No Dicionário Ilustrado da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras, o termo “desigualdade”, é definido como: condição, estado e qualidade de desigual; falta de igualdade, diferença.
Por
que na existência dos seres humanos na Terra, existem tantas e variadas
desigualdades? Por que essas desigualdades? Por que existem pessoas que nascem
com doenças e deformidades e outras que nascem sem problemas nenhum de
anomalias ou de saúde? Por que umas nascem bonitas como anjos e outras
horríveis como monstrengos? Por que umas nascem brancas e outras pardas,
amarelas, vermelhas e negras? Por que umas nascem em berço de ouro e outras
nascem em situações as mais miseráveis? Por que umas são acolhidas com imenso
carinho e amor, e outras são abortadas nas suas pretensões de vida, ou, quando chegam
a nascer, são tratadas como indesejáveis e detestáveis?
Desigualdades
de caráter, de vocações, de moralidade, de sentimentos, de conhecimentos, de
afinidades, do próprio corpo, da estatura, da cor dos cabelos, dos olhos, das
famílias, enfim, são tantas as desigualdades que nos remete a fazer perguntas,
tais como: - Se somos criador pelo mesmo Pai Celestial, por que tantas
desigualdades? Quais as razões para tudo isso? Porventura, todas essas
desigualdades, são uma determinação ou uma Lei de Deus? O que você tem a dizer
sobre o assunto? Você tem alguma opinião ou explicação para essas
desigualdades?
Vejamos
o que aconteceu num reinado, onde as pessoas foram se queixar ao rei de que ele
não era justo, porquanto, nos seus domínios, algumas pessoas viviam
nababescamente bem, na fartura, outros mais viviam em boas condições e a grande
maioria vivia com o mínimo possível e às vezes, em condições precárias. O rei
então lhes perguntou o que sugeriam para o problema, e eles responderam: Que
todos os bens fossem repartidos, igualmente, para todos. O rei respondeu-lhes
que estudaria o assunto e se pronunciaria posteriormente. Ele então analisou as
condições que existiam no seu reinado, onde tanto os ricos, os remediados bem como
os pobres, todos trabalhavam e viviam dependendo do que era produzido ali
mesmo, sem depender de outros reinos. Então ele convocou o povo e lhes disse
que atenderia ao pedido que lhe fora feito, repartindo todos os bens existentes
no seu reinado, com todos os habitantes. Ele recolheu todos os bens e dividiu,
igualmente com todos, de maneira que um não possuía mais que outro, e mandou
fechar as fronteiras do seu reino para que não entrasse alimentos e nem saísse
ninguém dos seus domínios.
Cada
um, satisfeito e possuidor de bens iguais aos outros, passou a não se sujeitar
e nem a trabalhar para ninguém, pois possuía tanto quanto os outros. Todos
passaram então a consumir e ninguém a produzir. Em pouco tempo, tudo o que
existia de alimentos foi consumido e a escassez se fez presente. O povo na
dificuldade voltou à presença do rei para pedir que ele permitisse que fossem
comprados nos reinos vizinhos, os alimentos que tinham acabado, pois todos tinham
condições, mas não havia mais alimentos para comprar e o povo estava passando
fome. O rei então respondeu: No meu reino, havia a prosperidade; todos viviam, todos
trabalhavam e os alimentos e as demais necessidades que eram produzidas,
satisfaziam a necessidade de todos, sem depender de outros reinos. Vocês
queriam dinheiro e bens; dinheiro e bens, eu como rei confisquei dos que tinham
muito para repartir com todos vocês. Se agora ninguém trabalha e nem produz, e
está passando fome, a culpa é de vocês mesmos que, movidos pela inveja e
ambição, reclamaram a mim, contra os que tinham muitos bens, que lhes
proporcionava o trabalho e a oportunidade de viveram de acordo com seus
esforços e aptidões. Vocês pediram bens e dinheiro e eu os atendi, agora comam
os bens e o dinheiro que vocês pediram.
O
povo, arrependido, implorou pela volta do antigo sistema em que todos viviam de
acordo com a disposição e o esforço de cada um, e o rei feliz por ter dado uma
lição a eles, demonstrou que tudo que Deus faz é o melhor para todos, e que a
desigualdade é necessária para a harmonia do todo. O rei então recolheu tudo e
deu a cada um, os bens, de acordo com o que possuíam antes, e o seu reinado
voltou a ser próspero e o povo mais feliz do que anteriormente, porquanto houve
a conscientização de que do esforço
próprio e do trabalho, dependia a melhora de vida de cada um.
A
Doutrina dos Espíritos, por meio da sua Ciência e da Filosofia, nos dá as
explicações de todas essas diferenças, principalmente da desigualdade das
posses terrenas. No “Evangelho Segundo o
Espiritismo”, capítulo XVI, no título que fala das “Desigualdades das
Riquezas”, encontramos a seguinte explicação:
“A
desigualdade das riquezas, é um desses problemas que se procura em vão
resolver, considerando-se apenas a existência atual. A primeira questão que se
apresenta é esta: Por que todos os seres humanos não são igualmente ricos? –
Não o são por questões muito simples: é que eles não são igualmente
inteligentes, ativos e laboriosos para adquirir, nem moderados e previdentes
para conservar. Acrescente-se que, matematicamente demonstrado, a fortuna,
igualmente repartida, daria a cada pessoa, uma parte mínima e insuficiente,
que, supondo-se essa repartição feita, o equilíbrio estaria rompido em pouco tempo,
pela diversidade das capacidades e das aptidões; e supondo-se possível e
durável, cada um tendo apenas do que viver, isso seria o aniquilamento de todos
os grandes trabalhos que concorrem para o progresso e o bem-estar da
Humanidade. Se Deus a concentra em certos pontos, é porque daí ela se expande
sempre em quantidades suficientes segundo as necessidades”.
Dando
ao ser humano o livre arbítrio, quis que
ele alcançasse, por sua própria experiência e sabedoria, a
distinção entre o bem e o mal, e que a prática do bem fosse resultado da sua
vontade e dos próprios esforços. Se ele fosse conduzido fatalmente ao bem ou ao
mal, seria apenas um instrumento passivo e irresponsável, como os animais. A
fortuna é um meio de prová-lo moralmente, e ao mesmo tempo, um meio de ação
para o progresso. Deus não quer que ela fique por muito tempo, improdutiva, e
por isso, desloca-a incessantemente. Cada um que a possui, deve servir-se dela,
e saber o que dela fazer; sabendo utilizá-la para o bem de todos, ela pode
proporcionar a felicidade e a evolução espiritual. Deus sendo justo obriga que
cada um trabalhe a seu turno; a pobreza é para uns a prova da resignação e da
humildade; a riqueza é para outros a prova da abnegação e da caridade.
Entretanto,
é deplorável e lamentável o uso que certas pessoas fazem de sua fortuna, e se
pergunta se Deus é justo em dar riqueza a tais pessoas. Se o ser humano tivesse
apenas uma só existência, nada justificaria essa repartição dos bens da Terra;
mas considerando-se o conjunto das existências, vê-se que tudo se equilibra com
justiça. Todos a possuem a seu turno: quem não a tem hoje, já a teve
anteriormente ou poderá tê-la amanhã. Assim, o pobre de hoje não tem mais
motivo para acusar a Providência Divina, nem para invejar os ricos, e os ricos
não têm mais do que se orgulhar pelo que possuem.
A
fonte de todo mal está no egoísmo e no orgulho; os abusos de toda espécie
cessarão por si mesmos quando os seres humanos se regerem pela lei do amor e da
caridade. A verdadeira propriedade consiste apenas no que se pode levar deste
mundo. O que encontramos ao chegar e o que usamos durante nossa permanência na
Terra apenas somos usufrutuário e não
proprietário. Os conhecimentos e as qualidades morais, eis o que se traz e o
que se leva que nos servirá mais na Espiritualidade do que neste mundo. Saindo
mais rico nesses valores em nossa partida do que em nossa chegada, é que vai
determinar nossa posição futura.
Assim
sendo, ao ser humano usufrutuário dos bens da Terra, Deus lhe pedirá severas
contas do emprego que dele tiver feito da fortuna, em virtude do seu livre
arbítrio. “Aquele á quem mais é dado, muito lhe será cobrado”...
Bibliografia:
“O Evangelho Segundo o
Espiritismo”
+
Pequenas modificações
Jc.
S. Luís, 22/03/2013
Refeito
em 12/6/2016
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