quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O ALEIJADINHO E A ARTE BARROCA

O ALEIJADINHO E A ARTE BARROCA NO BRASIL

Quando os portugueses se estabeleceram definitivamente no Brasil, por volta de l.600, estava entrando em vigor na Europa um estilo estético que se chamava Barroco. Os seus princípios levaram os músicos, escritores, pintores, escultores a produzir obras cheias de movimento, ornamentação e emoções contraditórias. Na evolução histórica da arte no Brasil, o século XVII ficou marcado pela epopéia dos bandeirantes que penetraram em Minas Gerais e descobriram ouro e pedras preciosas, daí surgindo vários vilarejos como Vila Rica de Albuquerque.

No século XVIII, com a chegada dos artistas, artesãos e arquitetos portugueses, além de muitos escravos africanos, floresceu naquela região o esplendor artístico e religioso, cuja maior figura foi Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. No plano político o acontecimento marcante foi a luta pela emancipação da liberdade, conduzida pelos Inconfidentes, que foi reprimida de forma violenta pelo colonizador.

A arte barroca nasceu em oposição à arte renascentista, que se baseava na razão e nos modelos grego-romanos de equilíbrio e simplicidade. Vários fatores contribuíram para o clima social agitado que produzia essa arte excessivamente ornamentada:
. o intenso comércio entre vários países;
. a colonização das novas terras;
. as invenções que abalaram crenças antigas;
. a nobreza que desejava mostrar seu poder;
. o clero religioso da Contra-reforma que precisava se afirmar e
combater os protestantes.

Significado do termo Barroco: É uma pedra de formato irregular e aspecto estranho. Os colonizadores difundiram o Barroco ao levar seus artistas para as novas terras descobertas. Observe como se caracteriza a arte barroca:
. revela profunda emoção;
. dá a ilusão de movimento;.
. focaliza tema religioso;
. excede nos ornamentos;
. mostra contrastes fortes, entre luz e sombras;
. apresenta muitas curvas e dobras.

As imagens religiosas feitas em madeira, pedra-sabão e argila às vezes eram pintadas com uma espécie de tinta à base de óleo que dava aspecto brilhante, outras vezes, com têmpera, que produzia um aspecto fosco. Muitas, eram ornamentadas com finíssimos detalhes em folha de ouro, tinhas os olhos de vidro e traziam coroas de prata ou ouro.

Algumas das estátuas tinham um pequeno cofre no corpo que servia para o contrabando de ouro, e eram chamadas “santos do pau oco”. As imagens que eram feitas para serem carregadas nas procissões tinham apenas o rosto, o pescoço e as mãos, pois a ilusão do corpo era dada por meio de roupas montadas sobre uma armação de madeira – eram chamadas “santos-de-roca”.
Muitas obras barrocas são anônimas, não se podendo precisar quem foi o seu autor. Os escultores mais conhecidos desse período foram: o português Frei Agostinho da Piedade, que foi mestre do brasileiro Frei Agostinho de Jesus, também muito importante (1600-1661). Entre os maiores artistas dessa corrente está o mestre Francisco Xavier de Brito e o mineiro Antonio Francisco Lisboa, também conhecido como o Aleijadinho, nascido em l738, em Vila Rica (hoje, cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais).

As principais obras do Aleijadinho estão espalhadas nas cidades de Congonhas
do Campo, Mariana e Ouro Preto, no estado de Minas gerais, que eram rota dos bandeirantes no século 17, ainda guardam maravilhas do barroco do Brasil. Em Ouro Preto, cidade distante 96 klms. de Belo Horizonte, terra onde nasceu Aleijadinho, existe a igreja de São Francisco de Assis, a mais famosa obra do artista. Em Mariana, existe a Basílica Nossa Senhora de Assunção, conhecida como a Sé de Mariana, onde aos domingos ainda é apresentado recitais pelos músicos locais. Em Congonhas, se encontram as estátuas em pedra sabão, dos profetas que enfeitam a Igreja do Senhor do Matosinho, e vários passos da paixão em capelas que apresentam situações dos Evangelhos. Nessa mesma cidade foi onde surgiu o médium espírita Zé Arigó que durante anos, realizou muitas operações e na rodovia que lhe dá acesso, foi aonde ele veio a falecer vítima de desastre rodoviário.

No século XIX, no ano de 1858, o historiador Rodrigo José Brotas, chegou ao sítio da parteira Joana Lopes, nora de Aleijadinho, e dela ouviu o relato da história desse artista mineiro imortal. Antônio nasceu em 29/8/1738, filho de uma negra chamada Izabel e do português Manuel. Desde cedo começou a trabalhar nas minas e a fazer rústicas peças com pedras, em virtude de seu pai ser artesão. Francisco com 19 anos de idade, a pedido do seu pai, esculpiu o busto de uma mulher para colocar no chafariz do Alto da Cruz, o que lhe fez querido do povo. Certa vez ao ver um escravo negro acorrentado ser chicoteado na praça da igreja, ficou muito triste. Ele e sua mãe sendo negros foram alforriados pelo seu pai, Manuel Francisco Lisboa.

Aleijadinho aprendeu muito com as obras do mestre Francisco Xavier de Brito. João Nunes Batista seu instrutor, lhe ensinou a arte, que se divide em três coisas fundamentais: A composição, o desenho e as cores. Ele tanto trabalhava a arte barroca como a arte rococó. Tempos depois ele conheceu Helena e se enamorou dela, que também era filha de uma negra alforriada. Concorrendo com outros artistas, foi aprovado o seu trabalho para a conclusão da capela da igreja de São Francisco de Assis, de Vila Rica.

Um dia, quando trabalhava, ele começou a sentir muitas dores nas mãos e nas pernas, provavelmente em função de sífilis, que lhe trouxeram também deformações no corpo. E foi nesse período, de muitos sofrimentos, com as
mãos amarradas aos instrumentos, que ele realizou as suas melhores obras. Em vista da sua inteira dedicação ao trabalho, para onde era levado carregado, e devido a sua doença, a sua mulher passou a evitá-lo e terminou por trai-lo com o tenente José Romão, que foi a sua casa levar um convite do governador. Ele compareceu ao palácio e foi informado de que devia fazer uma estátua de São Jorge em tamanho normal. No dia da procissão, o povo observou que a imagem do santo tinha a cara do José Romão. As pessoas inventaram até uma modinha que dizia: “Esse santo que aí vai, com cara de santarrão, não é São Jorge não, é o tenente Romão.” Foi a maneira dele se vingar da traição da mulher. Em virtude desse fato, foi o tenente transferido para muito longe, levando consigo a mulher do Aleijadinho.

Por esse tempo o ouro já não era mais tão abundante, mas os portugueses continuavam com o confisco, o que ocasionou protestos e motivou a revolta dos Inconfidentes, que se reuniam na casa de Cláudio Manoel da Costa, onde Aleijadinho estudava na biblioteca. Ali ele tomou conhecimento da revolta dos Inconfidentes e da bandeira do movimento, que é hoje a bandeira do estado de Minas Gerais; constituída de um triângulo, representando a Santíssima Trindade, com um verso de Virgílio que está nos lados do triângulo, com a frase: “Libertas que serás também” – liberdade ainda que tardia.

Certo dia ao subir a escada para continuar o seu trabalho no teto da igreja, ele passou mal e conta tanta dor no dedo do pé que o cortou para se aliviar. Após a
prisão dos Inconfidentes, Aleijadinho ainda pode visitar o amigo Cláudio Manoel da Costa na prisão, onde o prisioneiro foi morto. Por causa da sua simpatia pelos Inconfidentes, em virtude da pregação da liberdade, dizem alguns que, Aleijadinho ao fazer as imagens dos profetas em pedra sabão existentes na igreja de Congonhas do Campo, ele as fez com a aparência dos Inconfidentes. Quando ele retornou de Congonhas, estava com mais de setenta anos de idade e, faltando-lhe os remédios, perdeu a visão. Em seus últimos instantes na casa de Joana Lopes, sua sogra, veio a falecer na cidade que lhe viu nascer: Vila Rica, hoje cidade de Ouro Preto.

Bibliografia:
“O Aleijadinho, paixão, glória e suplício”

P.S.
Quando residia no Rio de Janeiro, fui até Congonhas do Campo e apreciei as imagens dos profetas e os passos da paixão, por ocasião da minha visita ao médium José Arigó, que morava nessa cidade.

Jc.

S.Luis, l5/6/2008

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