à infância da Humanidade e colocaria o ser humano abaixo mesmo de alguns animais, que lhe dão o exemplo das uniões constantes.”
Antes de pedir o divórcio, que cada um faça uma autoanálise da sua responsabilidade na situação e busque encontrar, dialogando, saídas que talvez ainda não foram tentadas...
No meu caso (Jc) o nosso não foi por amor, mas por pressões de família que não queriam o nosso namoro, e acabamos nos aproximando mais e terminando em um casamento sem vínculos de afetividade, porquanto logo nos primeiros anos já estávamos na presença de advogado para a separação,  o que não aconteceu por termos apenas um filho na época e ele não poder ser dividido (a moda de Salomão) e nenhum abria mão dele, mas certamente foi por vínculos espirituais, que nos possibilitou ter mais três filhos e vivermos, sabe lá Deus como, por 29 anos, até que os filhos se formaram, e eu me separei. Depois, nos divorciamos e cada um foi viver a sua existência.
Três anos depois, conheci e me relacionei com outra pessoa e hoje vivo feliz com a minha segunda esposa. Estava escrito no destino que a primeira seria de resgate (não sei se cheguei a saldar minha dívida por inteiro, quando me separei) enquanto que, com a segunda, o meu casamento já dura os mesmos 29 anos, de convivência amigável e fraterna, apesar da diferença das nossas idades, eu com 87 anos e ela com 62 anos.

Fonte:
Jornal “O Imortal” -- edição 4/2018
Escritor: Cláudio Bueno da Silva
+ Depoimento e poucas modificações

Jc.
São Luís, 17/4/2018

Nenhum comentário: