DOAÇÃO DE
ÓRGÃOS
A medicina, em sua árdua tarefa
de tratar do corpo, atenuar as dores e possibilitar ao ser humano uma vida mais
longa e mais saudável, tem chegado a avanços notáveis, dignos do nosso apreço e
reconhecimento. Assim, vimos desfilar nas últimas décadas deste século a
quimioterapia, a imunoterapia e a radioterapia no tratamento do câncer; as
vacinas de todos os tipos que diminuíram a incidência de doenças
infecto-contagiosas; os novos métodos de diagnosticar moléstias e os transplantes
de órgãos, devolvendo a alegria a tantas famílias ao verem recuperado o familiar, quando a chama da vida se lhe
ameaçava apagar.
Os primeiros transplantes de
órgãos feitos com sucesso no Brasil, levaram a população ao entusiasmo, pois
representavam para aqueles ameaçados de morte, diante da impossibilidade de
cura de um órgão doente (coração, rins), uma nova esperança de vida. Foram
criadas as filas de transplantes para as pessoas necessitadas, aguardar uma
doação nas condições exigidas para tal fim, que pudesse fornecer-lhe o órgão
para o transplante. Muito louvável o gesto da família que permitia que um ou
vários órgãos do seu familiar “morto” pudesse ser retirado para salvar a
existência de outra pessoa.
Quase todos os dias as emissoras
de televisão têm apresentado no Brasil, com a necessária ênfase, depoimentos de
artistas conclamando os brasileiros a darem maior importância ao ato de doação
de órgãos de seus “mortos” queridos. A justificativa da campanha é óbvia,
porque, como tem sido divulgado, contam-se aos milhares os que aguardam na fila
de espera a oportunidade de receber um transplante, algo que não custa nada à
pessoa que deixa este plano em seu retorno à vida na espiritualidade. Você
sabia que quatro em cada 10 brasileiros que aguardam um transplante de fígado
ou coração morrem na fila de espera? Para mudar essa situação, você só precisa
avisar um parente - esposo(a), filhos
pais ou tios – que deseja dar aos seus órgãos um destino nobre após sua desencarnação.
Assim fazendo, estamos contribuindo para ajudar quem se acha com alguma
limitação na sua existência.
Conheça as oito dúvidas sobre a
doação de órgãos: 1- Qual é o número de doações feitas por ano no Brasil? R-
Cerca de 2 mil pessoas com morte encefálica (quando o cérebro para de funcionar,
mas o coração ainda bate) doam todos os órgãos e 10 mil pessoas doam as
córneas. 2- São números que atendem as necessidades? R- Não. As doações de
córneas atendem às necessidades dos transplantes, e em São Paulo e Santa
Catarina não há mais filas; estas existem na região Norte e Nordeste, onde o
programa de doação ainda não está estruturado. Quanto aos outros órgãos, o
número de doações vem crescendo, mas ainda não é o ideal. 3- Quantos pacientes
estão atualmente na fila de espera? R- Por um rim, são 20 mil pessoas; por um
fígado, entre 1,5 mil e 2 mil; por um coração ou um pâncreas, 200 pessoas.
4-Quais os transplantes mais realizados no País? R- Em primeiro lugar, o de
córnea (15 mil por ano), depois o de rim (5 mil), e em terceiro o de fígado (2
mil). 5- Como é feita a doação? R- Mais de 90% dos transplantes são feitos pelo
SUS. O programa de Transplante de Órgãos do Sistema Nacional de
Transplantes utiliza dois critérios
para definir o destino do órgão:
o paciente que precisa mais ou aquele que encabeça a fila de espera – a
decisão independe da condição sociocultural. Quem acompanha todo o trâmite são
as secretarias de Saúde junto com o Ministério Público. 6- O que os
interessados em doar devem fazer? R- Basta manifestar a vontade para a família,
que tende a levar em conta o último desejo da pessoa em vida – não adianta
deixar nada por escrito porque os parentes precisam autorizar a doação. Quando
a pessoa desencarna, o hospital chama a central de captação, que envia uma
equipe. Só depois de confirmado o óbito, os órgãos são retirados. 7- É possível
só doar o que a pessoa quer? R- Sim, tem pessoas que, por questões pessoais,
não querem doar o coração e essa vontade é sempre respeitada. 8- Quais órgãos
são possíveis doar em vida? R- Um dos rins e parte do fígado, mas só para
familiares (a menos que se consiga uma autorização judicial), para evitar o
comércio do órgão. Doações de pais com idade avançada para filhos são as mais
comuns.
Chico Xavier, respondendo certa
vez a alguém que lhe perguntou se os Espíritos Superiores consideravam os
transplantes uma prática contrária à lei natural, disse: “Não”, respondeu o saudoso médium e
completou: “Eles dizem que, assim como nós aproveitamos uma peça de roupa que
não tem mais utilidade para determinada pessoa, e essa pessoa, considerando a
situação de penúria material de seu semelhante, cede essa peça de roupa, é
muito natural que ao nos desvencilharmos do corpo físico, venhamos a doar os
órgãos prestantes a companheiros necessitados deles, que possam utilizá-los com
segurança e proveito”.
Como Allan Kardec não tratou do
assunto em suas obras, as divergências a respeito do assunto não foram poucas,
e é nisso que avulta a importância do que Chico Xavier disse, complementado por
declarações abalizadas como a feita, à época, pelo Dr. Jorge Andréa, que, em
seu livro “Psicologia Espírita”, afirmou que não há nenhuma dúvida de que, nas condições atuais de existência em que nos
encontramos, os transplantes vieram para ficar e devem, por isso, serem
utilizados. Declarou ainda o Dr. Andréa: “A conquista da ciência, é força
cósmica positiva que não deve ser relegada a posição secundária por pieguismos
religiosos”.
Hoje, depois de tantos anos,
ninguém tem dúvida da importância dos transplantes e dos benefícios que eles
trazem não só ao receptor, mas também ao doador dos órgãos e às famílias
envolvidas nesse ato de amor. Se alguma dúvida houvesse, o caso
de Wladimir, narrado por Richard Simonetti no livro “Quem tem medo da
morte?”, seria suficiente para dissipá-la.
Aos que ainda não leram essa obra, lembramos que o jovem Wladimir, valendo-se
da faculdade mediúnica de Chico Xavier, revelou que mesmo em mortes traumáticas,
como a que ele teve – um tiro desferido no próprio peito – a caridade da doação
é largamente compensada pelas leis estabelecidas pelo Criador.
A conclusão, portanto, é mais do
que obvia: Todos podemos e devemos doar os órgãos que nosso corpo não mais
utilizará, finda a existência corporal. A extração de um órgão não produz
reflexos traumatizantes no perispírito do doador. O que lesa o perispírito, que
é o nosso corpo espiritual, são as atitudes incorretas, negativas, perpetradas
por nós, e não o que é feito ao corpo ao ser retirado algum órgão para doação e
benefício de outra pessoa. Além disso, o doador é invariavelmente beneficiado
pelas preces e pelas vibrações de gratidão e carinho que partem dos que aqui
permanecem especialmente do receptor do órgão transplantado e de seus
familiares.
Entretanto, como espírita,
sabemos que somos um espírito ligado a um corpo, através do perispírito que
registra e transmite as impressões e sensações entre eles. Estaria o espírito
preparado para “ver” os órgãos do corpo que usou serem retirados, quando
sabemos que o espírito liberado após a chamada morte clínica, ainda está em
processo de desembaraço dos liames que o prendem ao corpo físico?
A drª Marlene Nobre, em
entrevista com Chico Xavier, interroga: “Você acha que o espírita deve doar os
órgãos do seu corpo? Não haveria repercussões para o perispírito, uma vez que
eles devem ser retirados momentos após a desencarnação da pessoa?” – Chico
Xavier respondeu: “Sempre que a pessoa cultiva desinteresse absoluto por tudo
aquilo que ela cede para alguém, sem perguntar ao beneficiado o que fez da
dádiva recebida, sem desejar qualquer retribuição, sem aguardar gratidão
alguma, essa criatura está em condições de doar, porque não vai afetar o
perispírito em coisa alguma. No caso contrário, se a pessoa se sente
prejudicada por algo que julga pertencer-lhe, esta criatura trás o apego a
determinadas vantagens da existência, o que, com certeza, após a morte do
corpo, se inclinará para reclamações descabidas gerando perturbações
espirituais. Se o apego ao corpo é muito grande, o espírito não apenas se
perturbará com a retirada dos órgãos do seu corpo, como também pela
decomposição do seu corpo físico; então nesse caso não deve ser doador”.
Agora, quando o assunto volta à
tona com a Lei 9.434, que dispõe sobre a remoção de órgãos para fins de
transplantes, considerando que todos somos doadores em potencial, as atenções
se voltam novamente para as questões de ressentimentos do perispírito. Na verdade, se Deus não permitiu esse avanço
da ciência, é para que aprendamos a doar, sem constrangimento e sem esperar
recompensa; não apenas o pão, o agasalho, o livro, a palavra de entendimento, o
gesto de caridade, mas também o nosso corpo, quando este já cumpriu a missão
temporária, na sua escalada evolutiva na Terra.
Acreditamos que este gesto de
bondade deve somar pontos ao espírito que deu mostras de superação ao apego à
matéria, quando “vê” com alegria, que foi protagonista da oportunidade de
restabelecer a saúde e a existência de outra pessoa. Por outro lado, se o
espírito se ressente por causa da doação de um órgão do seu antigo corpo
físico, ele demonstra que é um espírito ainda carente de valores e egoísta,
sentimento esse ainda tão presente nos seres humanos.
Este avanço científico constitui
uma permissão de Deus para que avencemos em nosso processo de evolução. O
despertar das criaturas deve acontecer o quanto antes, aproveitando-se as
oportunidades atuais para se retificar erros, corrigir situações penosas e
libertar-se de dependências infelizes. Jesus nos alertou: “Cada um receberá de
acordo com as suas obras”.
Outra importante doação é a que
fazemos com amor, aos que necessitam da nossa colaboração. Exercitemos a
caridade ajudando as Instituições Filantrópicas que trabalham com crianças
desamparadas, idosos necessitados, contribuindo com um pouco do que o Senhor da
Vida nos concedeu na presente existência. Só assim, estaremos cumprindo com
nossas obrigações, sendo solidários com nossos semelhantes.
Que o Pai Celestial ampare todos
os seus filhos, principalmente os que doam em favor do seu próximo.
Bibliografia:
Jornal “O Imortal”
Revista Ana Maria – 12/2012
Jc.
23/4/2006
Refeito em 4/5/2013
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