segunda-feira, 20 de agosto de 2018

MAR DE LIXO





 
A notícia de que a Grande Mancha de Lixo do oceano Pacífico, constituída do mar de plástico, já ocupa uma área de 16 vezes maior do que era estimado, e necessita da urgência de uma solução para o problema dos resíduos plásticos, os principais poluidores dos mares. A existência moderna é inimaginável sem os plásticos. Eles estão em praticamente todos os produtos tecnológicos que caracterizam a civilização atual.
A lista é infindável: computadores, celulares,  televisões,  e até aviões, carros e contêineres, assentos de privada, afora os muitos produtos descartáveis como pratos, canudos, garrafas, botas, cordas, embalagens, cotonetes e redes de pesca. Não há dúvida de que ele é um produto útil, durável e versátil. Porém, é incontestável que os plásticos são uma praga ambiental, que contamina todo tipo de ambiente na Terra. Somente nos oceanos, estima-se que sejam despejados oito milhões de toneladas de plástico a cada ano.
Esse volume se espalha por todos os oceanos do planeta, com destaque para a chamada Grande Mancha de Lixo do Pacífico,  localizada entre a costa oeste dos Estados Unidos e o Havaí. Essa “ilha” de entulhos está crescendo mais rapidamente do que se previa. Uma pesquisa recente, publicada na revista científica “Scientific Reports”, constatou que ela tem cerca de 80 mil toneladas de plásticos descartáveis, em uma área de 1.6 milhões de quilômetros quadrados, maior do que o estado do Amazonas (1.559.159 km2) e quase duas vezes e meia a França (643.800 km2) O estudo também concluiu que a mancha ocupa hoje uma área 16 vezes maior do que se estimava.
De acordo com o oceanógrafo Laurent Lebreton,  da fundação holandesa The Ocean Cleanup, que desenvolve tecnologias para extrair a poluição dos oceanos e realizou a pesquisa, a situação está pior a cada dia. Segundo ele, cerca de 20% dos resíduos podem ter chegado à região, após o terremoto e tsunami de 2011 no Japão. Para fazer esse trabalho, os pesquisadores contaram com o apoio de 30 navios, várias aeronaves e imagens tridimensionais obtidas do alto e na superfície. Além disso, 1.2 milhão de amostra foram coletadas. Em todos os oceanos, estima-se que esse número chegue a 5.25 trilhões, com um peso total  de cerca de 290 mil toneladas.
Segundo a pesquisadora Daniela Gadens Zanetti, essas partículas estão presentes em todos os habitats marinhos, desde a superfície oceânica até o fundo dos mares, e estão disponíveis para todos os níveis da cadeia alimentar, dos produtos primários aos superiores. Um albatroz encontrado morto foi achado com o interior repleto de plástico. “Um relatório de 2016 da Organização das Nações Unidas, estima que mais de 800 espécies marinhas e costeiras são afetadas pela ingestão desses plásticos, além disso, esses resíduos têm um efeito adverso nas indústrias de pesca, navegação e turismo. Esse relatório avalia o custo da poluição causada pelos detritos marinhos em US$-13 bilhões”.
Sandra Tédde Santaella, do Instituto de Ciências do Mar, da Universidade do Ceará, informa que o problema vai bem além dos plásticos. “Eles são mais visíveis e por isso mais lembrados”, mas aos oceanos chegam vários tipos de resíduos com o tempo de degradação muito elevado, como pontas de cigarro, latas, fraldas descartáveis, vidro, tecidos, pneus, etc.” Seja como for, os plásticos compõem o grosso da poluição marítima. Um estudo que vem sendo realizado desde 2012, pelo Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, em parceria com o Instituto Socioambiental dos Plásticos, que reúne entidades e empresas do setor, constatou que mais de 95% do lixo encontrado nas praias brasileira é composto por itens feito desse material. Dessas praias, as mais poluídas são Boraceia e Itaguaré, Praia do Francês e Taquari. O estudo   também mostrou que em São Paulo, o maior volume de lixo se acumula nas dunas ou restingas e é proveniente das atividades de pesca.  Já no Nordeste, esse material é encontrado na areia seca da praia e é proveniente do turismo.
Diante desses resultados, não é de se estranhar que o Brasil ocupe a 16ª posição no ranking dos países mais poluidores dos mares, segundo um estudo realizado por pesquisadores americanos e divulgado em 2015. Aqui, todos os anos são lançados nas praias entre 70 mil e 190 mil toneladas de materiais plásticos descartáveis. Para Sandra, o Brasil é um grande poluidor porque não há educação, conscientização, sensibilização, legislação, orientando e punindo os que lançam os resíduos nas praias. “Somos todos omissos e culpados, tanto população como o Estado”, conclui ela. Para o professor Sandro Mancini da Unesp, o problema do lixo no geral, é bem
complexo e ainda sem solução. “Se mal conseguimos resolver o problema nas cidades, imagine no mar”. Ele lista cinco condições para afirmar que o Brasil é um grande poluidor dos mares: a- Economia razoavelmente forte; b- Grande população; c- Muitas pessoas vivem morando no litoral; d- Muita troca internacional marítima; e- Falta de um plano e um péssimo gerenciamento do lixo de um modo geral. Falamos muito em “jogar o lixo no lixo” e não acabamos com os lixões.
A mesma pesquisa de 2015 mostrou que a China, a Indonésia e as Filipinas são os países que mais poluem os oceanos, pois descartam 3,5 milhões de toneladas de plásticos por ano. Segundo Sandra, também os resíduos sólidos causam danos à fauna marinha, pois muitos animais morrem enroscados em linhas, sacos e redes de pesca, ou então, por ingestão de pedaços de lixo de diversos tamanhos que ficam no seu trato digestivo por muito tempo e lhes dão sensação de saciedade, levando-os à morte por inanição. Além disso, muitos ficam enroscados nas embalagens plásticas e se ferem letalmente nos resíduos. O mais grave é que a situação tende a piorar. Um relatório recente, concluiu que até 2025, os oceanos estarão três vezes mais poluídos com resíduos plásticos.  Outro estudo tornado público em 2016, no Fórum Econômico Mundial de Davos, informa que até 2050, os mares da Terra terão mais pedaços desse produto do que peixes, por serem materiais que levam mais de 450 anos para serem totalmente decompostos.
“O esforço pode ser inócuo, diante do  aumento desenfreado da produção de plástico que, segundo pesquisas, pode triplicar na próxima década”, de acordo com Lebreton. E concluiu: “É preciso reduzir o desperdício e também criar opções biodegradáveis alternativas e, principalmente mudar a maneira como usamos e descartamos os produtos feitos com esse material”. Se a humanidade não conseguir resolver esse  problema, chegamos a conclusão de que é lamentável que um produto que traz tantos benefícios à Humanidade, possa também trazer tantos prejuízos ao mundo em que vivemos.
Fonte:
Artigo de capa da Revista “Planeta”- 5/2018
+ Pequenos acréscimos

Jc.
São Luís, 20/5/2018


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