quinta-feira, 23 de março de 2017

APRENDENDO A AMAR




Entre as diversas histórias imersas no folclore das regiões nórdicas, uma há bem interessante e de grande valor moral. Passada oralmente de geração em geração, eis aqui o seu teor, relatado segundo nossa própria sensibilidade:
Com sua ampulheta já gasta pelo meio, o velho Tempo apresentou-se ante o Homem materialista e comentou: - Tuas horas passam céleres! E em seguida perguntou: - Que apresentas como obras tuas? Que valores conseguiste após o nascimento na carne, até agora?
- O Homem orgulhosamente, inflou o peito e, de rosto cheio de vaidade, retrucou, firmemente: - Tanta coisa! Em vários setores! Conquistei louros de vitórias bélicas! Alcancei a glória literária por tantos poemas épicos!  Obtive poder, pairando acima da humanidade! Desenvolvi o saber e deploro os ignorantes! Adquiri ouro, que brilha em meus trajes e adornos! Em verdade sou um grande vencedor!
O Tempo sorriu, com a sabedoria de tantas eras já passadas... E, com face grave, seriamente comentou: - Tens realmente muita segurança no que dizes. Porém, é preciso refletir no sentido maior de cada palavra... Vejamos: - Conquistaste vitórias, mas a custa de quê? De destruição, de dominação, de escravidão... Escreveste poemas. Mas busco conteúdo, suficiente para esclarecer o necessitado... E nada vejo: apenas palavras alinhavadas, com sons musicais, sem alma...  Obtiveste poder. Contudo, tornaste-te prepotente, inflexível, exigente... Creste ser superior aos outros homens...  Quanto a tua vasta cultura, que uso fazes dela? Ajudaste a humanidade? Criaste algo que realmente valha à pena?  Finalmente adquiriste ouro, despertando cupidez e inveja, guardando-o em teu cofre, sem fazê-lo prosperar em benefício d’outros. São essas as tuas conquistas? São esses os teus valores?
O Homem, desapontado, descerrando à sua visão até então insuspeitada, sentiu-se desorientado, e exclamou: - Então nada disso vale; nada disso é real?  O Tempo, mansamente, respondeu-lhe: - Organiza melhor teus  valores! Conquista aqueles que sejam como os tesouros que Jesus lhes aconselhou, aqueles que a traça e a ferrugem não corroem, e os ladrões não podem roubar... Analisa teus talentos e usa-os melhor... O Homem, timidamente, quis saber: - Como?  E o sábio Tempo explicou: É simples: ouve teu coração! É que te esqueceste dele!...
Nas voltas do caminho da vida, muito tempo depois, o Tempo defrontou-se, mais uma vez, com aquele mesmo Homem, alquebrado pela idade e pelos embates cotidianos. Entretanto, apresentava-se diferente: estava “vestido de luz!”  O Tempo, sorridente, dele se aproximou e, novamente, indagou: - Que valores conquistaste, após viveres tanto?  Então o Homem, tranquilo, alegre, respondeu-lhe, dizendo:  - Conquistei tanta coisa: aprendi a Amar!
Como vemos, essa história está ligada diretamente aos ensinos de Jesus.
Desde seu início, refere-se claramente aos “tesouros” que devemos acumular para nós, em nós, como nos disse o querido Mestre: “Naqueles tempos, disse Jesus a seus discípulos: Não junteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e os ladrões assaltam e roubam. Ao contrário, juntai para vós tesouros no Céu, onde nem a traça nem a ferrugem destroem, nem os ladrões assaltam e roubam. Porque, onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração”. (Mateus, 6:19 a 21)
De nada adianta a aquisição de vitórias bélicas, glórias literárias, poder, saber e ouro, que são conquistas ilusórias e provisórias, sem real valor. Paulo, disse: “Eu posso ter tudo, mas se não tiver amor, eu nada serei”.  Jesus demolindo a filosofia reinante na época, do domínio da força, pelas posses amoedadas e pelos títulos materiais de falsa importância, estabeleceu definitivamente “a Lei do Amor ao Pai, acima de tudo, e ao nosso próximo como a nós mesmos”. Ele veio ensiná-la concretamente a nós – seus irmãos ainda incipientes – pois a vivenciou em todos os momentos de sua existência no corpo físico. Mostrou-nos que é necessário libertar-nos das célebres chagas da humanidade – egoísmo e orgulho e todos os outros defeitos morais deles decorrentes -  e passar a ver os outros à nossa volta com olhar diferente, isto é,  sob a ótica de que todos são nossos irmãos, viajores no mundo como nós.
Em múltiplas passagens dos Evangelhos, vemos ressaltada a importância do amor, amor que cresce à medida que nos conscientizamos da essência divina a vibrar em nosso íntimo. Recordemos as palavras de Jesus: “ Meus discípulos serão conhecidos por muito se amarem”.  (João, 13:35) E ainda confirmou ao dizer: “Ouviste o que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem”. (Mateus, 5:43 e 44)
Nossas faltas têm sua expiação amenizada quando delas nos arrependemos sinceramente e tratamos de repará-las mediante atuação fraterna e caridosa no contato com nossos semelhantes. No livro, “Missionários da Luz”, André Luís é informado a examinar o caso de um irmão que, na encarnação anterior, praticara o assassinato de outra pessoa, e após sua desencarnação, arrependeu-se do crime, sofreu bastante em regiões inferiores para onde foi levado, e depois de longos sofrimentos purificadores, aproximou-se de sua vítima, beneficiando-a em louváveis serviços de benemerência e, progredindo moralmente, foi beneficiado por outros benfeitores espirituais que pediram por ele. Conseguiu nova encarnação, onde, em vez de desencarnar por método brutal, expiará a dívida trazendo uma úlcera em seu corpo que se manifestará, conforme ele se conduzir na existência.
Também não valorizamos devidamente o tempo que temos na existência, deixando-o esvair-se futilmente entre ocupações materiais e distrações vazias, desatentos de que se trata de valioso talento a nós concedido pelo Pai Celestial. Gastamos nossa existência terrena sem a preocupação de semear flores e frutos ao longo das sendas que trilhamos, olvidando que estamos cercados de tantos próximos referidos por Jesus, com o objetivo de resgatar os erros pretéritos, executando as missões de amparo aqueles que nos cabe ajudar e amar.  
E como na história relatada no início, quando o Tempo se aproximar de nós nas voltas do caminho da existência e nos indagar: - “Que valores conseguiste após viveres tanto?”  Possamos tranquilos e alegres, responder-lhe simplesmente:   “ Conquistamos tanta coisa:  Aprendemos a Amar!”            


Bibliografia:
Ivone Molinaro Ghiggino
Revista “Reformador” – julho/2013
+ Pequenas modificações

Jc

São Luís, 20/8/2013

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