segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

HUGO GONÇALVES - O PAIZINHO DE CAMBÉ




  Em 1888, chega sozinho ao Brasil e se instala nas proximidades de Rio Claro, um imigrante português chamado José Maria Gonçalves, porém estava  bem acompanhado por entidades espirituais que o conduzem até Boa Esperança, pois ali já estava sua prometida consorte e companheira de toda a sua vida – Cândida -- que chegara anteriormente ao Brasil,  com a sua família em 1880, ambos com sério  compromisso de gerarem o filho de nome Hugo Gonçalves. Eles se casaram em 1893 e se mudaram para Matão por volta de 1897, e lá fizeram amizade com o bondoso farmacêutico Cairbar Schutel. No dia 6 de outubro de 1913 nasceu Hugo filho de José Maria e Cândida.
Aos 12 anos de idade, o menino Hugo já revelava seu dom literário, passando a escrever para o jornal “O Clarim”, fundado e dirigido por Cairbar Schutel. Sua família possuía uma pedreira em Matão e ele iniciou o seu trabalho como cortador de pedra com os demais irmãos, apenas 13 anos. Ainda na adolescência, na escola ficava sempre olhando uma bonita descendente de italianos, e o namoro se deu após a morte do pai de Dulce em 1930. Eles se casaram no dia 21 de setembro de 1935 e o padrinho foi Cairbar Schutel.   Em 1940, já com um filho Cairbar, mudaram-se para Campinas onde permaneceram  alguns anos. Retornaram  a Matão, já com outro filho, chamado Emmanuel, para continuar com o seu trabalho na pedreira.
Em 1947 a família mudou-se para o Paraná, indo morar em Londrina. Continuou  a trabalhar agora como administrador de fazendas até 1953, quando se mudaram para Cambé, onde Hugo passou a dirigir o Lar Infantil Marília Barbosa, o que fez com muito carinho até os últimos dias de sua existência terrena. O Lar era próximo do Centro Espírita Allan Kardec, que vinha funcionando desde 1940, atendendo o público pelos mais variados motivos: ajuda espiritual, conselhos, pedidos de alimentos, roupas, dinheiro, etc.
Ele nessa época, não tinha nenhum rendimento além de uma aposentadoria de um salário mínimo, quando chegou uma senhora com extrema pobreza, pedindo uma pequena ajuda para comprar leite para os filhos. Hugo que havia recebido na véspera seu pagamento meteu a mão no bolso e retirou o que tinha:  Uma nota de 50 reais, e  entregou-a àquela mulher.  Ele ficou sem nada mais feliz, pela felicidade que viu em seu rosto.
A ideia do Lar Infantil surgiu assim: Em uma noite de frio intenso, uma criança morreu enregelada. Esse fato trágico ficou na alma sensível de Luiz Picinin. Em visita a Nova Iguaçu-RJ., ele conheceu o “Lar de Jesus” dirigido por Leopoldo Machado, que abrigava crianças abandonadas. Retornando a Cambé, entusiasmado, Picinin e os seus amigos espíritas resolveram criar, nessa cidade,  uma instituição semelhante a que conheceu em Nova Iguaçu, que tanto o encantara. Aí nasceu a ideia do Lar Marília Barbosa, que não tardaria a se concretizar. O Lar foi inaugurado, com sede própria, no dia 29/3/1953. Após poucos meses, Hugo Gonçalves passou a dirigi-lo, contando com a colaboração de dona Dulce, sua esposa. Durante quase cinquenta anos, mais de 300 meninas foram atendidas, umas  em tenra idade e saindo somente para se casar ou depois de adquirirem, por profissão ou emprego a auto suficiência.
Além do internato, o Lar criou uma Creche com todos os requisitos ao desenvolvimento físico e mental das crianças. Passado algum tempo, um grupo de senhoras passou a prestar serviços ao Centro e ao Lar, como costureiras voluntárias que se revezavam para fazer e reformar roupas para as internas  abrigadas no Lar e na Creche, bem como para os recém-nascidos de famílias carentes na maternidade de Cambé. E começaram a distribuir, todos os sábados, 100 cestas de alimentos para as famílias carentes, que recebiam também os alimentos da alma, a leitura do Evangelho e ensinos religiosos.
O jornal “O Imortal”, fundado por Hugo Gonçalves e Luiz Picinin foi um capítulo importante na existência de Hugo, pois circula no Brasil inteiro, chegando também a alguns países, desde 1953. Em algumas ocasiões, quando pessoas foram visitar Chico Xavier, o médium ao saber que eram moradores de Cambé, disse-lhes: “Ah! de Cambé, a terra de Hugo e do jornal “O Imortal?”, pois era um leitor assíduo do jornal. O Albergue Noturno criado depois foi também ideia de Luiz Picinin e sua direção foi passada a Hugo Gonçalves, juntamente com o Lar. No livro em que eram anotadas as entradas de usuários do albergue consta a de Laudelina Cândida Talara que recebeu o número 46.233 de pessoas atendidas ao longo dos anos. O Coral Hugo Gonçalves foi criado por ele em 3 de agosto de 1997 e, desde então vem se apresentando várias vezes, sempre com muito brilho.
Hugo Gonçalves e Dulce só tiveram dois filhos, mas muitas foram as filhas do coração que foram morar no Lar ainda crianças, e muitos sobrinhos,  netos e netas. Ele foi detentor de vários títulos honoríficos em virtude do seu trabalho sempre incessante e direcionado  ao bem do próximo, notadamente das crianças e dos idosos. Todos ficavam encantados com seu bom humor, sua lucidez e boa memória, narrando fatos de sua longa trajetória. Sua casa era sempre cheia de amigos que buscavam uma palavra de apoio e sempre acompanhada de uma anedota que alegrava os ouvintes.
Seus exemplos de espírita ficarão por isso, para sempre, gravados nos corações dos amigos de perto e de longe. Ele após completar 100 anos de idade, nove dias depois ele, desencarna no dia  15 de outubro de 2013, deixando saudades em todos os que o conheceram, com seus exemplos de um bom cristão e espírita exemplar.
Ensina a Doutrina dos Espíritos, que a passagem dos Espíritos pela existência na Terra é necessária, para que possam realizar, os propósitos cuja execução Deus lhes confiou, desenvolvendo os dotes da inteligência e dos sentimentos, indispensáveis ao nosso crescimento espiritual; um objetivo  que o nosso irmão Hugo Gonçalves conseguiu , constituindo-se para todos nós, num exemplo que nos cabe aplaudir e, se possível... Imitar.

Fontes:
Jornal “O Imortal” – 10/2017
Internet
Pequenas alterações.

Jc.
São Luís, 18/10/2017

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