O
sexo é uma atividade e uma necessidade do organismo humano, com a finalidade de
perpetuar a espécie humana na Terra. O Amor é um sentimento que atrai e
harmoniza as criaturas, dando a elas o sentido divino do ser.
Nossa
sociedade vive o fenômeno da “multidão solitária” em que as pessoas convivem
lado a lado, mas dificilmente aprofundam contatos, o que torna cada vez mais
raro o relacionamento genuíno entre duas pessoas. O ardor hedonista de
satisfação imediata dos ímpetos sexuais tornou a figura do parceiro apenas um
objeto de consumo. A psicanalista Maria Rita Kehl é categórica ao afirmar: “A
aliança entre a expansão do capital e a liberação sexual fez do interesse das
massas consumidoras pelo sexo um ingrediente eficiente de publicidade. Tudo o
que se vende tem apelo sexual; um carro, um liquidificador, um comprimido
contra dor de cabeça, um provedor da internet, um tempero industrializado. A
imagem publicitária evoca o gozo que se consuma na imagem, ao mesmo tempo, que
promete fazer do consumidor um ser pleno e realizado. Tudo evoca o sexo na
medida em que a mercadoria se oferece como presença segura, positivada no real,
do objeto de desejo”.
O
consumo está tão enraizado em nossa sociedade que as pessoas estão se
consumindo como se fossem mercadorias. As pessoas se tornam coisas que podem
ser adquiridas, consumidas e descartadas ao gosto do usuário, trocando-o por
outro que aparentemente se demonstre mais “interessante” no momento. Nessa
dinâmica existencial, ninguém é considerado insubstituível e toda ideia de
valorização se torna um argumento vazio. Nesse processo de dissolução da
dignidade humana “a pessoa não se preocupa com sua existência e felicidade, mas
em tornar-se vendável”. As relações se tornam apenas um meio de obtenção imediata
de prazer sexual, e de modo algum, uma genuína interação interpessoal pautada
pelo respeito e pela afirmação do valor humano do outro. Conforme argumenta a
socióloga Eva Illouz, “na cultura do capitalismo afetivo, os afetos se tornaram
entidades a ser analisadas, inspecionadas, discutidas, ignoradas, negociadas,
quantificadas e mercantilizadas”.
Obviamente
que todo ser humano tem o direito de experimentar, exaustivamente, as relações
afetivas em busca da sua realização amorosa, mas o elemento criticável na
conjuntura capitalista inserida na sociabilidade decorre da irresponsabilidade
ética para com a figura do outro, imputada como desprovida de sentimentos e
valores. Querendo gozar a existência plenamente mesmo que através da degradação
do outro e sem que corra os riscos provenientes das incertezas decorrentes de
toda relação, o outro é considerado apenas como uma peça, que rapidamente entra
em processo obsoleto na frívola experiência afetiva, para que logo após se
possa descartá-lo tal como um bagaço de laranja atirado ao lixo, sem que haja
qualquer crise de consciência da parte do indivíduo ávido de experiências, em
cometer tal ato para com o parceiro amoroso com quem se relaciona.
Hoje,
tudo é permitido no sexo; troca-se de parceiro como se troca de peça de
vestuário. Tememos o envolvimento com o outro, pois ele, na visão distorcida
que dele fazemos, traz sempre consigo uma sombra ameaçadora, capaz de
desestabilizar a nossa frágil existência, a nossa atividade profissional e a
nossa organização familiar. Tudo isso é
apenas desejo sexual, não é o Amor.
A
vivência do amor genuíno se enraíza através da afirmação da alteridade,
capacidade de compreender a interioridade do outro: o amor é, assim, uma
experiência que preconiza os sentimentos, comunicando-se então os afetos de
pessoa para pessoa. “Se eu amo o outro me sinto um só com ele, mas como ele é,
e não na medida em que preciso dele como objeto para meu uso”. Existe amor
quando os envolvidos na relação visam no parceiro um complemento existencial, e
não um suporte para o preenchimento do vazio interior.
O
amor autêntico por uma pessoa não pode se fundamentar apenas em um contrato
moral-jurídico-religioso, mas sim em uma poderosa celebração de sentimentos
regida pela afinidade, espontaneidade e alegria. O respeito verdadeiro pelo ser
amado não brota pelo cumprimento de um formalismo contratual, mas sim pelo
cuidado para com o outro, nascido pelo sentimento que nasce da afetividade.
Na
Doutrina dos Espíritos, a união de duas pessoas que se amam, o que é divino
além do sentimento de amor é a união dos sexos para criar novas criaturas a fim
de substituírem os seres que morrem. Deus quis que os seres humanos estivessem
unidos não somente pelos laços da carne, mais pelos laços da alma, para que a
afeição mútua se transportasse também aos filhos.
Jesus
ao responder aos Fariseus, sobre qual o mandamento maior da lei, lhes
respondeu: “Amareis a Deus de todo o vosso coração, de toda a vossa alma e de
todo o vosso espírito, sobre todas as coisas; e o segundo; amareis o vosso
próximo como a vós mesmos”. No início da sua criação, o ser humano só tem
instintos; mais avançado, ele tem sensações; mais evoluído, tem sentimentos, e
o sentido mais delicado do sentimento é o Amor. Quando Jesus pronunciou essa
divina palavra – amor – ela fez estremecer toda a humanidade... Assim, não
devemos dar o nome de amor a um simples ato sexual, porquanto o Amor não se
faz; ele é um sentimento divino. O sexo pode ser praticado, pelos que se amam
como um complemento do sentimento de Amor existente entre ambos.
Fontes:
Revista “Filosofia” –
06/2013
Renato Nunes Bitencourt
“Evangelho Segundo o
Espiritismo”
+ Pequenas modificações
Jc.
São Luís, 24/10/2013
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