sábado, 12 de março de 2011

CLÓVIS TAVARES

CLÓVIS TAVARES

Clóvis Tavares nasceu em Campos dos Goytacazes, no dia 20 de janeiro de 1915, dia de São Sebastião, no distrito de S.Sebastião. Daí o seu nome de batismo ser Sebastião Clóvis Tavares, embora sempre tenha sido tratado, em casa e em todos os ambientes, simplesmente por Clóvis. Desde a infância, demonstrou pendores religiosos. Era comum, nas plagas de S. Sebastião, ver seus irmãos jogando bola ou brincando de cabra cega e ele lendo ou rezando no oratório particular.

Ele afeiçoou-se ao padre da Igreja de S.Sebastião, chamado Émille Dés Touches, francês, de família nobre e abastada. Ele havia abandonado a sua herança para dedicar-se à vida religiosa, tendo decidido vir para o Brasil seguindo uma inspiração do Alto. Foi ele o primeiro professor de Francês e o primeiro orientador espiritual de Clóvis, que na adolescência, estudou no Liceu de Humanidades de Campos; integrou-se a um grupo de jovens idealistas que decidiram mudar o Mundo. Inscreveram-se no Partido Comunistas do Brasil e viveram um sonho de liberdade. Dois desses jovens eram Nina Arueira e Clóvis Tavares, que se enamoraram e tornaram-se noivos. Os dois viviam intensamente a vida partidária, sendo lideres de greves operárias e movimentos estudantis. Inesperadamente, Nina foi acometida de uma febre tifóide e Clóvis passa a fazer plantão ao seu lado, passando noites acordado, em vigilância, mas sem oração.

Por um desses mistérios da existência, ela conheceu já doente, um homem chamado Virgílio Paula, que a recebeu em sua casa para prestar-lhe tratamento. Era ele um profundo conhecedor de Teosofia e Espiritismo. Ela interessou-se inicialmente pela Teosofia; lê “Do Recinto Interno”, de Annie Bésant e decide, já no leito, renunciar à política partidária e conta a Clóvis a sua decisão. Este que estava também a discordar da direção partidária, quanto a rumos decididos que feriam a sua ética, passou a escutar de Nina as lições que ela ouvia do Vovô Virgílio. Este por sua vez, aos poucos foi introduzindo um pouco de Evangelho em suas conversas com Nina. Ela maravilhou-se com a visão de um Jesus Cristo amigo dos pobres e sofredores; amigo da Justiça e da Caridade e entregou-se de alma inteira, ao Evangelho, explicado pela racionalidade Espírita. Foram apenas alguns meses, mas ela desencarnou considerando-se espírita.

Após o seu desenlace é que Clóvis começou a ler os livros que ela lera no seu estágio derradeiro. E como ocorreu com Nina, ele também se apaixonou pela nova visão espírita. Quando leu pela primeira vez os versos de Olavo Bilac, Cruz e Souza, Fagundes Varella, Augusto dos Anjos, Castro Alves, João de Deus, Auta de Souza... se declarou espírita. E com o mesmo afinco que se dedicara há apenas alguns meses à política partidária, passa a militar ativamente no meio espírita. Começa a freqüentar o Grupo Espírita João Batista, dirigido pelo Sr. Virgílio de Paula e outros companheiros da primeira hora do Espiritismo em Campos. Em pouco tempo, Clóvis passa a realizar palestras doutrinárias que muito atraíram por sua fluência evangélica e pelo ardor do seu verbo.
Paralelamente a essas atividades, fundou uma escola de Doutrina Espírita para crianças, na casa da mãe da sua antiga noiva, a Dona Didi Arueira, e passaram a chamar essa casa de “Escola Infantil Jesus Cristo”. Mais uma vez, o inesperado ocorre. Os freqüentadores do Grupo Espírita João Batista, juntamente com os pais das crianças da Escola Infantil, afluíram para escutar suas palestras na casa de D. Didi. Decide então a diretoria do Grupo Espírita João Batista auto-dissolver-se e passar a integrar os quadros da nascente Escola Jesus Cristo, já sem o qualificativo de “Infantil”. Repetiu-se o mesmo que acontecera entre João Batista e Jesus. “É necessário que eu diminua para que Ele cresça”, e o Grupo João Batista dissolveu-se e os seguidores, passaram a seguir a Escola Jesus Cristo.

Iniciou-se uma Era nova para a Doutrina dos Espíritos no local, até então conhecido apenas pelas sessões mediúnicas. Com Clóvis, cresce em 1935, o Espiritismo da cultura e da prática da caridade, pois ele sempre priorizou na Escola Jesus Cristo, o serviço de amor ao próximo e o estudo doutrinário. A mediunidade ocupava, como até hoje, papel auxiliar. Ele sempre ensinou aos que buscavam ajuda, que, em primeiro lugar, deviam espiritualizar-se pelo estudo e pelo trabalho, para depois libertar-se das possíveis influenciações. Na Escola Jesus Cristo, Clóvis fundou dois orfanatos: um de meninas, dirigido inicialmente pela filha do Virgílio de Paula, a D. Inaiá de Paula, e outro para meninos, dirigido por ele mesmo e por seu companheiro de ideal, Medeiros Correia Junior, que mais tarde se tornaria Juiz de Direito. Fundou ainda um Culto de Assistência, onde um grupo de irmãos visitava duas favelas de Campos, para distribuição de gêneros alimentícios e para a realização de um culto do Evangelho no lar dos assistidos.

Fundou ainda a Sopa dos Domingos, com a ajuda dos irmãos portugueses Inocêncio Noronha, Bonifácio de Carvalho, D.Candinha e D. Mariquinhas; portugueses esses que sempre estiveram presentes na história da Escola Jesus Cristo. Surge ainda, por seu ideário, o Curso Elzinha França, para orientação espiritual às crianças. A escolha do nome Elzinha França deveu-se ao fato de que a Mocidade Espírita de Campos, da qual fazia parte a jovem Hilda Mussa, com quem se casaria mais tarde, e sua amiga Zenith Pessanha, visitava as famílias pobres da Escola Jesus Cristo, para mitigar os seus sofrimentos. Numa dessas peregrinações na favela, encontraram uma menina recém-nascida, abandonada. Como não havia na época, nenhum órgão oficial de amparo à criança e nem de longe se pensava no Estatuto da Criança e do Adolescente, decidiram trazer a menina para a Casa da Criança e deram-lhe o nome de Elzinha França. Apesar de Clóvis ter providenciado todos os cuidados médicos, a menor desencarnou em pouco tempo. Quando em uma de suas habituais viagens a Pedro Leopoldo para encontrar-se com Chico Xavier, obteve do médium a informação de que o visitava um espírito de muita luz, chamado Elzinha França. Clóvis Tavares, a princípio pasmo, contou ao médium quem era a menina, que Chico identificou como sendo uma professora que estava integrando a equipe espiritual de serviço na Escola Jesus Cristo, e que trabalharia na educação das crianças.

Na década de 50, passou a se corresponder com o sábio italiano Pietro Ubaldi, a
quem promoveu duas vindas ao Brasil, a última das quais, definitiva. Traduziu do italiano os seguintes livros do referido autor: “As Noúres”, “Ascese Mística”, “Grandes Mensagens”, “Fragmentos de Pensamento e Paixão”. Uma outra particularidade da Escola Jesus Cristo foi abrigar, na década de 60, uma escola de educação formal: O Instituto Allan Kardec. Paralelamente a essa atividade espírita, Clóvis Tavares lecionava História em duas escolas e Direito Internacional Público, na Faculdade de Direito de Campos. Foi autor de livros espíritas, renunciando, todavia, aos direitos autorais, pois aprendeu com Chico Xavier a doá-los às Editoras que se dedicavam à difusão doutrinária. Escreveu ele: “Sementeira Cristã”, “Vida de Allan Kardec para a Infância”; “Meu Livrinho de Orações”, “Os Dez Mandamentos”, “Histórias que Jesus Contou”, para o público infantil, “Vida de Pietro Ubaldi”, “Trinta Anos com Chico Xavier”, “Amor e Sabedoria de Emmanuel”, “Tempos de Amor”, “De Jesus para os que Sofrem”, “Mediunidade dos Santos”, para o público em geral.

Clóvis fundou ainda o Clube da Fraternidade, espaço artístico para a realização de jogos infantis, teatros e coros musicais nos domingos à tarde, numa época em que não havia televisão. Passou a visitar semanalmente os presos, recordando o ensino de Paulo aos hebreus: “Lembrai-vos dos encarcerados, como se vós mesmos estivésseis presos com eles”. (Hb. 13-3) – Uma vez por ano, pregava o Evangelho Consolador no cemitério, no dia 2 de novembro, iniciando uma prática consoladora e esclarecedora na terra dos goytacazes. Tornou-se amigo íntimo de Chico Xavier, com quem conviveu por 50 anos, o que é relatado nos livros do parágrafo anterior. Freqüentava com assiduidade as reuniões do Grupo Meimei, em Pedro Leopoldo. Viajou também para Belo Horizonte várias vezes, onde travou contato com Arnaldo Rocha, Joaquim Alves, Cícero Pereira e tantos outros que dignificaram a Doutrina dos Espíritos nas Minas Gerais e no Brasil.

Clóvis Tavares veio a casar-se, somente após 20 anos da desencarnação de Nina, e a jovem Hilda passou a ser também a sua fiel colaboradora nos trabalhos da Escola Jesus Cristo. Ela fundou um coro infantil, uma livraria, escreveu e dirigiu dezenas de peças teatrais adaptadas de contos clássicos da literatura mundial, como: “O Pequeno Príncipe”, “O Menino do Dedo Verde”, “O Pássaro Azul”, “Fernão Capela Gaivota”, “O Meu Cristo Partido”. Do seu casamento com Hilda, nasceram cinco filhos. Seu filho Flávio Mussa Tavares, em depoimento que embasa estes dados biográficos, registra: “Desencarnou papai no dia 13 de abril de 1984 exatamente uma semana antes, nascia o meu primeiro filho e seu primeiro neto, o Pedro. Sete dias após, no mesmo hospital e na mesma hora, meu pai é internado, e na cama onde fez a radiografia abdominal, segurando as minhas mãos, ele desencarnou. Em apenas sete dias, vivenciei intensamente a experiência de ser um ajudante de dois espíritos que atravessaram o Portal da Vida no sentido inverso: um se recorporizando na Terra e outro se despedindo deste mundo e reentrando na Espiritualidade”.

“Espero este ano, publicar “Saudade é o Metro do Amor”, que apresenta seis comunicações mediúnicas de meu pai, obtidas através do seu querido amigo Chico
Xavier, com quem ele mantinha uma relação de amizade que não pode ser medida pelos padrões humanos”.
Flávio Mussa Tavares

A Escola Jesus Cristo, em Campos, vive ainda intensamente a sua proposta de Espiritismo à luz do Evangelho de Jesus, reconhecendo que a Luz é sempre do Cristo, e é por Ele, que a Doutrina Consoladora existe, para esclarecer os seres humanos de uma forma racional e razoável, capaz de converter-nos psiquicamente em seres mais dignos de nossa existência no Planeta.



Bibliografia:
Livro “Trinta Anos com Chico Xavier”
“ “Escultores da Alma”
“ “A Morte Simples Mudança”
Jornal “O Espírita Mineiro”, maio/junho/2006


Jc.
S.Luis, 10/03/2011

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