domingo, 20 de agosto de 2017

BRASÍLIA, NOVA SODOMA OU GOMORRA ?




  Há mais de meio século, quando o presidente Juscelino Kubitschek  de Oliveira inaugurou Brasília, um coro de descontentes fez-se ouvir.  Nada contra a arquitetura da nova capital federal. O que temiam os descontentes era a possibilidade de que uma vez isolados no planalto central do país, longe da vigilância dos cidadãos de uma metrópole como o Rio de Janeiro, antiga sede do governo, os políticos perdessem de vez a compostura e passassem a comportarem-se como senhores feudais, acima das leis. Infelizmente os descontentes revelaram-se proféticos. Brasília tornou-se uma ilha da fantasia para deputados, senadores, ministros e presidentes, que usam seus cargos de representantes do povo, para locupletarem-se de todas as formas e obter vantagens para seus apadrinhados. A capital se transformou numa imagem de pesadelo para todos os que são obrigados a assumir á conta: nós, milhões de contribuintes que pagamos impostos absurdos, diretos e indiretos.

É tal a insensatez  de muitos políticos que se julgam poderosos e “incomuns” que não ligam para a opinião pública, para a moralidade nem para a Constituição. O ex-presidente Lula, dando o exemplo negativo, em denúncias de irregularidades contra o senador José Sarney, afirmou: “O senador tem história no Brasil suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum”. Com isso, ele afirmou existir os cidadãos “comuns”, nós, e os “incomuns” a quem tudo se permite, minando assim, a crença na democracia e os alicerces de uma nação que almeja a civilização. Não satisfeito, acrescentou: “Eu sempre fico preocupado quando começa no Brasil esses processos de denúncias, porque ele não tem fim e depois não acontece nada”. Ao afirmar que Sarney merece um tratamento diferenciado, Lula desrespeitou o preceito constitucional expresso no artigo 5º, que estabelece a igualdade de todos perante a lei, e qual foi a punição que teve do S.T.F. ?

Sem a moralidade com a coisa pública e os corretivos vindos de cima, a turma do alto clero, da média e baixa politicagem da base aliada, sentiu-se mais livre do que nunca. Há anos o Executivo e o Congresso enfrentam uma infindável onda de escândalos, corrupção e impunidade. Muda o presidente e os escândalos, a corrupção, e à roubalheira continua a acontecer praticada pelos “incomuns”, enquanto a maioria dos 100 cidadãos de dez estados, ouvidos pela reportagem da revista Veja (edição 2118), mostrou-se indignada  com a situação dos governantes em relação à corrupção e à impunidade. Entre os entrevistados, há estudantes, cientistas, artistas, comerciantes e profissionais liberais. Há também brasileiros anônimos e famosos, ricos e pobres, todos iguais perante a lei e – o mais importante – querem que assim seja no Brasil.

Há sempre uma mensagem perturbadora na recorrente retórica presidencial em defesa dos aliados envolvidos em escândalos: a minimização da corrupção, o estímulo à transgressão das regras morais e o aval da impunidade. No meu tempo de criança existia um chavão que dizia: “Ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil”. Hoje, podemos dizer outro chavão: “Ou o Brasil acaba com a impunidade ou a corrupção acaba com o Brasil”. No exercício do cargo, do poder e da influência, as verbas que deveriam ser empregadas em favor da população, são desviadas pelos políticos corruptos, beneficiando  muitos ministros, diretores, políticos, auxiliares,  ou até  seus  apadrinhados,  em virtude da impunidade existente no país.  Brasília sofre a influência da corrupção não só na esfera federal como também na estadual, e nos Estados, ela também se manifesta na esfera estadual e municipal.  Nunca se viu na história do Brasil tanta corrupção como nos tempos atuais...  Aguardamos todos os dias com  expectativa, o anúncio da mais nova modalidade de corrupção. Impunidade, eis a principal razão da praga da corrupção que assola o nosso país. Ela só deixará de nos assombrar a cada novo dia quando cada um de nós definirmos como queremos que seja o nosso país.

A punição existe para impor limites, refrear instintos negativos e permitir que os indivíduos possam se proteger uns dos outros. A impunidade é o avesso de tudo isso. “Impunitas peccandi illecebra” (a impunidade estimula a delinqüência), lembra o ditado em latim. A revista Veja ouviu cientistas políticos, filósofos, advogados e historiadores sobre as raízes da corrupção. Eles são unânimes em apontar a impunidade como a sua principal causa. “Enquanto não colocarem os corruptos graúdos na cadeia e recuperarem tudo o que furtaram, nada vai mudar”, diz o filósofo Denis Rosenfield, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Isso nos parecer  estar ainda longe o dia em que um corrupto estrelado pagará por seus crimes. O máximo que se vê são admoestações. O S.T.F., a corte encarregada de punir os “incomuns”, nunca condenou nem  obrigou  nenhum a restituir o que furtou. Os envolvidos nos principais escândalos de corrupção, recentes, estão livres, soltos e a afrontar os cidadãos de bem, sejam políticos ou apenas “comuns”.

No Império, havia até pena de morte para crimes graves – sempre aplicada às camadas mais baixas da sociedade, como também acontece atualmente.  Já naquela época, os políticos se beneficiavam da impunidade. José Carlos Rodrigues foi um dos primeiros corruptos do Brasil. Em 1866, ele era chefe de gabinete do ministro da fazenda, quando foi flagrado tentando sacar dinheiro do ministério, com uma assinatura falsificada de seu superior. Condenado á vinte anos de prisão, fugiu  para os Estados Unidos, e, com a proclamação da República, acabou nomeado para um cargo na embaixada do Brasil em Londres, mesmo como fugitivo da Justiça Brasileira. Outro caso ocorreu com o sobrinho do presidente Deodoro da Fonseca que foi flagrado falsificando atos do governo para favorecer banqueiros amigos. Também fugiu para escapar da punição. A corrupção e a impunidade na República Velha serviram de matéria-prima para a obra literária de Machado de Assis e Lima Barreto. Com a ditadura militar, a corrupção foi escondida e os corruptos ligados ao regime agiam impunemente. Com a redemocratização, houve  um alento com a cassação de um presidente, porém a regra nos governos seguintes continuou sendo a corrupção e a impunidade.

A revista Veja ouviu diversos depoimentos sobre as raízes da corrupção. Levantamento de entidades internacionais coloca o Brasil no patamar dos países com altos índices de corrupção. A impunidade é a principal causa, mas existem outros pontos importantes. a- Morosidade da Justiça. Por motivo dos investigados com nível superior ter poder e dinheiro, e os políticos corruptos, poderem contratar bons advogados que usam as brechas da lei para retardar os processos, até o crime prescrever antes de chegar à condenação. b- Distribuição de Cargos. O chefe do Executivo loteia o governo entre os partidos para garantir maioria no Legislativo. c- Conivência da sociedade. Políticos envolvidos  em  escândalos  continuam  sendo  eleitos  pelo povo no voto  popular. d- Excessos de burocracia. Os processos são lentos, cheios de instâncias intermediárias que criam dificuldades e funcionários públicos que vendem facilidades, situação ideal para a ação de quadrilhas ligadas aos políticos.  e- Caixa dois nas campanhas. Os escândalos de corrupção tiveram parte do dinheiro destinado ao financiamento de campanhas que são caras e mal fiscalizadas. f- Ausência de políticas anticorrupção. Os políticos combatem a corrupção nos discursos  de campanha, mas deixam o assunto de lado quando chegam ao poder. g- Falta de informação. O grande contingente de eleitor não tem informação e não se interessa por política e decide o seu voto apenas por aquele que lhe prestou algum favor. h- Tolerância política. Os partidos permitem – e até incentivam – que políticos enrolados tenham legenda, porque na maioria das vezes esses políticos ajudam a financiar os partidos. i- Falta de renovação. Os partidos são comandados pelos mesmos grupos e os candidatos são sempre os mesmos que cuidam dos cargos como se o patrimônio do país fosse pessoal, dificultando o surgimento de novas lideranças. j- O eleitor não é livre para votar em quem ele quer, pois ele é obrigado a votar nos nomes que geralmente são os mesmos de sempre, indicados pelos partidos, ou então terá que votar em branco.

A corrupção tem se revelado uma calamidade que consome o resultado do trabalho de milhões de brasileiros, envergonha o país e mancha a imagem do Brasil perante os outros paises. O PT quando chegou ao poder com o Lula, viveu uma série interminável de escândalos, sendo mais notáveis os do mensalão e o dos aloprados. Seu parceiro preferencial, sempre subserviente ao poder, o PMDB, tem em seus quadros alguns dos políticos mais corruptos do Brasil. Segundo o último levantamento da Transparência Internacional, divulgado recentemente, o Brasil ocupa a 75ª  posição no ranking das nações mais corruptas do planeta. O país obteve a nota 3,7 em uma escala que vai de zero (países mais corruptos) a 10 (paises considerados menos corruptos).

Os especialistas ouvidos pela Veja são unânimes em afirmar que a impunidade está na raiz do problema. A ausência de punição funciona como um atrativo e incentivo à ilegalidade, passando uma idéia de que o crime no Brasil compensa, principalmente entre os criminosos de colarinho-branco. Mas não é só a impunidade que colabora para a perpetuação da corrupção no país. O sistema político também tem sua parcela de responsabilidade. Uma de suas piores mazelas é a distribuição política de cargos. Há no Brasil cerca de 25.000 cargos de livre nomeação pelo presidente da República. Nos Estados Unidos, não chegam a 5.000 e na Inglaterra, não passam de 100. No Brasil, o chefe do Executivo loteia o governo entre os partidos para garantir o apoio necessário para aprovar seus projetos no Legislativo e nomear quem lhe agrada ou o beneficiou.

“O furto existe por causa do ladrão. A corrupção existe por causa da facilidade e da impunidade. O álibi do financiamento de campanha usado pelo corrupto precisa ser espancado. O corrupto furta, para viajar ao exterior, para comprar iate, para comprar bolsa Louis Vuitton. Não furta só para financiar campanha” afirma o deputado federal Miro Teixeira, do Rio de Janeiro.

Será que o destino de Brasília é o de ser uma nova “Sodoma ou  Gomorra”  nos tempos atuais? – Não acreditamos que assim seja e confiamos na Justiça Divina que destinou este país, para servir de modelo para o resto do mundo. Com a morte dos que ainda estão enlameando a Pátria do Cruzeiro, e a renovação dela com o surgimento de novas gerações mais evoluídas e moralizadas, temos Esperança e a certeza de que o Brasil assumirá a sua condição, informada pela Espiritualidade, de “Coração do mundo e Pátria do Evangelho”. O tempo que renova todas as coisas fará com que o povo trabalhador de Brasília e de todo o resto do Brasil, que sofre a praga da corrupção e da impunidade, verá surgir com as novas gerações, os valores morais, tão desprezados pelos atuais administradores infiéis e políticos corruptos.

É só uma questão de participarmos dessa modificação e renovação e esperar que os desígnios de Deus se cumpram no Brasil, de natureza tão benéfica, de povo tão acolhedor e fraterno e de muitos políticos tão corruptos e venais...


OBS: Maiores esclarecimentos encontram-se nos artigos “Carta aos Representantes do Governo do Brasil”,  “O Estado é Cúmplice” e “Uma Questão de Direito, Leis, Justiça...ou de Consciência?”, que estão no blog;
                                                                                     http://ortsac13.blogspot.com



Bibliogtrafia:
Revista Veja  nº. 2.118 – 24/6/2009
Idem     Idem      2.142  - 9/12/2009
+ Acréscimos, supressões e modificações.

Jc.
S.Luis, 11/7/2010
Refeito em 18/8/2017

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