segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A IMPACIÊNCIA E A INSATISFAÇÃO

A IMPACIÊNCIA E A INSATISFAÇÃO A paciência é uma virtude e também uma caridade que devemos praticar; foi ela ensinada por Jesus, quando disse: “Sede perfeitos”. A nossa existência terrena é difícil, se compondo de mil situações que nos levam a impaciência e a irritabilidade. Joana de Ângelis, no livro “Episódios Diários” nos alerta dizendo: “Ao sair do lar, defrontas os problemas de condução na busca do teu trabalho. Transportes abarrotados, pessoas rudes, multidões apressadas, violência pela disputa dos lugares, ruas e avenidas movimentadas, trânsito engarrafado... Se chove, pior fica o trânsito e as dificuldades se ampliam. Se faz sol, o calor produz mal-estar e as reclamações promovem aborrecimentos. Dispondo de veículo próprio, não te podes mover conforme gostarias pelas vias de acesso, em congestionamentos constantes. Todos têm que chegar a tempo, pois o relógio não para. Os que se atrasaram pretendem recuperar os minutos perdidos e atropelam os que estão ao lado ou à frente... A irritação chega e se instala, perturbando-te e levando-te a competir também com os agressivos. As buzinas produzem barulho e os semáforos te interrompem a marcha, e parece tudo estar contra os teus propósitos. Entretanto, deves manter a calma, e para isso, amanhã, propõe-te a sair de casa mais cedo. A tranquilidade de todo um dia merece o teu investimento de alguns minutos. Não te irrites, portanto, evitando os perigos da ira, que instala desequilíbrios graves que podes evitar...” O Evangelho nos recomenda coragem e paciência, e Jesus como nosso modelo de comportamento. Ele sofreu mais que qualquer um de nós, não tendo nada a resgatar, enquanto nós temos nosso passado de erros a resgatar. “Sede pacientes, sede cristãos”, são palavras de um Espírito amigo, no capítulo IX do livro Evangelho Segundo o Espiritismo. “Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a Terra e bem-aventurados os que são resignados”. Mas há muita diferença entre a resignação e a indiferença. A resignação é a aceitação, nos inevitáveis acontecimentos da existência, de conformidade com o Determinismo Divino; enquanto a indiferença é a submissão às injustiças deprimentes, sem reação ou protesto. Por essa atitude o indiferente é um anormal; tem cérebro e não pensa; tem coração e não sente; tem alma e não ama; ao contrário do resignado que não aparenta sofrimento, porque conhece a Lei de Deus, e a ela se submete com humildade. A paciência e a resignação são sentimentos nobres. A resignação nas provas a que somos submetidos, é obediência aos nossos próprios desejos de elevação espiritual, obedecendo as Leis de Deus. A resignação nasce da paciência, e a paciência é filha da caridade. Sem mansidão não há paciência; sem paciência, a irritabilidade nos leva à cólera que é filha do ódio; um sentimento existente nas almas inferiores. Façamos um pequeno teste para ver se temos mesmo paciência: a- Quando estamos numa fila longa (não gostaríamos de ser o 1º ou 2º da vez, ao contrário de estarmos mais para trás? b- Quando esperamos a condução não nos irritamos achando que o coletivo está demorando muito? c- Quando estamos dirigindo no trânsito deixamos o pedestre passar primeiro, ou quando estamos a pé, esperamos pacientemente o veículo passar, sem achar que está muito lento? d- Quando estamos ouvindo outra pessoa falar não nos apressamos logo a interromper e tirar conclusões? e- Quando respondemos por várias vezes a uma mesma pergunta não perdemos logo a paciência? A paciência e a mansidão são virtudes que devemos cultivar, enquanto a impaciência e a insatisfação nos leva a uma irritabilidade, até mesmo para com a nossa existência. A insatisfação é uma das causas da infelicidade do ser humano. A nossa insatisfação começa com o nosso nascimento. Ao nascer, somos acrescentados de algo que, muitas das vezes não gostamos, porém, apesar de não gostarmos, não podemos nos desfazer, permanecendo conosco até o fim da existência. Quem arisca um palpite? – Quem pensou no nome, acertou. É comum as pessoas não gostarem do nome que receberam. Quem recebeu o nome de Maria, gostaria de ser Ângela; Rose gostaria de ser Carmem; Joana gostaria de ser Carolina; Benedita gostaria de ser Regina, etc. etc., assim como José, gostaria de ser Ricardo; João, de ser Carlos; Antonio, de ser Eduardo, e assim por diante, comprovando a insatisfação com o nome que recebeu, por lhe ter sido imposto e não escolhido. Eu mesmo tenho um filho que recebeu o nome de Raimundo colocado por sua mãe, e ele diz que isso não é um nome, é um palavrão. A lei brasileira deveria permitir que as pessoas não satisfeitas com o nome recebido, pudessem trocar de nome quando completasse a maioridade. Depois do nome vem a insatisfação com o sexo. Existe mulher insatisfeita que gostaria de ter nascido homem, por se ajustar melhor a sua personalidade e tendências; como também há homem que gostaria de ter nascido mulher, por melhor corresponder a sua personalidade e tendências femininas. A propósito do assunto, é preciso esclarecer o porque dessas situações. O espírito precisando adquirir conhecimentos e desenvolver a inteligência, reencarna por muitas vezes como homem, adquirindo tendências exclusivamente masculinas. Porém, sendo necessário também ao espírito, adquirir os sentimentos, ele tem que vestir também o corpo feminino; e quando se dá essa mudança, o espírito vem ainda com fortes tendências masculinas, ocasionando os conflitos de rejeição do corpo feminino; tanto isso ocorre pelo lado masculino como pelo lado feminino. Vem a seguir, a insatisfação pelo corpo e pela cor da pele. Há pessoa que gostaria de ter o físico de um atleta, outra, a forma esbelta de uma “miss”; o rosto de um galã, a face de uma fada; as pernas grossas e bem torneadas de uma modelo e não um par de caniços de bambu; olhos verdes ou azuis, no lugar dos tradicionais castanhos ou pretos; cabelos lisos, crespos, ondulados, loiros, ruivos, castanhos, pretos, (brancos como os meus, nem pensar, porque demonstra velhice, e ninguém quer ser velho, pois dizem que velho é o mundo). Quem é preto gostaria de ser branco, quem é branquelo gostaria de ser moreno. Enfim, sempre a eterna insatisfação com o nosso corpo... Em seguida vem á insatisfação com a roupa, a instrução, o trabalho e muito mais com a profissão que exercemos que não nos satisfaz. É raro a pessoa casar a sua vocação com a profissão que exerce. O resultado desse desencontro se comprova no grande número de pessoas insatisfeitas, querendo descarregar suas frustrações nos outros, e os maus profissionais em todas as profissões. Trabalham em atividades para as quais não possuem a menor vocação ou amor pelo que fazem; somente porque precisam sobreviver e às vezes pelas vantagens financeiras que a profissão possibilita. Dentre os profissionais que não casam a vocação com a profissão, que podem ser perigosos, destacamos os médicos, por tratarem de vidas humanas. Outros profissionais que podem nos trazer riscos de vida são os motoristas, aviadores, mas não como os médicos, ao não diagnosticarem com precisão, a doença do paciente, ou ao submetê-lo a uma operação que seria para recuperá-lo e termina às vezes por agravar o estado do doente e levá-lo até a morte... Por causa da nossa falta de paciência e pela insatisfação, parece que estamos fazendo sempre o que não gostamos, e, quase sempre, não fazemos o que gostaríamos de fazer, principalmente nas nossas atividades, onde sempre estamos insatisfeitos com os colegas e superiores, que não nos compreendem, e não correspondem a nossa expectativa. Da mesma maneira acontece no lar; os filhos falam que os pais não lhes dão liberdade e ficam cobrando atitudes, responsabilidades; os irmãos, com suas personalidades diferentes não concordam com a maneira e o modo de pensar, uns dos outros; os parentes não são aqueles que gostaríamos de ter; a esposa(o) ou companheira(o) não corresponde ao ideal; não há compreensão e as vezes se tratam como inimigos; pensam as vezes que, seria melhor ficar sozinho, pois parece que as pessoas estão sempre casando com a pessoa errada; tudo isso acontece no lar, motivado pela insatisfação. Vem depois, a insatisfação pela casa; se é pequena, não satisfaz porque não dá “status”, as pessoas não notam e o espaço pequeno, não permite a mudança constante da posição dos móveis (como gostam as mulheres, para dar nova aparência); entretanto, se a casa é grande, bonita, dá “status”, dá também muito trabalho para limpar, arrumar e conservar, precisando de empregada, que quase sempre trás problemas; o imposto é caro e ainda tem um inconveniente, que é ser entendida pelos parentes como um hotel, para hospedá-los em qualquer tempo, e sem diária a pagar. Se a casa está localizada numa rua de bairro pobre, não é valorizada; se o bairro é “chic”, está sempre sob a ameaça de ladrões, precisando de cuidados extras e despesas maiores, sem falar no fato de não ficar perto do centro da cidade, ou do comércio, do hospital, da padaria, da farmácia, do banco, do ponto de ônibus, etc. etc. Muitos poucos são os que estão satisfeitos com a vizinhança. Ainda tem a insatisfação com a nossa locomoção; se andamos a pé, reclamamos da distância, do cansaço, das pessoas que nos barram o caminho. Se a viagem é de ônibus, reclamamos da demora de chegar ao destino, por estar muito cheio ou pelo barulho que nos incomoda, pelo som alto que nos agride, e até por viajarmos em pé. Porém, se viajamos de carro particular, que beleza; não existem esses problemas, vamos a vários lugares sem demora, se não houver engarrafamento, ninguém nos empurra, parece que não há insatisfação. Puro engano, porque ela se manifesta pelo trânsito lento, na preocupação com os outros motoristas (barbeiros) evitando desastres, na falta de vagas para estacionar, nos flanelinhas a nos exigir dinheiro onde paramos, como se fossem os donos das ruas, nos sinais, barreiras, lombadas, obstáculos, redutores, e ainda, os guardas que as vezes ficam escondidos, nos ameaçando com pesadas multas, ao menor descuido nosso. O dinheiro, este então é que nos trás insatisfação dobrada, porquanto por mais que se trabalhe, ele sempre é insuficiente. Às vezes não dá nem mesmo para as nossas reais necessidades, quanto mais para os supérfluos, programas, passeios e viagens, e muito menos ainda para pagar um plano de saúde, que além de caro, sempre nos deixa na mão, quando mais precisamos. Por falta do dinheiro, as desavenças nos lares acontecem, as despesas aumentam, as dificuldades e a insatisfação crescem. A mãe Natureza também nos causa insatisfação. Quando o tempo está chuvoso, nos cria problemas, pois precisamos sair para tratar dos assuntos pendentes ou trabalhar, embora saibamos que ela é necessária para a própria existência. Se o sol se apresenta em dia limpo de nuvens, logo vem o calor a nos incomodar e, se não tivermos um bom ventilador ou um ar refrigerado, à noite vamos ter dificuldades para dormir, e, se faltar energia, conforme sempre está acontecendo, a nossa insatisfação chegará ao limite. Existe insatisfação até com as Leis Sábias de Deus. Achamos que muitas coisas que existem, não deveriam existir; que muitas coisas que acontecem, não deveriam acontecer; como se nós fôssemos mais sábios que o nosso Pai Celestial. O nosso dia-a-dia, nos trás mais insatisfação do que prazer, porque estamos quase sempre insatisfeitos com tudo e com todos, até com a nossa existência, e com as situações que ela nos faz passar... Tudo isto acontece porque ainda estamos mais envolvidos e voltados para a existência material, dando muito valor às coisas que nos cercam. Esquecemos que a nossa existência aqui na Terra, representa um momento na nossa vida de espírito eterno e que estamos aqui para trabalharmos a nossa evolução. Muitas pessoas vivem angustiadas, impacientes e insatisfeitas com problemas de ordem pessoal, agravando suas existências com sentimento de revolta, desespero e desânimo, porque lhes falta coragem para enfrentar as provações. Acham que os seus problemas são os maiores, porque os tornaram assim, sem observar que outras pessoas têm problemas maiores a enfrentar, e não são poucos os exemplos de homens e mulheres que mostraram não haver obstáculos intransponíveis para quem quer caminhar, lutar, vencer e progredir... Recordemos, como exemplo, a existência de Antonio Francisco Lisboa, o “Aleijadinho” que, apesar das dores que sofria e das deformações do corpo e das mãos, esculpiu em pedra sabão, as imagens dos profetas e passagens evangélicas, existentes na Igreja de Congonhas do Campo e em outras cidades de Minas Gerais, que são visitadas anualmente, por milhares de pessoas; de Helen Keller, cega, surda e muda, que se tornou escritora e conferencista famosa; de Jerônimo Mendonça, de Ituiutaba-MG., paralítico, deitado em uma cama móvel, que dirigia uma Instituição Espírita com amor e dedicação, e ainda viajava fazendo palestras; de Chico Xavier*, que aos 91 anos, fraco e doente, continua servindo aos seus semelhantes. Em seu teto humilde em Uberaba, resignado em seu corpo enfermo, recebendo ainda semanalmente, os romeiros de todas as procedências, com um olhar benfeitor, um aperto de mão e uma palavra amiga. Na verdade, o ser humano por não conhecer a sua verdadeira vida, e a finalidade da sua existência na Terra, que é de constante aperfeiçoamento moral e evolução espiritual, se deixa envolver por coisas insignificantes, fáceis de ser resolvidas, e torna-se uma pessoa rabugenta, preocupada demasiadamente com pequenas coisas, mal humorada, impaciente e eterna insatisfeita, o que lhe causa maiores sofrimentos. Como a insatisfação não resolve nada, devemos parar de reclamar e procurar viver de maneira mais satisfatória, tirando de qualquer situação adversa, algum ensinamento, ou a certeza de que Deus nos possibilita a evolução, quando aceitamos os problemas, nos adaptamos as circunstâncias da existência e enfrentamos e resolvemos nossos problemas, com resignação, paciência e compreensão. Divaldo Pereira Franco, quando em estada em Londres, recebeu a mensagem de Joana de Angelis que reproduzimos um trecho: “Não marchais a sós! Vossa existência é acompanhada por Benfeitores afáveis, e vossas dificuldades e lágrimas são anotadas por corações afetuosos da espiritualidade que vos inspiram. Continuai com fé, fortalecendo a corrente da solidariedade, para que possam os valores do espírito vencer as paixões primitivas. Sede confiantes no Cristo, escutai a Sua Voz, e deixai que o Seu amor se espraie em vossos sentimentos, arrastando almas na direção da paz e da esperança. Agora vos brinda a luta restauradora, o trabalho libertador, e , avançando chegareis ao termo da jornada, com o coração cheio de felicidade e o espírito plenificado pelo dever cumprido.” Ainda Joana de Angelis, no livreto “Vida Feliz”, nos diz: “Toda marcha está sujeita a tropeços e dificuldades, que constituem desafios para o nosso avanço. Se tudo nos desagrada e estamos sempre reclamando e insatisfeito, esta é uma atitude de quem está de mal com a vida, e vive mal consigo mesmo. Nunca faltam motivos para insatisfação, inquietando o coração e perturbando a existência, mas é preciso reagir e seguir em frente aceitando e resolvendo os problemas.” E Jesus nos consola, dizendo: “Vinde a mim, todos vós que sofreis e que estais sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai meu jugo sobre vós, e aprendei de mim que sou brando e humilde de coração, e encontrareis o repouso de vossas almas, porque meu jugo é suave e meu fardo é leve.” Mateus XI, vrs. 28 a 30. E completa dizendo ainda: “Não se turbe o vosso coração”, ensinando-nos que a calma e a confiança em Deus, devem ser o lema de toda a criatura que deseja encontrar e viver a felicidade... Portanto, não vamos deixar a impaciência e a insatisfação tomar conta da nossa existência, nos tirando a paz e a vontade de viver. Que o Senhor na sua infinita bondade nos ampare e nos proteja. Bibliografia: ‘O Evangelho” “Evangelho Segundo o Espiritismo” Livreto “Vida Feliz” Este artigo foi feito antes do desencarne de Chico Xavier. Jc. S.Luis, 29/06/2001. Refeito em 21/10/2012

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