quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O CRISTIANISMO

O CRISTIANISMO

Para uma melhor compreensão do Cristianismo, temos que primeiramente nos reportar aos dados cronológicos que marcaram durante séculos, os acontecimentos e o desdobramento das religiões que se originaram dos ensinamentos do Rabi da Galiléia – Jesus. Assim... no

Ano 4 A/C – Sob o reinado de Herodes o Grande na Judéia e de Augusto César como imperador de Roma, nasce o Cristo na cidade de Belém.

Ano 27 D/C – Após se dar a conhecer a João Batista, como o Messias, Jesus dá início ao seu trabalho, pregando, consolando e curando as pessoas.

Ano 30 D/C – Jesus é preso, julgado, condenado e crucificado e desencarna em Jerusalém. Três dias depois, se apresenta a Madalena e a outros discípulos, redivivo.

Ano 40 D/C -- Saulo de Tarso, antigo perseguidor dos cristãos, se converte ao Cristianismo, após seu encontro com Jesus na estrada de Damasco, e passa a assumir o nome de Paulo.

Ano 64 D/C – Nero, imperador de Roma, incendeia a cidade e acusa os cristãos.

Ano 70 D/C – O imperador Tito manda destruir Jerusalém e seu templo, conforme profetizara Jesus. O discípulo Marcos começa a escrever o seu Evangelho. Os judeus são dispersos.

Ano 313 D/C – O imperador Constantino, ao ter a visão de uma cruz luminosa com a legenda “In Hoc Signus Vinci” e, ao adotar em seu estandarte esse modelo, vence a guerra contra seus inimigos. Julgando que Jesus o ajudara, adota a liberdade religiosa e legaliza o Cristianismo como mais uma religião do Império Romano.

Ano 319 – O Cristianismo, como nova denominação de Igreja de Roma, usando os templos dos deuses romanos, incorpora os rituais e os costumes pagãos.

Ano 325 – No Concílio de Nicéia, convocado por Constantino, é declarada a deusificação de Jesus, cuja finalidade era política, para igualar Jesus aos demais deuses pagãos cultuados pelos romanos.

Ano 380 – O padre Jerônimo traduz o Velho e o Novo Testamento, do hebraico e do grego para o latim, obra conhecida como a “Vulgata” (versão comum) que se torna a edição oficial da Bíblia para os cristãos.

Ano 381 – Sob a inspiração do papa Teodósio I, O Concílio de Constantinopla confirma que Jesus é Deus (apesar do próprio Jesus haver afirmado várias vezes que era um filho de Deus) e introduz a figura do Espírito Santo, criando o dogma da Santíssima Trindade.

Ano 415 – De perseguidos que foram os cristãos primitivos, os novos cristãos da Igreja de Roma, passaram a perseguidores. Os patriarcas da Igreja Romana estimulam a violência e a perseguição contra os pagãos.

Ano 787 – O II Concílio de Nicéia restabelece o uso de imagens sacras de Jesus e dos antigos deuses romanos como santos da Igreja.

Ano 1054 – A Igreja Ortodoxa de Constantinopla se separa da Igreja Romana, criando outro papado, contrariando as ordens de Roma.

Ano 1195 – O nobre espanhol Domingos cria a ordem dos dominicanos para combater as heresias.

Ano 1233 – O papa Gregório IX cria o tribunal da Inquisição para combater as seitas consideradas heréticas. Os juizes são os padres dominicanos. A tortura era utilizada pela Inquisição para obterem confissões.

Ano 1270 -- Organizada por Luiz IX, a oitava e última Cruzada à Terra Santa.

Ano 1398 – As disputas políticas pelo mando, levam os católicos a elegerem três papas; em Roma, Avignon e Pisa.

Ano 1415 – O padre Jan Huss, por criticar a opulência e a hierarquia da Igreja, é declarado herege e é executado na fogueira.

Ano 1431 – Joana D’arc é julgada pelo tribunal eclesiástico e acusada de heresia, condenada e morta na fogueira.

Ano 1478 – Mais de 120 mil pessoas acusadas de heresia, são mortas pela Inquisição, na Espanha e Portugal. Autorizados pelo papa Sixto IV, os reis da Espanha criam um tribunal da Inquisição, sendo Tomás de Torquemada, o mais brutal inquisidor.

Ano 1500 – Rodrigo Bórgia, eleito o papa Alexandre VI, se torna o símbolo da corrupção e de crimes. Surge o Renascentismo, renovação cultural, que promove um processo de descristianismo da Europa.

Ano 1517 – O monge agostiniano Martinho Lutero, rompe com a Igreja de Roma e cria a Reforma Protestante.

Ano 1534 – É fundada por Inácio de Loyola, conhecido como o “papa negro”, a “Companhia de Jesus”, dela fazendo parte, José de Anchieta e Manoel da Nóbrega, no Brasil, como padres jesuítas.

Ano 1572 – Milhares de huguenotes (protestantes) são mortos a mando da rainha Catarina de Médicis, na célebre noite de São Bartolomeu, em Paris.

Ano 1600 – O filósofo Giordano Bruno é condenado como herege, sendo executado pela Inquisição, com a morte na fogueira.

Ano 1632 – O astrônomo italiano Galileu Galilei é condenado pelo Santo Ofício (Igreja Romana), por afirmar que a Terra e os planetas giravam em torno do sol, contrariando a Igreja. Preso, foi obrigado a se contradizer para não morrer na fogueira.

Ano 1789 – A Revolução Francesa separa a Igreja do Estado, e promove a liberdade religiosa. A Noruega, a Dinamarca e a Inglaterra são paises que ainda têm Igrejas fazendo parte do Estado, onde os reis, são a autoridade maior da Igreja.

Ano 1830 – Surgem novas religiões; Os Mórmons, Testemunhas de Jeová, etc.

Ano 1848 – O Vaticano apóia todas as monarquias conservadoras contra os regimes e políticas liberais. O Concílio Vaticano I (em 1870) estabelece o dogma da infabilidade dos papas.

Ano 1857 D/C – Em 18 de abril deste ano, vem á público em Paris, o primeiro livro da “Doutrina dos Espíritos”, com o título: “O Livro dos Espíritos”, codificado pelo professor Hippolyte Leon Denizard Rivail, depois conhecido como Allan Kardec. Essa religião, também conhecida como “Espiritismo” e como o “Consolador Prometido” por Jesus, veio restabelecer e relembrar os seus ensinamentos, e divulgar muitos outros conhecimentos...

Para se ter uma idéia das transformações operadas no mundo pelas ações de Jesus, basta analisar amparados por historiadores, o mundo que recebeu o Cristo, comparar as crenças os hábitos, as culturas e, observar as transformações produzidas por Jesus. É sabido que as conquistas romanas intensificaram as relações comerciais, amenizando as barreiras lingüísticas e culturais. Assim, a dominação romana e a intensificação do comércio promoveram o ajuntamento dos povos. Roma domina, mas respeita a religião dos dominados.

Os judeus eram monoteístas. Seu Deus era adorado porque sua ira acarretava catástrofes como doenças, epidemias várias, secas, tempestades, etc., como se lê em Levíticos. 26:15 “E se rejeitares meus estatutos e a vossa alma se enfadar dos meus juízos não cumprindo todos os mandamentos, então eu também vos farei isto: porei sobre vós o terror, a tísica, a febre ardente que consomem olhos e atormentam a alma.”
Jesus, porém, nos encaminha para outro Deus. Um Deus Pai, misericordioso, justo, que o envia ao mundo para reunir seus filhos através do amor. O Deus que Jesus nos apresenta é o “Pai que não dá pedra ao filho que pede pão, nem serpente ao filho que pede peixe.” ( Mat.7:9 e 10) O Pai que “faz que o sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos.” (Mat. 6:45) E como a mente das pessoas da época, cultivadora de uma imagem terrível desse Deus, não conseguisse perceber tanta misericórdia, Ele mostra o perfil desse Pai, narrando a parábola do ”Filho Pródigo” (Lc.15:11 a 32).

Por diversas vezes Jesus quebra as tradições judaicas, por considerá-las irrelevantes. Curou num sábado um enfermo. (os judeus nada podiam fazer no sábado). Os fariseus o questionam e Jesus responde: “É lícito fazer o bem nos sábados?” (Mat.l2:10) Questionado ainda pelos fariseus porque seus discípulos comeram sem lavar as mãos, Jesus respondeu: “não é o que entra pela boca que contamina o homem, mas o que sai da boca.” (Mat.15:11) Opondo-se ao gosto pelo luxo e fausto que imperavam, Jesus adverte: “Não acumuleis vosso tesouro na Terra” ou “quão dificilmente entrarão no Reino dos Céus os que tem riquezas.” (Mat.6:19) A sociedade da época com relação a mulher, é também objeto da consideração de Jesus ao aceitá-las. Um rabino constata: “Compra-se uma mulher por dinheiro, contrato e relações sexuais. Compra-se um escravo pagão por dinheiro contrato e posse.” O historiador Flávio Josefo constatou: “A mulher, diz a Lei, é inferior ao homem em todas as coisas. Ela deve obedecer, pois foi ao homem que Deus deu o poder.” Era recomendada aos homens a seguinte prece: “Louvado seja Deus que não me criou mulher.” A mulher não recebia cumprimentos na rua, andava sempre atrás dos homens e a estes não podia dirigir a palavra sem autorização.

Vejamos o comportamento de Jesus ante tais preconceitos. Além de se dirigir a uma mulher para pedir água, dirige-se a uma inimiga, pois os judeus detestavam os samaritanos, os considerando como inimigos. Além disso, era uma mulher pecadora, segundo os conceitos judaicos. Cristo faz da samaritana a anunciadora da Boa Nova entre seu povo. Era mulher e também pecadora e repudiada pela sociedade, Madalena a quem Ele fez portadora da sua ressurreição. Os historiadores dizem que Ele era seguido por muitas mulheres. Tinha Ele em Marta e Maria, irmãs de Lázaro, duas grandes amigas e costumava descansar na casa delas em Betânia.

A pirâmide social judaica tinha em sua crista o clero onde pontificava o sumo-sacerdote. Abaixo dele, os sacerdotes, os levitas e os anciãos que formavam a aristocracia. O povo era formado por pequenos agricultores, artesãos, operários, pescadores, pastores. etc. Na base da pirâmide estavam os miseráveis: mendigos, leprosos, prostitutas. Foi com essa massa popular que Jesus conviveu e foi para ela, a primeira convocação para a caminhada rumo ao Reino de Deus. Jantou Ele com publicanos, pescadores, até com o leproso Simão de Betânia. Vai mais além o Mestre, em seu afã de educar-nos na moral verdadeira, quando, narrando a parábola do “Bom Samaritano”, coloca um sacerdote e um levita como desumanos e põe a boa ação num samaritano, povo desprezado pelos judeus. Mostrava-nos, dessa forma, que pouco vale as práticas religiosas, os rituais, o respeito às tradições, quando não estão associadas do amor ao próximo. O Sermão da Montanha contém a síntese de sua doutrina e devia nortear o comportamento dos que se consideram cristãos.

O Cristianismo se estendeu por todo o Império Romano, graças à bravura dos primeiros cristãos. Ruy Barbosa, na introdução de “O Papa e o Concílio”, fala dessa primeira fase cristã, dizendo: “A unidade não resultava senão de um acordo espontâneo das almas. Porque a Cristandade era pura democracia espiritual sem centro oficial, sem meios de coação extrema, sem relações temporais com o Estado. As boas obras eram então o melhor sinal de fé, e esta não se traduzia em formas artificiais.” Realmente, a expansão cristã se deu sem apoio a seus missionários, sem dinheiro, sem escolas para preparar pregadores, sem ajuda de governos, sem influência social. O Cristianismo cresceu pelo Determinismo Divino, e pelo valor dos seus adeptos. O Cristianismo desvia-se desse caminho de pureza, quando o poder oficial dele se aproxima. Com a aceitação do Cristianismo pelo imperador Constantino, os sacerdotes e os templos pagãos passaram a servir aos cristãos. As orientações religiosas fizeram com que fossem misturados, tantos os ensinamentos pagãos como os cristãos, surgindo então um misto de paganismo e cristianismo, donde se originaram muitas deformações nos ensinos de Jesus, em virtude da supremacia dos sacerdotes pagãos. Os templos suntuosos existentes, substituíram as reuniões humildes, as vestes os paramentos e os rituais do paganismo, ocupam o lugar antes pertencentes a simplicidade, a humildade e a caridade cristã. Muitos outros dogmas foram criados: da “Santíssima Trindade”, do “Sangue e Corpo de Cristo”, da “Infabilidade do Sumo Sacerdote”, usurpando até um atributo de Deus.

Os primitivos cristãos reuniam-se em catacumbas, cavernas subterrâneas que serviam de cemitérios, onde realizavam suas reuniões, fugindo das perseguições dos mandatários do poder temporal. Tinham como símbolo, a figura de um peixe, e, quando queriam se identificar, faziam um rabisco simbolizando a parte superior do peixe; se a outra pessoa também era cristão fazia outro rabisco simbolizando a parte inferior do peixe, completando a figura do peixe, que representava Jesus, o pescador. Quando o Cristianismo se tornou também uma religião oficial de Roma, seu símbolo foi trocado. O peixe que lembrava Jesus, o “Pescador de Almas”, símbolo de humildade, paz e fraternidade, foi substituído pela “cruz”, instrumento de suplício e morte, como a guilhotina e a forca, como a comprovar que novo tempo do Cristianismo se iniciava; não mais de simplicidade e amor, mas de opulência, dogmas e perseguições. De perseguidos que foram os primeiros cristãos, agora eram os sacerdotes ditos cristãos, que apoiados pelo poder perseguiam, torturavam e queimavam em fogueiras, seus semelhantes, em nome de Jesus. As transformações no Cristianismo, onde simples figuras de pescadores humildes, foi perdendo a simplicidade de suas origens, transformando-se em pomposas cerimônias exteriores. Após a instituição do culto aos santos, adaptados aos ídolos do paganismo, surgiram os primeiros altares, dogmas e paramentos, medidas estas, adotadas para agradar os pagãos convertidos e para se manterem nas graças do poder temporal.

As autoridades religiosas atuaram para fanatizar o povo, obrigando a aceitar suas idéias e concepções, em vez de educarem as almas na sublime lição do Nazareno. Em atitude deplorável, aceitaram a preferência da massa ignorante inclinada à aceitação de solenidades exteriores, pelo culto fácil dos sentidos materiais, ignorando as lições de Jesus, de renovação dos sentimentos, de elevação espiritual. Ao considerarem Jesus como o próprio Deus e os Anjos e Santos como seres criados perfeitos, desobrigaram os seres humanos de se esforçarem por seguir os ensinamentos e exemplos de Jesus, atrasando a evolução moral e espiritual da humanidade. Como a religião de Roma prosperou em função do domínio do Império Romano, apesar dos pesares, devemos os méritos de ter conservado os Evangelhos. A disseminação dos ensinamentos e da vida de Jesus, devemos a Reforma Protestante, que fez com que os Evangelhos chegassem até os leigos, e até os nossos dias...

Hoje, novos cristãos de todas as crenças buscam a origem do verdadeiro Cristianismo. Nós, espíritas, buscamos também a convivência fraterna em nossos singelos agrupamentos, norteados pelos conhecimentos transmitidos pelos Espíritos Superiores a Allan Kardec, um dos emissários de Jesus, que nos adverte: “Reconhece-se o verdadeiro espírita, por sua luta pela transformação moral e pelos esforços que faz para domar suas más inclinações, substituindo-as pela caridade e pelo amor para com seus semelhantes.”

Entramos no 3º Milênio que dizem ser um novo tempo de transformações e de regeneração; que nos seja propício aos nossos projetos de elevação espiritual. Entretanto, é necessário fazermos a nossa parte para que esse estágio evolutivo do Cristianismo se realize... com a nossa participação, ou sem ela... Somos convocados a colaborar, e só depende de nós a nossa situação no futuro.

Amadurecidos nas lutas e dores que assolam o mundo, façamos coro com Simão Pedro, quando perguntou a Jesus: “Senhor, quando fores, para quem iremos?” – E recebeu como resposta, estas palavras de Jesus; “Tens as palavras da vida eterna...”


Que a Paz do Senhor, esteja em nossos corações.




Bibliografia:
“Revista Espírita de Campos”
‘Evangelho Segundo o Espiritismo”
“Novo Testamento”
Acréscimos e modificações.

Refeito em 11/11/2004.
Jc.

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