domingo, 18 de dezembro de 2011

CAMILO RODRIGUES CHAVES

CAMILO RODRIGUES CHAVES

Camilo Rodrigues Chaves destacou-se como figura marcante na Doutrina dos Espíritos e na situação política de Minas Gerais.

Detentor de vasta cultura humanística, falava corretamente as línguas italiana, francesa e espanhola, conhecendo também o latim clássico e o grego antigo. Sua sensibilidade artística permitia-lhe executar ao piano, com admirável perfeição, obras de consagrados mestres da música mundial. Foi ainda orador, poeta, escritor, jornalista, comerciante, fazendeiro e advogado.

Filho de João Evangelista Rodrigues Chaves e Maria Matilde do Amaral Chaves, era natural do povoado de Campo Belo do Prata, hoje cidade de Campina Verde, Minas Gerais, onde nasceu no dia 28 de julho de 1884. Casou-se com Damartina Teixeira Chaves, e nasceram os filhos, Hélio Chaves, Camilo Chaves Junior e Fábio Teixeira Rodrigues Chaves, dos quais apenas o último permanece encarnado.

Aos nove anos de idade, seus pais consentiram que o Bispo de Goiás, Dom Eduardo Duarte Silva, o levasse para Roma, onde seguiria a carreira eclesiástica, ingressando no Colégio Pio Latino-Americano. Ali estudou e formou-se na Universidade Gregoriana do Vaticano, diplomando-se, em Teologia, Filosofia, Ciências Naturais e Matemática. Porém, antes de receber a Ordem Eclesiástica, resolveu voltar ao Brasil por sentir que não tinha vocação para o sacerdócio.

Sua primeira obra literária “Romance da Terra e do Homem do Brasil Central” definiu-lhe o conteúdo e teve grande acolhida no meio intelectual. Foi vereador, deputado e senador do antigo Congresso Mineiro, quando se dedicou às lides políticas, desfrutando de grande prestígio em todo o estado de Minas Gerais. Criou em Uberlândia a Fazenda Experimental da Semente. Foi professor no Liceu de Uberlândia e no Colégio Nossa Senhora das Lágrimas.

Na revolução de 1930, foi escolhido Comandante das Forças Revolucionárias do Triângulo Mineiro. Abandonou a política, após conhecer o Espiritismo, para dedicar-se às letras e á divulgação da Doutrina Espírita, quando escreveu o extraordinário romance histórico “Semiramis, rainha da Assíria e Babilônia”, cuja terceira edição apareceu em 1989, pela editora LAKE, de São Paulo. Foi presidente da União Espírita Mineira, de 1945 até fevereiro de 1955, exercendo o mandato com líder autêntico, com atuação marcada pelo dinamismo e dedicação à Doutrina Espírita. Durante a sua gestão, foi iniciada a construção da sede da Casa Máter do Espiritismo em Minas Gerais, cuja inauguração se deu no dia 18 de abril de 1956. Inaugurou na União Espírita Mineira a Assistência Dentária e a Farmácia Homeopática, serviços que eram prestados gratuitos a milhares de necessitados.

Fez ainda circular com regularidade o jornal “O Espírita Mineiro”, órgão de orientação doutrinária. Elaborou novo Estatuto e ampliou os departamentos da entidade, como o Departamento da Mocidade Espírita e o Conselho Federativo,
conforme as normas constantes do Pacto Áureo de Unificação. Promoveu o II Congresso Espírita Mineiro, quando foi aprovada a Declaração de Princípios Espíritas. Foi presidente da União Espírita Mineira por dez anos consecutivos e ainda, fundador do “Cenáculo Espírita Tiago - o Maior”, presidente de honra do Centro Espírita “Amor e Caridade”, fundador da Sociedade de Amparo à Pobreza, mais conhecida como “Sopa dos Pobres”, conselheiro, sócio e irmão benemérito de várias sociedades espíritas, que lhe adotaram o nome.

Missionário da Boa Nova, caridoso e afável, soube granjeara admiração de quantos com ele conviveram. Não alimentava mágoas nem ressentimentos, exemplificando, como cristão verdadeiro, o amor e o perdão incondicional. Sua desencarnação, aos 70 anos de idade, se deu em 3 de fevereiro de 1955 e teve grande repercussão em Minas Gerais, tendo o Governador do Estado decretado luto oficial.

Numa reunião mediúnica realizada em 14 de abril de 1955, os Benfeitores Espirituais reservaram ao grupo que a realizava, uma grata surpresa: a presença do espírito do velho amigo e confrade Dr. Camilo Rodrigues Chaves, desencarnado dois meses atrás em Belo Horizonte. Foi a primeira vez que os confrades do grupo tiveram o ensejo de observar um companheiro recém-desencarnado, comunicar-se no plano material com tanto equilíbrio e segurança. Ele, pelo médium, se apresentou diante de todos pela voz que lhe era peculiar. Eis a mensagem que deixou:

“Irmãos, como discípulo de Jesus, afastado temporariamente da Terra, venho visitar-vos e agradecer as vibrações amigas e benéficas. A passagem para a Espiritualidade, para mim foi benigna e rápida, no entanto, a desencarnação mental, propriamente considerada, continua para o meu espírito, porque o ser humano não se desvencilha, de chofre, dos hábitos que lhe marcaram a existência. Os deveres, as afeições, os projetos planejados para o futuro, constituem laços ao pensamento. Ainda assim, tenho comigo a bênção da fé, ajudando-me na gradativa liberação. Sinto-me, por enquanto, na posição de convalescente inseguro, esperando recuperar-se; contudo, já sei bastante para afirmar-vos que, neste “outro lado da vida”, o nosso espírito sobrevive como pressentimos na Terra, mas nem todas as situações se desdobram aqui, segundo imaginamos.

A experiência continua sem saltos, o espírito se prolonga sem alterar-se. O perispírito rarefaz-se e, de algum modo, se modifica, sustentando, porém, às características que lhe são próprias, e o túmulo representa apenas uma transposição de plano em que a nossa consciência encontra em si mesma, sem qualquer fantasia. Compreendo, assim, agora, com mais clareza, a função da Doutrina dos Espíritos, como instituto mundial de educação renovadora de almas, junto a qual precisamos empenhar interesse e energia. Não vela tomar a Doutrina a serviço nosso, quando é nossa obrigação viver a serviço dela. Escravizá-la às vantagens particulares, nos caprichos e paixões da luta terrestre, é acrescer compromissos e débitos, adiando a nossa própria emancipação e evolução.

Sem a cápsula física, nosso conhecimento da verdade é mais íntimo e verdadeiro.
Daí o motivo de nos doerem fundo, as omissão que todos trazemos para cá, e a nossa preocupação de não haver feito pelo bem, tudo aquilo que poderíamos ter realizado, no transcurso de nossa existência terrena. Não nos iludamos. Exercer a caridade, alimentando os famintos e agasalhando os nus, é simples dever nosso, em nossas novas noções de solidariedade e justiça. E não nos esqueçamos de que a caridade real será sempre iluminar o espírito humano para que ele se conheça e ajude a si próprio. Deus permita que possais ver mais longe que nós, os companheiros que vos precederam na grande viagem, atendendo ao serviço primordial que vos desafia! Sem a assimilação dos postulados, de maneira intensiva, utilizando consciência e coração, raciocínio e sentimento, falecer-nos-á o discernimento e não teremos a elevação moral e, sem elevação moral, a Doutrina Espírita, não obstante a sua legitimidade, será estagnação no primitivismo.

Procuremos Jesus, afeiçoando-nos a Ele, para que os nossos irmãos da senda evolutiva e de atividade regeneradora o encontrem conosco. Meus irmãos, por agora, esta é a nossa tarefa maior”.


Bibliografia:
Marinei Ferreira Rezende
Jornal “O Espírita Mineiro” março/abril de 2003.
+ pequenas modificações

Jc.
S.Luis, 28/11/2011

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