quarta-feira, 9 de outubro de 2019

A EDUCAÇÃO E A INSTRUÇÃO





É preciso não confundir a Educação com a Instrução.  A Educação inicia-se nos primeiros meses após o nascimento,  desenvolvendo os valores na consolidação do caráter e continuando durante a existência, assim como, a Instrução depois é ministrada e empregada no sentido de orientar o ser humano, na aquisição dos conhecimento e das disciplinas.
Não esperemos que os professores consertem as falhas na educação de nossos filhos. Em casa, devemos ensinar nossos filhos a: Cumprimentar, falar obrigado, ser limpo, ser honesto, ser correto, ser pontual, falar bem, não xingar, ser solidário, respeitar  as pessoas, mastigar com a boca fechada, não roubar, não mentir, ser organizado, cuidar das próprias coisas e das coisas dos outros. Na escola, se aprende: Artes, biologia, ciências, filosofia, física, geografia, gramática, história, línguas, literatura, matemática, português, química, sociologia, e é onde são reforçados os valores que os pais devem ensinar aos seus filhos.  
A Instrução significa ilustrar a mente com conhecimentos sobre um ou vários ramos de atividades. O intelectualismo não supre o cultivo dos sentimentos. “Não basta ter coração; é preciso ter bom coração”, disse Hilário Ribeiro, educador emérito cuja competência pedagógica estava na altura da modéstia e da simplicidade que adornava seu Espírito.
Convém acentuar que a consciência religiosa corresponde, neste particular, ao fator principal na formação dos caracteres. A expressão –consciência religiosa – ao invés de religião, para  que não se confundam as ideias. Religião há muitas, mas a consciência religiosa é uma só. Por essa designação entendemos o império interior da moral pura e imutável  ensinada e exemplificada por Jesus. A consciência religiosa importa em um modo de ser, e não em um modo de crer.
É possível que alguém objete: mas, a moral cristã é tão velha, e nada tem produzido de eficiente na reforma dos costumes.  É         verdade, mas não pode ser velho aquilo que não foi usado. A moral cristã é, em sua pureza e em sua essência, desconhecida da Humanidade. Sua atuação ainda não se fez sentir nas pessoas. O que se entende por Cristianismo é a sua contrafação. Dessa moral cristã é que está dependendo a felicidade humana sob todos os aspectos. O intelectualismo, não vai resolver os problemas sociais existentes no mundo.
Jesus apresentou-se perante a Humanidade, como Mestre e Salvador, ao dizer: “Eu sou o vosso mestre”. Daí, por que Jesus arrogou a si a denominação de Mestre, considerando aqueles que o acompanhavam e todos que seguissem os seus ensinamentos, como seus discípulos. A missão de Jesus é precisamente comprovar aquele asserto, vencer os obstáculos conquistando  a Humanidade. Essa obra,  sendo  de  redenção divina, porque visa libertar o ser humano dos liames que o predem a animalidade, cujos vestígios, nele, são patentes, é portanto, uma obra de educação. Jesus veio nos trazer a verdade e fez tudo quanto lhe competia fazer para o cabal desempenho dessa missão que o Pai lhe confiara, mesmo com o sacrifício de sua existência terrena.
Quanto aos compromissos que veio desempenhar neste mundo, nós o vemos claramente através das atitudes que ele assumiu na sociedade terrena. Que fez Jesus? Começou reunindo algumas pessoas simples, arrebanhadas das camadas humildes, e lhes foi ministrando lições e ensinos por meio de singelas parábolas, prédicas e discursos vazados em linguagem popular, cimentando com exemplos edificantes tudo o que transmitia. A novidade da sua escola consistia sempre na divulgação destes princípios: Todos os seres humanos são filhos de Deus; porque todos têm a mesma origem. Da paternidade divina, decorre a fraternidade humana, isto é, todos os seres humanos são irmãos. Portanto, devem amar-se reciprocamente agindo em tudo segundo a lei de solidariedade.
O mestre não fornece instrução: mostra como ela é obtida. Ao discípulo cumpre empregar o processo mediante o qual adquirirá a instrução. Ao mestre compete ainda dirigir e orientaras forças do discípulo, colocando-o em condições de agir por si mesmo na conquista do saber. Resta, portanto, que o ser humano, o discípulo, faça a sua parte para entrar na posse da verdade, essa luz que ilumina a mente, consolida o caráter e aperfeiçoa os sentimentos. Os que deixarem de preencher essa condição, continuam nas trevas, na ignorância, e nelas permanecerão até que peçam e procurem por essa luz.
A novidade da sua escola consistia sempre na divulgação destes princípios: Todos os seres humanos são filhos de Deus; porque todos têm essa mesma origem. Da paternidade divina, decorre a fraternidade humana, isto é, todos os humanos são irmãos. Portanto, devem amar-se reciprocamente agindo em tudo segundo a lei de solidariedade.
Jesus veio nos trazer a redenção. É por isso nosso Salvador.  Mas só redime aqueles que amam a liberdade e a luz e se esforçam por alcançá-la. Os que se comprazem na servidão das paixões e dos vícios não têm em Jesus um salvador. Continuarão como escravos até que compreendam a situação  em que se encontram, e almejem conquistar a liberdade.
A redenção, como a educação, é obra que se realiza gradativamente no transcurso eterno da vida; não é obra miraculosa que se realiza num dado momento ou numa única existência. O papel que cabe ao mestre é instruir e educar. Entendemos por educação o desenvolvimento dos poderes psíquicos que todos possuímos em estado latente, como herança havida D’aquele de quem todos nós procedemos. Pestalozzi define assim a matéria ora em apreço, dizendo o seguinte: “Educação é o desenvolvimento harmônico das faculdades do indivíduo.” Ao cultivarmos, esta ou aquela faculdade do Espírito, não devemos desdenhar as demais.
Verifica-se em geral, por parte dos pais, uma grande preocupação – até certo ponto louvável – sobre a educação dos filhos no que diz respeito á inteligência. Querem vê-los com um pergaminho, aureolados por um título que os habilite ao exercício duma profissão, a qual, não só lhes assegure a independência econômica – o quê importa em justa aspiração - mais ainda a riqueza, fama e glória.  O futuro da prole é visto desse prisma utilitário e vaidoso. Antes de tudo, os pais devem cuidar da educação moral dos filhos, deixando às inclinações e vocações de cada um, a escolha da sua profissão.
Há evidentemente uma ilusão nessa maneira de ver e proceder, porque, nós os pais, somos vítimas do egoísmo com que  nascemos. Queremos vê-los com o diploma e alvo de aplausos e louvores, dando-nos a falsa ideia de havermos cumprido perfeitamente o nosso dever com relação àqueles que a providência Divina nos confiou para orientá-los na sua caminhada pela estrada da existência. Não cogitamos do que concerne às qualidades morais, à formação e consolidação do caráter, em fazê-lo homem de bem, caridoso e honesto, com aquele mesmo interesse e afã que empregamos na ilustração do seu intelecto.  Preocupamo-nos muito mais com o cérebro do que com o coração. Fazemos tudo para enriquecê-lo de bens materiais, deixando-os, às vezes, pobres de valores morais e de sentimentos.
O que se dá é que geralmente se imagina que o ser bom, justo e verdadeiro, o ser sincero e amável não requer aprendizagem. Supomos que tudo isso seja coisa tão natural e comezinha que não constitui matéria que deve ser ensinada! Imagina-se que essa parte da educação, incontestavelmente a mais excelente,  há de efetuar-se por si mesma, à revelia de cuidados, que são dispensados a outras modalidades de educação.
Tal é o grande erro generalizado que é preciso corrigir. A ideia de geração espontânea é quimérica. Do nada, nada se tira... Tudo o que germina, germina de uma semente. Tudo que envolve, envolve dum germe ou embrião. Não podemos esperar que aflore na alma da mocidade, qualidades nobres e elevadas sem que, antes, tenhamos feito ali uma sementeira.
Todos os problemas do momento atual se resumem em uma questão de caráter: só pela educação podem ser solucionados. Demasiada importância se dá às várias modalidades do saber, esquecendo-se do principal, que é a ciência do bem. A crise em que se encontra o mundo é a crise de caráter, responsável por todas as outras crises. O momento atual reclama a ação de homens honestos, escrupulosos, possuídos do espírito de justiça e cientes das suas responsabilidades. Temos vivido sob o despotismo da inteligência, porém, devemos sacudir-lhe o jugo fascinador, proclamando o reinado do caráter, o império da consciência, da moral e dos sentimentos nobres.
Honestidade, espírito de justiça, noções do dever são como as artes, virtudes que se adquirem tal como é adquirido o saber neste ou naquele ramo de atividades. Tudo na existência depende de estudo, aprendizado, constância, experiência e trabalho. A sementeira do bem e da verdade, da justiça e do amor, nunca se perde. A obra da redenção humana é obra de educação, e Jesus é o divino educador...
A retórica deixou aos Tullios e aos D        emóstenes; a filosofia aos Platões e aos Aristóteles; as matemáticas aos Ptolomeus e aos Euclides;  a medicina aos Apolos e aos Esculápios; e ainda, a jurisprudência aos Eolões e aos Licurgos; e para si, Jesus tomou só a ciência de tornar bons e salvar os seres humanos.
Fonte:
Livro “O Mestre na Educação”
Autor: Pedro de Camargo (Vinícius)
+ Pequenas modificações.                  

Jc.
São Luís, 22/8/2016
Refeito em 18/9/2019

A NATUREZA HUMANA






 
Um erro psicológico de funestas consequências domina a ortodoxia oficial. Pretendem que o ser humano seja visceralmente mau, perverso e, por natureza, corrupto. Semelhante conceito é adotado, salvo raras exceções, por sociólogos, juristas, escritores, filósofos, cientistas e, o que é mais de admirar, pelos vários credos religiosos. Que os materialistas façam tal conceito do ser humano compreende-se; mas que sejam acompanhados pelos crentes e até pelas autoridades das religiões deístas é inominável, inconcebível.
Como é possível que o ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus, seja considerado mau? Como se compreende que o Arquiteto Supremo haja criado obras imperfeitas e defeituosas? Semelhante pensamento precisa ser combatido. Lavremos em nome da fé que professamos,  veemente protesto contra essa heresia.
O ser humano é uma obra inacabada; entre obra inacabada e obra defeituosa vai um abismo de distância. Os Espíritos trazem consigo os germes latentes do bem e do belo. A centelha divina, oculta embora, é como o diamante no carvão. O mal que no homem se verifica é extrínseco e não intrínseco. No seu íntimo cintila o divinal revérbero da face do Criador. Os defeitos, senões e falhas são frutos da ignorância, da fraqueza e do desequilíbrio de que a Humanidade ainda se ressente. Removidas tais causas, as decantadas maldade e corrupção desaparecerão.
Deus não cria os Espíritos como os escultores modelam as estátuas. As obras de Deus são vivas, trazem em si mesmas as  possibilidades de autodesenvolvimento, pois a vida implica movimento e crescimento. Os atributos de Deus estão, dadas as devidas condições de relatividade, palpitando em cada criatura. Apelando-se para as faculdades profundas do Espírito, logra-se o despertar da natureza que nele dorme, atestando a origem de onde proveio.
O problema do mal se resolve pela educação, e compreende-se por educação o apelo dirigido aos potenciais do Espírito. Educar é evoluir, e através do trabalho da educação, consegue-se transformar as trevas em luz,  o vício em virtude, a  loucura
em bom senso, a fraqueza em força. Tal é em que consiste a conversão do mau. Jesus foi o maior educador que o mundo já conheceu. Sua atuação se efetuou sempre nesse sentido. Jamais o encontramos abatendo o ânimo ou aviltando o caráter do pecador, fosse esse pecador um ladrão confesso, fosse uma mulher adúltera apupada pela turba. “Os são não precisam de médicos, mas, sim, os doentes;” tal o critério que adotava. Invariavelmente agia sobre algo de puro e de incorruptível que existe no Espírito do ser humano.
O mal é uma contingência. Em realidade significa apenas a ausência do bem, como as trevas representam a ausência da luz. O mal e a ignorância são transes ou crises que o Espírito conjurará fatalmente, mediante o despertar de suas forças latentes purificadoras. A prova cabal de que a natureza íntima do ser  humano é divina, e, por conseguinte, incompatível com o mal, está na faculdade da consciência. Que é a consciência, senão o “divino” cuja ação se faz sentir condenando o mal e aplaudindo o bem? Por que razão o homem jamais consegue iludir ou corromper a sua própria consciência?
Ele pode, no uso do relativo  livre-arbítrio que lhe obedece, agir em contrário a sua consciência, porém nunca abafará seus protestos, nunca conseguirá fazê-la conivente com suas iniquidades e crimes. A consciência é o juiz íntegro cuja toga não se macula, e cuja sentença ouvimos sempre, quer queiramos, quer não, censurando nossa conduta irregular. Esse juiz é a centelha divina que refulge através da escuridão de nossa animalidade; é o diamante que cintila a despeito da negrura espessa do involucro que o circunda.
Perniciosas e desastrosas têm sido as consequências do falso conceito generalizado sobre o caráter humano. Tal pensamento gerou o pessimismo que domina a sociedade. O vírus que tudo polui e conspurca, é outro efeito oriundo da mesma causa. Que pretendem os industriais da cinematografia exibindo películas dissolventes e até indecorosas?  E os literatos e romancistas abarrotando as livrarias de obras frívolas, enervantes e imorais? E o empresário teatral com suas comédias impudicas, cheias de obscenidades? E os compositores  e  cantores  com  suas  músicas  imorais? E os costureiros e modistas com sua indumentária que peca pela falta de decência e decoro? Todos eles, convencidos de que a natureza humana é essencialmente corrupta, estão atuando através da corrupção, visando o lucro fácil e imaginando que o meio mais fácil e seguro de êxito seja esse. No entanto, se essas atividades se transformassem de escolas do vício em escolas de virtudes, deixariam de existir por isso?
A falsa ideia de que o êxito só se alcança apregoando o vício, a maldade, o crime e a ignorância humana, é uma mentira herética e execrável. A própria Teologia tem sustentado esse erro pernicioso, através dos séculos, pela palavra de seus corifeus, prejudicando seriamente a evolução da Humanidade. A Pedagogia, em seu glorioso advento, vai destronar esse conceito milenar, desembaraçando a mente humana dessa grande aberração.
Voltamos a dizer: O ser humano é uma obra inacabada; entre uma obra inacabada e uma obra defeituosa vai um abismo de distância. Como é possível que o ser humano (Espírito) criado a  imagem e semelhança de Deus, tenha sido feito para o mau? Somente, mentes ignorantes da criação de Deus pode assim pensar...

Fonte:
Livro: “O Mestre na Educação”
Autor: Pedro de Camargo (Vinícius)
+ Pequenas modificações.

Jc.
São Luís, 24/8/2016
Refeito em 18/9/2019

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

A CORRUPÇÃO CULTURAL NA SOCIEDADE BRASILEIRA




 
O país vive um momento histórico, assolado pela corrupção  que nos atinge e nos coloca no pódio de uma crise sem precedentes nunca antes vista, e com rumos incertos onde vivenciamos dificuldades a cada dia. Nessa expectativa de “sairmos dessa”, nos resta a esperança de que ainda podemos sonhar com uma saída heroica, baseada na superação do brasileiro em escapar das dificuldades sem maiores lesões. É dito á tempos que “a ocasião faz o ladrão”, e é inegável a verdade desse ditado. Mas no caso brasileiro, qual o motivo para a pessoa política, se corromper? Para responder a essa pergunta, temos primeiramente que definir o que é corrupção.
Corrupção do latim  (: Corruptus – “despedaçado” ou em outra acepção, “pútrido”, é o ato de se corromper, ou seja, obter vantagem indevida, seja pelo abuso, por ação ou omissão, observando-se  a satisfação do benefício próprio, a despeito do bem comum. A corrupção não é só política, e nem sempre só envolve dinheiro. Existem três formas de se corromper:  1ª Pelo abuso; 2ª Pela omissão; e 3ª Pelo desvio.
O abuso, que é tido como normal pela sociedade brasileira hierarquizada pode ser representado pela frase: “Você sabe com quem está falando?”. Trata-se de um traço autoritário da sociedade brasileira. Ela funciona para demarcar diferenças e posições hierárquicas. O seu uso pode ser traduzido como: “respeite-me, pois não sou do seu nível”, ou ainda “nós não somos iguais”. A partir da famosa frase de Maquiavel: “Favori agli amici, nemici dela legge (aos amigos favores, aos inimigos a lei) representa bem esse abuso de um poder que deveria servir para  manter o bem comum, e é usado, na verdade, como pressuposto de superioridade daquele que o detém.
A omissão,  é, talvez, a forma de corrupção mais vista na nossa sociedade. Omitir-se é deixar de fazer ou dizer algo que deveria ser dito, deixando como certo, o errado prosseguir ininterrupto. Todo brasileiro se omite. Deixamos de denunciar tudo o que vemos de errado; deixamos de ajudar aqueles que necessitam de nossa ajuda; deixamos de devolver aquilo que sabemos que não é nosso, entre outras omissões comuns. Não só não denunciamos, mas até continuamos votando naqueles que se corrompem escrachadamente.
O desvio é relacionado ao abuso em partes. É quando devida função ou recurso, seja ele público ou privado, é desviado por aqueles que o administram para se beneficiarem. É como o administrador que desvia para si o patrimônio daquilo que administra, ou o político que dá cargos de confiança para parentes. É o uso do patrimônio alheio que administra para si.
Podemos relacionar as três modalidades de ação aos costumes tupiniquins modernos, que desobedecem todos os seus deveres, a favor de beneficiar-se; mas que sempre requer seus direitos  baseando-se no ordenamento jurídico. É como uma relação de dualidade entre o Legal e o Ilegal, ou do jovem delinquente que reclama dos abusos da polícia e também do criminoso que anseia pelos seus direitos humanos, e que é negado às suas vítimas. Provavelmente ninguém parou para pensar quanto afeta na sociedade essa mentalidade anêmica, essa carência de preceitos morais e éticos, sempre em busca da vantagem própria. É a “Lei de Gérson” aplicada, talvez, uma frase infeliz do ex-jogador para o momento, mas que reflete em totalidade como funciona a política no Brasil, até porque fazer política não é exclusividade parlamentar, mas um dever de todo cidadão, segundo disposto no parágrafo único do Artigo 1º da Constituição Federal. “Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.
Aqueles que nos representam no Palácio do Planalto, nos Ministérios,  no Congresso e nas Autarquias, vieram de nós, por nós e para nós, e representam não apenas como pessoas políticas que nos governam, mas como membros do POVO BRASILEIRO, como nós, aos quais confiamos os nossos direitos, nossas garantias e nosso patrimônio; ou seja, se elas são corruptas, são frutos da nossa sociedade, infelizmente, ainda corrupta e “malandra”.
Fonte:                                                                                                      
Jornal “São Luís” – edição de agosto/2016
Autor: Felipe Pires Morandini
+ Pequenas modificações

Jc.
São Luís, 15/10/2016
Refeito em 18/9/2019

A CARIDADE




 
Na era antes do Cristo, os povos não conheciam o significado da palavra Caridade. Utilizavam o termo “esmola” para definir a doação de algum bem material dado a outra pessoa.

Existia entre os hebreus, um código moral recebido por Moysés, chamado “Decálogo” ou “Dez Mandamentos”, que determinava o “Amor a Deus sobre todas as coisas”, e outras leis menores que regulavam as relações entre as pessoas, isto porque, os povos daquela época, eram primitivos demais e não estavam preparados para melhores e elevados conhecimentos.

Com o advento de Jesus, o auxílio proporcionado por Ele, às outras pessoas, tomou o nome de Caridade, e passou a ser definida como uma forma de amor ao próximo; não mais como simples esmola. Esmola, filantropia e Caridade são três coisas distintas. A esmola é uma doação material, geralmente passageira, sem compromisso com as causas que levaram a criatura a esmolar. Já a filantropia, que está associada a um processo de doação, auxilia a pessoa a alcançar outro nível da sua situação de miséria. Portanto, esmola é pura doação; filantropia é promoção, maneira de melhorar o ser humano.

A Caridade é mais de ordem espiritual. Pode ela valer-se de situações materiais como a esmola ou a filantropia. A Caridade é benevolência, é indulgência e perdão; é um conjunto de sentimentos que brotam do íntimo, irradiando e envolvendo as pessoas e seres, objeto da ação. Para dar esmola ou fazer filantropia, necessitamos de recursos materiais. Para fazer a Caridade necessitamos abrir nossa alma e permitir que nosso sentimento atue efetivamente em favor do próximo. Por esse motivo, a Doutrina dos Espíritos coloca a Caridade como condição essencial para nos aproximar de Deus. Jesus serviu-se da Caridade para nos ensinar como proceder para com nossos irmãos, por muito nos amar.

O que compreendemos como Caridade? – Ajudar, acolher, abrigar, compartilhar, criar condições de melhoria, oferecer o ombro amigo, trabalho, dinheiro? - É certo que qualquer dessas atitudes poderá ser vista como Caridade, mas o quer torna cada uma dessas ações uma atitude de Caridade? – Não basta apenas a ação; ela terá que ser acompanhada da doação do nosso sentimento, do envolvimento com o outro. Não basta dar, ou mesmo, criar uma obra filantrópica; é preciso dar-se, se doar, como espírito que somos na caminhada evolutiva.

Também, para fazer Caridade, como para tudo em nossa existência, não basta apenas ter boa-vontade, tempo ou dinheiro. É preciso a abnegação e o sentimento fraterno daquele que pratica a ação caridosa. Se houver necessidade de ser mantida por longo tempo, seremos capazes de realizá-la?  Quantos de nós teremos de investir no trabalho de ajuda, sem deixar de nos envolver com o nosso trabalho renumerado e com a nossa família? Essa nossa ação em benefício do próximo, está amparada no sentimento de servir, ou será apenas um impulso momentâneo? Não será apenas para que os outros tenham conhecimento da nossa “bondade”? – Nunca esqueçamos de que, apenas amando e auxiliando desinteressadamente o nosso próximo, é que  seremos felizes na nossa ascensão para Deus.

Historicamente, a prática da Caridade, é usada no interesse da acomodação social, isto é, leva os ricos a minorar o sofrimento dos pobres, para que estes, não se rebelem contra as injustiças que lhes são impostas, enquanto os ricos aplacam suas consciências, na acomodação de se sentirem aprovados pelo padrão ético vigente. Era assim no passado, assim continua até hoje. Nas épocas de calamidade pública, surgem essas atitudes até nas classes governantes; mobilizam-se a sociedade para fornecer alimentos, remédios, roupas, etc., a uma população de trabalhadores, sem trabalho. Precisam eles de esmolas ou de uma infraestrutura social que lhes possibilitem terra ou trabalho para viverem com dignidade? Nessa paisagem sócioeconômica, às vezes mascarada de cristã, a Caridade adquire o caráter de doação material.  Eis porque até hoje as ideias de Caridade se confundem com a esmola que é uma doação descompromissada e sempre humilhante das sobras dos que têm fartura.

Jesus ao dizer: “Não saiba a mão esquerda o que dá a mão direita”, significa que não devemos  ficar murmurando arrependidos, sobre o bem que tivéssemos feito ao nosso semelhante. Sobre esta recomendação, lembramos do caso relatado por Machado de Assis, a respeito de um rico comerciante e um modesto camponês, na Rússia. “Seguia a cavalo o rico comerciante, quando de repente o cavalo disparou a correr. Nada detinha o seu galope e o comerciante pensou que ia morrer. Se caísse, a sua cabeça bateria nas pedras e a morte viria a seguir... Eis então que surge um camponês que, corajosamente arriscando sua vida, se coloca a frente do animal, segura-o pelo cabresto e o faz parar de correr. Foi um milagre! – O comerciante agradecido, retira da carteira uma nota de mil rubros, passando-a ao camponês. – O coitado quase caiu de susto, pois nunca vira uma nota daquele valor! – Em seguida saiu pulando feliz, no rumo da choupana a mostrar para a mulher e o filho, a dádiva recebida. Mil rubros, uma fortuna! – “O comerciante ao vê-lo partir feliz, começou a pensar sobre a doação: Acho que dei dinheiro demais... mil rubros? Por que não 500?  Ou mesmo 200? – Talvez o pobre infeliz ficasse contente com 100 ou até menos. Quem sabe com 10 rubros... afinal ele ganha por dia 5 rubros.  Acho que dei dinheiro demais, por pouca coisa e  foi embora arrependido.

Isso costuma acontecer com todos nós. Na hora do entusiasmo, nós damos generosamente. Depois nos arrependemos e começamos a sofrer.  Outro  exemplo
aconteceu com um rapaz que nunca era convidado para ser padrinho. Ele já estava ficando complexado. Todos eram convidados menos ele. Será que eu não sirvo para ser padrinho? – Um dia ele foi convidado e ficou muito feliz. Tão feliz que logo prometeu ao noivo dar uma geladeira de presente. Uma geladeira na época era um presente muito caro. Então ele se arrependeu, mas como tinha prometido teve que cumprir a promessa... e tome sofrimento.

Muitas pessoas acreditam que quem dá aos pobres empresta para Deus; mas costumam querer saber o que o beneficiado vai fazer com a doação. Por exemplo:  Um pedinte pede um real para comprar pão. Certas pessoas atendem ao pedido, mas logo advertem: “Olhe lá, estou dando para você comprar pão; não vá gastar com outra coisa, ouviu?”

Outro exemplo diz respeito a um mecânico que também era médium. Ele era um bom operário e tinha uma boa assistência espiritual.  Como sempre acontece com médiuns assim, nasce logo a adoração e surgem as pessoas interessadas nos favores dos mentores espirituais, que envolvem o médium, o bajulam, o elogiam, o presenteiam e acabam se tornando donos dele. Querem utilizá-lo a qualquer hora, para resolverem seus problemas. Com isso vai-se a disciplina na assistência mediúnica e na profissão que lhe garante o sustento da família, que fica sacrificada. Os seus assistidos, para tê-lo permanentemente à disposição, lhe sugerem deixar a profissão de mecânico, que eles lhe garantem um salário.  E assim foi feito, e cada um dos favorecidos ajudava com uma parcela do salário ajustado. No princípio funcionou. Porém, com o passar do tempo, cada um foi deixando de contribuir, e o mecânico sem a ajuda e sem o trabalho que perdeu, logo as dificuldades aparecerem; o aluguel atrasou, a comida faltou, a luz foi cortada e as necessidades se instalaram. Ele passou então a cobrar pelos serviços mediúnicos, em desacordo com as recomendações de Jesus que disse: “Daí de graça o que de graça recebeis”, e em pouco tempo ele é abandonado pelos seus guias espirituais e a desmoralização se apresenta. Os próprios assistidos de outrora que tanto o bajulavam, são os primeiros a falar mal dele abertamente. A obsessão se instala e o sofrimento se faz presente, pelo indevido uso dos dons divinos, causados pela imprevidência.

Pessoas há que dão uma oferta à Igreja, uma contribuição a uma instituição beneficente e tratam logo de fazer uma “fezinha” nas loterias, pensando que vão ter a recompensa divina, ganhando o primeiro prêmio. Outras pessoas usufruem dos bens terrenos com que foram beneficiados sem se importarem com as necessidades dos outros, que são seus irmãos, e só se lembram de doar alguma coisa, na hora em que estão próximos da morte, quando não podem mais se servir da fortuna. Fazem então um testamento deixado um tanto para o Asilo, outro tanto para o Orfanato, para a APAE e outras entidades... e fazem isso porque não podem levar consigo os bens materiais.

Na primeira Epístola aos Coríntios, Paulo nos dá preciosos ensinamentos ao dizer: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos Anjos, ainda que eu tivesse o dom da profecia e conhecesse todos os mistérios, toda a Ciência, e tivesse toda a fé, até o ponto de transportar montes, se eu não tiver Caridade, eu não sou nada.”

A Lei nº 5063 instituiu o DIA DA CARIDADE, a ser comemorado anualmente no dia 19 de julho, com o objetivo de difundir e incentivar todos, à prática da solidariedade entre os brasileiros e os demais povos aqui domiciliados. O dia 19 de julho representa o reconhecimento oficial da sublimidade contida nos ensinamentos de Jesus, e se constitui um marco de uma nova era de entendimento e de boa vontade entre as pessoas. Estabelece o texto da lei: Art.2º “A organização ficará a cargo do Ministério da Saúde, Educação e Cultura, constando obrigatoriamente de visitas a hospitais, casas de misericórdia, asilos, orfanatos, creches, presídios, e os demais lugares onde a necessidade e a dor se façam presente.” Essa lei porventura está sendo cumprida?  Eu que fui dirigente de uma entidade beneficente por três anos, nunca recebemos uma visita referente ao cumprimento dessa lei. É bem verdade que a Caridade não se tornará num passe de mágica, uma instituição nacional, só porque o Governo Federal estabeleceu mais um “dia” no calendário das datas comemorativas do país. Percebe-se isso, ao ver que a humanidade não se tornou mais fraterna por sido designado o dia 1º de janeiro, como o dia consagrado à Confraternização Mundial.

É vigorosa no Evangelho, a idéia de que os bens da Terra devem ser regidos pela “boa vontade entre as pessoas”. Não são condenadas as riquezas como recursos da existência na Terra, mas sim, o egoísmo e a usura com que os ricos fazem dela. Não faz parte da essência cristã, a doação pura e simples da doação para aplacar a fome, continuando o rico mais rico e o pobre mais miserável, com todo o cortejo de carências.

Os espíritas têm um movimento de anos de ação filantrópica e o fazem de forma espontânea, séria e cristã, é afirmação do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, idealizador da campanha “Ação pela Cidadania e pela Vida”. A grande legenda espírita “Fora da Caridade não há salvação”, penetrou nos corações dos espíritas, motivo pelo qual a caridade cristã, sobretudo a assistência social, teve seu ponto alto aqui no Brasil, com a disseminação da Doutrina dos Espíritos, que começou no século passado, com a assistência aos necessitados, efetuada pelo Dr. Bezerra de Menezes, chamado de “o médico dos pobres”, grande incentivador da Caridade. O seu exemplo foi seguido posteriormente por diversos espíritas como Cairbar Schutel, Eurípedes Barsanulfo, Anália Franco, Frederico Figner, Meimei, Francisco Candido Xavier, Jerônimo Mendonça, Divaldo Pereira Franco, Raul Teixeira, e tantos outros anônimos, que levantaram e levantam bem alto a Caridade, em nome de Jesus e da Doutrina  dos Espíritos.

Existe também a assistência social, praticada em toda parte, que é realizada por profissionais, como: médicos, psicólogos, assistentes sociais, enfermeiras e outras categorias, que recebem o pagamento pelos seus serviços assistenciais prestados, em nada relacionado com a prática da Caridade, a não ser em raríssimas exceções.

Hoje em dia, já despontam projetos de grande alcance social, promovidos pela Unicef, órgão da ONU para a infância, que trabalha reabilitando a sociedade por meio da criança, indo além do prato de comida. Esse movimento social ainda é insuficiente face as grandes necessidades mundiais, o que convoca os espíritas a participar isoladamente ou nos Centros Espíritas, dos projetos assistenciais. Lembrando que, para o Espiritismo, a Caridade vai muito além do auxílio material. A verdadeira Caridade é aquela que fazemos quando doamos além da ajuda e da palavra, damos também de nós mesmos; o nosso gesto de fraternidade é acompanhado do nosso sentimento, do nosso amor de cristão. A prece, o passe que proporcionamos aos nossos irmãos necessitados e sofredores, é uma forma de Caridade maior, que nos proporciona o bem estar íntimo. Dinheiro nenhum compra a alegria e a satisfação que sentimos quando praticamos a Caridade.

O religioso, seja ele qual for, que tomando conhecimento dos ensinamentos de Jesus, não procura realizar a transformação de pensamentos e atos e não passa a exercer a Caridade, para com seus semelhantes,, apenas está se rotulando de cristão, pois o verdadeiro religioso é renovação, é amor ao próximo, pois “É dando que se recebe”, como bem disse Francisco de Assis.

Jesus que nasceu e viveu pobre, que não tinha sequer uma pedra onde repousar a cabeça, conforme afirmou, foi o primeiro a praticar a Caridade e o que mais a exemplificou. Distribuiu a Caridade a justos e injustos, bons e maus pecadores e publicanos, curou cegos, aleijados, paralíticos, leprosos; devolveu à vida para a filha de Jairo, o filho da mulher de Naim e a Lázaro, irmão de Maria e de Marta.

Portanto meus irmãos vamos seguir o exemplo de Jesus e cumprir com nosso dever, contribuindo com a nossa parcela, através da doação ou da nossa inscrição como sócio de uma entidade beneficente, para amparar os necessitados e sofredores. Também podemos doar um olhar de ternura, um gesto de compreensão, uma palavra de esperança, um abraço fraterno de irmão, um pão repartido, um remédio doado, uma roupa sem uso, uma ajuda dada com carinho, junto com um pouco de nós mesmos, faz bem ao nosso próximo, é verdade...  mais faz bem primeiro a nós mesmos. Vamos lembrar as palavras de Jesus quando disse: “Eu vos digo em verdade, quantas vezes o fizestes a um destes pequeninos necessitados e sofredores, foi a mim mesmo que o fizestes...”

A realidade é que quase sempre estamos a pedir para Deus, mas bem poucas vezes, nos lembramos de dar aos outros.  Quantas vezes já se lembrou de agradecer a Deus pela existência, pela família, pelas facilidades e dificuldades, pelo dia que passou sem anormalidades, quantas?  Quantas vezes durante a presente existência já praticou uma boa ação que lhe trouxe o bem estar?  Quantas vezes, já agradeceu aos seus entes queridos e lhes disse que os ama?  Quantas vezes, já procedeu mal e tentou se corrigir para que não voltasse a assim proceder?

A Caridade é o vínculo que nos aproxima de Deu e que a Paz do Senhor esteja em nossos corações...

Jc.
12/11/2008
Refeito em 18/9/2019

terça-feira, 10 de setembro de 2019

O S U I C Í D I O






 
Em virtude do assunto referente ao suicídio de jovens voltar sempre aos noticiários, e para que ele seja comentado com as pessoas conhecidas, amigas ou parentes, de possíveis candidatos a esse ato, para que tomem conhecimento antecipado das consequências, e que não vão se livrar dos seus problemas, que estão levando-os a esse pensamento, mas, ao contrário, agravando-o com o pior crime cometido contra as Leis de Deus, é que resolvi reapresentar este artigo para contribuir com a não realização desse ato monstruoso.

Não faz muito tempo, o país foi abalado pelo pedido formulado por um casal de idosos, num anúncio de jornal, em que afirmavam “estamos cansados de sentir solidão” e procuravam um médico que lhes aplicassem uma injeção letal. O drama comoveu muitas pessoas. Segundo eles, nos últimos cinco anos, não haviam recebido nenhuma visita de seus dois filhos ou dos seus amigos de outrora.

O problema do casal foi resolvido, não como eles pediam, mas de uma maneira muito mais fraterna e de acordo com a Lei Divina. Pessoas se mobilizaram e eles foram viver em um local bonito, em meio a muito verde, flores e com outros idosos com quem passaram a compartilhar horas, carinhos e experiências.

Infelizmente, não são somente pessoas idosas que, por solidão, abandono e problemas, desejam fugir da existência terrena. Em todo o mundo, o número dos que tentam se matar é incalculável. E nos últimos quinze anos, o fantasma do suicídio tem pesado mais para os adolescentes. Os motivos alegados são: separação dos pais, contaminação pelo vírus HIV, ou o uso de drogas. São ainda fatores de riscos apontados, a perda de dinheiro, de parentes, a depressão, mudança de condições econômicas, de saúde, intoxicação por álcool, abandono, desesperança, falta de religiosidade e fé na bondade de Deus.

As cifras dizem que, para cada suicídio consumado, existem ainda, dez tentativas frustradas. Por quê?  Se as causas são conhecidas, ainda assim não se resolve o problema. É necessário oferecer o remédio eficaz, e este reside na fé, no conhecimento dos objetivos da existência. Quando o ser humano se conscientizar de que a vida não é somente a  existência terrena; que morto o corpo físico, a vida prossegue na Espiritualidade, verificará que não lhe adiantará nada destruir o seu corpo. Ele como Espírito, continuará a existir e os problemas que lhe levaram a tal gesto,  serão, agravado pela infração à Lei Divina.

Quando o ser humano tomar conhecimento de que ele é produto exclusivo do amor de Deus, Pai de Amor, de Bondade e Misericórdia,  que na Terra vive uma etapa curta que objetiva lhe fornecer condições de crescer em moral, inteligência, conhecimento e amor; quando se der conta de que é chamado todos os dias a cooperar na grande obra da criação, então não mais tentará fugir da existência terrena, porque a nossa vida não acaba jamais; a imortalidade é a nossa dádiva maior.

De todas as mortes a pior é a morte pelo suicídio. Nesta não existe a suave quietação da morte comum nas pessoas normais. Sócrates, já ensinava a um discípulo:  “Será para ti motivo de estranheza verificar que há para todos necessidade de viver, mesmo para os que têm a esperar mais da morte do que da existência. E notarás que não lhe é permitido procurar a morte por suas próprias mãos, sendo obrigado a esperar outro libertador”.

Pensando que se destrói, o suicida vai ao encontro de situações e sofrimentos horríveis. Quando recupera a consciência, surpreende-se de estar vivo, porém sem possibilidade de movimentar o seu cadáver. Cercam-no horrendas entidades vampirizadoras desejosas de sugando-lhe as energias vitais soltas pelas células em decomposição, e ainda, adversários ou simples zombeteiros que o atormentam com ofensas, deboches e recriminações. E como se não bastasse, revive a cena suicida quase que constantemente com a sensação das dores sofridas pelo corpo. Acompanhando a lenta decomposição do corpo, procura desvencilhar-se, mas não consegue; o seu perispírito fica preso por longo tempo nos seus restos mortais, vendo a decomposição do seu corpo.

Quando o ser humano estabelecer objetivos para sua existência, que não sejam apenas ao pequeno período na carne, descobrirá os tesouros dos dias e se enriquecerá de paz. Quando a pessoa acreditar que é um fluído divino, isto é, um Espírito com enorme potencial de superação dos problemas, não mais fugirá, dando atestado de covardia, porque muitos aflitos afirmam: “Não tenho coragem de me matar”. Por isso o suicídio não é um ato de coragem; mas de covardia. Covardia essa que motiva a criatura a fugir dos problemas, antes de buscar resolvê-los. Covardia que faz com que o suicida procure se omitir, deixando as dificuldades para os que ficam saudosos feridos e abandonados. É ainda um ato egoísta porque o suicida só vê a si mesmo, o seu problema, a sua dor, sem se importar com os sofrimentos que causa aos outros. Em nenhum momento pensou no sofrimento que causará aos pais aflitos, na companheira ou companheiro abandonado, nos filhos jogados às mãos dos outros, nos parentes e amigos que se empenharam para que sua reencarnação fosse de progresso e evolução.

Ato de coragem mesmo é existir, é viver. Enfrentar todos os dias as mesmas dificuldades e superá-las. Ato de coragem é trabalhar todos os dias construindo o mundo novo que começa dentro de cada um. Se você está pensando em desertar da existência, pare e pense. Em que a sua morte melhorará a sua situação, visto que os problemas que o afligem, seguirão com você para além do túmulo? – Retire os óculos escuros do pessimismo que lhe fazem ver tudo negro e coloque lentes claras da esperança. A solução para sua dificuldade pode vir amanhã. Quem sabe haja uma saída que você ainda não tentou? Vá deitar com o problema e acorde com a solução. Dê uma chance a você mesmo, creia em Deus, faça uma oração com fé e peça a Sua proteção e tudo passará.

O que pode levar o ser humano a cometer esse gesto de extremo desespero, eis á pergunta inquietante. Em tese, apontamos algumas das principais motivações que leva a pessoa a cometer esse ato desesperador, sabendo que existem outras causas que podem também conduzir a essa situação: 1- Falta de fé; 2-orgulho exacerbado; 3-desespero e tédio; 4- desequilíbrio nervoso; 5- desânimo por moléstias consideradas incuráveis; 6- sugestões de encarnados e desencarnados.

A falta de fé,  é sem dúvida a maior responsável pela totalidade dos suicídios. É pela fé que nos propomos a fazer a parte que nos cabe executar, e confiantes em Deus e seus desígnios,  que não depende de nossa vontade.
O orgulho exacerbado,  que é a ausência da humildade, tem sido causa de desastres e dores que castigam familiares e levam seus executores (os suicidas) a séculos de desequilíbrios e sofrimentos.
O desespero e o tédio,  que atingem grande parte dos seres humanos, os levam a se acharem sem quaisquer perspectivas de melhora, e julgam como solução para seus problemas, acabar com a existência. São muitas as mensagens de desesperados suicidas, com referência ao “desencanto com a existência”, lamentando não terem procurado buscar ajuda e sem esperanças de dias melhores.
O desequilíbrio nervoso,  que poderia ter sido combatido e evitado no início, se a pessoa tivesse procurado os recursos da medicina convencional e da medicina espiritual, certamente o equilíbrio emocional voltaria ao normal e não teria chegado a tal procedimento.
O desânimo com moléstias consideradas incuráveris . Os portadores dessas moléstias não vêem mais motivos para continuarem vivos, sem perceberem que para Deus tudo é perfeitamente possível, e que muitas das enfermidades, hoje, são controladas pela medicina moderna. Esclarecem os Espíritos Superiores que o desânimo é sem dúvida, na maioria dos casos, o início de tudo; muitas vezes da Espiritualidade vem á cura quando a Medicina já desistiu, por ter chegado ao limite dos seus conhecimentos.
Sugestões de encarnados e desencarnados. Muito desses atos extremos foi estimulado por entidades infelizes, inimigos do passado, que induzem o infeliz ao suicídio como vingança. Por outro lado, pessoas há que só sabem conversar sobre assuntos negativos, desanimadores, influenciando o fraco de espírito ao desespero e à desdita.

Muitos suicidas se deixaram envolver pelas sugestões de pessoas desequilibradas dos dois mundos e se já acalentavam motivos pessoais para cometer esse ato lastimável, encontram poderoso estímulo para seu cometimento. Muitas obras especializadas de origem mediúnica, falam-nos de vales sinistros, onde se congregam em infelizes e trevosas sociedades, onde os quadros são terríveis, de desespero, angústia, lamentações, solidão, trevas e pesadelos horrendos. O suicida que teve a ilusão de ver seus problemas resolvidos com a extinção do corpo físico, que pensava cessarem seus problemas e dores, depara-se com uma situação agravada pelo seu ato, com os mesmos sofrimentos e mergulhado na tortura.

Emmanuel, tratando da questão no livro “O Consolador”, informa: “A primeira decepção que aguarda o suicida, é a realidade da vida que não se extinguiu com a destruição do corpo físico. Suicidas há que continuam experimentando os sofrimentos físicos da última hora terrestre, em seu corpo perispiritual. Anos após anos, sentem as impressões terríveis do que lhes aniquilou as energias. Comumente, a pior emoção do suicida é a de acompanhar, minuto a minuto, o processo de decomposição do corpo abandonado na Terra”. De todos os desvios da existência humana, o suicídio é o maior deles pela sua característica de falso heroísmo, de suprema rebeldia à vontade de Deus, cuja justiça nunca deixou de existir e se fez com a devida misericórdia.

Em outra obra intitulada “Pronto Socorro”, Emmanuel fala aos que pensam em desertar da existência pela morte provocada: “Quando a idéia de suicídio te assome à cabeça, reflete, antes de tudo, na Infinita Bondade de Deus, que te instalou na residência planetária; em seguida ora, pedindo socorro aos Mensageiros da Providência Divina. Se a idéia continuar a torturar-te, refugia-te no trabalho edificante, sendo útil aos que te cercam. Visita um hospital, para avaliar quantos irmãos portadores de situações piores, ás vezes com moléstias irreversíveis, lutando para viver, enquanto queres desistir dela por nada. Entrega-te ao serviço do bem ao próximo e faze empenho em esquecer-te, porque a voluntária deserção e destruição de tuas possibilidades físicas representarão um ato de desconsideração para com Deus, e as bênçãos que te possibilitaram a existência”.

Um espírito evoluído já nos recomendava: “Aceitem as dores, a cegueira, as deformações, a desgraça, a miséria e tudo que de injusto possam ter na Terra, que ainda são coisas pequenas em comparação ao que espera o suicida na sua atitude de se despedir da existência”. Jesus, no Sermão da Montanha, nos acalma dizendo: “Bem-aventurados os que sofrem e choram, porque serão consolados”. A calma e a resignação na existência terrena, acompanhada da fé no futuro, dão ao Espírito uma serenidade que é o melhor preservativo contra a loucura e o suicídio. A existência na Terra é uma viagem corretiva e de evolução. Começa na meninice, avança pelos caminhos da plenitude física e altera-se na velhice, para renovar-se além da morte.

Não devemos nos escravizar aos bens materiais, mas usando o estritamente necessário. Há muitos viajantes que sucumbem na caminhada sob pesados cofres de ouro, a que se agarram desvairados. Não devemos prosseguir a viagem guardando ressentimento, para que não aconteça ficarmos presos ao labirinto do ódio. Vamos recordar que iniciamos a jornada terrena, sem qualquer patrimônio material e encontramos carinhosos braços maternos que nos embalaram e nos ampararam em nome do Eterno Pai.

Prazer e dor, simplicidade e complexidade, escassez e abastança, beleza de forma ou deformidade do corpo, são simples lições para a ascensão. Não menosprezemos o tempo que é empréstimo divino, que recebemos para a edificante peregrinação, e o nosso corpo é o veículo santo colocado pelo Pai Celestial, a nosso serviço. Não devemos nunca jogar fora a existência que nos foi concedida porque muitos e muitos Espíritos estão a espera de uma oportunidade para retornar à Escola Terrena.

Oremos em favor dos criminosos e dos suicidas e daqueles que pensam em tal atitude como solução para seus problemas, certos de que nossa oração produzirá efeitos altamente benéficos, pois quem precisa de auxílio, somente através da oração e da fé em Deus, encontrará a resignação e a paz para completar a sua existência. A existência é para ser vivida, e não para ser sacrificada... Que o Pai Celestial e Jesus na sua infinita bondade, nos ilumine a fim de afastar esse pensamento suicida dos nossos irmãos,

Bibliografia:
Maria Helena Marcon
Milton Luz / Emmanuel
Evangelho de Jesus
+ acréscimos e alterações.

Jc.
S. Luís, 2001
Refeito em 2/11/2017










JESUS, O MÉDIUM E O MÉDICO DE DEUS





 
Jesus foi um médium de Deus e um terapeuta, (ramo da medicina que trata da escolha e administração dos remédios) cujos métodos e processos de cura por Ele utilizados, estão à espera de estudos e pesquisas que aprofundem o conhecimento sobre seus mecanismos. Como terapeuta, o Mestre demonstrou, objetivamente, não só um profundo conhecimento como também um poder que Lhe permitiram intervir e curar múltiplas situações patológicas. 

Prova de sua operosidade é o expressivo número de curas relatadas pelos evangelistas, que se sabe, não relataram todas. Mateus, no Cap. VII do seu Evangelho, faz um relato das curas mais marcantes, que mencionamos para reflexão. Refere-se ele, às curas de um leproso; do criado do centurião, que estava paralítico; da sogra de Pedro, que estava acamada de muitos endemoninhados, cujos espíritos foram expulsos pela palavra de Jesus; do paralítico de Cafarnaum, a quem mandou tomar o leito e ir para casa; da filha de Jairo, que era julgada morta e a quem Jesus tomou pela mão levantando-a; da mulher que tinha hemorragia, que foi curada pela fé, apenas por ter tocado as vestes de Jesus; dos dois cegos, a quem Jesus tocou os olhos, curando-os; de um mudo endemoninhado, a quem Jesus expulsou o demônio, fazendo-o falar. Foram bastantes casos, curados de forma simples, algumas vezes apenas com um gesto, uma frase, ou mesmo um toque, como ocorreu com os cegos cuja visão foi restabelecida. As curas foram os fatos mais marcantes da trajetória do Mestre, por atraírem multidões, permitindo a disseminação das mensagens evangélicas, em Suas pregações.

Diz mais Mateus no Cap. IX:  “Percorria Jesus todas as cidades e aldeias, ensinando nas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino de Deus e curando todos os tipos de doença e enfermidades”. Mais adiante diz ainda que instruindo os apóstolos, Jesus transfere a eles as faculdades curativas que Lhe eram peculiares, dizendo: “é chegado o reino dos céus, curai os enfermos, limpai os leprosos, expulsai os demônios; de graça recebestes de graça daí”. Vê-se que Jesus associava a missão de ensinar e pregar o Evangelho a de curar os doentes; além disso, Ele admitia a possibilidade dos apóstolos adotarem os mesmos procedimentos que Ele. No exercício de Sua missão curadora, Ele utilizou métodos e procedimentos não habituais (espirituais), o que se tornou motivo de questionamentos e admiração, por onde quer que Ele fosse.

Tudo indica que, de acordo com Sua hierarquia espiritual, Ele detinha um poder extraordinário, acompanhado de grande conhecimento e poder de intervenção nas leis que regem a agregação e a desagregação das estruturas, não só dos seres, objetos e até das forças da natureza; demonstrando isso nas curas de doenças crônicas e congênitas, na multiplicação dos pães e peixes, como na ação sobre a tempestade e até na ressuscitação de Lázaro. Três, era os aspectos da ação curativa ministrada pelo Mestre:  1ª- O exercício da Sua vontade, e do paciente de ser curado;  2ª- A fé de cada um; 3ª- A prática de bons atos ou a desistência da prática do mal; eram requisitos para a cura.

Falando sobre as origens e as conseqüências das doenças, o espírito de Dias da Cruz, através de Chico Xavier, transmitiu algumas considerações. Disse ele que “todos os nossos pensamentos, palavras ou atos, definidos por vibrações, criam em nós raios específicos, sendo indispensável cuidar de nossas próprias atitudes, na autodefesa, e na defesa dos nossos semelhantes; porquanto a cólera e a irritação, a leviandade e a maledicência, a calúnia e a crueldade, a brutalidade e a violência, a tristeza e o desânimo, produzem elevada percentagem de agentes de natureza destrutiva, em nós e em torno de nós, sujeitos a se fixarem por tempo indeterminado, em deploráveis labirintos de desarmonia mental. Em muitas ocasiões, nossa conduta pode ser a causadora da nossa enfermidade, tanto quanto o nosso comportamento pode representar a restauração e a nossa cura”.

Emmanuel, por Chico Xavier, na obra “Pensamento e Vida”, diz o seguinte: “Ninguém poderá dizer que toda enfermidade esteja vinculada aos processos de elaboração da vida mental; mas podemos garantir que os processos da vida mental exercem positiva influência sobre todas as doenças”.  A partir das colocações de Dias da Cruz e de Emmanuel, e considerando que a Terra é um planeta de expiação e provas, isto é, destinado à habitação de espíritos em início de caminhada evolutiva, portanto, carentes de sabedoria, fica fácil compreender as dificuldades que temos de enfrentar para conseguir um nível de saúde satisfatório, e comprova porque existem tantos doentes perambulando pelos consultórios, em busca de uma cura que nem sempre conseguem.
A terapêutica espírita recomendada tem que ser direcionada para as causas efetivas das doenças, conseqüência da ignorância e do atraso espiritual, razão porque terá sempre um fundamento educativo. E, pensar em educação à luz do Espiritismo, é cuidar do aprimoramento progressivo do espírito, que deve vencer suas limitações, adotando um padrão de comportamento compatível com a dignidade humana. O tratamento efetivo do corpo deverá começar pelo aprimoramento do espírito, através de bons pensamentos, falas construtivas e elevadas, e atos de caridade e amor, num processo em que à proporção que o espírito melhora, o corpo recebe o reflexo e se torna mais sadio.

As libertações de possessos e as curas figuram entre os atos mais numerosos de Jesus. A imensa superioridade do Mestre dava-lhe tal autoridade sobre os espíritos imperfeitos, então chamados de demônios, que lhe bastava mandá-los se retirarem. Nas curas que Ele operava agia como médium de Deus. Era Ele um poderoso médium curador. Podemos dizer que se Ele recebia alguma assistência, esta só poderia ser de Deus, embora a Sua condição superior lhe permitisse assistir os outros, agindo por si mesmo, em virtude do seu imenso poder. Do mesmo modo que as doenças físicas são resultado de influências perniciosas exteriores, a doença espiritual é sempre causada por imperfeição moral. A uma causa física combate-se com a medicação física; a uma causa moral, é necessário se opor uma força também moral. Para se evitar as doenças, que não sejam congênitas, fortifica-se o corpo; para se livrar de uma perturbação espiritual é preciso fortificar a alma, no trabalho do próprio aprimoramento.

A prática médico-espírita se inspira e se sedimenta nos ensinos de Jesus. Não o faz de forma aleatória, mística, mas dentro de um entendimento de tais ensinamentos, obedecendo a leis naturais e têm origem nas mesmas fontes dos princípios científicos. Em razão disso, aceita os princípios da medicina convencional que se constitui na prática, o socorro àquele que sofre, associando os procedimentos médicos habituais ao estudo do Evangelho e da Doutrina dos Espíritos, e usando os passes magnéticos, a água fluidificada, as preces e, principalmente, o convite ao paciente para a mudança de hábitos, isto é, a moralização e edificação pessoal.

Examinando o problema das curas, Allan Kardec na obra “A Gênese”, no cap. 14, diz o seguinte: “Os efeitos da ação fluídica sobre os doentes são extremamente variados, segundo as circunstâncias; esta ação é algumas vezes lenta, e reclama um tratamento mais demorado; outras vezes é rápida, como uma corrente elétrica. Há médiuns dotados de tal poder, que operam sobre certos doentes, curas instantâneas, por somente a imposição das mãos, ou mesmo por um ato de vontade. Entre os dois pólos extremos de tal faculdade, há infinitas variações. O princípio é sempre o mesmo: o fluído que desempenha o papel de agente terapêutico, e cujo efeito é subordinado a vontade, a fé e ao merecimento da pessoa”.

Considerando-se que muitas universidades já estão envolvidas nesse assunto, é possível que, em tempo não muito longo, tenhamos informações mais completas, tal como acontece com a tese da reencarnação, que vem recebendo reforço e estudo de técnicos sem nenhuma vinculação com a Doutrina dos Espíritos. Eles estão constatando fatos compatíveis com os ensinamentos e práticas criadas por Jesus que são praticados no meio espírita há muito tempo.

Ao longo do seu ministério Jesus realizou, em muitas ocasiões, os chamados milagres, na verdade fatos incomuns, considerados sobrenaturais, dada a Sua condição de Espírito Superior, médium e médico divino, mas que, graças aos esclarecimentos dos mentores espirituais, sabemos terem se produzido dentro da ordem natural, mediante o emprego de leis e recursos até então desconhecidos, que o Mestre sabia utilizar com absoluta segurança, valendo recordar que Ele afirmou que não vinha destruir a Lei (divina), mas sim dar-lhe cumprimento.


Bibliografia:
“Evangelho de Jesus”
Livro “Pensamento e Vida”
        “A Gênese”

Jc.
São Luís, 29/05/2000
Refeito em 30/7/2019







sexta-feira, 30 de agosto de 2019

A DOUTRINA DOS ESPÍRITOS




 
Datam da mais remota antiguidade, as tentativas de comunicações com os mortos, mas somente no século dezenove, com a estruturação da Doutrina dos Espíritos, em termos teóricos, foi que isso efetivamente ocorreu. Apesar das primeiras manifestações tidas como espíritas, terem sido efetuadas na América do Norte, foi, no entanto, no seio acolhedor da França, ponto convergente das atenções do mundo, devido á revolução que adotou a legenda da “Fraternidade, Liberdade e Igualdade”, que surgiu a figura do professor Hippolyte Leon Denizard Rivail, que observou e estudou os fenômenos das “mesas falantes”, e reuniu os princípios essenciais, ditados pelos Espíritos Superiores, formando um corpo doutrinário a que denominou de “Doutrina dos Espíritos” ou “Espiritismo”, no seu tríplice aspecto de Ciência, Filosofia e Religião. Publicando em 18 de abril de 1857, em Paris, o primeiro livro da codificação, com o título de “O Livro dos Espíritos”, ele o fez usando o pseudônimo de Allan Kardec, (para que não fosse reconhecida como mais uma obra sua já que havia publicado alguns livros), mas como uma obra dos Espíritos Superiores.

A Doutrina Espírita vê o Velho Testamento como o livro sagrado do povo hebreu, contendo algumas verdades como “Os Dez Mandamentos”, ao lado de regras humanas ditadas por Moisés que atribuía a elas, origem divina para aquele povo rústico e ignorante da sua época, além de narrativas por vezes contraditórias à moral evangélica. As revelações se ajustam às épocas e aos estágios evolutivos, seja de um povo ou de uma civilização; por isso elas são sucessivas. O Novo Testamento ou Evangelhos contêm os ensinos de Jesus para todos os seres humanos, de qualquer nacionalidade e de qualquer época, já que são verdades eternas, desde que, entendidas em espírito, ou no sentido espiritual, livre das interpretações e complementos humanos.

A última das três revelações, que é a Revelação dos Espíritos, esclarece as duas anteriores, quanto á capacidade de entendimento de considerável parcela da Humanidade, sem fechar as portas ao progresso e à evolução, como já ocorreu no passado. Auxilia a retificar o que foi mal compreendido, ou adulterado, despertando-nos para a luz da razão. Graças a essa intervenção do Plano Espiritual Superior em favor da Humanidade, aclaram-se várias passagens evangélicas que foram mal compreendidas e que deram origem a confusões e distorções no seio das igrejas cristãs.

Conforme a palavra esclarecida do professor Carlos Imbassay, “não mais as penas eternas, mas a existência progressiva com falecimentos temporários, mas sem paradas definitivas, sem condenação irremissível. Não mais a pena como vingança, como uma espécie de ódio do Criador à criatura, mas como remédio para a cura, como um passo para o progresso. A criatura não ressuscita para o Juízo Final, nem toma o mesmo corpo, nem vai para o inferno, mas volta em nova existência, em novo corpo, apropriado às necessidades do Espírito e moldado de acordo com as perfeições ou imperfeições do seu perispírito. A reencarnação é para efeito de proporcionar ao espírito, o aprendizado na Terra, por meio do corpo físico, quase sempre experimentando dores, no convívio com os semelhantes ou as provocadas pelas asperezas da natureza terrena; todas, porém, imprescindíveis à sua felicidade futura, porque a felicidade depende da purificação do Espírito, principalmente através das existências”.

Deus não veio a Terra. Criador de todas as coisas e de todos os seres, Supremo Criador do Universo, não poderia viver por trinta e três anos num dos mais obscuros  e atrasados planeta que criou.  Impossível que deixasse o Infinito, o Universo, abandonado para viver num minúsculo planeta de um dos menores sistemas. Quem vem ao Mundo são os seus emissários, e dentre eles veio o Cristo, que sofreu as vicissitudes da existência terrena para nos apontar o Caminho, trazer a Verdade e alimentar a Vida em sua plenitude. Deus não faz escolha, não há preferência; o progresso, a elevação espiritual, a felicidade, são frutos do esforço próprio de cada pessoa (espírito).

Não há diabos nem demônios com o fim de encaminhar os seres humanos ao fictício inferno (reino de satanás); o que existe são espíritos inferiores, aos quais damos acesso por afinidade, pelas nossas baixezas de sentimentos, que eles se aproveitam para nos prejudicar, induzindo-nos ao mal, perseguindo-nos por todas as formas que lhes são possíveis. Algumas vezes a perseguição é um ato de vingança; são dívidas anteriores contraídas para com eles que, sem o saberem, são instrumentos de nossa remissão.

Vejamos o que diz um cientista: “Enquanto nosso corpo se renova, peça por peça, pela substituição das partículas; enquanto ele existe e um dia fenece, massa inerte, para o túmulo, onde se decompõe, o nosso Espírito, ser pessoal, guarda a sua identidade e individualidade indestrutível, e liberto da matéria grosseira de que se revestiu, vive a sua personalidade independente, a sua essência espiritual, a sua grandeza e a sua imortalidade não sujeita ao império do tempo e do espaço”. Alertam-nos ainda, “que há coisas que estão acima da inteligência do ser humano mais inteligente, as quais a vossa linguagem, restrita às vossas idéias e sensações, não tem meios de exprimir”. (Questão 13 do L.E.) Ao mesmo tempo, o ensino claro dos Espíritos Superiores repele o panteísmo (adoração da Natureza como divindade), mostrando-nos pela razão, que o Criador, as criaturas e a natureza não se confundem, pois Deus é único, perfeito, criador do universo, da natureza, e das criaturas, que jamais poderão se transformar no próprio Deus.

A Doutrina dos Espíritos é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos espíritos. Bem como de suas relações com o mundo corporal. Como filosofia, explica as consequências que se originam dessas relações e os ensinamentos de Jesus a luz da Doutrina. Como religião, religa a criatura ao Criador, através do conhecimento das leis Divinas, e pela Fé na Bondade, Justiça e Amor de Deus. Os principais fundamentos do Espiritismo são: 1- A aceitação da existência de um Ser Superior a que denominamos DEUS; inteligência suprema, criador do Universo e de todas as coisas e seres; 2- A aceitação de Jesus, como guia e protetor espiritual da Terra; 3- A crença na existência do espírito, envolvido pelo perispírito que, quando encarnado, tem a denominação de alma, e que, após a morte física, conserva a lembrança de todas as passagens terrenas; 4- A crença no livre-arbítrio, que determina o destino do espírito de acordo com a causa e o efeito de seus atos; 5- A crença na reencarnação, através da qual o espírito vai evoluindo nos planos intelectual, moral e espiritual; 6- A crença na comunicação dos espíritos com os humanos e destes para com os espíritos; 7- A crença na pluralidade dos mundos habitados, atrasados e evoluídos.  Por meio destes três últimos princípios, podemos nós espíritas entender o que Jesus nos quis dizer, há dois mil anos passados; a- Quando apareceu aos seus discípulos, no Monte Tabor, conversando com os espíritos de Elias e Moisés; b- Quando se juntou aos seus seguidores, a caminho de Emaús, após sua morte física, e se fez conhecer por eles;  c- Quando se comunicou com Saulo de Tarso, na estrada de Damasco; d- Quando respondendo aos seus discípulos, disse: “Se vós bem quereis compreender, João Batista é o Elias que há de vir”; e- Quando disse a Nicodemos: “Não te maravilhes de te haver dito. Necessário vos é nascer de novo”; f- Quando respondendo a Pilatos, disse: “Meu reino não é deste mundo”; g- “Quando falando aos seus discípulos, disse: “Há muitas moradas na casa de meu Pai; se assim não fosse, eu já vos teria dito, porque eu vou para vos preparar o lugar”.

A Doutrina Espírita, como Ciência, Filosofia e Religião  não adota; dogmas, símbolos, sacerdócio organizado, vestes especiais, vinho, incenso, altares, imagens, velas, talismãs, amuletos e quadros. Não atende a interesses mundanos e materiais; não aceita adivinhações por cartas, búzios, tarô, bola de cristal; não recebe o espírita, pagamento por qualquer benefício que tenha feito ao seu próximo, não administra sacramentos, concessão de perdão, remissão de pecados, nem promete o céu ou o inferno a qualquer pessoa.

A desinformação de grande parte da sociedade, por falta de conhecimento ou estudo da Doutrina dos Espíritos, tem dado lugar a ditos curiosos, como os seguintes: “Espiritismo de Terreiro”, quando querem se referir aos rituais dos antigos escravos e seus descendentes, trazido para o Brasil quando o Espiritismo ainda nem existia, pois só surgiu no ano de l857; “Baixo Espiritismo”, quando deseja designar uma prática puramente espiritualista voltada para o mal; “Espiritismo de mesa branca” ou “Alto Espiritismo” quando querem se referir a uma prática mediúnica, voltada e afinada com o bem. Tudo isso não passa de falta de conhecimento da Doutrina. O sincretismo afro-brasileiro que originou a Umbanda, também nada tem a ver com a Doutrina dos Espíritos. Apenas uma coisa os une: A comunicação com os espíritos, que, diga-se não é exclusividade do Espiritismo nem da Umbanda, visto que essas manifestações se verificam também entre os índios e, com frequência, no seio das religiões pentecostais, e no movimento de renovação carismática dos núcleos católicos, que numa desinformação, são atribuídas ao Espírito Santo.

Cremos que para o bom entendimento da Doutrina dos Espíritos, precisamos exercer o auxílio consolador, a caridade fraterna, o intercâmbio de comunicações com os que estão na espiritualidade, e a pregação moralista e religiosa; porém, ficará falha e inconsistente, se não ajudar o ser humano a tomar uma nova consciência de si mesmo, rompendo com os modelos inferiores existentes. A esta operação, Paulo o apóstolo dos gentios, chamou: “A substituição da nova pessoa pelo despojamento da velha pessoa”, e acrescentou ainda: “Os que procuram seguir Jesus, se tornam novas criaturas”.  E como nos tornaremos uma nova pessoa? É simples. Aquele que se decide a seguir o Mestre Amado, tudo deve ser renovado. O passado delituoso, as situações de dúvidas. As incertezas terão chegado ao fim. As velhas cogitações com as coisas materiais serão diminuídas, dando lugar á vida nova do espírito, onde tudo signifique reconstrução para o futuro promissor. Os vícios, aos poucos serão afastados e esquecidos, os erros serão retificados, os maus pensamentos serão substituídos por novos sentimentos que vibrarão em sintonia com o Evangelho, e, as nossas ações serão voltadas para o bem; e com nossos exemplos de vida, estaremos semeando fraternidade, caridade e amor...

Não adianta para ninguém o muito conhecimento, as palavras bonitas e as boas intenções, sem o nosso interior renovado, pois estaremos indo ao encontro de Jesus, carregados de cadeias, e, apesar da sinceridade das nossas intenções, não conseguiremos ainda chegar ao santuário do seu Amor. Ao nos transformarmos em uma nova pessoa, o Espiritismo cumpriu em nós, a sua função, e renovados, poderemos com o conhecimento e a fé, praticar a caridade maior que consiste em darmos, além do auxílio consolador, da caridade fraterna, da pregação moralista e religiosa, damos também de nós mesmos, o nosso gesto será acompanhado do nosso sentimento de cristão. E, ao nos tornarmos novas criaturas, estaremos evoluindo e passando de uma morada de expiação e sofrimento, para outras moradas apropriadas ao nosso adiantamento espiritual, como fiéis discípulos de Jesus.

A Doutrina dos Espíritos é sem dúvida, a terceira maior dádiva concedida ao ser humano. Fundamentada nos ensinamentos de Jesus, ela é: a escola, o abrigo, o templo sagrado, a esperança e a fé, assegurando aos que a buscam, orientação e restauração na confiança em Deus, e a certeza de que em breve, dias melhores virão para a Humanidade. A assimilação de seu conteúdo se faz pelo labor constante e no trabalho de amor e caridade, sob a proteção de Jesus.

Finalizando, recordo as instruções do “Espírito de Verdade” sobre a Doutrina, contidas no livro:  “O Evangelho Segundo o Espiritismo”,  quando ele diz: “O Espiritismo, como antigamente minha palavra, deve lembrar aos incrédulos, que acima deles, reina a verdade imutável: O Bom Deus. Espíritas, amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instrui-vos, eis o segundo. Amai e orai; sedes dóceis aos Espíritos do Senhor; invocai-o do fundo do coração e, então, Ele vos enviará seu filho bem-amado para vos instruir e vos dizer estas palavras: Eis-me aqui, venho porque me chamastes.”
Que a Paz do Senhor, permaneça em nossos corações.
Bibliografia:
“Novo Testamento”. “O livro dos Espíritos”
“O Evangelho Segundo o Espiritismo”

Jc.
São Luís, 11/2004
Refeito em 22/04/2019