A
notícia de que a Grande Mancha de Lixo do oceano Pacífico, constituída do mar
de plástico, já ocupa uma área de 16 vezes maior do que era estimado, e
necessita da urgência de uma solução para o problema dos resíduos plásticos, os
principais poluidores dos mares. A existência moderna é inimaginável sem os
plásticos. Eles estão em praticamente todos os produtos tecnológicos que
caracterizam a civilização atual.
A
lista é infindável: computadores, celulares,
televisões, e até aviões, carros
e contêineres, assentos de privada, afora os muitos produtos descartáveis como
pratos, canudos, garrafas, botas, cordas, embalagens, cotonetes e redes de
pesca. Não há dúvida de que ele é um produto útil, durável e versátil. Porém, é
incontestável que os plásticos são uma praga ambiental, que contamina todo tipo
de ambiente na Terra. Somente nos oceanos, estima-se que sejam despejados oito
milhões de toneladas de plástico a cada ano.
Esse
volume se espalha por todos os oceanos do planeta, com destaque para a chamada
Grande Mancha de Lixo do Pacífico, localizada entre a costa oeste dos Estados
Unidos e o Havaí. Essa “ilha” de entulhos está crescendo mais rapidamente do
que se previa. Uma pesquisa recente, publicada na revista científica
“Scientific Reports”, constatou que ela tem cerca de 80 mil toneladas de
plásticos descartáveis, em uma área de 1.6 milhões de quilômetros quadrados,
maior do que o estado do Amazonas (1.559.159 km2) e quase duas vezes e meia a
França (643.800 km2) O estudo também concluiu que a mancha ocupa hoje uma área
16 vezes maior do que se estimava.
De
acordo com o oceanógrafo Laurent Lebreton,
da fundação holandesa The Ocean Cleanup, que desenvolve tecnologias para
extrair a poluição dos oceanos e realizou a pesquisa, a situação está pior a
cada dia. Segundo ele, cerca de 20% dos resíduos podem ter chegado à região,
após o terremoto e tsunami de 2011 no Japão. Para fazer esse trabalho, os
pesquisadores contaram com o apoio de 30 navios, várias aeronaves e imagens
tridimensionais obtidas do alto e na superfície. Além disso, 1.2 milhão de
amostra foram coletadas. Em todos os oceanos, estima-se que esse número chegue
a 5.25 trilhões, com um peso total de
cerca de 290 mil toneladas.
Segundo
a pesquisadora Daniela Gadens Zanetti, essas partículas estão presentes em
todos os habitats marinhos, desde a superfície oceânica até o fundo dos mares,
e estão disponíveis para todos os níveis da cadeia alimentar, dos produtos
primários aos superiores. Um albatroz encontrado morto foi achado com o
interior repleto de plástico. “Um relatório de 2016 da Organização das Nações
Unidas, estima que mais de 800 espécies marinhas e costeiras são afetadas pela
ingestão desses plásticos, além disso, esses resíduos têm um efeito adverso nas
indústrias de pesca, navegação e turismo. Esse relatório avalia o custo da
poluição causada pelos detritos marinhos em US$-13 bilhões”.
Sandra
Tédde Santaella, do Instituto de Ciências do Mar, da Universidade do Ceará,
informa que o problema vai bem além dos plásticos. “Eles são mais visíveis e
por isso mais lembrados”, mas aos oceanos chegam vários tipos de resíduos com o
tempo de degradação muito elevado, como pontas de cigarro, latas, fraldas
descartáveis, vidro, tecidos, pneus, etc.” Seja como for, os plásticos compõem
o grosso da poluição marítima. Um estudo que vem sendo realizado desde 2012,
pelo Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, em parceria com o
Instituto Socioambiental dos Plásticos, que reúne entidades e empresas do
setor, constatou que mais de 95% do lixo encontrado nas praias brasileira é
composto por itens feito desse material. Dessas praias, as mais poluídas são
Boraceia e Itaguaré, Praia do Francês e Taquari. O estudo também
mostrou que em São Paulo, o maior volume de lixo se acumula nas dunas ou
restingas e é proveniente das atividades de pesca. Já no Nordeste, esse material é encontrado na
areia seca da praia e é proveniente do turismo.
Diante
desses resultados, não é de se estranhar que o Brasil ocupe a 16ª posição no
ranking dos países mais poluidores dos mares, segundo um estudo realizado por
pesquisadores americanos e divulgado em 2015. Aqui, todos os anos são lançados
nas praias entre 70 mil e 190 mil toneladas de materiais plásticos descartáveis.
Para Sandra, o Brasil é um grande poluidor porque não há educação,
conscientização, sensibilização, legislação, orientando e punindo os que lançam
os resíduos nas praias. “Somos todos omissos e culpados, tanto população como o
Estado”, conclui ela. Para o professor Sandro Mancini da Unesp, o problema do
lixo no geral, é bem
complexo
e ainda sem solução. “Se mal conseguimos resolver o problema nas cidades,
imagine no mar”. Ele lista cinco condições para afirmar que o Brasil é um
grande poluidor dos mares: a- Economia razoavelmente forte; b- Grande
população; c- Muitas pessoas vivem morando no litoral; d- Muita troca
internacional marítima; e- Falta de um plano e um péssimo gerenciamento do lixo
de um modo geral. Falamos muito em “jogar o lixo no lixo” e não acabamos com os
lixões.
A
mesma pesquisa de 2015 mostrou que a China, a Indonésia e as Filipinas são os
países que mais poluem os oceanos, pois descartam 3,5 milhões de toneladas de
plásticos por ano. Segundo Sandra, também os resíduos sólidos causam danos à
fauna marinha, pois muitos animais morrem enroscados em linhas, sacos e redes
de pesca, ou então, por ingestão de pedaços de lixo de diversos tamanhos que
ficam no seu trato digestivo por muito tempo e lhes dão sensação de saciedade,
levando-os à morte por inanição. Além disso, muitos ficam enroscados nas
embalagens plásticas e se ferem letalmente nos resíduos. O mais grave é que a
situação tende a piorar. Um relatório recente, concluiu que até 2025, os
oceanos estarão três vezes mais poluídos com resíduos plásticos. Outro estudo tornado público em 2016, no
Fórum Econômico Mundial de Davos, informa que até 2050, os mares da Terra terão
mais pedaços desse produto do que peixes, por serem materiais que levam mais de
450 anos para serem totalmente decompostos.
“O
esforço pode ser inócuo, diante do aumento desenfreado da produção de plástico
que, segundo pesquisas, pode triplicar na próxima década”, de acordo com
Lebreton. E concluiu: “É preciso reduzir o desperdício e também criar opções
biodegradáveis alternativas e, principalmente mudar a maneira como usamos e
descartamos os produtos feitos com esse material”. Se a humanidade não
conseguir resolver esse problema,
chegamos a conclusão de que é lamentável que um produto que traz tantos
benefícios à Humanidade, possa também trazer tantos prejuízos ao mundo em que
vivemos.
Fonte:
Artigo de capa da
Revista “Planeta”- 5/2018
+ Pequenos acréscimos
Jc.
São Luís, 20/5/2018
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